Ao norte de Franell, na floresta, animais realizavam suas rotinas diárias, os pássaros cantavam, raposas caçavam e lebres saltitavam. Esse era um ambiente natural e livre de qualquer interferência de atividade sapiana, pelo menos até um som divergente infestar o local, começando baixo e aumentando gradativamente. O som de galopes de cavalos, mas não de maneira natural, eram centenas e até milhares de cavalos, todos seguindo na mesma direção com seres bípedes montados em suas costas.

    Em uma dessas dezenas de divisões, havia dois soldados, ambos usavam uma insígnia de duas setas enfeitadas e uma medalha circular com um corvo com uma fita preta e uma listra vertical amarela no peito. Somente aqueles dois da divisão tinham aqueles medalhões no peito, todos os outros, com exceção de um homem à frente dos dois, tinham uma insígnia de uma seta só. A dupla era formada por uma elfa de cabelos brancos e um homem alto de olhos vermelhos e cabelos dourados como ouro. Evellyn estava em uma missão de investida sobre Lieuwirk junto de Nikolas e outros soldados, dos quais mal sabia os nomes.

    A garota olhou para os lados, olhou para o rosto de cada um dos soldados, mas somente um era familiar, somente o rosto de Nikolas. Após ver somente o rosto do amigo, sentiu um vazio em seu peito, um sentimento de culpa infestava sua mente, enquanto tentava se manter firme e prestar atenção na missão, sendo isso claramente uma tarefa difícil para Evellyn.

    — É a terceira vez em que você faz isso hoje. — disse Nikolas. — Tem algum motivo?

    — É que… Eu olho para os lados com a esperança de vê-los mais uma vez, mesmo sabendo que isso não vai acontecer.

    Nikolas, um soldado exemplar, bom nas atividades de tiro e melhor ainda nas físicas, mantinha uma postura forte e firme. Ao ouvir as palavras de Evellyn, olhou para baixo, claramente triste, com seus ombros ficando caídos involuntariamente.

    — E eu nem consegui me despedir deles uma última vez.

    De todas as coisas que Evellyn pensava sobre seus companheiros, era essa questão que mais invadia sua mente. Quando desmaiou durante aquela emboscada, acordou sete horas depois do ocorrido, no meio da noite, em uma cama médica do campo militar onde entregaria a escolta, completamente sozinha e um pouco machucada.

    — Você nem podia fazer isso. Não foi sua culpa você ter desmaiado, você só estava seguindo o plano. A culpa, na verdade, é minha, eu que devia imaginar que algo assim pudesse acontecer…

    Evellyn virou seus olhos à esquerda, onde estava Nikolas, bem ao seu lado.

    — Eu me pergunto se a gente fez a escolha certa. Afinal, eles morreram…

    — Eu prefiro acreditar que sim. Se nós não tivéssemos lutado e somente nos rendêssemos, eles poderiam saber coisas importantes sobre nossos planos e mais inocentes morreriam, além de que não tinha garantia de que eles não nos matariam depois… — Nikolas ergueu a cabeça e olhou para cima, continuando sua fala. — Kilian, Paul, Otto, Kristoff, eles foram heróis. Devemos nossas vidas e as vidas dos nossos amigos e família a eles.

    Nikolas via aquela situação com um otimismo contagiante. Mesmo com o pior acontecendo, ele buscava ver o melhor da situação e o melhor das pessoas em sua volta. Aquele pensamento logo atingiu Evellyn, que antes via aquela situação como algo que poderia ser evitada e de maneira melhor caso se rendessem. Agora ela via que o sacrifício de seus parceiros salvou várias vidas, ela sorriu com aquilo, sorriu com a possibilidade de que uma criança iria ter o abraço de seu pai por mais um dia, durante essa maldita guerra, e não iria passar pelo sofrimento que passou… Ela estava orgulhosa.

    — Sim… Obrigada, companheiros…

    (37/04/4492)

    Evellyn pegou de seu bolso um papel dobrado. Ao desdobrá-lo, foi revelado a ela um mapa com algumas informações, informações de topografia, terrenos e coordenadas. “Estamos no E9, quase indo para o E10…”, pensou a garota.

    — Falta pouco para sairmos dessa floresta, então se preparem e tenham cuidado, o inimigo pode estar nos esperando.

    — Entendido, cabo. — disseram os soldados atrás da elfa.

    Os próximos minutos foram de apenas um grande silêncio, nenhum soldado da formação comentou algo, somente o barulho dos cascos na grama e nas folhas puderam ser ouvidos durante os momentos finais em que o exército ficaria na floresta. Após horas andando entre as repetitivas árvores, uma luz foi vista por Evellyn e os outros, parecia que a floresta chegou ao seu fim.

