Capítulo 145 - As Respostas III
Brigitte acordou com um leve espasmo no dedo, depois outro no ombro, até que seus olhos finalmente abriram. A primeira coisa que viu foi o céu noturno, depois surgiu a silhueta borrada de Evelyn e o contorno de telhados ao redor em seus olhos.
Tentou se levantar, mas uma pontada aguda atravessou o braço como se uma faca tivesse sido cavada ali mesmo. Soltou um gemido rouco, levando a mão boa ao ferimento, apertando os dedos com força.
— O-ow… que… que merda… — murmurou, piscando rápido e cerrando os dentes.
Evelyn imediatamente se inclinou sobre a garota curvada e pálida, que tentava ao máximo regular a respiração.
— Ei, calma. Não mexe o braço. — disse a elfa, pousando a mão no local. — Respira fundo. Só respira.
Um fio de Alma azulada percorreu os dedos dela e tocou a pele de Brigitte. O frio se espalhou como um copo de água congelada derramado por dentro dos ossos, percorrendo cada nervo até deixá-los dormentes. O braço perdeu o peso, a dor, o calor, tudo em um único segundo.
Brigitte arqueou as costas, engolindo seco e tremendo de leve.
— Uuugh- ah… que sensação esquisita… Parece que meu braço nem existe…
— Desculpa, estou só congelando os nervos… — Evelyn disse, tentando manter um sorriso cansado. — É isso ou você gritar tão alto que a polícia volta.
— P-policia?! C-como assim?!
— Heh, não foi nada… de… — Evelyn tentou completar, mas a frase simplesmente morreu quando o estômago virou.
— Evelyn? Você tá bem? — perguntou Brigitte, ainda meio tonta.
A elfa levantou um dedo como se pedisse silêncio — ou um tempinho —, virou lentamente o rosto para o lado… e então o corpo inteiro deu um espasmo. Ela havia ultrapassado todos os limites de sua Alma, e o efeito colateral finalmente cobrou o preço.
A elfa inclinou a cabeça e um som que lembrava um “glup” saiu de sua garganta, e um arco-íris vivo e cintilante jorrou para fora como tinta mágica escorrendo pelos tijolos.
— Bleeeehhhh…
O jato espesso escorreu como uma tinta mágica caindo pelos tijolos, formando uma mancha colorida que não deveria existir na natureza.
— …Pelos Anjos… — murmurou Brigitte, com uma cara de nojo.
— Normal. — disse Niko com naturalidade. — É só overdose de Alma. Acontece.
— Eeehhh…
Depois de analisar Evelyn vomitando infinitamente por mais alguns instantes — uma imagem que definitivamente não vai sair de sua mente tão cedo —, Brigitte suspirou, apoiando as costas na mureta do telhado e, finalmente, respirando devagar.
— Certo, então… o que eu perdi?
— Não muita coisa. — disse Niko, sentando à frente dela, ainda segurando Kael pelo colarinho, com a foice colada no pescoço do chefe. — Você caiu, quebrou o braço, gritou, desmaiou, mas antes disso jogou minha faca na cara dele.
Brigitte piscou forte e arregalou os olhos, surpresa de ter feito tanta coisa sem nem se lembrar. Sua última memória da batalha foi ter desviado dos elfos, apenas isso.
— Eu fiz tudo isso? Sério?
— Fez. — confirmou Niko.
— Eu acertei?
— Aham.
Brigitte abriu um sorriso enorme e levantou o punho bom aos céus, com um soco alegre.
— HAH! Sabia que minha mira ainda tava em dia!
— Você quebrou o braço pra isso. — lembrou Niko.
— Pouco importa, a gente venceu! — ela exclamou, toda orgulhosa, mesmo quase sem conseguir ficar sentada.
Mais um “BLEEHHH” dramático soou do canto direito. Os dois olharam para Evelyn vomitando mais um arco-íris saturado ao longe… e depois decidiram simplesmente resolveram ignorá-la.
