Índice de Capítulo

    O projétil de cristal azul atingiu Hyandra em cheio. O impacto a lançou para trás, derrubando cadeiras e rachando parte da parede.

    Com o início da luta, Gregory sacou uma adaga média de dentro de sua roupa, atravessou a mesa, em investida em direção a Evellyn, tentando perfurar seu peito.

    Antes que a lâmina pudesse atingir a garota, Niko se colocou na sua frente, defendendo Evellyn com sua grande foice. O garoto jogou a lâmina de Gregory para cima com sua arma, logo depois atingindo-o com a parte não cortante, fazendo-o mover um pouco para trás, o suficiente para que não fosse uma ameaça pelos próximos segundos.

    — Eu cuido da Hyandra e você dele! — disse a Evellyn.

    — Entendido.

    A garota então subiu em cima da mesa, em disparada para a mulher alta, que nesse momento estava quase totalmente recuperada do golpe da elfa.

    Gregory novamente avançou em direção à elfa, não dando mais de alguns passos, seguido de Niko aparecendo na sua frente com uma postura de combate, convidando-o para uma luta.

    Ao perceber que para ajudar sua mestra teria que lutar contra Niko, o serviçal se virou para trás, andando em direção à lareira acesa, onde pegou um objeto perfurante comprido com uma guarda-mão estilosa. O objeto parecia até mesmo uma espada de perfuração.

    Atrás de Niko, um som seco de rachadura preencheu o ambiente. A curiosidade venceu o garoto e ele virou seu olhar para trás, vendo uma parede aberta com Hyandra bem à sua frente. Niko deduziu que Hyandra arremessou Evellyn contra a parede, criando aquele enorme buraco.

    — Evel-!

    A dor veio antes do fim da frase. Um incômodo agudo no ombro direito. O garoto engoliu o grito e girou o olhar para Gregory. O serviçal estava próximo, a arma ainda esticada, a lâmina afundada em sua carne.

    Assim que os olhos de Niko se encontraram com os de Gregory, o serviçal retirou a ponta da arma do albocerno, recuando para trás, fazendo sangue jorrar da ferida, exibindo o líquido vermelho presente em sua arma. Na reação, Niko cobriu o machucado com a mão esquerda, ainda apontando a foice em direção ao homem elegante.

    — Eu poderia tê-lo matado se quisesse, atingindo seu pescoço ao invés do ombro. A primeira lição que vai tirar dessa batalha é: não vire as costas para o oponente. Caso faça isso, estará morto em segundos. — disse o mordomo.

    Gregory então correu em direção a Niko, tentando acertá-lo em diferentes posições, com o garoto se defendendo com a lâmina de sua arma enquanto andava para trás.

    Niko sacou uma de suas facas, lançando-a para frente e usando o Portal em seguida. Atrás do oponente, ele atacou por cima, em direção às costas do homem, que se defendeu no último segundo, parando a lâmina com o atiçador de lareira, ainda de costas e olhando para trás.

    Com a guarda aberta, o serviçal deu um soco no estômago de Niko, se desestabilizando e tossindo no processo. Gregory então segurou o bastão da foice, colocando-o sobre o pescoço de Niko e empurrando-o para a mesa de jantar, sufocando o garoto na ponta da mesa.

    — Segunda lição: nunca deixe a guarda aberta.

    Buscando escapar, Niko usou novamente seu Portal, ficando de frente para o mordomo, atacando-o e tentando se manter na ofensiva. Porém, seu plano não deu certo, e logo perdeu sua posição de atacante para defensor.

    Os golpes de Gregory eram mais rápidos e ágeis que os de Niko, que eram menos velozes e previsíveis, mas em compensação, mais letais.

    Os dois estavam próximos a uma porta, quando Gregory deu uma estocada veloz em sua direção. Sem ter como desviar, Niko sacou uma de suas adagas, lançando-a para trás do serviçal o mais rápido possível.

    Quando o ataque de Gregory iria acertar o albocerno, Niko usou seu Portal, ficando atrás do oponente, atacando-o com uma ombrada, fazendo os dois atravessarem a porta, mudando a luta de cômodo, agora para um extenso corredor.

