Capítulo 72 - Um Novo Integrante II
Assim, os três andaram até um espaço mais aberto na grande praça. Niko observou o ambiente: o lugar era amplo o suficiente para permitir uma corrida justa, sem obstáculos, tornando-se um cenário ideal para testar a velocidade da recém-chegada.
— Aqui serve… Ah, não preciso mais disso. — disse ela, guardando o chapéu vermelho dentro do sobretudo.
Brigitte bateu os pés no chão, testando o terreno com um sorriso empolgado.
— Perfeito! Estou pronta!
— Certo. Você vai correr até o final da praça. — Niko puxou um relógio do bolso do peito. — Vou cronometrar o tempo para avaliar seu desempenho no teste.
Brigitte estalou os dedos, alongou os braços, girou os ombros, esticou as pernas — tudo com entusiasmo. Enfiou os dedos no chão, apertando o calcanhar para trás, pronta para correr. A garota se posicionou como uma corredora profissional à beira da largada.
— Certo… pode ir.
…Ela não se moveu. Permaneceu imóvel, apenas olhou por cima do ombro, direto nos olhos de Niko, e disse:
— Uma coisa que esqueci de mencionar… Meu nome completo é Brigitte d’Alzen Akitna.
Antes que Niko pudesse processar a informação, Brigitte desapareceu em um borrão roxo. O vento soprou contra os dois. Em menos de um segundo, ela já estava na linha de chegada, deslizando os pés contra o chão de pedra para frear.
— O-o quê…?! — disse Evelyn, arregalando os olhos.
Em um piscar de olhos, a velocista estava de volta, surgindo ao lado deles tão de repente que Evelyn se encolheu de susto e Niko sentiu as íris contraírem. Ambos ficaram surpresos, sentindo o peito apertar.
— O percurso tinha uns dezoito metros no total, e eu levei 0.71 segundos pra percorrer ele. Isso dá… uns noventa quilômetros por hora. E olha que usei só uma fração do meu poder. Huhum.
Niko piscou algumas vezes, tentando absorver o que acabou de acontecer. Olhou para Evelyn — ainda com a boca entreaberta — e depois para Brigitte, que sorria com os braços cruzados, balançando o corpo como uma criança esperando aprovação.
— Você… Isso foi… você é rápida.
— Muito rápida. — completou Niko, ainda atônito.
Brigitte riu e pôs as mãos na cintura.
— Hehehe!
— Você disse que usou só uma fração do seu poder. Quão rápido você pode ir?
Ela bateu no peito com orgulho, lançou a mão para frente, levantou o indicador e fechou um dos olhos.
— Bem… posso passar de mil metros por segundo! Mas não faço isso com frequência, sabe? Causa uns probleminhas.
Evelyn piscou uma vez.
— Probleminhas?
— É! Quando vou muito rápido, o ar a minha volta se comprime e… BOOM! — Brigitte imitou uma explosão com as mãos. — As pessoas não gostam quando as janelas estouram do nada. Me meti em várias confusões por causa disso na minha vila. — terminou esfregando a nuca, fechando os olhos e mostrando parte da língua.
Evelyn soltou um assobio que morreu lentamente, impressionada com a força da garota.
— A família Akitna é mesmo forte. — comentou Niko.
— Ah, não! Isso não foi poder da minha Alma. Foi minha Bênção: Vronti Mundia! Velocidade mundial!
— Bênção? — disse Niko, olhando confuso para Brigitte.
— Ah, eu esqueci de te explicar isso. — interveio Evelyn. — Bênçãos são extensões da Alma. Elas são habilidades que só podem ser usadas por pessoas compatíveis com elas, basicamente que tenham “a ver” com a Alma ou caráter da pessoa. A Brigitte tem a Alma da família Akitna e uma personalidade… eletrizante, por isso ela pôde ter a Bênção dela. Entendeu? E antes que você me pergunte, só pessoas que têm Alma podem ter Bênçãos.
A explicação deixou Niko pensativo. Ele se pegou imaginando qual Bênção teria, se algum dia pudesse despertar uma. Talvez algo que amplificasse seus sentidos. Ou que fortalecesse seu corpo. Ou, quem sabe, algo totalmente inesperado… uma intuição sobrenatural. Mas, por enquanto, só podia imaginar.
— Niko? — chamou Evelyn, tirando-o dos devaneios.
