Índice de Capítulo

    A mulher permaneceu caída por alguns instantes antes de começar a se levantar. Sua respiração estava irregular. Tossiu duas vezes, tentando manter o controle da dor. Brigitte continuou firme, mantendo a lança em mãos, ainda envolta em faíscas de eletricidade. Ela sabia que aquilo estava longe de terminar.

    A assassina ergueu devagar o rosto na direção do “Relâmpago de Alzen Vich” que se aproximava. Ao seu lado, em uma distância considerável, a lâmina de sangue pulsava levemente, como se tivesse vida própria, como se fosse uma extensão viva de sua vontade. Mas mesmo ferida, a mulher não demonstrava raiva nem desespero — apenas uma frieza analítica.

    — Você devia ter me matado com aquele ataque. — disse com uma voz rouca.

    Brigitte parou a poucos metros dela, mantendo a guarda firme.

    — Eu te acertei. Isso já é o suficiente.

    A mulher soltou uma risada seca, apoiando um joelho no chão enquanto começava a se erguer.

    — O suficiente? — ela encarou Brigitte com os olhos vazios atrás da máscara. — Não, não. Você nunca mais vai ter uma chance como aquela. Vai ter se arrependido de não ter cortado a minha cabeça.

    — É o que veremos. — Brigitte apertou a empunhadura da lança com uma força renovada.

    Agora, já de pé, a mulher mascarada esticou a mão. A espada carmesim respondeu ao chamado, flutuando até ela. Conectou-se à sua pele como se fosse sugada por suas veias, fundindo-se com os vasos sanguíneos e deixando gotas de sangue escorrerem na neve. A arma pulsava como um segundo coração. Pulsava como um parasita.

    Brigitte sentiu um arrepio na espinha. A visão da arma se fundindo à carne da inimiga era grotesca. Sentiu nojo — mas não podia ficar parada. Mesmo com aquela cena horrível, manteve sua atenção.

    A assassina finalmente avançou. Seus golpes vieram em sequência, como uma dança mortífera. Ela não era rápida, não como Brigitte. Mas era precisa. Cada movimento era um ataque calculado. Cada estocada parecia mirar uma fração do corpo, uma brecha, algo que a fizesse cair e morrer.

    Brigitte desviou do primeiro golpe. Depois do segundo. Do terceiro. E o quarto veio de um ângulo impossível de prever, dobrando a trajetória no último segundo.

    Ela ergueu a lança instintivamente — e foi aí que a lâmina mudou de direção. A espada se esticou, como se tivesse se transformado em uma lança viva. A garota mal teve tempo de reagir: se jogou para trás, e o golpe cortou apenas um fio de seu cabelo.

    Mesmo à distância, a arma se contorceu no ar e avançou em um novo ataque. Brigitte tentou escapar, mas foi atingida de raspão na bochecha. O sangue escorreu leve, mas o alerta deixava algo claro: aquela espada viva podia mudar de forma e trajetória. E era rápida.

    A mulher mascarada observou a linha vermelha surgir na bochecha de Brigitte, erguendo a arma de volta à sua forma original — ainda pulsante, ainda viva.

    — O que foi? Não esperava por isso? — zombou. — Que pena. Acho que sua velocidade não vai acompanhar sua espada. Foi o que eu disse: você devia ter me matado quando teve chance.

    Brigitte rangeu os dentes e preparou-se para avançar de novo, mas dessa vez, foi a assassina quem se lançou primeiro. A espada cresceu em um som de carne se retorcendo, se estendendo para perfurar Brigitte.

    Ela começou a correr em círculos, tentando escapar da arma que parecia ter vontade própria, perseguindo-a como uma serpente. Mas mesmo com sua velocidade, a lâmina se contraiu, mudou de forma e apareceu na frente dela. Quase não houve tempo para reagir. Brigitte contra-atacou, lançando a lâmina para longe com sua própria arma — ainda assim, o impacto vibrou por seus braços com o choque.

    A assassina não deu trégua. Cada ataque vinha mais veloz que o outro. Mais impiedoso. Brigitte tentava buscar espaço, tentava abrir distância — mas a lâmina se expandia, se distorcia, cortava o caminho. A cada novo golpe, ela sentia a tensão crescer.

    Um golpe lateral veio certeiro. Ela tentou saltar para trás, mas a lâmina ajustou sua trajetória no meio do movimento. Dessa vez, o golpe acertou Brigitte.

