Capítulo 23 – Loos
— Chegamos. A viagem fica em um Yzakel e dez cêntimos. — disse o motorista para os passageiros.
— Espera um pouquinho. Uhmm, aqui. — falou uma mulher de cabelos brancos e cicatrizes no rosto, entregando uma cédula preta e dourada, junto de uma moeda, ao homem.
O motorista pegou o pagamento e o guardou em uma caixa de madeira ao seu lado. Evellyn colocou sua mochila em suas costas, segurou nas hastes de madeira e desceu da carroça, ficando na calçada bem movimentada. Em seguida, um ser pálido de chifres de cervo também desceu do veículo, ficando ao lado da elfa.
— Muito obrigado pela viagem, senhor.
— Eu que agradeço.
Após a resposta gentil, o motorista saiu do local, fazendo seu cavalo andar. Niko se virou para Evellyn, a qual estava com os punhos na cintura, olhando para uma grande construção gótica à sua frente. Uma construção de no máximo três andares verticais e uma série longa de andares horizontais, em seus vértices havia pequenas torres em formato de pirâmide equilátera com grandes hastes de metal. Em seu centro, uma grande torre com um relógio de quatro lados marcando “8:34”, enfeitada com estátuas de sapiens em cada lado do relógio.
Ao lado da construção havia dois grandes arcos que se estendiam por metros para os lados, abrigando trilhos de trem que foram vistos segundos atrás por Niko ao atravessar uma ponte.
— É aqui o lugar?
— É sim. A estação de Loos. Faz tempo desde a última vez que vim aqui. Bom, vamos lá.
Os dois atravessaram a calçada de concreto, chegando no outro lado, o mesmo da estação de trem. O local, mesmo que de fora, era bem movimentado, com as pessoas passando por lá formando espécies de “filas espontâneas”, sendo a menor à esquerda para sair da estação e a maior e à direita para entrar nela.
Ao passarem por uma das quatro portas duplas de entrada, encontraram um hall com teto alto de cor creme, com uma área ampla. À sua frente, uma grande recepção circular com cabines separadas, cada uma com um funcionário e placas em cima. Nas paredes, pinturas, grandes vidraças coloridas, com um grande relógio à direita, e no teto, luminárias acesas em amarelo.
Além disso, centenas, quase milhares de pessoas estavam no local, algumas estavam andando, outras correndo, outras estavam paradas, mas, em geral, quase todas estavam carregando malas ou com mochilas nas costas.
— Aqui é muito grande. — comentou Niko enquanto seguia Evellyn, sempre olhando para todos os lados, admirando o local.
— Pois é, eu também fiquei impressionada a primeira vez que vim aqui. Agora a gente precisa comprar as passagens.
Ao chegarem na recepção circular, Evellyn ficou em órbita nela, olhando e apontando para as placas, parecendo procurar pelo trem certo.
— Colvenfurt, Colvenfurt, Colvenfurt. Aqui!
Em seguida, a garota entrou em uma pequena fila de umas sete pessoas, na fila da cabine 011. Após cinco minutos, chegou a vez da dupla. A recepcionista era uma mulher baixinha, de cabelos curtos, vermelhos e com orelhas felinas, usando um terno ajustado ao seu corpo.
— Nyan, bom dia senhores, como posso ajudá-los?
— Bom dia, duas passagens para Colvenfurt, por favor. — falou Evellyn
— Colvenfurt, certo. Linha 08, sentido Norvlyne. — disse a garota enquanto pegava papéis e fazia anotações. — Para quando seria a viagem, nyan?
— Para falar a verdade, nos queríamos o mais rápido possível.
— Tem certeza, nyan? A viagem pode ficar até três vezes mais cara.
— Não tem problema, dona. Quanto que fica e para quando é?
— Nove horas da manhã e vai custar oito Yzakels, nyan nyan.
Evellyn se virou para Niko, esboçando uma cara de dor. Aparentemente, oito Yzakels eram muita coisa, o suficiente para Evellyn se perguntar se valia mesmo a pena ajudar Niko.
— Moça, não pode ser mais barato não?
— Desculpe, nyan, mas eu não tenho permissão de te vender mais barato, nyan.
A elfa sentiu um aperto em seu coração e logo deu um grande suspiro, não tendo outra escolha senão pagar as passagens três vezes mais caras.
— Aqui, senhora… — entregando quatro cédulas à mulher.
