Índice de Capítulo

    O vento cortava dentro dos túneis estreitos conforme Brigitte corria. Seus rápidos passos ecoavam pelo labirinto subterrâneo como um motor a vapor acelerando sob pressão. A lanterna que tinha recebido de Niko antes agitava-se em sua mão na medida em que seu coração acelerava, lançando sombras pelas paredes de pedra. Cada respiração sua era um sopro entrecortado, carregado de adrenalina e urgência. Precisava investigar à fundo a mina.

    Já havia algum tempo desde que se separou de Niko e Evelyn. Quanto exatamente, ela não sabia. Mas seu instinto dizia que já estava distante o suficiente. Afinal, correr próximo da velocidade do som, mesmo que só por alguns segundos, já faria com que uma pessoa normal demorasse horas para chegar onde ela estava.

    A mina se dividia em múltiplos caminhos, alguns estreitos demais até mesmo para alguém de sua agilidade, um verdadeiro labirinto de suportes apodrecidos e trilhos abandonados. A cada curva, a cada desvio, seu corpo se movia por instinto. E as paredes de pedra passavam como borrões ao seu redor.

    Foi então que algo destoou do padrão da caverna. Algo fora do lugar. Divergente.

    Brigitte freou abruptamente, fazendo uma nuvem de poeira se levantar ao seu redor. Escorregou alguns metros à frente, precisou dar passos para trás e levantar os braços para recuperar o equilíbrio.

    À sua frente, viu uma escada de madeira, encostada na parede do túnel. Ela não parecia pertencer àquele cenário degradado. A escada era nova demais. Diferente das madeiras desgastadas do restante da mina.

    Seus olhos brilharam com suspeita e curiosidade. Aproximou-se devagar, como se esperasse que a escada sumisse ao se aproximar mais um pouco — mas não sumiu. Parecia resistente, de madeira clara, sem um único sinal de apodrecimento. Nenhum traço de poeira em seus degraus. E acima dela, um alçapão igualmente novo, com dobradiças de ferro limpo. Brilhantes até demais.

    A garota encostou a mão na escada, sentindo a firmeza da madeira sob os dedos. Pressionou para baixo, depois para os lados. Não cedeu. Não era uma armadilha, ao menos não uma simples. Seus olhos se afiaram. Aquilo estava ali por um motivo. Se alguém construiu uma saída naquela parte da mina, era porque algo queria estar escondido — ou protegido de algo.

    Ela escalou com agilidade e empurrou o alçapão com força. A madeira se moveu com um rangido abafado, e uma onda de ar fresco invadiu seu rosto como um sopro de vida. Subiu em um salto. Saindo das sombras subterrâneas, emergindo em algo completamente diferente. 

    Brigitte emergiu em uma floresta, parecida com a que patrulhava horas atrás — mas agora tudo parecia diferente. As folhas balançavam levemente com o vento sob a luz pálida da lua, encoberta por nuvens e galhos de árvores. O cheiro da terra molhada e das plantas surgiu em seus pulmões assim que subiu para o chão coberto de folhas.

    Ela saiu da moita onde o alçapão estava escondido. Seus olhos analisavam cada centímetro ao redor. O contraste entre o ambiente sufocante da mina e a vastidão aberta da floresta deveria ser reconfortante para alguém que amava a natureza, como Brigitte. Mas não foi.

    Algo estava errado. A sensação veio antes da visão. Uma presença. Ela não estava sozinha. Alguém a esperava ali. Brigitte se virou rapidamente, pegando a lança prateada de suas costas e preparando-se para o combate.

    A poucos metros, uma mulher permanecia de pé, apoiada casualmente contra uma árvore. Estava limpando as unhas com uma pequena faca, alheia à presença de Brigitte, como se fosse apenas mais um vento na noite.

    A mulher usava roupas ajustadas, negras com detalhes em vermelho, sem excesso de tecidos que atrapalhasse os movimentos. Uma máscara branca cobria seu rosto, moldada com quatro olhos estreitos e angulares, chifres curtos surgiram sob o capuz, e uma larga boca sorridente cheia de dentes cerrados, parecia sorrir para Brigitte de maneira ameaçadora.

    A garota sentiu o coração apertar. Aquela mulher não precisava fazer nada para ameaçá-la. Sua simples postura, seu silêncio, suas roupas já deixavam claro que ela não era alguém comum. Até mesmo, um aliado

    Engoliu em seco, afastou o medo e apertou com mais força o cabo da lança, sua única proteção.

    — Quem diabos é você?

    A mulher não respondeu de imediato. Apenas ergueu a mão até a luz da lua, fazendo suas longas unhas pretas stiletto brilharem levemente.

    — Alguém que esperava ver outra pessoa saindo desse alçapão. — a estranha finalmente fez algo além de cuidar das unhas. Virou seus olhos em direção a Brigitte. — Por acaso viu um rapaz baixinho, com chifres longos de cervo, passar por aqui?

    A surpresa foi genuína. Aquilo a pegou desprevenida. Mesmo assim, manteve a postura. Um movimento em falso — ou a falta dele — podia ser fatal. Precisava ficar alerta. Algo dentro de si falava que aquilo não iria acabar bem.

    — Está falando do Niko?

    A mulher girou a faca entre os dedos com destreza entediada, como se ensaiasse isso mil vezes.

    — Então você o conhece. Ótimo. Isso facilita as coisas.

    Brigitte cerrou os olhos. Agora era oficial: aquela mulher definitivamente era uma inimiga. A garota manteve os olhos fixos nela. Algo naquela mulher era diferente de qualquer oponente que já enfrentou — não somente por ser sua primeira oponente de verdade, logo, naturalmente seria alguém diferente — mas também e especialmente pela forma como ela falava e agia. Era como se já tivesse vencido antes mesmo da luta começar. Uma atitude arrogante.

    — Por que você está procurando por ele? — perguntou Brigitte com firmeza, recuando um passo e posicionando a lança para trás, preparando um impulso.

    A mulher suspirou, dando um único passo à frente. Cada movimento seu parecia medido e elegante, como uma predadora que sabia exatamente até onde poderia se aproximar sem assustar sua caça.

    Brigitte conteve o impulso de atacar. Ainda não. Ela queria entender mais da inimiga, ganhar o máximo de informações. Até mesmo a palavra mais deslocada podia dizer algo sobre ela.

    — Não posso te dizer isso. Se você quer uma resposta que satisfaça sua curiosidade, aqui está uma: porque ele me interessa. Mas, infelizmente… não foi ele que saiu desse alçapão, logo terei que tomar alguma medida.

    Brigitte sentiu uma pontada de raiva.

    — E isso significa o quê?

    — Significa que vou ter que te deixar ocupada a partir de agora.

    Brigitte apertou o cabo da lança até os dedos embranquecerem. Seu olhar ficou afiado como aço frio. A luta estava prestes a começar, podia sentir isso. Devia estar preparada para tudo.

    — Tsc… odeio esse tom de superioridade. — disse ela, mordendo o lábio inferior.

    A mulher riu baixinho, uma risada seca e fina, quase encantada. Levou sua mão até o compartimento em seu cinto, guardando a faca.

    — Imaginei. Por isso, mal posso esperar para ver sua expressão quando perceber que não pode fazer nada contra mim.

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