Capítulo 24 – Elythera est aeterna
“O Império Angelical foi eterno, não por ter reinado sobre todos os povos ou perdurado até o fim dos tempos, mas pela sua indelével influência na história, nas artes, na cultura e, especialmente, nas guerras. Desde o seu início, marcou o alvorecer de uma era, uma era que transformaria para sempre a vida de todos os seres e de todas as nações do Reino de Deus. Elythera est aeterna. — Aurelius Cassian”
O livro iniciou com essa poderosa citação. Aquele início(não tão inicio assim, pois o albocerno pulou o prefácio) chamou a curiosidade de Niko, que mal podia esperar para saber o que seria o tal “Império Angelical Eterno”. Virando a próxima página estava o sumário, com as duas primeiras páginas com as informações dos capítulos e subcapítulos da obra.
“Capítulo 1: O Mundo Arcaico Pré-Anjos (De – 10.000Pr. à 1Po.) .. 15
1.1. As Civilizações do Mar de Saqiien .. 16
1.2. As Comunidades Proto-Feudais .. 20
1.3. O Desenvolvimento das Primeiras Cidades e Organizações .. 23
1.4. Desafios e Superações: Guerras, Fome e Catástrofes Naturais .. 26Capítulo 2: O Surgimento dos Anjos (1Po.) .. 32
2.1. O Mistério da Chegada .. 33
2.2. O Chamado do Povoado Devíttico .. 38
2.3. Sabedoria e Poder: A Primeira Inspiração dos Seguidores .. 42
2.4. Unindo Civilizações Rivais sob um Ideal Comum .. 46Capítulo 3: A Fundação do Reino Eterno (De 20Po. à 50Po.) .. 54
3.1. A Formação das Alianças: Unificação das Cidades-Estado e Reinos .. 55
3.2. O Papel Central dos Anjos na Construção da Capital .. 60
3.3. A Centralização do Poder e o Crescimento da Capital Elythera .. 66Capítulo 4: O Cântico (46Po.) .. 76
4.1. A Revelação do Cântico: Valores de Justiça, Piedade e Lealdade .. 77
4.2. A Transformação do Reino: Unidade e Conflitos Interpretativos .. 82
4.3. A Introdução das Diversas Correntes de Pensamento Religioso .. 87Capítulo 5: A Expansão da Ordem Alstra (De 62Po. a 835Po.) .. 95
5.1. A Expansão Territorial do Reino Eterno .. 98
5.2. Diplomacia e Conquista: A Expansão pela Guerra e Alianças .. 102
5.3. A Influência dos Anjos nas Campanhas Sapianas .. 107
5.4. A Disseminação dos Ensinamentos Altros nas Culturas Conquistadas .. 112Capítulo 6: A Idade de Ouro do Reino (De 756Po. à 835Po.) .. 120
6.1. Avanços Culturais: Arquitetura, Comércio e Filosofia .. 123
6.2. A Prosperidade Econômica e as Riquezas das Rotas Comerciais .. 130
6.3. A Celebração da União entre Sapiens e Anjos .. 136
6.4. A Crescente Estabilidade e os Primeiros Sinais de Desafios Futuros .. 142”
Com o fim da primeira pagina do sumário, Niko começou a ver a segunda.
“Capítulo 7: O Fim da Eternidade (836Po.) .. 150
7.1. A Morte do Reino Eterno: O Colapso Misterioso .. 153
7.2. O Impacto Social da Destruição .. 158
7.3. O Legado dos Anjos e o Destino das Civilizações .. 163Capítulo 8: O Início da Era das Almas (De 836Po. à 3673Po.) .. 170
8.1. O Surgimento de Novos Impérios e Civilizações .. 173
8.2. As Consequências da Queda do Reino Eterno para a Sapienidade .. 179
8.3. A Transição para uma Nova Era .. 185
8.4. Reflexões sobre o Fim e o Começo de um Novo Ciclo .. 190”
Aquele conhecimento novo e abstrato trouxe perguntas e teorias à mente de Niko. “O que foram os anjos?”, “o que foi o “Reino Eterno”?”, e principalmente “O que foi o “Colapso Misterioso”?”, esses pensamentos invadiram a cabeça de Niko, que mal podia esperar para ler. A fim de saciar seu desejo, virou a próxima página, chegando ao primeiro capítulo.
“Capítulo 1: O Mundo Arcaico Pré-Anjos (De – 10.000Pr. à 1Po.)
