Capítulo 332: Cerco da Torre Carmesim (18)
Combo 19/50
Sunny balançou um pouco e então olhou para sua sombra.
A sombra parecia estar com dor. Estava caída, segurando o peito com uma mão e acenando para ele com a outra. Quando percebeu que Sunny estava olhando para ela, apontou desesperadamente para si mesma.
‘O que… o que esse cara está tentando dizer?’
Ele estava tendo um ataque cardíaco? Não, claro que não. Isso seria ridículo. Sombras não tinham coração…
Então, para onde ele estava apontando?
Sunny fez uma careta.
A sombra era seu reflexo. Então talvez não estivesse apontando para seu próprio coração, mas para o dele.
Mas seu coração estava bem. O que mais havia para apontar?
De repente, seus olhos se arregalaram.
O Núcleo da Alma. O Núcleo da Alma geralmente se sobrepõe ao coração de um humano…
Com um estremecimento, Sunny mergulhou no Mar da Alma.
Em vez da paz e tranquilidade de sempre, ele foi recebido por um caos sinistro. As águas escuras que sempre foram tranquilas e paradas agora estavam inquietas e turbulentas. Elas ondulavam e subiam, como se estivessem sob o ataque de ventos invisíveis.
Acima, as esferas de luz que representavam suas Memórias brilhavam e piscavam, como se estivessem prestes a se extinguir. O sol negro do Núcleo de Sombra tremia. Ele quase conseguia ver pequenas rachaduras aparecerem em sua superfície transparente.
Apenas as sombras silenciosas ainda eram as mesmas, não perturbadas pelo desastre que se aproximava. Elas estavam imóveis, encarando-o sem expressão em seus rostos pretos e sem vida.
Sunny não prestou atenção neles e olhou para o Núcleo de Sombra com os olhos arregalados, estupefato.
‘…Dano de alma. Estou recebendo dano de alma.’
Ele estava sob o efeito de um ataque contínuo da alma.
Escapando do mar inquieto em pânico, Sunny limpou o sangue do rosto e olhou ao redor com uma expressão sombria. Ele estava ainda mais pálido do que o normal.
“O que diabos está me atacando?”
Depois de alguns momentos, ele estremeceu de repente, atordoado por uma revelação arrepiante. E então olhou para cima, para o disco ofuscante do sol.
…Ele não estava errado. Sua luz era de fato muito mais brilhante do que antes.
Os céus da Costa Esquecida, que sempre foram cinzas, agora estavam quase brancos, cheios de calor e radiância implacáveis. Parecia que alguém havia apagado a própria realidade, deixando para trás nada além de um vazio branco sem fim. A cada segundo, ele ficava mais e mais incandescente.
‘O sol…’
A fonte do ataque da alma não foi uma Criatura de Pesadelo.
Era a própria luz do sol.
Em qualquer lugar que alcançasse, as almas das criaturas vivas estavam sendo lentamente erodidas e destruídas. E como o sol agora estava diretamente acima delas, ao meio-dia, não havia quase lugar algum onde ele não pudesse alcançar.
Não havia como escapar disso.
Exceto por…
Virando-se, Sunny olhou para os portões abertos da Torre Carmesim. Atrás deles, uma escuridão acolhedora prometia sombra e segurança. Este era o único lugar onde ele poderia se esconder do sol aniquilador.
“O exército!”
Girando, ele olhou através do fosso.
Lá fora, no campo de batalha, as Criaturas do Pesadelo haviam parado seu ataque sem fim. Agora, elas estavam cambaleando e balançando, como se estivessem bêbadas. Muitas já tinham caído no chão, com sangue escorrendo de seus orifícios.
Suas almas foram destruídas e estavam mortas.
Os guerreiros sobreviventes do Exército de Adormecidos estavam olhando para elas em perplexidade, suas figuras distantes cheias de alívio e confusão. Sunny queria gritar, avisando-os do terrível perigo em que estavam, mas sabia que estava longe demais para que alguém o ouvisse.
Do alto monte de coral em que estava, ele podia ver a graciosa figura brilhante no meio deles. Ele sabia que Nephis já devia ter descoberto o que estava acontecendo.
Mas ela não sabia que os portões da Torre estavam abertos.
“Pense, pense!”
Sunny permaneceu ali por alguns segundos e então levantou a mão.
