Capítulo 136 - As Respostas II
Niko abriu a boca para responder a luminar, mas algo atrás de Evelyn chamou sua atenção imediatamente. Entre a névoa fria deixada pela muralha, três figuras armadas se aproximavam silenciosamente — movendo-se ao lado do muro para não fazer nenhum barulho. Estavam a poucos metros, erguendo as pistolas para a elfa.
Os olhos de Niko se arregalaram e suas íris se contraíram. Evelyn estava em perigo.
— Evelyn, atrás de você! — gritou, instintivamente, apontando com a mão livre.
Brigitte moveu o olhar e já ergueu a lança, uma eletricidade roxa percorreu seu corpo inteiro, preparado para avançar. Niko elevou a foice, já pegando uma das facas também, preparando um golpe rápido. E Evelyn continuou imovel, sequer virando o rosto.
Eles estavam prontos para defender a amiga, mas Evelyn foi mais rápida. O chão atrás dela congelou de dentro para fora, como se o gelo tivesse explodido sob o solo. Em menos de um segundo, uma parede de gelo cresceu, subindo como uma montanha cristalina. A barreira bloqueou os projéteis antes mesmo que os capangas percebessem o que estava acontecendo.
Os tiros bateram na superfície azulada, que brilhou com o metal batendo contra o gelo. O impacto criou estilhaços que voaram para todos os lados, como pequenas explosões.
— Percebi. — respondeu a garota mascarada, tardiamente.
Um dos capangas — um tatuado — tentou contornar a parede pela direita, apontando a arma para a cabeça de Evelyn. Ele deu apenas dois passos quando Brigitte sumiu ao lado de Niko.
Em um borrão violeta, reapareceu na frente do homem. Dando um golpe simples no capanga: o cabo da lança bateu direto no maxilar do inimigo e o tatuado voou para trás, batendo contra a beirada de uma mesa e caindo entre garrafas, cuspindo sangue.
O barulho ecoou alto e isso foi o suficiente para chamar a curiosidade do salão inteiro. Afinal, além das barreiras de gelo que surgiram de repente, ainda um dos homens foi lançado para longe com um golpe físico de um inimigo mascarado.
Os lobis-híbridos, antes farejando o ar, agora rosnaram alto, fixando os olhos dourados na nova ameaça — Brigitte, que havia saído da zona segura e agora estava exposta no salão.
Os tatuados ergueram suas pistolas quase ao mesmo tempo, alguns com as mãos tremendo de frustração e nervosismo. Os homens comuns, os mais numerosos, sacaram suas armas de fogo com movimentos rápidos e descoordenados. Três dos capangas, os que seguravam rifles de caça, se posicionaram atrás das mesas, mirando com calma.
E, ao fundo, os dois elfos esgueiraram-se para os flancos, com adagas curvas nas mãos. Até os cães enormes, antes apenas observadores, avançaram pela lateral da sala.
Brigitte, percebendo que todas as atenções estavam sobre ela — as pistolas, rifles, olhares dourados, garras enormes, adagas e até os cães — congelou por meio segundo. Ter saído do local seguro sem se preparar foi um grande erro. Ela deu um sorriso pequeno e nervoso enquanto pensava na burrada que fez.
— …ah, ótimo.
Foi tudo que conseguiu dizer antes de o salão inteiro abrir fogo.
Os disparos vieram como uma chuva de balas. Brigitte saltou para o lado com um impulso tão forte que rachou o piso sob seus pés. Girou no ar, rolou atrás de um dos pilares e disparou em corrida pela lateral oposta de onde estavam Niko e Evelyn. As balas perseguiam sua trajetória, furando madeira e atingindo as pilastras.
Era exatamente o que ela queria. O plano que pensou na hora era simples: ir para o lado oposto, atrair os atiradores e abrir espaço para Evelyn e Niko avançarem sem serem fuzilados.
Mas, mesmo assim, algo chamou sua atenção. Entre os homens armados apontando para ela, os elfos escondidos com adagas, e os híbridos rosnando… um homem estava parado bem no centro da sala. Na frente de todos. Imóvel. Em pé. De braços relaxados. Somente observando. Não atirava. Não recuava. Não dizia nada.
Brigitte estreitou os olhos, curiosa:
“Qual é a desse cara? Ele tá só… vendo?”
Antes que concluísse o pensamento, uma bala passou raspando pelo seu braço esquerdo.
— Tch! — ela levou a mão ao local atingido, sentindo o calor do corte. — Fills ar la-!
Não teve tempo de terminar. Percebeu ali, que não importava o quão rápida era, não poderia baixar a guarda nem por um segundo.