    A pequena divisão estava prestes a atravessar a luz, eles eram os primeiros da formação da cavalaria, praticamente escudos humanos para os que estavam atrás deles. Mesmo nessa situação desesperadora de morte certa, Evellyn não abaixou a cabeça em nenhum momento, ela seguia em frente, determinada e feroz, buscando cumprir sua missão de vingança e impedir que mais inocentes morram.

    Primeiro foi o tenente Andrei, depois Nikolas e logo após Evellyn passou pelas últimas árvores, avistando um grande campo verde, havendo montes e alguns campos floridos em amarelo. Aquele cenário era confortável e deixou a elfa com um sentimento de paz. Se não fosse pela guerra, ela adoraria passear por aquele lindo lugar.

    — Ei, Evellyn, depois que a guerra acabar, você vai fazer o quê?

    Aquilo era um dos assuntos em que Evellyn menos pensou nos últimos dias. Ela somente pensava na guerra e coisas derivadas dela, não parou para pensar em nada que fosse fora dela. Até mesmo quando sua mãe mandava cartas, ela somente respondia sobre a guerra.

    — Eu não sei, não pensei muito sobre isso… — falou a garota enquanto colocava a mão no queixo, pensando no que poderia fazer depois que o inferno acabasse. — Acho que terminar o ensino médio, já que eu estou no último ano. Depois disso, vou fazer alguma faculdade de artes.

    — Além de cantar e tocar músicas, você também é desenhista e pintora?

    — Sim. Não quero me gabar, mas eu desenho até que muito bem. Ah, e você, Nikolas, o que vai fazer quando a guerra acabar?

    — Eu vou voltar a cuidar dos meus pais, tentar achar alguma moça bonita e criar uma família com ela. Se possível, eu iria amar ser pai, é o meu sonho. — falou ele, corando na última parte.

    Aquele era um objetivo digno na visão de Evellyn. Ter a coragem de iniciar um relacionamento e ter a responsabilidade de colocar uma vida nesse mundo é algo admirável, uma vida que passará por prazer e diversão, que ajudará os outros enquanto os outros o ajudam, nessas relações mútuas chamadas sociedade, é algo belo na visão da garota, uma visão influenciada por uma de suas conversas com seu pai.

    — Acho que você seria um bom esposo e pai.

    — Você acha mesmo?

    — É claro, você é esforçado e firme, vai conseguir realizar todos os seus sonhos. Eu acredito nisso! — disse a elfa, dando um grande sorriso no final, buscando dar suporte e incentivar ao máximo seu amigo.

    — Muito obrigado por acreditar em mim, Evellyn.

    Pouco tempo depois da conversa acabar, um som alto foi escutado à distância pelos soldados. Ao se virarem ao local de onde vinha o estouro, puderam ver algumas linhas vermelhas verticais cruzando o céu. Aquilo eram sinalizadores vermelhos, significava que um inimigo foi encontrado e, pela quantidade, significava que era uma grande divisão. Na sequência, puderam ser ouvidas vozes baixas vindas da esquerda que, em poucos segundos, ficaram tão altas que logo puderam ser decifradas.

    — Inimigo há dez horas! Inimigo há dez horas! — gritavam os militares.

    Com o intuito de alertar os outros soldados ao lado e atrás de Evellyn, a elfa repetiu a mesma fala que escutou de seus companheiros.

    — Inimigo há dez horas, cuidado!

    — Divisão dois, avançar! Em direção ao inimigo! — gritou o tenente, confirmando o início da batalha a céu aberto.

    Os cavalos então correram para frente, seguindo os outros ao lado, que ficavam à frente do grupo de Evellyn, com o grupo seguinte fazendo a mesma coisa. Os soldados correram em direção ao inimigo, que nem podiam ver, mas que sabiam que deveriam ganhar aquela batalha.

    — Formação Schneigkail. Não se esqueçam, soldados!

    A formação consistia em correr em formato de “V” invertido, se assemelhando a uma arma de penetração, para que a cavalaria penetre nas defesas e divida ela em dois, facilitando na hora de eliminar os soldados restantes em dois cercos. Evellyn e seu esquadrão faziam parte da divisão dois, ou seja, na parte direita da “seta” e, como o inimigo estava à esquerda, demorariam para entrarem no fogo cruzado.

    Fumaças escuras surgiam no horizonte e os estrondos ficavam mais altos conforme os cavalos galopavam. Uma explosão surgiu pouco à frente de Evellyn, a garota viu o fogo e a terra se espalhando pelo chão, junto de um soldado e seu cavalo que foram derrubados pelo impacto, caindo no chão.