    A lâmina cortou seu ombro, rasgando parte da roupa e abrindo um corte profundo. Conseguiu sentir o calor do sangue escorrendo pelo braço — mas Brigitte não teve tempo de sentir dor. O segundo golpe veio logo em seguida, acertando seu peito de raspão. Mais um golpe. Mais uma ferida.

    Ela não podia continuar assim. Se aquela troca de golpes se prolongasse, era só uma questão de tempo até se cansar e cair. Não podia permitir isso. Se perdesse aqui, Niko e Evelyn estariam em perigo. Aqueles dois a acolheram, sem fazer grandes perguntas, sem exigir nada de mais em troca. Eles confiavam nela. Eram seus amigos. Talvez os únicos que já teve de verdade. Ela precisava protegê-los. Era isso que uma heroína faria.

    Mesmo que perdesse um braço. Mesmo que sua coragem fraquejasse. Mesmo que seu coração parasse de bater. Ela continuaria lutando. Porque foi assim que aprendeu a viver: com a esperança de deixar o mundo melhor do que quando veio à ele.

    Brigitte recuou, tomando distância. A mulher mascarada cessou os ataques, mantendo a arma viva próxima ao corpo, a observando com arrogância.

    — O que foi? Já aceitou sua morte? — disse a assassina, provocando.

    Brigitte apenas permaneceu em silêncio. De cabeça baixa. Seus ombros estavam pesados. Mas então ergueu os olhos em direção àquela mulher. Um olhar afiado como a própria lança.

    — Não… Eu vou acabar com essa luta agora. Não vou deixar você machucar ninguém que eu amo.

    — Ohhh… estou animada por isso. Vamos, venha log-

    A assassina sequer teve tempo de concluir sua provocação. Brigitte apertou os dedos contra a lança e avançou com uma velocidade que ultrapassava tudo que havia feito antes. O mundo pareceu se dobrar ao seu redor — os flocos de neve congelaram no ar enquanto seu corpo desaparecia e reaparecia em outra posição, como um raio sem clarão.

    A inimiga tentou acompanhá-la. Seus olhos se moviam freneticamente, de um lado para o outro, mas era como tentar seguir um trovão antes do relâmpago. Era inútil. Invisível. Intangível.

    O primeiro golpe atingiu seu flanco. O segundo, a coxa. O terceiro, as costelas. Cada impacto era rápido demais para ser visto A assassina girou a espada em todas as direções, tentando desesperadamente atingir a garota. Mas somente golpeava o vazio. Sua lâmina rachava o solo, erguia neve e folhas, mas nenhum golpe encontrava seu alvo. Era como se Brigitte tivesse deixado de existir.

    C-como… como isso é possível? Como ela ficou tão rápida?”, pensou a mulher, com os olhos arregalados por trás da máscara. Nunca viu nada igual. Nenhum adversário havia alcançado esse nível. Era uma velocidade que chegava perto das pessoas mais fortes que conhecia — aqueles que ela admirava e um dia desejava ser.

    Então, por um instante breve, ela a viu. Brigitte, bem atrás dela. De corpo curvado. O braço direito tocando o chão. A lança estendida para trás, carregada de poder. Os joelhos flexionados, como se o chão fosse incapaz de segurá-la. Seu corpo era pura energia. Faíscas roxas estavam envoltas ao corpo como fragmentos de uma tempestade, distorcendo o espaço à sua volta. Até seus cabelos flutuavam, como se a gravidade tivesse esquecido sua existência.

    Eu não me importo se minha Alma está quase acabando, eu prometi que viveria assim.”, disse a garota para si mesma.

    Foi ali que a assassina entendeu. Desde o início, Brigitte estava apenas se contendo. Aquela luta já tinha o resultado decidido antes mesmo de começar. Ela nunca teve chance de vencer. E agora, essa seria sua última visão: a silhueta negra de olhos púrpuras reluzentes.

    Sem resistência, a mulher apenas abriu os braços. Aceitou seu destino. Se fosse para morrer, queria morrer em paz. Sem raiva. Sem medo. Apenas paz.

    Vronti Mundia: Angra Avatch.

    Em um instante, a visão de Brigitte se iluminou. O branco tomou tudo ao redor, como a neve caindo em silêncio. No horizonte, conseguiu ver uma silhueta conhecida e acolhedora. Ela sorria, como se dissesse: “Bom trabalho, Brigitte.”

    E ela sorriu de volta.

    “Tudo graças a você, Leon”

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