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    Evelyn saiu na frente, andando na direção do cômodo à esquerda. Mithi, o gato, aproveitou a oportunidade para pular do ombro de Niko. Aterrissou com leveza e, antes de seguir adiante, olhou por cima do ombro para o garoto, como se dissesse: “Vem comigo.

    Niko atendeu seu pedido. Seguiu o gato.

    O felino passou pelo corredor e virou na primeira porta à direita. Niko o acompanhou até uma cozinha. Era um ambiente modesto e funcional. Havia uma pequena mesa ao lado da porta, um balcão em formato de “L” com pia, uma fruteira vazia, alguns potes de temperos, armários altos, alguns barris e um fogão a lenha com marcas recentes de uso.

    Mithi se sentou levemente ao lado de duas tigelas vazias, com a cauda balançando lentamente de um lado para o outro. Agora tudo fazia sentido.

    — Ah… você só queria um pouco de comida. — disse Niko, agachando-se para acariciar o gato. — Tudo bem. Vou pegar algo pra você.

    Aquilo o fez pensar: se Clementine não voltava para casa há dois dias, então o gato provavelmente estava sem comer desde ontem — ou, no pior dos casos, desde anteontem. Isso, se aquela casa fosse realmente de Clementine e não de outra pessoa que estava morando lá no momento.

    — Niko! — gritou Evelyn, de algum cômodo distante. — A casa é mesmo dela. Encontrei uma conta de água recente no nome da Clementine.

    Confirmado. A casa era realmente dela. E o gato, também. A notícia era boa para a investigação — mas péssima para Mithi.

    Niko pegou uma das tigelas e a levou até a pia. Abriu a torneira, encheu com água limpa e retornou. O gato começou a beber de imediato, com uma sede evidente.

    Enquanto Mithi se saciava, Niko vasculhou os armários em busca de comida de gato. No primeiro armário que abriu haviam pratos e copos. No segundo, panelas. E no terceiro, finalmente, encontrou um pote de vidro com pequenos grãos ovais marrons. Ao abrir a tampa, o cheiro de peixe, carne e grãos confirmou sua suspeita — era ração de gato.

    Trouxe o pote consigo e serviu um punhado na tigela ao lado. Mithi, ainda lambendo os beiços molhados, foi direto para a comida. Niko devolveu o pote ao armário, satisfeito por, pelo menos, ter ajudado alguém nesse dia — mesmo que fosse só um gatinho.

    Ao sair da cozinha, encontrou Evelyn no corredor, tão perdida quanto ele.

    — Encontrou alguma coisa sobre o canal? Ou sobre o cliente? — perguntou ela.

    — Ainda não.

    — Beleza. Você pega os cômodos da esquerda, eu fico com os da direita.

    Niko apenas assentiu.

    Ainda havia quatro portas fechadas no corredor — duas de cada lado. Evelyn avançou para a sala mais próxima sem nem perder tempo. Dali era possível ver uma mesa de jantar grande, cadeiras encostadas, uma poltrona e cortinas grossas balançando bem de leve. “Deve ser a sala de estar.

    Niko avançou no segundo cômodo à esquerda. Era uma biblioteca — ou pelo menos, parecia uma. À direita, havia uma estante alta recheada de livros. À esquerda, de frente para a porta, uma escrivaninha arrumada. O ambiente tinha cheiro de papel antigo e madeira bem forte. Ali poderia haver algo útil… mas encontrar algo seria bem complicado. Com aquela quantidade de livros, uma busca completa levaria tempo. Decidiu começar pela escrivaninha.

    Sobre a mesa, havia uma ampulheta, uma máquina de escrever, uma lamparina e papéis espalhados. No segundo nível da escrivaninha, uma pequena prateleira com livros e um porta-retrato — mostrava Mithi, o mesmo gato laranja, sentado ao lado de um vasinho de flores.

    Pegou o primeiro papel. Estava escrito no topo com letras elegantes: A Loja dos Sussurros. O texto abaixo contava a história de Edmund Tilling, um homem que, guiado pela ganância, entrou em uma loja misteriosa e comprou uma caixa contendo um “sussurro”. O conteúdo o levou à morte — de susto.

    A leitura era envolvente, tão envolvente que Niko esqueceu por um momento por que estava ali. “O que eu vim fazer aqui mesmo…? Ah, sim! Encontrar pistas sobre o canal e o cliente.

    Sacudiu a cabeça. Precisava focar. Deixou o conto de lado e pegou outras folhas. Os títulos seguiam a mesma linha: A Costureira de Almas, A Lâmpada Eterna, A Maldição da Dama de Jade… não havia no nome do autor nos contos, então era bem provável que fossem de autoria de Clementine. Ela não parecia que vendia as obras, mas sim, que escrevia de hobbie.

    Na miniestante, os livros não ajudaram muito também. A Máscara do Carrasco, No Limite das Trevas… Somente romances de terror e mistério. Não tinha nada relacionado ao cliente lá.

    Foi o que pensava, até que abriu uma das gavetas. Lá dentro, dobrado com cuidado, havia um papel. Desdobrou com cuidado. Era uma carta — e a assinatura, era bem clara no rodapé: “Ahti”.

    — Encontrou algo? — disse Evelyn, surgindo na porta, se segurando no batente e deixando o corpo cair para o lado. — Porque na sala não tem nada.

    — Encontrei isso. — respondeu ele, estendendo a carta em direção a elfa.

    Ela pegou o papel e franziu a testa. Observando seu conteúdo enquanto estava pensativa.

    — É uma carta do Ahti para Clementine, mas não tem conteúdo. Tá totalmente em branco. — completou o garoto.

    Quando bateu os olhos na carta — antes de Evelyn aparecer no quarto —, Niko ficou confuso. Não havia parágrafos, não havia data, nem sequer uma saudação. Apenas o nome — Ahti. Aquilo era uma pista? Talvez. Mas ele não sabia o que fazer com ela. Era impossível afirmar qualquer coisa com certeza. Nenhuma mensagem explícita, nenhuma instrução, nenhum contexto.

    — É uma pista, né? — murmurou, incerto. — Ou talvez só… um código?

    Enquanto ele pensava, Evelyn cruzou os braços, com um sorriso de canto, mostrando bem sua presa saltada.

    — Ehe.

    Ela ligou o interruptor da sala, iluminando o cômodo em uma luz amarelada. Em seguida, se aproximou de Niko, pegando sua mão por cima, sem tirar o papel. Apenas o guiou, até que a carta ficou erguida contra a lâmpada.

    — Tem certeza de que tá em branco?

    A luz atravessou o papel. E ali, onde antes havia o absoluto nada, palavras surgiram como mágica.

    Rua das Acácias, Nº341, 12:30

    — Como você sabia disso? — perguntou Niko, com os olhos erregalagos de surpresa.

    — É um truque comum entre mercenários. A gente usa pra passar mensagens escondidas. A tinta só se revela apontando nesse tipo específico de luz. — disse ela apontando para o lustre. — Tenho uma lâmpada igual lá no meu quarto.

    — Enfim, o que tá escrito aí, maninho?

    — É só um endereço. “Rua das Acácias, Nº341”. Conhece?

    — Uhm… não. Mas parece um ponto de encontro. Quer ir até lá?

    Tudo indicava que lá era a próxima parada da dupla. Niko olhou para ela de olhos certeiros. Já tinha a resposta pronta antes mesmo de abrir a boca.

    — Você sabe que sim.

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