    — MÉDICO! — gritou alguém, provavelmente alguém do mesmo esquadrão do soldado abatido.

    No mesmo instante, um homem com uma faixa de braço branca com uma cruz vermelha surgiu para socorrer o soldado ferido. Evellyn observava aquela cena, olhando para trás ao passar pelo ferido, esperando que isso não ocorresse com ela e com ninguém de seu esquadrão. Ela não suportaria ver mais um aliado morrer.

    Três torres de madeira e dezenas de canhões foram o que a garota finalmente viu das defesas do inimigo. Em uma das torres de madeira, ela podia ver um sniper, que imaginou estar atingindo soldados de alta patente para desmoralizar o exército, já que seria muito arriscado estar naquela posição para matar soldados de baixa patente. Ao pensar naquela possibilidade, Evellyn teve uma ideia ousada: “Eu vou acertar ele”.

    A elfa então pegou sua arma das costas e mirou em direção ao atirador, mas viu um obstáculo, algo que faria com que ela não conseguisse acertar o alvo.

    — Preciso de mais altura…

    Ao perceber aquilo, a garota se levantou, buscando ganhar a altura necessária para atingir o alvo com facilidade.

    — Ainda não é o suficiente.

    Percebendo a situação, Evellyn teve uma ideia mais ousada ainda, tentar ficar em pé na sela do cavalo enquanto atirava em seu alvo. A garota sabia que aquilo era loucura, mas que era aquilo ou esperar chegar mais perto do alvo e atacar usando sua Alma, porém ela não conseguia, não conseguia esperar nem mais um pouco, não conseguia esperar nem mais um minuto para dar um tiro na testa daqueles malditos.

    Primeiro, ela apoiou o pé esquerdo na cela, tentando manter o equilíbrio. Quando achou ter conseguido se manter firme, colocou o outro pé na parte de trás das costas do cavalo. Nikolas estava ao lado de Evellyn e viu o que a garota estava fazendo, ficando confuso e preocupado ao ver a elfa fazendo uma atitude irracional daquelas.

    — Evellyn, o que você está fazendo?!

    — Tentando matar um atirador. Bem ali na torre, viu?

    — Você não vai conseguir! Desce daí, é perigoso!

    Mas a garota não ouviu seu amigo, mesmo se fosse o Yzakel em pessoa mandando ela descer, ela não iria obedecê-lo, a garota iria matar aquele atirador, assim como qualquer soldado vindo de Lieuwirk, custe o que custar.

    Evellyn então, em um ato de teimosia, se levantou de uma vez, querendo provar para Nikolas e todos que ela iria conseguir. Por conta desse ato rápido, a garota se desequilibrou, inclinando-se um pouco para trás enquanto a cela tremia. Mesmo assim, a garota não perdeu o foco, se concentrou e conseguiu se equilibrar em cima do cavalo.

    — Evellyn, desce, pelo amor de Deus!

    — Cabo Bauer, desça daí! — ordenou o tenente Andrei, que teve sua atenção chamada pela gritaria de Nikolas.

    Evellyn obviamente não obedeceu ao seu superior. Ela sabia que iria sofrer alguma penalidade, mas não se importava. A garota somente colocou seu olho na mira e apontou para o atirador, efetuando um disparo logo em seguida. Ela errou.

    — Senhora Evellyn Bauer, desça, é uma ordem!

    A elfa somente ignorou o homem de barba ruiva. “Talvez um pouco mais para baixo… e só um pouco mais para esquerda…”, pensou ela, efetuando novamente o disparo.

    Pela mira, Evellyn conseguiu ver a arma do sniper cair e, logo depois, não pôde ver mais a parte superior de seu corpo. Ela acertou. Evellyn estava em um momento de surpresa, mas também de orgulho e felicidade. Todos haviam duvidado dela, mas ela provou a eles que estavam errados e conseguiu eliminar o atirador. Ela estava sem acreditar no que aconteceu, ela estava extremamente orgulhosa do próprio feito.

    — Eu consegui… Gente, eu consegu-!

    Evellyn foi jogada para longe, desmaiando ao atingir o chão com força. Quando a garota retomou a consciência, estava com um zumbido forte no ouvido, sua visão estava turva e mal conseguia pensar direito. Ela somente via cavalos passando ao seu lado e algumas fumaças se estendendo aos céus.

    A garota decide se levantar e voltar ao cavalo, não entendendo o que havia acontecido e como ela estava ali. Ela foi somente jogada de bruços para o chão sem motivo nenhum. A garota se levantava lentamente, ficando de joelhos com as mãos apoiadas no chão, se preparando para ficar de pé, primeiro a perna direita e depois a perna… esquerda? Ela… caiu para frente?