Assim, Niko também tirou de seu bolso quatro notas, colocando no balcão. Após o pagamento, a recepcionista entregou para Evellyn dois bilhetes de papel com um sorriso no rosto.
— Muito obrigada, nyan!
Os dois deixaram a fila, andando em direção a uma grande escada que levava para baixo à direita, na mesma direção do grande relógio.
— Desculpa por isso, Evellyn. Se quiser, eu te dou o dinheiro da sua passagem.
— Relaxa, maninho. Precisa não.
Chegando ao final da escada, a dupla se deparou com um grande lugar, cheio de trilhos e alguns trens. Um barulho de vapor vinha em direção a uma das locomotivas, que chamou a atenção de Niko. Em seguida, as engrenagens de suas rodas se mexiam e ela se movimentava, saindo da estação em uma velocidade exponencial impressionante.
Indo em direção à plataforma 05, o trem ainda não havia chegado, fazendo com que Evellyn e Niko se sentassem em um dos muitos bancos de metal ali dispostos, apenas esperando pela locomotiva.
Ao passar alguns minutos, Niko ficou entediado, até pensou em ler o livro que trouxe, “O Reino Eterno”, um livro de história que conta a ascensão e queda do Império Angelical e o início da Era das Almas, mas o barulho que os trens emitiam não o deixava concentrado o suficiente para poder ler em paz, então desistiu da ideia. Nisso, se lembrou de sua amiga, a qual tinha várias memórias sobre a cidade que iriam.
— Como é em Colvenfurt, Evellyn?
— Ah, lá é bem legal. É um lugar bem movimentado… pelo menos era antes da guerra. Teve uma migração em massa durante a guerra e a cidade perdeu muita da sua população. Só espero que a Clementine não tenha saído de lá, a gente iria demorar mais ainda para encontrar a casa dela.
— Pensa em voltar a morar lá?
— Uhm, nunca tinha pensado nisso antes, acho que talvez sim. Velikdorf é uma cidade ótima, mas não sei se eu vou continuar morando aqui para sempre. — Evellyn olhou para um trem que estava partindo na sua frente. — E talvez voltar a viver em Colvenfurt não seja má ideia. — após terminar a fala, o trem sumiu de sua vista.
Um som de chaminé a vapor surgiu na plataforma 05. Niko virou seus olhos para a esquerda, onde viu uma grande máquina chegando, com seus vagões pretos com listras vermelhas.
Logo após parar, várias pessoas começam a descer do vagão da frente, passando em direção à escadaria que fica do lado oposto do trem, a mesma que Niko e Evellyn entraram. O letreiro ao lado do trem se atualizou: “Plataforma 05, Linha 08, sentido Norvlyne“, era o que estava escrito em cada uma das três placas. Algumas pessoas, que estavam sentadas perto de Niko, se levantaram, indo em direção à locomotiva.
— Esse é o nosso trem, Evellyn. Vamos entrar?
— Uhm, ah. Vamos sim. — disse a elfa se espreguiçando.
A dupla subiu as escadas, entrando no trem. O interior de cada vagão era feito quase que completamente de madeira, os assentos ficavam em grupos de quatro, um de frente para o outro, tinham almofadas vintages florais em tons de preto e vermelho, cada grupo de assentos tinha uma mesa e no chão, um tapete vermelho.
Niko e Evellyn passaram por apenas um vagão até chegarem a seus assentos. Evellyn sentou-se, colocando sua mochila ao seu lado, e Niko se sentou ao lado oposto de Evellyn.
— A viagem vai durar duas horas. Uhh-arr, só me acorde quando a gente chegar, tudo bem?
— Você vai dormir?
Em seguida, a elfa ficou com a cabeça para cima e com a boca aberta, roncando alto, claramente fingindo dormir. Ninguém dormia com aquela velocidade e daquele jeito, parecia que ela só queria ficar em paz, sem que Niko a incomodasse.
O garoto então pegou da mochila de Evellyn o livro que queria ler mais cedo, “O Reino Eterno”. O livro foi recomendado por Evellyn, a qual disse que era essencial para qualquer pessoa saber da história do mundo.Um som de chaminé abafado ecoou pelo trem, indicando a partida iminente, e assim que as portas de metal foram fechadas, o trem se movimentou. A cidade de Velikdorf foi deixada para trás, se transformando num pequeno ponto no horizonte, minutos depois.
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