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    — Ah, é já na próxima rua. — disse um amigável estranho.

    — Muito obrigada, senhor! — respondeu a elfa.

    Já fazia meia hora desde que encontraram o endereço de Clementine. Agora, a dupla perambulava pelas ruas de Rosenhain, tentando localizar a casa exata.

    Evelyn havia parado para pedir informações a um homem que passava, e descobriu que estavam mais perto do que imaginavam — apenas uma única rua de distância.

    — Que tal se a gente comesse algo daqui a pouco, Niko? Acho que você vai gostar da comida daqui. É um pouco diferente de Reiken, então… o que acha?

    — Talvez à tarde.

    Estranhamente, Niko não estava sentindo fome. Mal havia almoçado no dia anterior e hoje apenas comeu um café da manhã leve. A verdade era que ele estava enjoado. A experiência de anteontem o abalou mais do que ele gostaria de admitir — mais até do que quando enfrentou o lufador.

    O bairro tinha ruas paralelepípedas levemente irregulares, algumas casas geminadas de dois andares com telhados inclinados e detalhes em madeira escura em paredes claras. As telhas lembravam escamas de dragões, e algumas sacadas tinham grades de ferro negro. A arquitetura era diferente da capital, mas isso não a impedia de ser agradável e bela.

    — Rua Altstadt. — disse ele, parando diante da placa fixada na parede de uma casa de esquina. — É por aqui, Evelyn.

    — Você acha que é pra esquerda ou pra direita que fica a casa dela, maninho?

    — Hmm…

    Do outro lado da rua, Niko observou duas casas coladas uma à outra. À esquerda, havia uma porta preta com o número “20” estampado. À direita, uma porta branca com o número “18” ao lado da maçaneta. Se os números diminuíam à direita, então aumentavam à esquerda — o que indicava que a casa de Clementine devia estar naquele sentido.

    — Esquerda.

    Caminharam juntos por uma rua residencial encontrando alguns pequenos jardins nas esquina. Casas com números crescentes passaram por eles: 23, 27, 34… até que finalmente surgiu a número 42.

    Era uma casa branca, em estilo enxaimel, simples mas elegantes. Era enfeitada com linhas de madeira escuras nas bordas. Um gramado levemente florido cobria o quintal da frente, cercado por um portão de grades pretas. Um telhado negro inclinado com uma pequena chaminé em cima.

    O lugar parecia silencioso até demais…

    A cerca da frente era baixa, feita de grades pretas de metal. Niko tentou abrir o portão, mas estava trancado. Ao olhar por de trás, notou uma maçaneta. Empurrou-a para baixo e depois para frente. Um clique e o portão se abriu. O caminho estava livre, sem chamar atenção dos vizinhos.

    Seguiram pelo caminho de pedras até a porta da frente. Diante da porta, Evelyn deu duas batidas. Toc, toc um som ecoou de dentro da casa. Era um som agudo e repetitivo, vindo de perto da entrada. Niko se assustou, suas pupilas se contraíram na mesma hora, e Evelyn instintivamente adotou uma postura de alerta. O som repetiu-se, mais uma vez… e então os dois relaxaram. Afinal, aquele som não era nada além de…

    — Um miado? — disse Evelyn, aliviada. — Uff, ainda bem que não era nada de mais.

    — Então… como a gente entra?

    Não era uma boa ideia vasculhar os lados da casa à procura de brechas, nem muito menos forçar a entrada. Quebrar uma janela, arrombar a porta… qualquer uma dessas opções chamaria atenção demais, especialmente em uma rua tão quieta. Um movimento errado, e estariam encrencados com toda a vizinhança — ou pior, com a polícia. Por sorte, a habilidade de Niko era completamente discreta — e eficiente — o bastante para que os dois conseguissem entrar pela porta da frente sem fazer nenhum barulho.

    — Espera um pouco.

    Niko puxou o bloco de anotações do bolso da calça e desenhou a sua marca de Alma, a mesma que gravava em suas facas. Arrancou a folha do conjunto, dobrou-a e a empurrou pela caixa de correio. Assim que a tampinha de metal fechou com um som suave, ativou o Portal.

    Em um instante, ele estava dentro da casa.

    O interior da casa era bem claro, iluminado pela luz do fim da manhã. À sua esquerda, havia um cômodo desorganizado com armários e uma mesa. À frente, um corredor levando a outros cômodos. Havia também uma escada que subia para o segundo andar, e descia — talvez para o porão.

    Enquanto explorava o ambiente, sentiu algo em sua perna. Algo pequeno e macio roçava contra sua canela. Ouviu novamente o mesmo miado de antes. Em um ato de cessar sua dúvida, olhou para baixo.

    Um gato laranja o encarava com olhos curiosos, apoiando as patas dianteiras contra sua calça. Parecia pedir atenção. Niko se agachou e tentou pegá-lo, mas o felino foi mais rápido — saltou direto para seu braço, subiu pelo ombro e ali se acomodou. Começou a cheirar seu rosto, como se quisesse conhecê-lo. Em resposta, Niko fez carinho em seu queixo, recebendo um ronronar imediato.

    Toc, toc. Um som de madeira batendo ecoou atrás de si.

    — Você tá aí dentro, Niko? — chamou uma voz feminina de trás da porta.

    — Tô sim.

    — E encontrou algum jeito para eu entrar?

    — Espera um pouco.

    Não havia encontrado nada até agora. É claro, já que gastou quase todo o tempo que estava dentro da casa entretido com o gato.

     Vasculhou o cômodo rapidamente e encontrou um chaveiro com três chaves sobre uma mesinha à direita. Tentou a primeira — não encaixava. Já a segunda deslizou perfeitamente. Virou a chave e abriu a porta para a elfa.

    — Muito obrigada.

    Evelyn entrou com calma, fechando a porta atrás de si. Assim que viu o gato no ombro do amigo, deu um sorriso caloroso.

    — Parece que você ganhou um novo amigo, hein? — disse, estendendo a mão para acariciá-lo. — Uhmm… “Mithi”. A Clementine te deu um nome legal, bichano.

    — Como você sabe o nome dele? — perguntou Niko, confuso.

    — Tava na coleira dele.

    Fazia sentido. Ele se sentiu um pouco bobo por não ter pensado nessa possibilidade, ou por não ter visto a coleira do gato primeiro. Talvez ele só estivesse distraído demais com a presença do gato para notar algo do tipo.

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