— E o chefe? — perguntou a luminar.
Os dois então olharam para Kael. Ele permanecia imóvel, olhando para o nada, com a expressão de quem tinha visto a própria alma sair do corpo. Parecia até mesmo ter perdido o propósito e a vontade de viver. Se quisesse, poderia escapar a qualquer momento dali, mas não fez, não havia motivos para fazer.
Brigitte sussurrou:
— Ele tá… bem?
— Ele tá vivo. — respondeu Niko. — O resto… não sei.
— Ele parece bem… vazio.
— Ele perdeu pra gente, isso deve ter dado um curto-circuito no cérebro dele.
Brigitte inclinou um pouco a cabeça, observando o chefe com um misto de pena e satisfação. Kael não reagia, não piscava, nem respirava fundo — parecia um manequim muito caro esquecido no canto de uma loja de luxo.
Atrás deles, Evelyn finalmente parou de vomitar e puxou um longo suspiro de quem voltou à superfície depois de mergulhar fundo. Limpou a boca com a mão, ergueu o rosto pálido… e teve um arrepio tão forte que quase caiu para trás.
— Brr-! Aaaaaff… que droga… — murmurou.
Ela piscou, olhou para os dois conversando e, para chamar a atenção dos dois, bateu o punho fechado na própria mão, lembrando o motivo de estarem ali.
— Certo, chega de enrolar, precisamos saber da localização do dríade agora.
Brigitte arregalou os olhos e abriu a boca, como se tudo o que estavam fazendo finalmente tivesse algum sentido.
— Aaaahhh, é verdade! A gente tá atrás do dríade!
Niko virou apenas metade do corpo para ela, ainda segurando Kael como uma sacola de batatas.
— Você só lembrou disso agora?
— Eu desmaiei, seu idiota! — rebateu Brigitte, tentando levantar um pouco o tronco. — E ainda por cima, quebrei o braço! Meu bracinho era a única coisa que tava passando pela minha cabeça.
— Justo. — ele admitiu.
Evelyn, ainda meio trêmula, se sentou no chão com um suspiro profundo.
— Tá, foco. A gente precisa descobrir onde levaram ele. E esse cara… — ela apontou o dedo para Kael, que continuava existindo contra sua vontade. — é o cara que sabe onde ele tá.
Brigitte levantou a sobrancelha, ainda segurando o braço anestesiado como se fosse um peso morto.
— Tá, beleza. Então qual é o plano? A gente amarra ele? Dá susto? Sacode? — perguntou, sincera e curiosa.
Evelyn respirou fundo, apoiou um joelho no chão e levantou o dedo como uma professora iniciando a aula mais criminosa do mundo.
— Interrogatório. — disse com segurança. — Com um pouco de tortura. Só um pouquinho. Nada demais. Metodologia profissional dos mercenários de Reiken.
Brigitte arregalou os olhos, chocada. Depois pensou um pouco, olhando para cima, como se estivesse pesando moralidade versus eficácia. E então, teve a conclusão.
— Hm… tortura… então… — ela bateu o pé no chão, indecisa. — Nah. Não. Não gosto. Muito violento. Ele merece, claro que merece, mas… não sei. Soa meio… errado. Acho que não consigo fazer isso. Nem assistir.
— Eu consigo. — disse Evelyn, levantando o braço e cerrando os olhos.
— Eu sei. — respondeu Brigitte, com uma careta. — Esse é justamente o problema.
Niko soltou um suspiro longo, segurando a foice firme, mas falando em um tom que contrastava completamente com Evelyn.
— Não. Tortura não vai acontecer. — disse, sem levantar o tom e sem hesitar, com um pragmatismo, que ele adotava quando precisava resolver um problema. — Ele pode inventar qualquer coisa só pra gente parar. Não faria sentido e só complicaria a situação.

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