Índice de Capítulo

    Niko se encontrava em um salão amplo, luxuoso e iluminado por lamparinas de vidro âmbar. O chão era coberto por tapetes escuros, e uma música lenta preenchia o ar com um ritmo hipnótico. Homens e mulheres estavam espalhados por mesas, rindo, bebendo e conversando com vozes soltas demais. O cheiro no ar era uma mistura densa de perfume, álcool e incenso.

    E por toda parte, mulheres com… roupas curtas, coloridas e justas — sensuais demais para o gosto de Niko. Seus olhos se arregalaram. As íris contraídas denunciavam o choque que percorreu seu corpo.

    Que tipo de lugar é esse?”, pensou, envergonhado. Estava completamente deslocado daquele lugar. Não entendia o motivo das pessoas ali estarem tão tranquilas naquele tipo de situação tão embaraçosa.

    Um toque no braço esquerdo o fez girar o rosto. Uma mulher de cabelos rosa sorria para ele com expressão provocante, pressionando o busto contra seu ombro. Niko imediatamente desviou o olhar, com o rosto corando de tanta vergonha.

    — E aí, docinho? Procurando alguma coisa especial?

    — Eu… eu só tô procurando a Anna. — murmurou, quase inaudível.

    Pensou que, se encontrasse a Anna, talvez parasse de fazer aquilo.

    — Anna? Tem certeza? Eu posso ser bem melhor que ela, te garanto. — sussurrou no ouvido dele, a voz carregada de malícia.

    — Tenho certeza. — respondeu Niko, afastando a cabeça da mulher.

    Ela recuou, fazendo biquinho. Cruzou os braços, empinou o nariz e bufou. Ficou entre irritada e chateada.

    — Anna! Tem cliente pra você!

    De um dos cantos do salão, uma mulher alta, de cabelos negros, ergueu o olhar. Os olhos dourados encararam os deles por um segundo. Ela andou com passos curtos e hesitantes, os braços cruzados sobre o peito, como se tentasse esconder as partes mais expostas. Cada movimento deixava claro o desconforto dela com o próprio ambiente — ou com aquele tipo de abordagem. Parou à frente de Niko.

    — O-olá, senhor. Eu sou a Anna. Por favor, me acompanhe. — disse com a voz baixa e a postura tímida, quase encolhida.

    Ele apenas assentiu, desejando sair daquele salão o quanto antes. Seguiu-a em silêncio, passando por mais mesas e dançarinas, até ela abrir uma porta lateral que dava acesso à um corredor mais estreito.

    O silêncio ali era um alívio comparado a cena anterior. As lamparinas nas paredes lançavam sombras suaves, e havia um leve cheiro de fogo e cera derretida no ar.

    Ao final do corredor, uma escadaria subia até o segundo andar. Assim, subiram. Niko aproveitou a pausa para lembrar por que estava ali.

    — Você conhece alguém chamado Ahti?

    — O-o senhor Ahti? Sim, conheço. — disse Anna, ainda constrangida.

    Aquilo era bom. Se ela sabia quem ele era, talvez Ahti fosse um cliente regular. Ou talvez mais do que isso.

    — Como ele é?

    — Tem cabelo ruivo… olhos vermelhos… Ah! Por que eu tô te contando isso? É contra as regras! — ela pôs as mãos na cabeça, balançando-se para os lados, aflita. — Ai, ai, eu vou arranjar problema assim…

    A escada terminou em outro corredor, com tapete vermelho correndo por toda a extensão e luminárias de latão ao longo das paredes. Anna parou diante da porta número 23 e a abriu.

    Atrás da porta havia um quarto oval, com paredes vermelhas e carpete cinza no chão. No centro, havia uma cama redonda e uma pequena plataforma semelhante a um pequeno palco.

    — O quarto é bonito, mas por que estam- nhaaa!

    Algo molhado e quente tocou o pescoço de Niko. Ele ouviu um som abafado — quase um gemido — e congelou. Arrepiou-se da cabeça à ponta dos pés. Virou o rosto, assustado.

    — Por que você fez isso?

    — Só tava provando o seu gosto. Nunca fiz isso com um albocerno. Estou… tão animada.

    A mudança era nítida. A timidez desapareceu. A Anna que o guiou até o quarto havia sumido, e no lugar havia outra pessoa, dessa vez faminta por Niko. Seus olhos brilhavam, a respiração era ofegante e as mãos cobriam as bochechas coradas. Ela avançava lentamente com os joelhos, quase colados, tremendo.

