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    Com o colar finalmente em mãos, restava apenas um último passo para concluir a missão: entregá-lo à Lady Hyandra. Niko e Evelyn seguiam pela estrada coberta de neve, viajando em silêncio sobre a carroça. O céu, tingido de laranja pelo fim da tarde, começava a escurecer lentamente, como se o mundo se preparasse para a noite.

    Niko acendeu a lanterna do veículo, iluminando o caminho solitário à frente. O único som possível de ouvir era o rangido das rodas, o sopro gelado do vento e o bater dos cascos de Aguro. A neve acumulada no chão e as sombras das árvores eram as únicas companhias nessa viagem — além da égua, é claro.

    — Essa é a primeira vez que eu vou pra uma mansão. — comentou Evelyn, puxando o capuz e observando a estrada. — Sempre fiz trabalhos pra gente rica, mas nunca fui convidada a entrar na casa deles.

    — Tecnicamente, não fomos convidados. — rebateu Niko, ainda atento à trilha. — Só estamos indo entregar o colar.

    — “Tecnicamente, não fomos convidados, mimimimimi” — murmurou Evelyn, cruzando os braços e imitando Niko com uma voz nasal irritante. Ele ignorou, mas fez uma leve careta de canto de boca.

    Ela então se ajeitou no assento e se espreguiçou, estalando as costas em um suspiro exagerado.

    — Mas confesso que tô curiosa pra ver o estilo da casa dela. Será que é uma daquelas mansões gigantescas, extravagantes, cheias de mordomos que não riem nunca e quadros de antepassados chatos? Quantos andares será que tem? E quantos empregados? Aposto que tem uns dez só pra polir maçaneta. Heheh.

    Evelyn virou seu olhar para Niko, ainda segurando as rédeas da égua.

    — Tá ansioso também?

    — Um pouco. Acho que vai ser uma experiência interessante. — disse Niko, desviando levemente os olhos da estrada.

    — E qual foi a sua experiência favorita desde que acordou naquela floresta?

    Ele pensou por um segundo e então disse:

    — Acho que… quando fomos à capital. Nada supera aquele sentimento de novidade que a cidade grande trouxe para mim. Foi caótico, mas bom. E você? Qual foi sua experiência favorita da vida, Evelyn?

    — Hm… boa escolha. — respondeu Evelyn. — Agora, minha experiência favorita da vida… difícil dizer. Mas o roubo que a gente fez no leilão entra fácil no meu top três.

    — E do contrato?

    — A perseguição, com certeza. — disse ela, abrindo um sorriso.

    — Eu devia ter imaginado. — Niko riu discretamente pelo nariz.

    A estrada seguiu em silêncio por alguns minutos até que, à esquerda, surgiu um muro de pedra parcialmente coberto por musgo e raízes secas — embora não parecesse abandonado. Um endereço entalhado na pedra confirmou o local. Evelyn virou a carroça para dentro do terreno da Lady.

    Avançaram por um corredor de arbustos densos, que se estendia sobre a estrada formando um túnel natural. No fim do caminho, um portão alto de metal negro surgiu, já aberto — como se os aguardasse.

    Ao passarem por ele, a visão da mansão finalmente se revelou por completo.

    A arquitetura era um equilíbrio fascinante entre o gótico e o clássico. As paredes de pedra clara eram decoradas com entalhes únicos. As janelas altas de ferro negro forjado exibiam as luzes amareladas do interior. Além das decorações meticulosamente planejadas feitas de raízes nos muros altos da casa e do muro baixo de plantas que contornava a mansão.

    O telhado era íngreme e pontiagudo. Chaminés altas e torres se erguiam no teto. Cada ponta do telhado era decorada com pequenas estátuas de criaturas míticas ou hastes de metal apontadas para cima. No último andar, havia dezenas de mansardas pequenas, além de uma sacada lateral que dava a impressão de que alguém poderia surgir ali a qualquer momento.

    — Nossa… que lugar imenso. — murmurou Evelyn.

    A estrada terminava em um enorme pátio de pedras, agora coberto por uma fina camada de neve fofa. Lanternas douradas estavam distribuídas por todo o jardim e fachada, penduradas nas paredes, sobre os portões, e até nos galhos das árvores. A luz quente destacava o branco do gelo e a imponência da construção.

