Índice de Capítulo

    O som das botas batendo contra o chão ecoou pelo apartamento quando Evelyn abriu a porta e entrou, tirando o casaco e o jogando de qualquer jeito no cabideiro.

    Brigitte veio logo atrás, os olhos estavam arregalados de empolgação enquanto ela observava o interior da casa — ou melhor, da base improvisada do grupo. Ela girava o pescoço de um lado para o outro, absorvendo cada detalhe como se acabasse de pisar em um mundo novo.

    — Uau! Então é aqui que vocês moram? — disse ela, dando uma volta completa sobre si mesma. — É bem diferente das casas em Luminara

    — Bem-vinda ao nosso humilde lar. — disse Evelyn, fazendo um gesto dramático com as mãos, uma reverência exagerada.

    — Eu adorei! — Brigitte correu direto para a pequena sacada e se inclinou, espiando a cidade. — Vocês têm uma vista incrível!

    Niko entrou por último, fechando a porta atrás de si. Encostou-se à parede com os braços cruzados, observando Brigitte explorar o lugar.

    — Não toque nas minhas coisas. — alertou Evelyn.

    — Tá bom, tá bom. Só quero conhecer o lugar…

    Brigitte foi até a estante, passou os dedos pelos livros, depois deu uma espiada nos armários da cozinha. Foi então que viu algo peludo deitado no sofá.

    — Oh! Um gatinho!

    Sem hesitar, jogou-se ao lado do felino e pegou-o no colo antes que ele pudesse fugir.

    — Awnnn, você é uma coisinha tão fofa! — disse ela, apertando o rosto contra o pelo laranja, abraçando o animal como se fosse um travesseiro.

    O gato ficou rígido por um segundo, depois se debateu, claramente incomodado com o carinho exagerado.

    — Acho que ele gostou de mim! — disse Brigitte, segurando-o como um bebê.

    — Eu duvido. — Evelyn respondeu, rindo.

    — Que nada! Você não entende nada de gatos, chefe!

    O gato, já sem paciência, miou alto, afundou as garras no braço de Brigitte e se libertou da garota, correndo para debaixo do sofá.

    — Ai! Treituor… — Brigitte fez beicinho e massageou o local arranhado.

    Evelyn se sentou em uma poltrona, rindo da situação.

    — Você deve ser a primeira pessoa que ele rejeita tão rápido.

    — Ah, eu ainda vou conquistar esse bichano. É só uma questão de tempo.

    Enquanto ela tentava fazer contato com o gato debaixo do sofá, Niko foi até a cozinha, encheu um copo d’água e sentou-se à mesa. Evelyn o observou por alguns segundos, notando sua expressão tensa. Caminhou até ele e sentou-se em frente.

    — Você tá muito calado. — comentou ela.

    Niko tomou um gole, depois encarou a elfa.

    — Me diz uma coisa, Evelyn… — ele baixou a voz. — Foi mesmo uma boa ideia trazer ela pra cá?

    A elfa suspirou, já esperando por aquele tipo de pergunta.

    — Ah, lá vamos nós…

    — Você sabe que estamos sendo caçados. Você mesma disse que alguém está eliminando as pistas. Se ela for uma infiltrada, acabamos de convidá-la pra dentro da nossa casa.

    — E por que ela seria uma espiã?

    — Porque estamos sendo caçados, não podemos confiar em ninguém.

    Evelyn cruzou os braços, pensando no melhor argumento que poderia mudar o pensamento de Niko.

    — Tá, vamos pensar logicamente. — disse ela. — A gente não colocou nossos nomes no anúncio, nem informações que ligassem à gente. Se ela fosse uma espiã, teria inventado uma história mais plausível, algo mais discreto. E com certeza agiria de forma menos… chamativa.

    Niko ficou em silêncio, considerando os argumentos apresentados, mas não totalmente.

    — Além disso… — Evelyn continuou. — Você viu do que ela é capaz. Se quisesse nos matar, já teria feito isso.

    — E se o plano não for matar?

    Evelyn inclinou a cabeça para o lado, ainda tentando entender o que se passava na mente do amigo.

    — Como assim?

    — E se o objetivo dela não for nos matar, pelo menos, não agora?

    Evelyn bufou, mas deixou que ele continuasse.

    — Se alguém está eliminando qualquer pista sobre o meu passado, pode ser que tenham mudado a estratégia. — ele explicou. — Em vez de simplesmente mandar outra assassina como a Clementine, ou uma negociante como a Hyandra, eles podem ter decidido nos vigiar de perto.

    Brigitte, que ainda estava tentando conquistar o gato sob o sofá, não percebeu que era o tema da conversa.

    — Você acha que ela pode ser uma informante?

    — Ou alguém que vai nos levar pra uma armadilha. — estreitou os olhos. — Já pensou nisso? Ela se junta a nós, ganha nossa confiança, tudo isso para nos trair no final…

    Evelyn revirou os olhos, não acreditando nem um pouco na teoria de Niko.

    — Você tá lendo ficção demais.

    — Só quero garantir que não estamos cometendo um erro.

    Ela suspirou, pensativa. Por mais paranóico que fosse, Niko tinha razão em ser cauteloso. Mas ele estava sendo muito mais do que o necessário. Sentia que Brigitte não era uma ameaça, que aquela suspeita era desnecessária.

    — Olha… eu entendo sua preocupação. Mas eu simplesmente não consigo ver isso nela.

    — É exatamente isso que uma boa espiã faria.

    Evelyn riu pelo nariz.

    — Tá bom. Então vamos colocar isso à prova.

    — Como?

    — Simples. — apontou para as cartas na mesa. — A gente aceita uma missão e vê como ela se sai. Não só em combate, mas também em como ela vai reagir em certas situações. Se fizer algo suspeito, eu te dou razão. A gente trouxe ela aqui pra isso mesmo, lembra?

    Niko tamborilou os dedos na mesa, ainda não estando completamente convencido da ideia.

    — E se for tarde demais?

    — Se for, pelo menos teremos uma luta justa. — disse com um sorriso de canto.

    Niko soltou um suspiro cansado.

    — Você realmente gosta de se arriscar, né?

    — Eu gosto de confiar nas pessoas.

    Ele ficou em silêncio por um momento. Ainda estava pensando no que deveria fazer. No fim, apenas desviou o olhar e deu de ombros, aceitando a proposta de Evelyn.

    — Tá bom. Vamos ver no que isso vai dar.

    Nesse momento, Brigitte se levantou do chão com uma feição triste. Deu breves palmas, limpando a sujeira do chão das mãos.

    — O gato me ignorou. Mas tudo bem. Eu sou paciente… e determinada! —  então percebeu os olhares dos dois. — Ei, o que vocês estavam cochichando aí?

    Evelyn sorriu.

    — Ah, nada de mais. A gente só tava decidindo qual vai ser nossa primeira missão juntos.

    Os olhos de Brigitte brilharam como faróis.

    — Missão?! Eu tô dentro!

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