    Gregory foi o primeiro a se recompor. Ele segurou o atiçador de lareira com ambas as mãos e investiu contra Niko com um golpe certeiro, mirando seu crânio. O garoto ergueu a foice horizontalmente, com a outra mão apoiada na lâmina, segurando o impacto, sentindo os pés deslizarem para trás com a força do ataque.

    O movimento de Niko fez a dor em seu ombro aumentar, assim o garoto grunhiu de dor. Visando acabar com parte daquele sofrimento, empurrou a lâmina de sua foice para frente, chutou a perna de Gregory para afastá-lo e, em seguida, girou a foice em um arco diagonal.

    Gregory saltou para trás, evitando o golpe por centímetros, e usou o momento para atacar com uma estocada rápida.  Niko desviou para o lado, mas sentiu a lâmina fria deslizar superficialmente contra sua costela esquerda, rasgando parte de sua roupa e pele. Ele novamente lançou uma de suas lâminas para trás, usando o Portal e criando uma distância segura entre ele e Gregory.

    O serviçal manteve sua postura impecável, ajeitando o terno com a mão esquerda, tirando um pano de sua roupa e limpando o sangue da ponta do atiçador em seguida, tingindo a seda branca de vermelho. Após se arrumar, estendeu a arma com o braço direito e colocou o esquerdo para trás, ficando em uma posição de esgrima.

    Enquanto o homem elegante se arrumava durante a pausa, Niko tentou se recompor dos machucados que recebeu, esfregando a mão nas feridas. Suspirou fundo e guardou sua foice na bainha atrás. Quando o serviçal ficou na posição de esgrima, Niko sacou uma pistola de seu manto.

    O garoto mirou na direção de Gregory, disparando um total de três vezes. Gregory desviou do primeiro disparo para baixo, cortou o projétil do segundo e foi acertado pelo terceiro na coxa esquerda, criando um buraco na lateral da perna. O homem esboçou uma expressão de dor, olhando rapidamente para a ferida sem sangue. Ao olhar para frente, viu Niko se aproximando com a foice em suas mãos.

    Outra batalha física se iniciou, com Niko cortando o ar e Gregory desviando e se defendendo dos ataques, criando faíscas e sons de metal sendo ecoados pelo corredor. Foi então que Niko atacou por cima de Gregory, em um ataque vertical, que apenas se defendeu, parando a lâmina com a arma.

    Gregory juntou todas as suas forças no joelho direito, movendo-o para a barriga de Niko. Antes que o ataque acertasse o albocerno, Niko agarrou a perna de Gregory, prendendo-a como uma isca, assim controlando seu corpo e jogando-o para uma porta e chegando assim à biblioteca.

    O serviçal tropeçou para dentro da biblioteca, derrubando uma pequena pilha de livros que estava em uma mesa próxima. Niko entrou logo atrás, segurando a foice com firmeza e analisando o novo ambiente.

    Era um salão amplo e escuro, com altas e pesadas estantes de madeira que formavam corredores labirínticos. O local tinha cheiro forte de papel velho e cera derretida das poucas velas que iluminavam o espaço. O tapete felpudo abafava os passos dos dois, tornando o ambiente ainda mais silencioso.

    Gregory estava com uma postura fraca, como se estivesse sofrendo muito pelo golpe de Niko. Em um instante, o homem, antes fraco, avançou com toda a sua velocidade em direção a Niko com a arma estendida, tentando estocá-la em seu peito. Antes que a arma perfurasse Niko, o albocerno usou seu Portal, desaparecendo em meio à velha biblioteca.

    Niko surgiu no segundo andar do local dos livros, podendo ver Gregory de uma visão privilegiada com a luz que vinha do corredor. O garoto tirou sua pistola do manto, puxando o carregador da arma e contando a quantidade de munição que ainda tinha. “Cinco balas mais um carregador inteiro são treze”, pensou ele. Niko voltou o carregador da arma silenciosamente, voltando-a contra o oponente.

    Gregory olhou para os lados em busca do albocerno, quando não o encontrou, correu para dentro do labirinto de estantes, tentando desaparecer nas sombras. 

    Já Niko permaneceu no andar superior, observando o serviçal entre os corredores formados pelas estantes. Ele controlou sua respiração e apontou a pistola, buscando um ângulo perfeito, disparando em seguida.

