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    Entre as árvores cobertas de neve, começaram a surgir as primeiras casas — poucas no começo, mas que dobravam de quantidade a cada minuto. Logo vieram os prédios e antes que percebesse, Niko já se encontrava no centro de uma avenida movimentada, cheia de carruagens, carroças e animais dos mais variados tipos. Cavalos, lagartos gigantes e lobos enormes puxavam os veículos, criando um ambiente intenso e diverso.

    A arquitetura ao redor era impressionante. Construções de até seis andares misturavam estilos gótico e clássico, alternando entre tons claros, vermelhos e em detalhes azulados. Alguns eram feitos de madeira escura, já outros de pedra clara. Além disso, as árvores na calçada formavam uma espécie de cerca viva separando os pedestres do trânsito.

    Ao longo da rua em que estavam, Niko notou bandeiras penduradas nas construções. Eram listradas: preta, amarela e branca, respectivamente, com uma linha vertical no centro, formando uma cruz em amarelo e um brasão com três corvos. “Deve ser a bandeira do país”, pensou ele, meio distraído, enquanto se perdia com os olhos naquele cenário todo.

    No mesmo instante, um ruído suave de motores ao longe chamou sua atenção. Niko olhou para cima e viu dois dirigíveis atravessando o céu, voando lentamente sobre a cidade. Eram enormes, com cascos metálicos brilhando e fileiras de janelas iluminadas. Um deles parecia transportar carga; o outro, passageiros — dava até para ver figuras minúsculas se movendo dentro das cabines nas vidraças.

    Aquilo deixou Niko ainda mais impressionado. Era como se a cidade tivesse vida própria, em todas as direções — inclusive no céu.

    Pouco tempo depois, eles chegaram a uma avenida larga, na margem de um rio gigante — e “gigante” era pouco. Ele devia ter quase um quilômetro de largura, com pedaços de gelo flutuando e várias pontes ligando os dois lados da cidade.

    — E aí, o que achou de Reiken? — perguntou Evelyn.

    — É… muito bonita.

    — Se achou isso bonito, olha pra direita.

    Niko virou o rosto, e suas íris se dilataram imediatamente. Ele ficou com a boca entreaberta, como se tivesse levado um soco de surpresa.

    Lá estava ele. O castelo imperial, em uma pequena ilha no meio do grande lago.

    Era impossível não olhar. O castelo dominava tudo ao redor. Era uma construção gótica monocromática, principalmente com tons escuros. Era gigante, sombrio e majestoso. Uma construção opressiva e sagrada ao mesmo tempo. A definição perfeita da palavra “força”.

    No centro dele, uma torre principal se erguia como uma lança voltada para o céu. Muito alta. Com certeza mais de duzentos metros. Ao redor dela, quatro outras torres menores, mas ainda absurdamente grandes, estavam conectadas como colunas. E, ligadas a elas, mais oito torres, simétricas, formando uma espiral quase hipnótica. Treze no total.

    A muralha que cercava o castelo era grossa, com torres de vigia nos pontos estratégicos e bandeiras tremulando em cada canto, carregando o mesmo brasão dos três corvos.

    Atrás do castelo, era possível ver um enorme domo de vidro escuro, fosco, quase como um olho adormecido. Sustentado por dezenas de pilares, tinha uma torre menor no centro dele, o que deixava tudo com uma aparência divina.

    Os vitrais coloridos refletiam tons de lilás, azul, verde e vermelho para além do castelo. Gárgulas e estátuas estavam espalhadas pelo castelo, segurando armas e ferramentas. Vários detalhes que se assemelham a um teto de caverna. Formas geométricas moldavam a construção. Havia partes pontiagudas como espinhos. Telhados inclinados. Pequenas cachoeiras desciam em cascata nas laterais. E tantos mais detalhes que seria quase impossível descrever todos eles. Era como olhar uma catedral feita para deuses — ou demônios. Era imponente e magnífico.

    Niko ficou mudo. E não era só pela arquitetura absurda. Era o peso daquilo tudo. O castelo não era só uma construção. Era uma declaração: “Este é o coração do país. Aqui vive quem comanda a nação.”

    — Então? — disse Evelyn, com um sorriso vitorioso.

    — É incrível. Aquele castelo… eu amei essa cidade.

    Ele mal piscava, hipnotizado.

    — Sabia que você ia gostar. — disse ela, orgulhosa como se tivesse sido ela quem construiu. — Certo, agora a gente tem que ir para o Museu de Ciências Naturais.

    — Fazer o que lá?

    — Para entregar a carga, é claro. Só preciso fazer uma coisinha primeiro.

    Sem explicar o que exatamente seria essa “coisinha”, Evelyn pulou da carroça e atravessou a rua, indo direto para uma estrutura de metal e vidro. Uma “cabine telefônica”. Pelo menos era isso que estava escrito na caixa retangular.

    Niko ficou observando à distância, meio curioso, meio entediado. Enquanto ela falava ao telefone — com gestos exagerados, inclusive dando risada sozinha em alguns momentos — ele ficou na carroça, tentando adivinhar se o museu era o destino final da entrega ou só um ponto de encontro.

    Mesmo com o pensamento, não perguntou. E a dúvida morreu ali mesmo.

    Alguns minutos depois, estavam atravessando uma rua tranquila, ao lado de uma praça coberta de neve. As árvores ao redor estavam completamente brancas, e os bancos de madeira pareciam quase decorativos, pois ninguém ousava se sentar neles naquele frio. Entre os arbustos congelados e os passantes agasalhados, um prédio largo se destacava, com colunas de pedra cinza-clara e grandes janelas azuis. Aquele devia ser o Museu de Ciências Naturais, mas seu estilo clássico o fazia parecer menos um museu e mais um antigo tribunal.

    — É aqui. — disse Evelyn, guiando a carroça até a parte de trás do edifício.

    Um homem já os aguardava ali. Era um homem loiro e elegante, de cabelos penteados milimetricamente para trás e uma expressão que gritava “alta sociedade”. Estava ao lado de um carrinho de transporte exageradamente elegante, claramente esperando por eles.

    Assim que a carroça parou, Evelyn saltou com a naturalidade de quem já tinha feito aquilo mil vezes.

    — Esse museu tá em reforma, então me contrataram pra fornecer um “lufador empalhado de qualidade”, como disseram. — explicou ela, já caminhando para a traseira da carroça.

    — Você vem ou vai ficar congelando aí na frente?

    — Ah. Vou sim.

    Niko imaginou que não poderia ir com Evelyn, eram negócios dela e ele poderia estragá-los. Mas o convite direto acabou quebrando essa ideia. Ele pulou da carroça e se juntou à garota.

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