    — Por que eu não… consigo ficar de pé… minha… perna…?…!

    Ao virar sua cabeça para trás, Evellyn viu algo verdadeiramente aterrorizante, era a primeira vez que ela lidava com aquele tipo de emoção com aquele tipo de intensidade em toda a sua vida. No lugar onde estaria sua canela, não havia nada, somente uma poça de sangue que não parava de jorrar um vermelho vivo pulsante nem por um segundo sequer.

    Ao perceber que ele não tinha mais sua perna, a dor veio. Grunhiu de dor, uma dor aguda, uma dor insuportável, uma dor penetrante, constante, dilacerante, sufocante, sufocada, ela não conseguia respirar, enjoada, ela estava enjoada, ânsia, ela vomitou. Ela não conseguia acreditar naquilo, não conseguia pensar direito, não conseguia agir. “Minha perna, minha perna”, ela somente pensava naquilo, somente conseguia pensar naquilo e nada mais era impossível não pensar naquilo. O que ela poderia fazer? O que ela iria fazer? Ela conseguia fazer algo? Ela deveria fazer algo? O quê? O quê? O quê? O quê? O quê? O quê? O quê?! O quê!?! O QUÊ!?!

    Todo tipo de pensamento surgiu na cabeça de Evellyn, todo tipo de pensamento estava confundindo Evellyn. Mesmo diante daquela situação, ela não deixou a loucura dominar sua mente, mesmo que ela insistisse muito naquilo. A garota se sentou, colocou a mão sobre a ferida e usou sua Alma, congelando-a. No começo, havia uma dor insuportável, que quase a fez desmaiar novamente, mas depois a dor sumiu quase por completo e o sangue parou de escorrer.

    Evellyn olhou para frente e viu a égua que estava montada anteriormente chorando, com queimaduras, sem uma das patas e parte do torso. Finalmente a elfa soube o que aconteceu, houve uma explosão perto de onde estava, fazendo ela e seu cavalo caírem.

    Ouvindo o choro de seu companheiro, ela não podia ficar sentada sem fazer nada, ela precisava agir rápido, ou se não o animal que usa para defender seu país iria morrer.

    Evellyn se rastejou até seu animal, que estava relativamente próximo dela. Chegando até a égua em sofrimento, ela usou sua Alma novamente, congelando as lesões e parando o sangramento, ajudando o animal momentaneamente, que, mesmo não sangrando mais e não tão mais dolorido, ainda estava berrando.

    — Calma, garota, você vai ficar bem, eu te garanto.

    Evellyn olhou em volta, com a esperança de encontrar algo para ajudar o animal, saber onde estaria seu esquadrão ou algo assim. Nessa busca, ela encontrou algo brilhante em meio às crateras do local da explosão e, esperando que fosse algo que a ajudasse, decidiu pegar aquilo antes que fosse destruído pelos cavalos ou alguma explosão.

    Se arrastando até o objeto luminoso, Evellyn percebeu que aquele era um elixir de espírito material, uma droga que, ao ser ingerida por um animal irracional, enquanto estivesse próximo da morte, ele se transformaria em um espírito material. Evellyn imaginou que aquilo havia caído da bolsa de um médico e era perfeito para sua situação. Pegando a droga e voltando para o animal, ele estava cada vez mais fraco, prestes a morrer, porém a elfa impediu seu destino, fazendo-a beber o líquido e salvando sua vida.

    A cena a seguir foi fantástica aos olhos de Evellyn. A égua brilhou em azul, logo depois se transformou em uma esfera de energia e entrou dentro do frasco do remédio.

    O objetivo atual de Evellyn foi concluído com sucesso. Ela havia salvado sua companheira, mesmo que fosse um animal e não um ser consciente, ela ainda via Aguro com carinho e amizade, uma amiga nessa guerra devastadora. Agora seria hora de seu outro objetivo: encontrar seu grupo e voltar à formação.

    Evellyn usou sua Alma novamente em sua ferida, criando uma perna improvisada e uma espécie de bengala de gelo, podendo voltar a ficar de pé, mesmo que com dificuldade. A garota, agora de pé, pode observar melhor a sua volta. Os soldados estavam perto de chegar nas defesas inimigas e os inimigos estavam prontos para a chegada do exército, indo em uma investida contra eles. Evellyn, observando aquilo, recuperou suas forças e estava prestes a soltar o espírito de Aguro e avançar em direção ao inimigo… mas ela parou.