    O disparo atravessou o espaço vazio onde Gregory estivera um segundo atrás. O homem de terno havia saltado para o lado, desviando com uma velocidade assustadora. “O quê?!”.

    Gregory esticou a arma entre os livros das estantes enquanto estava correndo, fazendo livros caírem como uma avalanche de páginas, cobrindo parte da biblioteca com poeira fina. A névoa de papel e pó dificultou a visão de Niko, que instintivamente recuou para trás.

    “Ele está usando distrações para eu perdê-lo de vista?”. Mas ele não teve tempo de pensar muito. Gregory já estava se movendo pelas sombras da biblioteca, aproveitando a cortina de poeira e papéis para se aproximar furtivamente de Niko, com ele desaparecendo sob seus pés.

    Algo cortou o ar ao lado de Niko, que ativou seu Portal no último segundo, desviando-se da estocada que teria atravessado seu peito. Ele reapareceu do outro lado do andar, graças a uma faca que havia jogado mais cedo.

    — Esse seu truque está começando a me irritar. — disse o serviçal.

    Niko pegou uma de suas facas e a lançou para trás de Gregory, que estava completamente imóvel, atento a qualquer sinal da Alma de Niko.

    Niko partiu para um ataque direto, correndo contra Gregory com a foice em mãos. O serviçal se defendeu, aparando os golpes com o atiçador de lareira, criando faíscas entre os fortes golpes.

    Gregory começou a forçar Niko para trás, tentando dominá-lo com seus golpes rápidos. Enquanto isso, o garoto recuava, esperando pelo momento certo. 

    Quando Gregory estava prestes a desferir um golpe certeiro, Niko ativou seu Portal da adaga que havia lançado antes. Ele reapareceu bem atrás do mordomo, que se virou para trás com uma grande velocidade, mas não teve tempo de se defender do chute que recebeu nas costelas, fazendo-o cambalear para trás e cair em uma das estantes.

    Ao olhar para frente, ele viu Niko bem à sua frente, apontando uma arma de fogo para ele com a mão esquerda enquanto segurava a foice com a direita, rendendo o homem chique por completo.

    — Acabou. Por favor, desista da luta.

    Terminando de ouvir essas palavras, Gregory deu um ataque horizontal com extrema força e velocidade, desarmando Niko, que mal conseguiu reagir ao golpe.

    Avançou a arma com o braço direito para a barriga de Niko, defendendo-se com sua foice no último instante.

    — Terceira lição: tenha certeza de que o inimigo não conseguirá mudar o rumo da luta.

    Enquanto dizia a terceira lição, o serviçal pegou um candelabro pesado da estante ao lado com a mão livre, atacando Niko na cabeça, fazendo-o ficar desnorteado e com uma intensa dor na cabeça. Em resposta ao forte golpe, Niko fechou um dos olhos e colocou a mão ao lado do chifre.

    Com o caminho livre, Gregory lançou o pesado objeto para a grande e colorida vidraça atrás dele, deixando-a em milhares de pedaços, pulando logo em seguida para fora da mansão, onde a lua e as estrelas iluminavam o local em azul.

    O serviçal aterrissou, deslizando pela neve e dando uma cambalhota para amortecer o impacto. Niko seguiu o homem, usando sua Alma para aterrissar no chão em segurança.

    Naquele momento, eles estavam em um grande jardim, cercado pelas paredes da mansão, o mesmo que viram anteriormente no corredor. O campo era relativamente grande, tinha alguns arbustos e estava coberto de neve.

    Quando Niko chegou ao chão, pequenos flocos começaram a cair do céu, começou a nevar, tornando a noite ainda mais fria. Ambos se encararam por um breve instante, enquanto a respiração quente do garoto formava uma nuvem branca no ar gélido.

    O mordomo ajeitou o casaco, limpando a poeira do ombro e segurando o atiçador de lareira como se fosse uma espada nobre.

    — Você não desiste fácil, não é? — comentou o serviçal, com um tom de falsa admiração. — Acha que me atrasar aqui vai ajudar sua amiga? Desculpe dizer isso, mas minha Lady é muito forte. Sua amiga não tem a menor chance contra ela.

    Niko não respondeu de imediato. Seu coração ainda estava acelerado pelo ritmo da luta e suas feridas ainda pulsavam com dor.

    — Cala a boca.

    — Uhm?