Um momento depois, o toque claro de um sino prateado se espalhou pelo Labirinto, rolando sobre os restos do Exército de Adormecidos.
Longe no campo de batalha, Nephis girou e olhou em sua direção.
‘Vamos! Vamos, Nephis!’
Sunny tocou o Sino de Prata novamente e acenou com a mão no ar.
No entanto, não havia necessidade. A Estrela da Mudança já havia se movido, empurrando sua espada em direção à Torre. No momento seguinte, o Exército de Adormecidos avançou. Eles estavam correndo com toda a velocidade que conseguiam reunir, seguindo o comando de sua Lady.
“Sim! Espera… o que ela está fazendo?!”
A própria Nephis não seguiu seus soldados. Em vez disso, ela se virou e correu na direção oposta.
…Para o distante pilar de coral que eles deixaram no início dessa confusão.
O coração de Sunny deu um pulo quando ele percebeu que ela estava voltando por Cassie.
Mas não havia mais nada que ele pudesse fazer para ajudar.
‘Boa sorte…’
Saltando do monte, ele rolou no chão e correu em direção à escuridão da porta da Torre sem olhar para trás.
…No entanto, antes que Sunny pudesse alcançá-lo, ele viu algo caindo do céu.
‘O que…’
Uma figura humana esfarrapada bateu no coral carmesim e rolou várias vezes antes de parar, então permaneceu imóvel. Sunny correu em sua direção, reconhecendo rapidamente as cores brilhantes da armadura de Kai.
Para seu alívio, o jovem charmoso ainda estava vivo, embora mal consciente. Um florete gracioso estava zunindo preocupadamente no ar ao redor dele, o aço de sua lâmina estava sombrio e desprovido do brilho usual.
Os dois deviam estar bem alto no céu quando o ataque da alma começou, muito mais perto de sua fonte, e por isso sofreram mais do que aqueles que estavam no chão.
Sem perder tempo, Sunny agarrou Kai pelo colarinho e o arrastou em direção aos portões abertos da Torre. A Dançarina Quieta o seguiu.
Logo, os três chegaram à fronteira entre a luz e a escuridão. Sem hesitar nem por um segundo, Sunny mergulhou na sombra fresca, deu alguns passos para se aprofundar em seu abrigo e caiu no chão.
“Ah…”
Só agora, protegido da luz solar aniquiladora pela massa sólida da torre antiga, ele percebeu o quão terrível sua condição tinha sido. Mas não mais. Sua alma estava finalmente em paz mais uma vez, quaisquer feridas causadas a ela já estavam se curando.
Kai também ainda estava vivo.
“Bastardo sortudo.”
‘Graças a Deus… uh, quero dizer — aquele idiota me deve uma grande quantia agora!’
Respirando pesadamente, ele verificou o arqueiro inconsciente, então sentou-se e olhou para a paisagem ofuscantemente brilhante lá fora.
Os… os outros iriam conseguir?
Poucos segundos depois, algo repentinamente brilhou no ar. Era Caster: caindo de joelhos perto deles, ele olhou para Sunny com olhos cansados e então gentilmente colocou um Adormecido inconsciente que ele carregava consigo no chão.
Sem dizer nada, ambos se viraram para os portões da Torre e olharam para a luz.
Segundos se passaram em um silêncio torturante.
…E então, uma silhueta humana surgiu do brilho. E então outra, e outra.
Os sobreviventes do Exército de Adormecidos chegaram à ilha e correram em direção à escuridão salvadora da torre gigantesca. Logo, eles cruzaram a distância que os separava dos portões e mergulharam em sua sombra.
Sunny observou, algo afiado se movendo em seu peito.
Uma eternidade torturante depois, ele finalmente viu a figura familiar de armadura branca aparecer na porta da estrutura colossal.
Carregando Cassie, Nephis entrou nas sombras.
Ela foi a última a chegar.
Olhando para eles e para a pequena multidão de Adormecidos reunidos na fronteira entre a escuridão e a luz, Sunny finalmente conseguiu respirar. Eles conseguiram.
A batalha pela Torre Carmesim havia terminado.
Agora tudo o que eles precisavam fazer era encontrar o Portal escondido em algum lugar dentro da antiga torre.
…E sobreviver à ira de seu mestre.
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