Na percepção popular, o período anterior à chegada dos Anjos é frequentemente descrito como uma era de caos, marcada por fragmentação social, conflitos incessantes por recursos escassos e a luta constante contra as adversidades de um ambiente hostil. No entanto, essa visão simplista negligencia a resiliência e a engenhosidade das civilizações que habitavam esse mundo…”
A introdução do primeiro capítulo seguiu descrevendo como era o modo de vida das primeiras civilizações do mundo antigo em todos os continentes, sendo essas sedentárias, vivendo de agricultura e pecuária em cidades-Estado, pequenos reinos ou até mesmo em grandes impérios. Perto do final da introdução, o escritor cita um dos lugares mais avançados do mundo arcaico, O Mar de Saqiien, um mar entre os continentes de Zyuelm e Devitte, lar de diversos pequenos povoados descentralizados, um local de riqueza cultural e histórica enorme.
“…abordado no capítulo seguinte.
1.1. As Civilizações do Mar de Saqiien
O contato entre os diversos povos que habitavam as margens do Mar de Saqiien desempenhou um papel central no desenvolvimento cultural e econômico da região. As trocas constantes de bens, ideias e práticas fomentaram um ambiente de inovação e prosperidade, onde avanços em áreas como navegação, agricultura e arquitetura floresceram…”
O contato entre esses muitos povos ajudou na cultura, ciências e comércio da região, se tornando bastante rico, tanto culturalmente quanto economicamente.
Nas páginas seguintes, o escritor descreve as principais nações que habitavam o litoral, sendo esses: Endovia, um arquipélago montanhoso, que se destacava pelas comunidades com forte identidade coletiva; Caltrônia, com navegadores habilidosos, explorando rotas marítimas para o comércio, tendo várias tradições artísticas, como música e dança; Braqielus, localizado em uma região de climas amenos e terras férteis, possuía uma avançada infraestrutura para sua época e festas que celebravam a dualidade entre ordem e natureza; por último, Qädimar, situado às margens de rios férteis em meio a vastos desertos, eram conhecidos por seus templos majestosos e estruturas simbólicas.
“…civilizações Saqiienianas antes da chegada dos anjos.
1.2. As Comunidades Proto-Feudais
As comunidades feudais primitivas que floresceram ao redor do Mar de Saqiien marcaram uma transição significativa entre as pequenas aldeias descentralizadas e os primeiros esboços de sistemas organizados de poder…”
Aquele foi um capítulo entediante para Niko, que mal conseguiu prestar atenção. O capítulo basicamente falava da metamorfose das aldeias primitivas para civilizações proto-feudais, seus impactos nas vidas dos agricultores e comerciantes locais, dos grupos distantes de Saqiien que não passaram por esse tipo de mudança, entre outras coisas desinteressantes.
Niko pegou o marca-página de fita e o colocou entre os papéis, marcando a página “23” no livro, deixando-o na mesa e dando início à sua pausa de leitura. “Nunca imaginei que este mundo fosse tão complexo”, pensou ele enquanto olhava para a janela, sem conseguir enxergar a paisagem devido ao embaçado pelo frio.
Olhando para frente, o garoto encontrou Evellyn, agora parecendo dormir de verdade, sem aquele ronco alto falso de antes, mas sim com pequenos suspiros, com a cabeça apoiada na janela e abraçando sua mochila.
Virando seu olhar à direita, viu duas pessoas lendo livros e uma escrevendo ou desenhando algo em um folheto. A mulher idosa parecia estar rabiscando o que estava em sua mão. Olhando mais de perto, ele lê seu título “Sudoku”.
Ele pegou seu relógio de bolso com os ponteiros apontados para a esquerda, indicando o horário, “9:53”. O garoto se levantou, foi em direção ao final do vagão, abriu sua porta grossa de metal, surgindo um grande barulho de maquinaria a vapor, junto de um intenso vento e frio vindos do lado de fora. Ele atravessou a porta a fechando logo em seguida. Estando entre os dois vagões Niko percebeu uma escada ao seu lado, onde levava a parte de cima do trem.
Em cima da locomotiva, ele olhou para a paisagem sem a translucidez da janela, se sentando na ponta do vagão, admirando o retrato à sua frente. Um campo nevado, com poucas árvores, algumas casas conectadas por apenas uma estrada e cercas em volta delas. Parecia uma fazenda, parada agora por ser inverno, com os animais nos estábulos apenas descansando, esperando a neve passar e as flores começarem a desabrochar. Uma vista realmente linda.
Niko ficou observando a vista à sua frente com o frio batendo em seu rosto, um frio agradável e relativamente fresco, que contribuía para a experiência que estava tendo naquele momento de apreço, naqueles segundos e minutos em que estava lá sentado.
Após a breve pausa, o garoto retornou ao seu assento e abriu o livro na página em que havia parado, retomando a leitura.
“1.3. O Desenvolvimento das Primeiras Cidades e Organizações
O surgimento das primeiras cidades ao redor do Mar de Saqiien representou um marco transformador na história das civilizações da região. À medida que comunidades sedentárias cresciam em número e complexidade, surgiram centros urbanos que funcionavam como núcleos de comércio, administração e cultura…”
O capítulo explicou com detalhes o funcionamento do desenvolvimento das organizações políticas e sociais das “cidades marítimas” que trouxe maior estabilidade, permitindo avanços na gestão de recursos, na criação de leis e no estabelecimento de sistemas de cooperação entre as comunidades vizinhas.