    — Cala a boca e vamos acabar logo com isso.

    Gregory respondeu, fixando seu olhar em Niko, avançando para um ataque direto. A neve sob seus pés mal produziu som quando ele se moveu, como se nem estivesse correndo de fato, estocando a lâmina em direção ao peito de Niko.

    O garoto desviou para o lado, assim, girou a foice de baixo para cima, tentando desestabilizar o inimigo. Gregory deu um passo para trás, evitando o golpe com a graça de um dançarino.

    Niko não perdeu tempo. Lançou uma adaga ao lado do serviçal e imediatamente apareceu atrás dele. Gregory, no entanto, já esperava essa manobra e girou rapidamente, deslizando na neve para manter o equilíbrio.

    Os dois trocaram golpes em sequência. Gregory estocava e cortava em ângulos rápidos, forçando Niko a recuar e desviar o melhor que podia. A ferida que os dois sofreram ajudou a equilibrar a luta, prejudicando a locomoção e agilidade de Gregory e a força de ataque de Niko.

    Foi então que o serviçal quebrou o ritmo da batalha. Ele fingiu um ataque direto à barriga, mas no último segundo mudou o ângulo, atacando a perna direita de Niko, perfurando um dos tendões. O garoto grunhiu de dor e cambaleou para trás, perdendo o equilíbrio.

    O mordomo não perdeu tempo. Com um chute forte, jogou Niko no chão. Antes que o albocerno pudesse reagir, o serviçal se jogou sobre ele, pisou sobre seu peito, pressionando a lâmina fria contra seu pescoço.

    — Parece que isso termina aqui — sussurrou o assassino.

    Ele ergueu a lâmina para o golpe final, uma estocada certeira na garganta de Niko. Mas antes que pudesse atacar… o garoto ativou sua Alma mais uma vez. Em um instante, desapareceu debaixo de Gregory e reapareceu atrás dele, segurando a foice instintivamente.

    O serviçal piscou, surpreso, sentindo algo frio e pontudo em seu peito, deixando-o mais fraco. Olhando para baixo com dificuldade, viu uma enorme lâmina perfurando seu peito.

    Os dois ficaram imóveis por um momento. O atiçador de lareira caiu da mão de Gregory, afundando na neve macia. Niko arregalou os olhos, sentindo seu coração disparar. A batalha estava acabada, mas ele não se sentiu satisfeito, pelo contrário, se sentiu ansioso.

    O serviçal deu um passo para frente, caindo no chão branco, soltando um suspiro trêmulo. Seu corpo começou a emitir um brilho pálido, como se uma poeira branca estivesse escapando da ferida.

    Niko se jogou na neve, apoiando a cabeça do assassino em seu braço, tentando cobrir desesperadamente a grande abertura em seu peito com as mãos. Porém, quanto mais pressionava contra a ferida, mais brilho saía de dentro dela.

    — Não, não, não, não, não, não, não. Me desculpa, e-eu não queria isso. Por favor, não morra. Eu não… — suplicou Niko, com a voz trêmula.

    Gregory olhou para Niko, os olhos vazios, a expressão cansada. Ele abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu.

    A luz ao redor dele se intensificou. Pequenos flocos brancos escaparam de seu corpo, dissolvendo-se no ar. A poeira brilhante se misturou à neve que caía, até que restasse apenas o vazio.

    — Não, não, não…

    Niko segurava apenas o nada. O chão sob ele estava intocado, sem sangue, sem marcas, como se Gregory nunca tivesse estado ali.

    O garoto engoliu seco, sua boca e dedos estavam trêmulos. Ele queria entender o que havia acabado de acontecer. Queria processar tudo que havia acontecido, mas não havia tempo. Do outro lado da mansão, explosões ecoavam pelo ar. 

    Niko virou seu olhar trêmulo para frente, reajustou sua expressão no rosto. Seu corpo não parava de tremer, mas se seu corpo não obedeceria, ele teria que ser mais forte que ele.

    Mesmo ansioso e com medo, Niko se levantou, afinal, Evellyn precisava dele. Pegou o atiçador de lareira, fincando-o sobre o chão. Voltou seu olhar para cima e seguiu em direção à luta de Evellyn e Hyandra, pegando sua foice enquanto caminhava com seu Portal.

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