    À frente, parado sob o pórtico de madeira escura, estava Gregory — o mesmo homem de antes. Vestia um terno negro perfeitamente ajustado, e mantinha a postura ereta, quase militar. Ao seu lado, duas estátuas de leões de pedra pareciam como os guardiões silenciosos do lugar.

    Evelyn conduziu a carroça até onde parecia apropriado e parou. Ambos desceram do veículo, e a elfa guardou Aguro no frasco com um toque ágil, ficando frente a frente com o serviçal.

    — Boa noite, senhores. Sejam bem-vindos à mansão de minha Lady. — disse Gregory com uma reverência curta e formal. — Trouxeram o objeto?

    — Sim. Está bem aqui. — disse Niko, soltando uma nuvem de vapor pela boca ao falar. Ele puxou o colar do manto e o ergueu sob a luz das lanternas.

    Gregory analisou por um breve instante sem sair do lugar, depois assentiu com um movimento suave.

    — Ótimo. Por favor, me acompanhem.

    Ele se virou e empurrou as grandes portas da entrada. Elas se abriram com um rangido profundo, revelando o interior da mansão.

    O hall de entrada era imponente. Um tapete carmesim se estendia por todo o piso de mármore branco. Candelabros pesados, feitos de cristais e metais preciosos, se prendiam no teto. Uma escadaria dupla se erguia no fundo do salão, como braços curvos os convidando para o andar superior.

    — Minha Lady os aguarda no salão principal. Peço que não toquem em nada. — alertou Gregory, sem sequer virar o rosto.

    Nos cantos havia cadeiras, sofás e outros móveis, servindo de introdução e espera para as visitas. Ao longo das paredes, quadros antigos, vidraças coloridas e tapeçarias detalhadas. Em ambos os lados, havia duas portas opostas que levavam a corredores extensos.

    Após cruzarem o hall, Gregory abriu uma porta dupla, revelando um dos cômodos mais luxuosos que Niko já viu na vida: o salão principal. O ambiente era enorme e impecável. A escadaria central, mais modesta que a anterior, levava ao andar superior, onde uma lareira se mantinha acesa acima de uma varanda interna, dividindo dois corredores simétricos.

    Os vários lustres dourados que se prendiam no teto e as lanternas nas paredes espalhavam uma luz dourada em todos os cantos.

    O chão de cor creme brilhante refletia a imagem do salão e das três pessoas como um espelho. E logo o passo dos três foi abafado graças ao extenso tapete quadrado vinho e dourado com detalhes florais.

    Ao chegarem ao meio do tapete, Gregory parou. Niko e Evelyn, instintivamente, também pararam. O serviçal fez uma breve reverência, colocando a mão sobre o peito.

    — Minha Lady, os convidados chegaram. — anunciou, com voz clara e firme.

    A voz de Gregory se espalhou por todos os cantos do salão. Um breve silêncio surgiu no ar — denso e ansioso. Voltando à pose original.

    Tap, tap, tap… passos lentos ecoaram alta por toda a mansão, ficando mais altos ao passar do tempo. A cada batida contra o chão, a expectativa aumentava. Niko e Evelyn mantinham os olhos fixos no topo da escada.

    Um braço surgiu primeiro — elegante, envolto por uma luva preta. Ele se apoiou no corrimão, revelando pouco a pouco a figura de sua dona. Um olho vermelho intenso os observava de cima. O outro, coberto por um tapa-olho negro e uma franja densa, escondia parte de seu rosto.

    Chegando à escadaria central, visitaram ela por completo: uma mulher alta de pele pálida. Seu cabelo era castanho e longo, com o interior tingido em rubro. Vestia um terno escuro, perfeitamente ajustado ao corpo, semelhante ao de um serviçal de nobreza — exceto na região do peito, onde um broche de pedra vermelha estava preso a um jabô branco, como se fosse um coração exposto e pulsante.

    Faltando três degraus para chegar ao chão, colocou uma mão no peito, fechou os olhos e curvou a cabeça.

    — Meu nome é Hyandra Bettencourt Ignis. Sejam bem-vindos à minha casa.

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