— Ah, sim. O quê?
— Acha que a Brigitte passou no teste?
Ele olhou para a garota por alguns segundos. Ainda absorvia o que acabou de ver, mas o resultado do teste era claro e auto evidente.
— Sim… ela passou no teste de velocidade. Agora vamos testar sua força.
O sorriso de Brigitte se alargou ainda mais.
— Ótimo! No que eu tenho que socar?
Evelyn riu.
— Eu gostei dessa garota.
E, naquele momento, até Niko começou a ver valor nela como aliada, ao mesmo tempo que sua desconfiança e medo aumentavam mais ainda. “Se ela for um espião pode acabar com a gente rapidinho…”, pensou ele.
Teste Nº 2: Força de Impacto
Após o teste de velocidade, Niko decidiu avaliar a força da candidata. Olhou ao redor e encontrou um saco de pancada em uma área de treino na praça, onde algumas pessoas praticavam exercícios físicos.
— Ali. — apontou. — Quero que acerte aquele saco com um soco e me mostre do que é capaz.
Brigitte estalou os dedos, girou os ombros e caminhou confiante. As pessoas próximas começaram a observá-la, algumas rindo baixinho.
— Isso vai ser divertido. — disse ela, flexionando os joelhos e preparando o punho.
Com um golpe direto, Brigitte acertou o saco com um impacto seco. O couro se rompeu, a areia se espalhou no chão, uma das correntes estourou e o suporte de madeira rangeu. O impacto foi tão forte que todos ao redor recuaram, assustados.
— P-primeira vez que vejo alguém fazer isso… — murmurou um dos presentes.
Brigitte sorriu satisfeita, empinando o nariz. Evelyn cruzou os braços.
— Ok, isso foi impressionante.
Niko observou a areia ainda caindo.
— Você usou sua Alma ou Bênção?
— Um pouquinho. — Brigitte riu. — Mas, se quiser, posso tentar sem.
— Não precisa. Já deu pra ter uma boa ideia da sua força.
Teste Nº 3: Levantamento de Peso
Para avaliar sua força de carregamento, Evelyn apontou para uma carroça cheia de sacas de trigo, estacionada na beira da praça.
— Consegue levantar aquilo?
Brigitte analisou o veículo, sorriu e andou em direção a carroça. Se agachou, sem esforço, segurou a estrutura de madeira e a ergueu a alguns centímetros do chão.
O carroceiro, do outro lado da rua, arregalou os olhos e correu em direção a ela.
— OPA, OPAAA! EI! COLOCA ISSO DE VOLTA!
Brigitte riu e abaixou a carroça com cuidado.
— Me desculpa! Foi só um teste, senhor!
Niko e Evelyn trocaram olhares. Aquela garota definitivamente não era comum.
Teste Nº 4: Reflexos
Niko queria testar seus reflexos em combate. Pegou algumas pedras do chão e explicou:
— Vou lançar essas pedras. Tente desviar.
Brigitte assentiu e fechou os punhos.
A primeira pedra veio rápido. Ela apenas inclinou o corpo para o lado. A segunda, ela abaixou a cabeça no último instante. A terceira, pegou no ar com dois dedos e a girou entre eles, sorrindo.
— Só isso? Esperava mais.
— Ok, você tem reflexos bons. — Niko admitiu.
Teste Nº 5: Resistência
Por fim, Evelyn sugeriu um exercício de resistência.
— Corra em volta da praça dez vezes o mais rápido que puder. Mas sem usar sua velocidade máxima.
— Fácil!
Brigitte disparou em ritmo constante e preciso. Terminou em pouco menos de vinte minutos, parando diante deles com um sorriso leve. Nem suava.
— Tá bom assim?
— Mais do que bom. — disse Evelyn, genuinamente impressionada.
Niko suspirou e coçou a cabeça, sem mais dúvidas sobre o resultado.
— Ok… acho que não tem muito o que discutir.
— Isso significa que…? — Brigitte inclinou-se, ansiosa.
— Bem-vinda ao time. — disse Evelyn, sorrindo e pousando a mão no ombro da garota.
Brigitte abriu um sorriso largo, os olhos brilhando. Deu um pulinho animado.
— Plan bêrcias! Vocês não vão se arrepender!
Niko suspirou de novo, mas sorriu de leve.
— Vamos ver.
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