Capítulo 64 - O Serviçal

O projétil de cristal azul atingiu Hyandra em cheio. O impacto a lançou para trás com violência, fazendo cadeiras voarem e rachando a parede atrás dela.

Gregory reagiu instantaneamente. De dentro de seu terno, puxou uma adaga e cruzou a mesa com um salto ágil, dando uma investida contra Evelyn, mirando diretamente em seu peito.

Antes que a lâmina a alcançasse, Niko reagiu. Com um golpe firme, aparou o ataque com sua foice, retirando a arma de sua mão. Em um giro rápido, usou o cabo da foice para golpeá-lo com força no abdômen, forçando Gregory a recuar alguns passos.

— Eu cuido da Hyandra. Você cuida dele! — gritou Evelyn.

— Entendido.

A elfa subiu na mesa em disparada, correndo em direção à mulher atordoada, que já começava a se recuperar.

Gregory avançou novamente contra Evelyn — mas Niko bloqueou o caminho, se posicionando firmemente com a foice em mãos. Seu olhar dizia tudo: se queria passar, teria que lutar com ele.

Sem perder tempo, Gregory virou-se e andou calmamente até a lareira. Com precisão meticulosa, puxou de lá um atiçador comprido — quase uma espada de esgrima com um guarda-mão estilizado. A lâmina reluzia levemente sob a luz trêmula do fogo.

Atrás de Niko, ouviu-se um som seco de rachadura. O garoto virou-se e viu um buraco na parede. Hyandra estava ali, de pé, e Evelyn ausente. Só podia significar uma coisa.

— Evel-!

Não conseguiu terminar a frase. Uma dor aguda explodiu em seu ombro direito. O grito ficou preso na garganta. Ele olhou para o lado e viu a lâmina perfurante cravada em sua carne — a arma ainda esticada nas mãos de Gregory.

Os olhos dos dois se encontraram por um instante. Gregory puxou a arma de volta com precisão cirúrgica, e o sangue jorrou da ferida aberta. Niko cambaleou, apertando o ferimento com a mão esquerda, enquanto ainda apontava a foice para o mordomo.

— Eu podia ter acertado seu pescoço, se quisesse, e você estaria morto. Sinto que essa luta irá te ensinar muitas noções de combate. Lição número um: nunca vire as costas ao inimigo. Isso é assinar sua sentença de morte.

O mordomo atacou em estocadas rápidas e certeiras. Niko recuava, aparando os golpes com a foice, mas perdendo espaço no processo.

Decidindo inverter o jogo, Niko lançou uma de suas facas para trás de Gregory e ativou sua Alma. Em um piscar de olhos, apareceu atrás do inimigo, descendo a lâmina da foice em um golpe vertical. Gregory girou o corpo, bloqueando no último segundo com o atiçador — ainda de costas.

A guarda aberta deu espaço para um contra-ataque brutal: um soco seco no estômago de Niko. O garoto se curvou, tossindo. Gregory então puxou o cabo da foice para si, enroscando-o no pescoço de Niko e o empurrou contra a mesa, sufocando-o com brutalidade.

— Lição dois: nunca abaixe a guarda.

Niko usou sua Alma novamente, aparecendo à frente de Gregory com a foice já em movimento. Mas a tentativa de manter a ofensiva falhou: Gregory se recuperou depressa e reassumiu o controle da luta.

Os ataques do mordomo eram ágeis, afiados e mais precisos do que os de Niko. Já os dele eram mais pesados e letais — se acertasse um golpe já seria o suficiente para ganhar a luta. Ele compensava a técnica com força.

Os dois se aproximaram de uma das três portas em sequência. Gregory lançou uma estocada certeira, rápida demais para se esquivar. Niko reagiu jogando uma adaga atrás do oponente e surgiu lá no último segundo.

Aparecendo às costas de Gregory, deu-lhe uma ombrada poderosa. Ambos atravessaram a porta — e a luta agora se estendia para um extenso corredor da mansão.

Gregory foi o primeiro a se recuperar. Com ambas as mãos na arma, mirou o crânio de Niko e desferiu um golpe esmagador. O albocerno ergueu a foice horizontalmente, com a mão apoiando a lâmina. O impacto o empurrou para trás, com os pés deslizando sobre o chão de madeira.

A defesa fez a dor no ombro latejar com intensidade. Ele grunhiu, resistindo, e empurrou a arma para frente. Chutou o joelho de Gregory, afastando-o, e girou a foice em um arco diagonal.

Gregory saltou para trás — a lâmina passou a centímetros de seu rosto. No mesmo instante, contra-atacou com uma estocada que raspou na costela de Niko, cortando sua camisa, passando entre as placas de proteção e deixando uma fina trilha de sangue pelo corredor.

Niko usou novamente seu Portal, buscando espaço para respirar. A lâmina que riscou sua costela ainda ardia, e seu ombro latejava com ainda mais força graças ao peso da foice.

Já Gregory permaneceu imóvel, com a postura firme sob o corredor iluminado. Com a calma de um duelista experiente, ele ajeitou o terno manchado e retirou um lenço branco de seda do bolso interno. Com calma, limpou a ponta do atiçador, tingindo o pano com um vermelho vivo.

— Está resistindo melhor do que imaginei. Sua técnica, ao mesmo tempo que me fascina, me irrita profundamente. Vamos ver se ela é o suficiente para te salvar. — disse com frieza, os olhos fixos em Niko.

Assumiu uma postura clássica de esgrima: arma à frente, braço oposto recolhido. Seus pés deslizaram no chão com uma alta precisão. Um convite silencioso para a próxima troca de golpes.

Niko ofegava. Pressionou os ferimentos com a mão e o antebraço. Sua respiração era pesada, mas os olhos brilhavam. Com um suspiro, guardou a foice nas costas e puxou uma pistola do manto.

Disparou três vezes. Gregory arregou os olhos quando viu a arma de fogo. Abaixou-se no primeiro tiro, cortou o segundo projétil no ar e foi atingido pelo terceiro na coxa. O impacto abriu um buraco na perna, fazendo o mordomo cerrar os dentes de dor.

Niko já avançava. Com a foice de volta às mãos, atacou com ferocidade o serviçal. Cortes, giros, estocadas. Gregory esquivava, bloqueava, cada choque de metal ecoava pelo corredor.

Em um ataque vertical, Niko desceu a lâmina sobre Gregory. O mordomo, com esforço, bloqueou o ataque com a própria arma. Reagindo com rapidez, moveu o joelho em direção ao estômago do garoto.

Mas Niko estava pronto. Segurou a perna do inimigo com firmeza, prendendo-a como uma armadilha. Girou o corpo, desequilibrando Gregory, e o lançou contra outra porta.

Com um estrondo, os dois adentraram um novo cômodo da mansão: a biblioteca.