Índice de Capítulo

    Ela guardou os documentos na pasta, exceto pelo broche em seu peito, e seguiu até o balcão onde o recepcionista a esperava. Entregou a pasta com um sorriso no rosto. Seu coração ainda pesava, mas havia algo de libertador naquele gesto. Era como entregar um capítulo antigo e se permitir respirar um novo.

    — Muito obrigada.

    Ao se virar, viu Niko esperando perto da saída. Ela caminhou até ele, ainda sorrindo, e juntos deixaram o prédio.

    — O recepcionista se levantou. Espera só uns cinco minutos e você já pode usar sua Alma. — murmurou ela, sem tirar os olhos da entrada.

    O plano dos dois era dividido em quatro etapas: primeiro, recuperar os documentos e lembranças de Evelyn; segundo, esconder uma marca de Alma de Niko entre os papéis; terceiro, usar essa marca para que Niko usasse seu Portal e entrasse dentro do armazém; e por fim, encontrar a ficha de alistamento de Clementine, onde encontrariam seu endereço — pelo menos, o de dez anos atrás.

    As duas primeiras partes já estavam completas. Restavam apenas as duas finais.

    Caminharam juntos por alguns minutos, afastando-se do centro militar administrativo o quanto puderam. Depois de cerca de sete minutos, Niko avistou um beco discreto entre dois prédios.

    — Evelyn, vamos por aqui. Vai ser mais seguro se eu desaparecer em um lugar menos visível. Vai que alguém vê e chama a polícia…

    — Bem pensado.

    Os dois deram meia volta, deixando a rua relativamente movimentada e entraram no beco escuro. Evelyn encostou-se à parede do beco e deixou o corpo escorregar até sentar-se no chão. Niko tirou uma de suas adagas e a entregou a ela.

    — Eu tô adorando essa aventura. Nunca pensei que iria passar por isso alguma vez na vida, valeu mesmo por esse entretenimento. Ah, e toma cuidado, Niko.

    — Vou me cuidar.

    E com isso, Niko desapareceu. O beco ficou silencioso outra vez. E Evelyn ficou sozinha de novo.

    O beco era estreito e escuro, o tipo de lugar onde o silêncio parecia mais denso. O concreto sob suas pernas era frio, mas ela não se importava. Ela girou a adaga de Niko entre os dedos e suspirou.

    Engraçado como um estranho pode parecer tão confiável assim tão rápido…”, pensou, encarando a lâmina. “Ele tem algo nos olhos. Um tipo de dor… diferente da minha… Como será que é perder tudo o que você já teve na vida?

    Fechou os olhos por um instante. Ainda era possível ouvir o som de passos distantes na calçada, mas abafado pelas paredes do beco.

    — Deve ser nada fácil… — respondeu a própria dúvida.

    Estava distraída com os próprios pensamentos quando sentiu um movimento rápido à sua esquerda. Alguém entrou no beco — os passos leves demais para serem inocentes.

    Evelyn não se mexeu de imediato. Continuou sentada, como se ainda não tivesse notado a presença. Mas seus olhos já estavam atentos, e sua mão livre já estava sobre o cabo da adaga.

    Antes, Evelyn sentada no chão era a única coisa que via, agora, estava vendo nada, um completo breu. Somente sua mão, que estava encostada na marca de Alma, tentava o guiar às cegas. Então… um leve “clique” soou, o garoto agora podia enxergar no escuro e a lanterna em sua mão iluminou o ambiente.

    Ele estava no armazém. Havia uma série de estantes e gavetas, guardando milhares de documentos e arquivos. Não perdeu tempo, Começou pela busca após uma breve olhada no local.

    Ele estava próximo do fim do corredor. Percebeu que os arquivos estavam organizados por anos: “4488”, “4489”, “4490”…

    Ela se alistou em 4492, então eu tenho que encontrar essa divisão”, pensou. Mas quando começou a busca percebeu que a estante “4492” não existia. No lugar onde devia estar, estava uma sessão inteira marcada em “Grande Guerra”.

    Começou a procurar pelo nome de Clementine na sessão, encontrando diversas outras pessoas no lugar. Lukas Novotný. Marek Kowalski. Tomasz Richter. Janek Horváth… Porém, não encontrou nada de Clementine Havelka. Havelka era o sobrenome da mulher — pelo menos segundo o que Evelyn disse.

    Até que, por fim, avistou o nome: Clementine Havelka Mirov. “Então esse era o nome completo dela.” Na mesma hora, Niko agarrou a lanterna com os dentes e abriu o documento, procurando pelo endereço da mulher.

    A pasta estava levemente empoeirada. Dentro havia diversos documentos sobre seu desempenho militar — disciplinada, eficiente e com menções elogiosas de dois comandantes diferentes —, cartas entre oficiais mencionando ela, e um boletim médico detalhado que indicava uma fratura no tornozelo ocorrida em combate e, por fim, sua ficha de alistamento.

    A ficha contava com as informações da mercenária: nome completo, nome dos pais, data e local de nascimento, altura, cor dos olhos… Somente no final da folha constava a sua residência.

    Endereço residencial: Rosenhain, Rua Altstadt, Nº42

    Aquele era o próximo passo da investigação. Niko anotou rapidamente o local em seu bloco de notas, fechou a pasta, guardou a lanterna e ativou o Portal de retorno.

    — Ai! Desculpa, desculpa! — clamou uma voz masculina jovem.

    — Você achou mesmo que ia conseguir me roubar tão fácil assim, seu merdinha?!

    Voltando para o beco, Niko viu uma cena curiosa. Evelyn segurava um rapaz jovem pela gola, enquanto o colocava sobre a parede com uma mão e ameaçava ele com uma estaca de gelo na outra. O homem estava pálido, com os braços erguidos em rendição.

    — O que tá acontecendo aqui? — perguntou Niko, surpreso.

    — Ah, oi, Niko. Um rato tentou me assaltar, mas já resolvi. — disse, enforcando o ladrão como se não fosse nada.

    Evelyn soltou o ladrão subitamente, ficando de joelhos e tossindo um pouco. Ao olhar para cima, o jovem encontrou os olhos assassinos de Evelyn.

     — Vaza daqui e nunca mais volta!

    Em seguida, ele fugiu, saindo do beco. Correndo como um covarde.

    — E aí? Conseguiu?

    — Consegui. O endereço da Clementine está aqui.

    Niko entregou a Evelyn o bloco de notas, já com a página da anotação. Assim que a elfa pegou o bloco de notas, leu seu conteúdo.

    — Rosenhain, Rua Altstadt, número 42… Conheço esse bairro. Não é longe daqui. Acho que a gente consegue chegar lá em uma meia hora.

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