Capítulo 132 - A Reunião
O trio seguiu caminhando por mais alguns metros. No fim da rua, na interseção, estava o local de número quarenta e sete: um pequeno prédio horizontal de três andares feito de tijolos escuros e janelas altas e estreitas.
Aquele era um edifício comum, não se destacava e nem era muito diferente dos casarões e comércios vizinhos. A fachada não tinha placas nem nome — e isso, por si só, denunciava o tipo de lugar que preferia passar despercebido. O vidro era escurecido e não deixava a luz do interior passar, a única luz disponível ali era das únicas duas lâmpadas penduradas na entrada.
O grupo parou diante da entrada — uma grossa porta de carvalho negro. Um silêncio denso caiu entre os três. O som distante da cidade parecia ter ficado para trás. Evelyn respirou fundo e se virou, ficando de frente para Niko. Segurou os ombros do garoto, dando-lhe um olhar penetrante.
— Se precisar, usa sua Alma, nem que seja pra fugir. — disse ela como sua última fala.
Niko a olhou nos olhos por um momento, sério e certeiro, respondendo baixo e decisivo:
— Eu não vou fugir.
A garota arregalou os olhos ao ver aquela determinação. Niko estava tão inseguro quanto a parte da reunião, mas mesmo assim sabia o que deveria fazer. Ela enrijeceu a face e balançou a cabeça uma única vez, sem insistir. Havia algo no tom dele que trazia uma confiança sem igual, mesmo falando apenas quatro palavras e cinco sílabas.
O albocerno respirou fundo e deu alguns passos adiante. Olhou para trás, buscando ver as garotas uma última vez. Elas estavam se distanciando, indo para o outro lado da rua, onde havia um pequeno local com mesas e cadeiras ao ar livre — talvez uma cafeteria ou restaurante aberto naquele fim de tarde.
Do outro lado, as garotas se viraram. Brigitte acenou exageradamente enquanto dava alguns pulinhos, com o mesmo entusiasmo de sempre, fazendo o cachecol balançar no ar. Evelyn, ao contrário, apenas ergueu o polegar e deu um pequeno sorriso confiante, o tipo de sorriso que dizia: você consegue.
Niko virou-se novamente e subiu os últimos dois degraus da entrada. O som do vento, das carroças e da cidade ficou para trás quando empurrou e fechou a porta, que rangia baixo.
“A porta estava aberta…”
No interior, o ar era mais quente e quase abafado. Um cheiro de casa antiga tomava o ambiente. À frente, havia um corredor comprido, com um tapete de cor vinho que se estendia por metros, e lâmpadas amareladas presas nas paredes, lançando sombras longas para todas as direções.
A cada passo, o som das botas era abafado pelo tecido do tapete. Niko sentia o peito apertar só de estar ali. O corredor era muito longo, parecia não ter fim. Então, ao virar à direita, avistou um homem.
O sujeito estava encostado na parede, de braços cruzados. Era alto, vestia uma camisa social branca, o pescoço era marcado por uma cicatriz grossa e torta, que subia até a boca. Tinha um olhar de poucos amigos, que parecia julgar cada centímetro de Niko.
— Quem é você? — perguntou o homem, direto, sem emoção.
Niko engoliu seco, sentindo o ar pesar ali e o coração bater mais forte. Somente três palavras do homem fizeram sua boca arder de ansiedade. “Tá bom… É agora…”, pensou ele, antes de falar.
— Mandaram eu vir pra reunião das dezesseis. Sobre o incidente com a carga. — respondeu, firme, exatamente como havia ensaiado.
O homem o encarou por alguns segundos sem dizer nada, medindo suas reações. Niko manteve o olhar fixo, tentando parecer impassível, sério. Então, o homem soltou um grunhido breve e deu um leve aceno de cabeça.
— Ah… o cara das fotografias. Pensei que você fosse maior… — um sorriso torto surgiu por um instante. — O chefe tá curioso pra te ver. Me segue.
O homem se descolou da parede e começou a andar pelo corredor. Os passos dele eram pesados e ecoavam alto, com o som preenchendo o corredor por completo. Niko deu um suspiro e o seguiu, engolindo saliva a cada passo, tentando controlar a ansiedade que se espalhava pelo corpo.
“Certo… tenho que falar o mínimo e não inventar demais.” Ele tentava se fixar os próprios pensamentos, repassando mentalmente cada fala ensaiada. “Mostrar as fotos, esperar o chefe reagir, fazer perguntas e descobrir onde está o dríade… Tudo bem, é fácil.”
O caminho se estendia mais do que deveria, parecia até mesmo que o prédio fosse maior por dentro do que por fora. As paredes estreitas, o ar quente e o som abafado dos dois passos davam a sensação de estar indo para um lugar onde a luz não alcançava.
Por fim, o homem parou diante de uma grande porta dupla de madeira e a empurrou sem esforço. Um rangido preencheu o ar, e logo o som das conversas baixas invadiu o corredor.
Aquela era uma sala enorme — muito maior do que Niko esperava. O teto alto era sustentado por colunas de madeira escura, e as janelas estavam cobertas por grossas cortinas vermelhas. As grandes lamparinas penduradas lançavam uma luz amarelada e irregular, criando sombras opressivas no chão. Mesas longas estavam em fileiras, e nelas se espalhavam garrafas, papéis, mapas e armas de fogo.
Havia pelo menos trinta pessoas ali dentro, talvez até mais — humanos, híbridos e até dois cães enormes de pelo escuro e caramelo, deitados próximos à parede, observando em silêncio. Havia um cheiro nojento e forte de tabaco no ar. Alguns homens conversavam em voz baixa; outros fumavam; alguns riam de leve; e poucos apenas observavam.
No instante em que Niko entrou, sentiu o estômago se revirar. Suas íris brancas se contraíram de forma involuntária. O lugar não era só maior, como havia muito mais pessoas do que ele estava esperando.
“Que merda!”
Ele pensou em usar a Alma e fugir, mas sabia que não poderia fazer isso. Começou a suar frio. Tentou disfarçar o nervosismo respirando devagar.
“Calma. É só mais um papel pra interpretar… um teatro…”, pensou — mas nem ele acreditava nisso.
O capanga de antes parou na porta, deu um tapinha leve no ombro mole de Niko e apontou para o centro da sala, onde havia uma cadeira livre na fileira central.
— Pode se sentar ali. O chefe vai falar com você daqui a pouco.
Niko assentiu devagar, tentando não demonstrar sua visível ansiedade. Deu alguns passos coreografados. Quando olhou para o espaço ao redor, percebeu o quanto era pequeno diante daquilo tudo.
O garoto se sentou na cadeira vazia, o assento rangendo baixo sob seu peso. As conversas começaram a diminuir, um murmúrio após o outro, até que o silêncio preencheu o ar por completo. O coração dele batia tão alto que parecia ecoar dentro da cabeça.
Por um instante, só o som da respiração dele existia, e então, atrás, ouviu o som lento da porta se fechando. A reunião se iniciava agora.

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