Niko e Evellyn estavam andando nas ruas, saindo da carroçaria, onde deixaram o veículo com a roda quebrada para o conserto, retornando para casa, enquanto o sol descia dos céus, dando lugar à lua crescente.

    Durante o trajeto enfeitado de neve, Niko estava pensativo sobre como continuar a investigação. Foi quando se lembrou de “Ahti”, o canal pelo qual Clementine foi contratada.

    Chegando ao final da calçada, a dupla parou, se juntando a um pequeno grupo de pessoas, esperando as carroças pararem, para assim poderem atravessar a rua em segurança.

    — Você conhece aquele “Ahti” que a Clementine falou, Evellyn?

    — Não. Por que dessa pergunta de repente?

    — Porque eu imagino que ele seja o próximo passo da investigação. A Clementine foi contratada por ele, logo ele deve saber algo sobre o cliente. — enquanto Niko falava, surgiu um som de apito vindo da interseção da rua movimentada. O guarda de trânsito estava sinalizando para que as carroças vindas da esquerda e direita parassem, para que os pedestres e as outras carroças pudessem se movimentar. — Talvez ele até saiba daquela questão que a Clementine não conseguiu terminar de falar. O que acha?

    Atravessando a rua, Evellyn se virou à direita, Niko em seguida seguiu a garota, também virando à direita.

    — É uma possibilidade. Então, você quer tentar achar o canal?

    O garoto respondeu apenas acenando a cabeça enquanto Evellyn olhava para ele.

    — Certo, agora a questão é como encontrar ele. Eu não conheço ele e provavelmente ele deve estar em Colvenfurt. Ah, que saco.

    Tentar encontrar uma pessoa da qual só se sabia o nome era uma tarefa complicada, aquela informação era extremamente ampla. E a possibilidade de que ele estaria em outra cidade dificultou mais ainda a investigação, além disso, a única pessoa da qual sabiam que conhecia Ahti estava morta.

    Enquanto pensava no que poderiam fazer para descobrir onde encontrariam o canal, Niko se lembrou de mais uma informação que Clementine lhe deu antes de morrer. Ele se lembrou sobre a questão dos membros da família em envolvimento em grupos terroristas e dos tais “rituais bizarros”. “O que seriam esses tais rituais? Eles têm conexão com o tal grupo terrorista?”, se perguntou Niko, obviamente não encontrando nenhuma resposta. Havia somente uma pessoa que ele acreditava saber responder essa questão e essa pessoa estava ao seu lado.

    — E sobre a questão do “grupo terrorista” e dos “rituais bizarros”, acha que tem alguma conexão?

    — É verdade, ela tinha falado disso mesmo. Bom… — Evellyn deu uma pausa, pensando na conexão entre os dois elementos com a mão no queixo. — Eu acredito que estejam relacionados sim. Os rituais obviamente devem ser em relação a uma religião diferente da Ordem Alstra e a questão do grupo terrorista… eu acho que seja um grupo extremista religioso que matou ela. Tem alguns grupos extremistas Haqisahinos em Devitte, inclusive teve um que fez um golpe de Estado depois da guerra, se eu não me engano. Sem contar que tem uma facção extremamente nacionalista e religiosa lutando na guerra civil em Skávia agora mesmo. Tirando esses, eu não conheço nada sobre outro grupo terrorista que envolva extremismo religioso.

    Niko não sabia de nada sobre os grupos terroristas que Evellyn falou, a parte que ele parou nos seus estudos não falava especificamente deles, porém, ele se lembrava da guerra civil em Skávia. Um país gigante ao extremo norte do continente, que estava em uma guerra civil sangrenta desde 4498, quando o imperador e sua família foram assassinados de maneira desconhecida. Esse acontecimento aumentou a instabilidade que o país estava passando depois da guerra e isso ocasionou milhares de conflitos, com centenas de grupos declarando independência ou querendo unificar o império de volta sobre suas vontades políticas.

    — Mas você teria que levar em conta que o cliente está ligado ao grupo terrorista — disse Niko.

    — Seria muita coincidência se não estivesse.

    Realmente seria muita coincidência se somente o cliente, que mandou Clementine assassinar Niko, não fizesse parte do possível grupo terrorista que outros membros que sua família faziam. As chances disso eram extremamente baixas, quase nulas. Porém, se o cliente faz parte de um grupo terrorista e o cliente conhecia Niko, então aquilo indicava uma coisa…

    — Evellyn… — Niko parou de andar de repente, Evellyn olhou para trás ao notar a atitude do garoto. — Isso então significa… que eu tenho envolvimento com esse grupo?

    — Tem uma chance bem alta.

    — E se eu tivesse sido um membro? Eu não quero ser um criminoso…

    — Todos são inocentes até que se prove o contrário. Não se culpe por algo que você nem sabe se fez, e mesmo se tivesse feito, aquilo não reflete quem você é agora. Tudo bem? — falou a elfa, tentando tranquilizar o garoto à sua frente, colocando a mão em seu ombro. — Vamos continuar andando, quero voltar logo para casa.

    Nos instantes seguintes, Evellyn voltou a andar para frente, com Niko a seguindo após o terceiro passo. 

    A fala de Evellyn tranquilizou o garoto, fazendo-o voltar a pensar em um jeito de encontrar o canal e consequentemente o cliente. “É isso!” Pensou o albocerno, sabendo exatamente como encontrar Ahti.

    — E se tentássemos procurar algo na casa da Clementine? Acho que deve ter alguma pista de como encontrar o canal.

    — Até que é uma boa ideia, mas como a gente vai encontrar a casa dela?

    — Você não sabe onde ela mora?

    — Sei não.

    — Ah.

    Niko imaginou que, já que Evellyn conhecia e já teve uma relação com aquela mulher, logicamente deveria conhecer sua moradia. Porém, o destino foi cruel com o fantasma de chifres, dificultando a investigação.

    — Onde você conheceu a Clementine, Evellyn?

    — Foi no exército. Em um campo de alistamento militar… Então, nos arquivos de alistamento deve ter o endereço dela!

    Evellyn permaneceu imóvel na segunda parte de sua fala. Ao perceber que a elfa estava atrás dele, Niko parou e se virou para trás, se deparando com um grande sorriso vindo de Evellyn. Em seguida, a garota deu alguns passos, ficando de lado para o amigo, voltando a andar juntos.

    — Você sabe onde encontrar os arquivos?

    — No lugar de alistamento que fui deve ter algo. Por eu ser uma veterana de guerra, eu posso pedir para ver alguma coisa que teve durante a guerra, tipo as fotos que tirei. Inclusive, eu já queria fazer isso há um tempo. A gente pode fazer isso?

    — Claro.

    — Você vai adorar Colvenfurt. Eu tenho certeza!

    Os dois pararam, ficando de frente para uma porta preta de metal, que dava acesso ao prédio em que Evellyn morava. A garota pegou uma chave de seu bolso e colocou sobre a fechadura.

    — Só vamos descansar um pouco, afinal a gente voltou agora da viagem. — disse a elfa enquanto fazia uma expressão cansada enquanto sorria e destrancava a porta.

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