“1.4. Desafios e Superações: Guerras, Fome e Catástrofes Naturais
A história das margens do Mar de Saqiien é profundamente marcada por adversidades que moldaram as comunidades e suas culturas. Durante milênios, os povos da região enfrentaram guerras devastadoras, fome generalizada e a força imprevisível da natureza. Esses desafios, embora catastróficos, também impulsionaram a inovação e a resiliência das civilizações locais…”
Durante a era arcaica, no Mar de Saqiien, as civilizações eram rodeadas de miséria e caos em vários momentos. O escritor descreve os períodos em que milhares de pessoas morreram por conta de fome e guerra. Em especial, ele fala da Guerra das Três Margens, uma guerra de três lados travada em cerca de 800Pr. entre vários reinos de Qädimar, Braqielus e Caltrônia pelo controle de um delta fértil, causando a morte de trinta a cinquenta mil pessoas em um período de quinze anos somente no campo de batalha.
Ele também cita um grande terremoto que houve na região de Qädimar em 12Pr., “O Grande Terremoto de Zalthora”, que destruiu quase que completamente a cidade de Zalthora, demorando milênios para ela se recuperar completamente desse desastre que tirou a vida de no mínimo seis mil pessoas.
“Capítulo 2: O Surgimento dos Anjos (1Po.)
O surgimento dos Anjos, como eventos sobrenaturais que abalaram o mundo arcaico, foi uma virada inesperada na história do mundo. Em Qädimar, uma terra onde o sol impiedoso queimava as dunas de areia e os rios tentavam dar vida ao deserto, um acontecimento transcendental, até então impensável, se fez presente. Embora muitos povos acreditassem em deuses que residiam no céu ou na terra, a chegada dos Anjos trouxe uma nova dinâmica à realidade já delicada da região. Para os habitantes de Qädimar, os Anjos não eram apenas seres divinos, mas figuras quase mitológicas, portadoras de conhecimento inédito e de um poder que nenhum ser Sapien poderia compreender ou contestar. Era um fenômeno que misturava misticismo, temor e reverência, e que desde o princípio, começaria a redefinir o futuro das civilizações conhecidas.”
Aquela era a introdução do segundo capítulo, rápida, direta e curta. Ela respondeu uma pergunta de Niko, que era “De onde surgiram os anjos?” Resposta: Nas civilizações Qādimarias em Devitte. Porém, aquela resposta deixou Niko ainda mais curioso sobre os anjos e a história do mundo.
“2.1. O Mistério da Chegada
A chegada dos Anjos foi um evento envolto em mistério. Surgiram não por meios naturais ou simplesmente como parte de um ciclo esperado, mas de maneira abrupta e dramática, como se estivessem descendo dos céus, em uma dança silenciosa com as estrelas. No primeiro instante, ninguém sabia exatamente o que acontecia. As estrelas pareceram brilhar mais intensamente, e os ventos, antes áridos e implacáveis, cessaram como se a própria natureza tivesse parado para testemunhar o evento. Para os habitantes das margens dos rios de Qädimar, a visão dos Anjos parecia um prenúncio, algo maior do que a própria existência humana poderia compreender. Eles não vieram com armas nem discursos imponentes. Em silêncio, pairaram sobre as águas dos rios, entre o calor do deserto e o frescor das margens, provocando os primeiros questionamentos dos seres sapianos sobre seu próprio lugar no mundo…”
Embora fosse fantástica essa história da chegada dos anjos, o autor afirmou em seguida que não se tem certeza se foi isso de fato que ocorreu, já que o registro mais antigo encontrado foi em 23Po., mais de duas décadas depois de sua chegada, em um conto de um autor sem nome.
O autor explica que os anjos surgiram graças às orações dos povos de Qādimar, que desejavam paz, riqueza e prosperidade. Os anjos atenderam esse pedido de ajuda com uma condição: sua conversão à Ordem Alstra.
Os anjos eram criaturas mágicas, cada um com uma característica diferente do outro, em específico, seus poderes. Havia Isalya, a anjo da natureza e da vida, Selunor, o anjo da Lua e das noites, Pyrixo, o anjo do fogo e do sol, entre muitos outros seres divinos, imortais e de grande poder, cada um único e insubstituível.
Assim que Niko terminou o capítulo, um som de chaminé surgiu, indicando a próxima parada, a estação de Colvenfurt, destino da dupla. Ele marcou a página em que havia parado e olhou para a janela. Mesmo embaçada, era possível ver uma grande estrutura de metal e concreto. Eles chegaram à cidade.
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