Do outro lado, com o salão limpo, Niko e Evelyn decidiram agir. O garoto lançou uma faca, rápido e com força, e no instante em que a lâmina cravou em uma das mesas, dobrou o espaço ao redor, usando sua Alma.
Os dois surgiram bem no centro do salão, no meio do fogo cruzado, frente a frente com dezenas de armas apontadas. Aquilo chamou imediatamente a atenção dos capangas ao lado.
— Eles estão aqui! — disse um deles, virando o cano da arma para a dupla.
Os homens dispararam em sequência, antes mesmo que Evelyn pudesse respirar. Antes que o projétil a atingisse, a elfa ergueu o braço e uma parede de gelo surgiu do chão. Os projéteis atingiram a superfície congelada, lascando a muralha de leve.
— Nossa vez… — disse ela, estalando os dedos.
A parede de gelo se desfez em mil partes pontiagudas, como lâminas frias. Antes que os capangas pudessem recuar, a elfa avançou.
Com o rifle na mão, girou a arma e usou a baioneta como arma branca. O primeiro capanga que chegou perto levou uma coronhada na cara, caindo para trás com sangue caindo pelo nariz. Outro tentou atirar à queima-roupa, mas quando ele foi disparar, Evelyn desviou para o lado e cravou a lâmina gelada da baioneta na lateral de seu ombro, empurrando o corpo para o chão e dando um tiro e congelando a ferida em seguida. O capanga gritou e ficou se contorcendo de dor no chão.
Niko veio logo atrás. O garoto usou seu Portal para a direita, aparecendo ao lado de um dos atiradores. Girou a foice em um arco baixo e desarmou o homem com um golpe seco no pulso. Antes que ele pudesse reagir, Niko usou novamente o Portal, surgindo atrás de outro capanga que tentava mirar em Evelyn, e derrubou-o com uma rasteira seguida de uma joelhada nas costas.
Ao perceber que os tiros pararam, Brigitte se juntou à briga. Com o espaço finalmente livre dos disparos intensos, ela correu pelo salão como se o vento andasse ao seu lado.
— Agora sim. — murmurou baixo por trás da máscara.
No mesmo segundo, acertou um dos híbridos de lobo com um chute lateral tão rápido que o homem nem viu o movimento, somente sentiu o impacto explodir seu estômago. Outro tatuado tentou esfaqueá-la pela cintura, mas Brigitte simplesmente sumiu do alcance dele, reaparecendo atrás e batendo com o cabo da lança na nuca do sujeito.
No instante em que Evelyn derrubou um terceiro capanga, ela finalmente viu algo que chamou sua atenção. Ao longe, um dos tatuados — o mesmo que provocou Niko antes. Agora seus olhos estavam completamente vermelhos, brilhantes como fogo ardente, com as escleras negras.
— Um Ghoul… — murmurou ela, e o tom era de puro desprezo.
Ele veio correndo com velocidade anormal — mas sem nem chegar no auge de Brigitte. A mão do ghoul agarrou parte da muralha de gelo quebrada e arrancou um pedaço inteiro com facilidade, arremessando-o em Evelyn com extrema força e velocidade. Ela desviou por pouco, mas no instante seguinte o monstro já estava em cima dela, empurrando-a com violência contra uma das mesas.
O forte impacto fez ela abrir os braços. O ghoul abriu a boca larga, cheia de dentes irregulares, e tentou morder seu ombro, mas Evelyn enfiou a arma entre os dentes dele, travando a mandíbula. O monstro cravou os dentes no metal, amassando-o a madeira e o ferro com força suficiente para entortar a arma. Evelyn franziu os olhos, sentindo o rifle ceder com a pressão do ataque, e então ativou sua Alma mais uma vez.
Gelo surgiu ao redor de seu pulso, subindo pelo braço até formar uma manopla cristalizada. Ela empurrou o rifle para cima com força e acertou um soco direto no peito do ghoul, o ar saindo de sua boca em soluços fortes.
Em seguida, a elfa segurou o tatuado pelo colarinho — o rifle preso ao seu peito — e o ergueu alguns centímetros do chão com a força da manopla, antes de arremessá-lo contra uma mesa inteira. O ghoul atravessou a madeira com força, quebrando tudo em estilhaços. Ele tentou se levantar, mas ela o esmagou de volta ao chão com outro golpe na barriga. O soco rachou o piso e um gemido sufocado escapou dele.
Ela manteve o punho contra o ghoul até ele ficar imóvel, respirando fracamente. Só então recuou, respirando forte, a manopla se desfazendo no ar em flocos de neve.
— Detesto ghouls.

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