    Niko sentiu o coração disparar. No reflexo, ativou seu Portal.

    Em um piscar, estava sentado no chão de um depósito escuro e isolado. Respirou fundo. Se levantou, agora sem o peso do manto que carregava. À frente, havia um corredor estreito que virava à esquerda. Atrás, uma porta trancada. Do lado, em uma estante de metal, viu suas coisas que tinha deixado com a recepcionista.

    Vestiu seu manto, puxou a foice e desenhou seu símbolo de Alma no bastão. Caso ele precisasse usar alguma arma e a foice não estivesse no seu alcance, precisaria somente usar seu Portal para tê-la de novo.

    Agora estava pronto. Não para mais surpresas desagradáveis daquele tipo — e sim para a missão.

    Atravessou o longo corredor, virou à esquerda e abriu outra porta. Saindo no mesmo corredor principal de antes, onde havia seguido Anna. Não havia ninguém por ali.

    Hora de achar o Ahti.

    Niko voltou ao salão principal, agora com outra postura. Sem vergonha, sem hesitação. De rosto sério e olhos atentos. Ele precisava encontrar Ahti, a missão dependia disso e se distrair com… “bobagens” seria mais do que inútil. Logo, começou a procurar.

    Já no salão, estava à procura de um homem ruivo com os olhos vermelhos. O garoto imaginou que ele também estaria usando um terno, então anotou isso em sua mente durante a procura.

    Ruivo. Olhos vermelhos. Ruivo. Olhos vermelhos…”, repetia as características na própria mente. 

    Passou por dezenas de pessoas. A maioria eram homens humanos, mas havia alguns híbridos, sapiens de outras raças e mulheres também. Nenhuma daquelas pessoas era Ahti.

    Não havia nenhum sinal do homem descrito ali. Talvez estivesse atrasado. Ou talvez o encontro já tivesse acontecido. Niko apertou o passo. A ideia de perder a chance por minutos o deixava inquieto. Ele varreu o salão com os olhos mais uma vez, como se algo pudesse ter passado despercebido…

    — Ei! Cuidado por onde anda, moleque!

    Niko havia esbarrado sem querer nas costas de alguém. Deu um passo para trás.

    — Me desculpe, senhor.

    Ergueu os olhos e viu características físicas suspeitas. Cabelo ruivo. Olhos vermelhos. Corpo gordinho. Além de que usava um terno justo demais.

    Niko o encarou por tempo demais e uma expressão de surpresa e medo mal disfarçado apareceu no rosto do homem.

    — Por acaso seu nome é Ahti?

    O homem arregalou os olhos, tentou engolir seco, mas parou no meio do ato.

    — …Ahti? Não, não, deve estar me confundindo com outra pessoa.

    Mas os seus olhos não mentiam. Ele estava inquieto e assustado.

    De repente, virou de costas e disparou, atropelando um garçom no caminho. Uma taça de vinho voou no ar, se quebrando no chão, sujando o tapete escuro. O homem não pediu desculpas, nem olhou para trás. Apenas correu, com passos pesados e rápidos — ou tentando ser —, em direção à porta da recepção.

    — Ei! — gritou alguém.

    O corpo de Niko reagiu antes da mente. Partiu atrás do homem. Agora tinha certeza que era Ahti.

    Ahti chegou à porta dupla da recepção, arrombou-a com o ombro, causando um estalo violento. As dobradiças quebraram e a madeira bateu contra a parede com força.

    — Uahhh! — gritou a recepcionista, quase caindo da cadeira.

    Quando Niko atravessou, ele já havia saído do bordel. Sem perder tempo, puxou uma faca e a lançou. Antes que a lâmina atingisse as costas do gordo, ativou seu Portal — e reapareceu do lado de fora, bem atrás do fugitivo.

    — O que tá acontecendo? — perguntou Evelyn, trazendo o gato levantado em seus braços contra o peito.

    — É ele, Evelyn! Aquele é o canal! É o Ahti!

    Sem hesitar, Niko lançou outra faca, usou o Portal, e apareceu na frente do homem, empunhando a foice. Ahti recuou, começou a correr de volta para Lythus Haus, mas parou assim que viu a elfa à retaguarda, com uma lâmina de gelo numa mão — e Mithi na outra.

    — Você não vai fugir. — disse Evelyn, com o olhar firme.

    Ahti parou ali, tremendo.

    — Droga. — resmungou. — Tô ferrado.

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