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    — Evelyn! — chamou ele, alto. — Vem aqui, por favor!

    Ela surgiu segundos depois, desacelerando o passo à medida que chegava ao lado de Niko.

    — O que foi? — falou ela, pouco ofegante.

    — Achei isso aqui. — disse ele, exibindo a cápsula.

    A garota arregalou os olhos, surpresa, pegando o objeto na mão de Niko sem perguntar nada primeiro.

    — Parece uma bala de rifle. — observou ela, examinando o estojo metálico. — Parece ser de calibre.30, mas está faltando o projétil.

    Evelyn então procurou na cratera maior e levantou algo semelhante a um cone metalizado e achatado.

    — Aqui está.

    Era um projétil de bala. Niko engoliu em seco, sentindo um calor crescer no peito. Ele sabia. Naquele instante, que aquelas horas de viagem não haviam sido em vão. Aquilo era uma pista. Talvez a primeira de verdade. Algo em seu instinto dizia que estava no caminho certo.

    — Tem alguma teoria? — perguntou Evelyn.

    Niko colocou a mão no queixo, baixou os olhos e fechou-os por um instante. Começou a reorganizar mentalmente tudo que tinha visto até agora. “Pegadas… bala… marcas de arrasto…”. Quando abriu os olhos, virou-se com uma postura mais ereta, quase confiante.

    — Pelas marcas na neve e essa bala, parece que teve um confronto físico. Então até agora nessa história temos uma vítima e um agressor.

    — Concordo. Faz sentido. — disse Evelyn, já de pé, guardando as cápsulas no bolso.

    Niko caminhou até as trilhas de pegadas. Havia duas — uma com passos mais profundos e espaçados, e outra mais leves, que se afastavam para o outro lado da clareira. Ele escolheu começar pela mais curta.

    No fim da trilha mais curta, encontrou uma marca na neve que lembrava o contorno de um corpo caído e duas marcas de mãos ao lado, como se alguma pessoa tivesse tentado se levantar. Terminando de ver a primeira trilha, se virou para investigar a segunda. Enquanto isso Evelyn o seguia em silêncio.

    Ao fim da segunda trilha, havia outro pequeno buraco na neve — idêntico ao primeiro que encontraram. Remexendo a neve da cratera, mais uma cápsula de bala.

    — Ah, que droga. — murmurou Evelyn, coçando a testa. — Parece até que teve uma perseguição aqui.

    — A vítima estava caída, se levantou, tentou fugir, e o agressor atirou de novo. Mas… por que ela estava caída no começo? Ela caiu? De onde? — disse Niko, mais para si mesmo do que para Evelyn.

    De repente, correu de volta até a primeira marca, sem dar nenhum aviso. 

    — Niko, espera aí!

    Ele pareceu nem ouvir o chamado. A concentração era absoluta. Parecia até mesmo alguém diferente — focado e determinado. Algo havia se acendido dentro dele. Queria entender o que aconteceu aqui. Precisava fazer isso.

    Chegando ao local da primeira queda, Niko se perguntou de onde a vítima havia caído. Ergueu o olhar e avistou uma árvore acima. Sem hesitar, lançou uma de suas facas contra um galho grosso e utilizou seu Portal. Em um instante, apareceu no alto, de pé sobre o galho coberto de neve.

    — Ela caiu da árvore? — disse, observando o chão lá embaixo. — Sim…

    Então notou um buraco redondo cravado no tronco do pinheiro — o primeiro tiro.

    — Ela foi baleada aqui em cima… caiu… depois tentou fugir e levou o segundo tiro.

    — Tá tudo bem aí em cima? — gritou Evelyn do chão, preocupada.

    Um cabo desceu da árvore e Niko usou seu Portal, retornando ao solo instantaneamente. Caminhou até a marca da terceira bala, onde o corpo deveria ter caído pela última vez.

    — Descobriu alguma coisa? — perguntou Evelyn, confusa, caminhando ao lado dele.

    — Teve uma perseguição. A vítima estava fugindo do agressor, pulando de árvore em árvore. O agressor alcançou a vítima, atirou nela, e ela caiu da árvore. A vítima se levantou e tentou correr do agressor, que a seguiu e atirou novamente. E ela caiu exatamente aqui. — terminou Niko enquanto chegava ao destino.

    — Entendi… Mas cadê a vítima?

    — Ela pode ter sido capturada. Ou fugiu. Ainda não sei qual opção.

    — Ela não pode ter morrido?

    — Não acho provável. Não tem nenhum corpo aqui. Sem contar que não faz sentido o agressor matar a vítima e depois levar o corpo. Esse lugar é muito isolado, ninguém iria encontrar um corpo aqui.

    — Isolado até onde a gente saiba. — respondeu Evelyn, com os braços cruzados.

    Niko estreitou os olhos, ainda fixo na cena do crime. Algo estava o incomodando. Faltava alguma peça no quebra-cabeça. Parece que havia algo perdido ou esquecido na análise. Foi então que algo surgiu na sua mente.

    — Evelyn, como você acha que a vítima não levou um tiro?

    — Como assim? Ela levou três vezes. Você mesmo disse.

    — Tô falando da primeira bala que encontramos. Como ela não atingiu a vítima? Parece que o agressor rendeu a vítima e depois deu um tiro onde ela estava caída. Como a gente não tá vendo um cadáver agora?

    Evelyn coçou a bochecha, pensativa.

    — É verdade… Você acha que o agressor atirou como forma de aviso?

    — Não sei… Mas isso não explica onde eles estão agora. Isso é só achismo meu, mas eu acho que o agressor queria matar a vítima. Não faria sentido ela não receber o tiro, então eu acho que a vítima conseguiu fugir.

    — Como alguém conseguiria fugir de alguém armado e sem deixar rastros?

    Niko puxou uma das facas e virou para mostrar o símbolo de Alma. Evelyn arregalou levemente os olhos.

    — Você… era a vítima?

    — Talvez. Não acho que fui o agressor, eu não encontrei nenhuma arma de fogo comigo quando acordei. Mas também não tenho nenhuma marca de tiro no corpo…

    — Então… essa cena pode não ter nada a ver com você?

    — Seria uma coincidência absurda. Tudo aqui aponta pra mim. A floresta, o tempo, o local onde acordei. Mas… nada bate de verdade. A teoria de que eu era a vítima… desmoronou.

    Niko se calou por alguns segundos. A excitação inicial virou frustração de novo. Tudo o que acreditava ser uma pista sólida agora era só confusão. Não descobriu nomes, identidade, nem resposta alguma.

    — Foi tudo inútil. — murmurou. — Nada aqui me diz quem eu sou. Nada.

    — Ei… — disse Evelyn, em tom mais suave. — Talvez não tenha sido o que você queria… mas foi alguma coisa.

    Ele suspirou, parecendo ignorar o comentário.

    — Vamos voltar pra casa. Já fizemos o que dava pra hoje.

    — Tem certeza disso?

    — Tenho.

    Os dois voltaram à carroça. O céu já começava a ficar mais nublado e o vento frio soprava mais forte entre as árvores. Antes de subirem no veículo, Evelyn colocou a mão no ombro dele.

    — Sabe… algo me diz que você estava certo. Que isso tudo não foi à toa.

    Niko esboçou um pequeno sorriso. Não sabia se acreditava mesmo, mas ouvir aquilo já fazia alguma diferença. O resto, ele deixaria para pensar depois, quando estivesse em casa.

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