    Algo havia chamado sua atenção. Perto de lá, pouco menos de dez metros, havia um soldado caído. Havia outros homens caídos em volta, espalhados pelo campo de batalha, mas a elfa não se importou tanto com eles quanto com o soldado que seus olhos penetravam, fazendo seu coração bater forte. Aquela era uma pessoa loira, sem uma perna inteira e parte do corpo. Aquele era Nikolas.

    No mesmo instante em que viu seu amigo, a garota correu em sua direção, na esperança de que pudesse ajudá-lo e conferir se ele estivesse bem ou pelo menos vivo. A garota mal conseguia andar, não havia se recuperado completamente da explosão e principalmente de não ter uma perna. Sua pouca experiência em andar sem sentir sua perna esquerda a fez cair. Mesmo assim, Evellyn continuou tentando correr em direção a Nikolas, caindo mais duas vezes antes de chegar no companheiro.

    — Não, não, não, não, não, não, não. — disse a elfa horrorizada.

    Evellyn estava de frente para seu amigo, ele não parava de sangrar pelo corpo todo, além de ter queimaduras do torso para baixo, estava sem sua mão esquerda, e em seu rosto seus olhos estavam fechados, como se estivesse dormindo. Usando sua Alma, a garota estancou o sangramento do colega, criou um pedaço de gelo na mão e passou nas queimaduras, mas… aquilo não era suficiente, ele ainda precisava de remédios e cuidados além do que Evellyn podia oferecer.

    O coração da garota pulsava com extrema velocidade, mesmo não podendo fisicamente sentir frio, ela sentia frio em todo o seu corpo, suas mãos tremiam, sua respiração ficava mais forte e aquele sentimento ficava cada vez maior… O medo. O medo de perder alguém que ama, a elfa havia experimentado esse sentimento duas vezes antes daquela e nas duas vezes as pessoas que amava morreram, seu pai e depois seus companheiros. Porém, Evellyn queria que dessa vez fosse diferente, ela precisava que dessa vez fosse diferente, ela rezava para que fosse diferente, que a pessoa que amava não morresse em suas mãos.

    — MÉDICO! ALGUM MÉDICO, POR FAVOR! — ela berrou, com toda a força de seus pulmões.

    A garota implorava por ajuda… mas ninguém veio.

    — ALGUM MÉDICO, POR FAVOR!

    Entre vários soldados, a garota encontrou uma figura conhecida, que não via há dias. Era uma figura de esperança, com uma faixa de ombro branca com uma cruz vermelha e boina escura com um rifle em suas mãos. A figura era Clementine, a única médica que poderia salvar Nikolas. A garota ficou com um sorriso no rosto, afinal, dessa vez seria diferente, a pessoa que amava seria salva e não morreria.

    — Clementine! Ajuda! — gritou Evellyn enquanto levantava o braço, chamando a atenção de sua amiga.

    A médica olhou em direção a Evellyn, observando de longe o estado de Evellyn e Nikolas, o estado de urgência em que eles estavam, necessitando de qualquer médico que fosse. Nisso, Clementine olhou para baixo e depois para frente, passando direto por Evellyn, sem olhar para trás.

    — …Clementine? — o sorriso de esperança da garota se desmanchou ao perceber que a mulher a ignorou. — Não… Volta! AJUDA, POR FAVOR!

    Evellyn implorava para que a médica, a única médica disponível no momento, voltasse e ajudasse seu companheiro, seu amigo, mas mesmo implorando e gritando com todas as forças por ajuda, ela não voltou. Sendo iludida pelo destino e traída por quem poderia chamar de “amiga”, Evellyn voltou a suplicar por ajuda de qualquer um que fosse, não importando se fosse um médico ou não, ela queria ajuda, precisava de ajuda.

    Gritou e gritou por minutos e, cada vez que a voz saía de sua garganta, sabia que a ajuda não viria, principalmente depois que ela não conseguia mais ouvir os passos de cavalos galopando. Ela estava sozinha. Percebendo que ninguém iria ajudar Nikolas, o rosto da garota se encheu de lágrimas. Seu amigo, que antes estava à beira da morte e tinha uma pequena chance de sobreviver, agora iria de fato morrer e Evellyn não poderia fazer nada. Aquela vez não foi diferente.

    Com o corpo coberto de sangue, os olhos em lágrimas e sozinha naquele campo de guerra, entre sons de tiros e explosões ao fundo, Evellyn abraçou Nikolas, se despedindo silenciosamente de seu amigo, seu amigo que não conseguiu salvar e que por conta disso não conseguiria cuidar dos pais, nem se casar e nem formar uma feliz família. Nikolas havia morrido em seus braços.

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