Capítulo 85 - O Covil
Passos ecoavam pelo túnel subterrâneo onde o trio caminhava. O espaço era estreito, forçando os três a seguir em uma fila. Niko, cujo tinha os chifres curvados para cima, mantinha o pescoço inclinado, já que não conseguia passar que nem as duas garotas. Era desconfortável, mas o necessário para que ele passasse.
A escuridão era quase total, rompida apenas pela luz amarelada da lanterna que Evelyn carregava à frente, iluminando o pouco que conseguia da trilha diante deles.
Após alguns minutos avançando, a elfa parou, observando o fim do corredor adiante.
— Acho que chegamos ao final do caminho. — anunciou, voltando o rosto para os outros dois.
Ao atravessar a passagem, os três alcançaram uma área ligeiramente mais ampla. Antes, mal podiam andar sem se espremer entre as paredes; agora, podiam finalmente caminhar lado a lado. O alívio era visível nos rostos de todos — especialmente em Niko, que enfim podia manter a postura ereta.
Brigitte se espreguiçou e rodou a postura com os pernas firmes, fazendo as costas estalarem com um som audível.
— Ainda bem que saímos daquele aperto. Mercias ols Anlxus.
— Realmente está melhor agora. — comentou Niko, olhando ao redor. — Mas… onde estamos exatamente?
À frente, túneis se dividiram em múltiplas direções. Suportes de madeira reforçavam as paredes e o teto, e havia trilhos enferrujados sobre o chão coberto de poeira.
— Parece uma mina. — disse Evelyn, tocando uma das vigas. — Lembra do que aquele homem disse? Que havia um sistema de minas antigas próximo à vila? Acho que encontramos ele.
Niko examinou os detalhes ao redor: as vigas de madeira mostravam sinais de apodrecimento; os trilhos, cobertos de ferrugem e terra, não eram usados há décadas.
— Se isso aqui for mesmo uma mina abandonada, deve ter dezenas de rotas e saídas possíveis. — murmurou ele, cruzando os braços. — Se o invasor veio por aqui, pode estar em qualquer lugar. Se ainda estiver por aqui.
Evelyn deslizou os dedos pelas vigas de madeira na parede de pedra fria, vendo algumas rachaduras.
— Provavelmente foi construída na época da guerra. Muitas minas e fábricas foram fechadas ou esquecidas depois que os conflitos acabaram… É um esconderijo perfeito.
— Então é melhor a gente começar logo. — disse Brigitte, com o olhar impaciente.
— O problema é: por onde? Essas minas podem se estender por quilômetros.
Brigitte deu um passo à frente, encarando os túneis à frente como se os desafiasse.
— Bom, ficar parado aqui não vai adiantar. Vou dar uma olhada mais à frente.
— Tem certeza? — perguntou Niko, erguendo uma sobrancelha.
— Claro! Eu consigo voltar num piscar de olhos, lembra?
Era o plano mais sensato naquele momento. Dividir o grupo aceleraria a busca e Brigitte, com sua velocidade, era a mais indicada para isso. Mesmo assim, Niko sentiu uma inquietação no peito. Algo sobre deixá-la sozinha naquele lugar o incomodava mais do que ele gostaria de admitir.
— Tudo bem. Leve isso. — Niko tirou uma adaga e uma lanterna menor do manto, entregando os dois objetos a ela. — Depois de alguns minutos, posso te puxar de volta com o Portal, se necessário.
A luminar piscou, surpresa, mas logo abriu um sorriso. Guardou a arma e ligou a lanterna, apontando-a para um dos túneis.
— Certo. Já volto!
E com isso, partiu em disparada, sumindo no corredor como um borrão púrpura. Só o som alto e distorcido de seus passos ficou para trás.
Niko quis dizer “Toma cuidado”, mas a frase não passou da garganta. As palavras se enrolaram ali, ainda estava envergonhado por ter tratado mal Brigitte. No fim, tudo que fez foi observá-la em silêncio.
Evelyn suspirou, passando a mão no rosto.
— Ainda fico impressionada com a velocidade dela…
A garota se apoiou nas paredes geladas da mina. A mão direita estava em seu bolso e a esquerda segurando a lanterna. Após um breve suspiro, relaxou o corpo e se sentou no chão empoeirado.
— Será que foi uma boa ideia deixar ela ir sozinha? E se for alguém tão forte quanto a Hyandra?
Niko baixou os olhos, pensativo. Mas logo lembrou de quem estavam falando. Brigitte não era comum. Tinha uma força incrível, uma grande agilidade, e uma velocidade ainda maior. Ela consegue se cuidar… né?
— Ela é forte. Acho que vai ficar bem. E, se der ruim, eu puxo ela de volta com o Portal.
— Hm… isso é novo. Duvido que você teria dito isso alguns dias atrás.
— Também duvido… — respondeu ele, sentando-se ao lado dela.
— Então… finalmente confia nela? — perguntou Evelyn, com um sorriso discreto.
Niko cruzou os braços, pensativo por um momento, antes de responder com firmeza:
— Confio, sim. Ela já provou mais de uma vez que está do nosso lado. E… bom, é difícil não admirar alguém tão determinada.
— Então ela subiu no seu ranking pessoal de confiança?
— Subiu. Bastante. — disse ele, lançando um olhar de canto para a amiga.
— Ela ia ficar feliz de ouvir isso.
Um silêncio confortável caiu entre os dois. Evelyn ergueu a lanterna, iluminando as vigas ao redor. Algumas estavam rachadas, outras marcadas por golpes antigos de ferramentas. A poeira sobre o chão parecia intocada há anos.
— Eu conheço esse tipo de construção. — disse ela, ainda sentada. — Essas minas foram escavadas durante a guerra. Tenho quase certeza.
— sério?
— Sim. Vi túneis como esse nos mapas quando servi. Muitos deles foram criados às pressas para transportar suprimentos, ou como rotas de evacuação para os soldados e civis. Alguns eram extensões de minas já existentes.
— Então esse aqui era um desses túneis de transporte…
— Uhum.
Niko observou tudo com mais atenção. Era estranho pensar que aquele lugar já foi crucial em um conflito. Agora, era só uma casca oca, esquecida pelo tempo.
— Engraçado. Um lugar como esse podia mudar o rumo de uma batalha. Agora apodrece no escuro e ninguém sequer lembra que existiu. — comentou a elfa.
Ele ficou em silêncio por um instante, não sabia o que dizer.
— As coisas mudam.
— É. Mudam mesmo.
Silêncio novamente. Niko fechou os olhos, absorto em pensamentos. Evelyn apenas observava a chama dentro da lanterna, hipnotizada pelo leve crepitar do fogo.
— Evelyn, você acha que já é hora de eu usar o Po–
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