oie! como vc está espero que bem, aqui é a autora passando pra avisar que o proximo capitulo sai dia 18 se tudo der certo amo vcs!

    O balanço ritmado do navio já não incomodava tanto. Depois de um dia inteiro a bordo, Lucius finalmente começava a se acostumar com o som constante das ondas batendo no casco e o ranger das velas ao vento. O cheiro salgado do mar impregnava cada canto do Semente do Caos, misturando-se ao aroma de madeira envelhecida e, naquela manhã específica, ao café quente e ao pão recém-assado.

    Lucius estava sentado à mesa, mordiscando um pedaço de pão pela metade, os olhos vagando pelo salão de jantar. O problema não era o navio. Nem a tripulação—embora houvesse um certo desconforto no jeito como evitavam olhá-lo diretamente. O problema era o tédio.

    Ele já tinha dormido mais do que precisava e comido melhor do que esperava, mas agora sentia-se um peso morto. Se não fizesse algo, enlouqueceria.

    — Preciso ajudar — declarou de repente, rompendo o silêncio.

    Os outros à mesa — Madoc, Mathew, Vênus e Panacéia — pararam por um segundo, encarando-o como se ele tivesse acabado de dizer algo absurdo. Até mesmo Nix, que repousava a cabeça sobre os braços, ergueu o olhar, parecendo meio adormecida.

    — O quê? — Mathew foi o primeiro a se manifestar.

    — Eu quero fazer alguma coisa — insistiu Lucius. — Não posso simplesmente ficar aqui deitado o dia todo.

    Vênus riu baixinho.

    — Finalmente. Achei que fosse um príncipe mimado que só sabia dormir e esperar que trouxessem comida pra você.

    Lucius apertou os lábios, ignorando a provocação.

    — Isso significa que vão me dar trabalho ou não?

    Mathew trocou um olhar com Madoc antes de dar de ombros.

    — Depende. O que sabe fazer?

    Lucius abriu a boca para responder… e parou. O que ele sabia fazer? Técnicas de esgrima refinadas? Estratégia política? Protocolo real? Nada disso parecia útil em um navio pirata.

    — Bom… — ele coçou a nuca, hesitante.

    — Pelo visto, nada — Madoc riu, cortando um pedaço de peixe.

    Lucius cerrou os dentes, irritado com a própria inutilidade. 

    — Comece ajudando Mathew. — Nix ordenou ela parecia exausta.

    Lucius piscou.

    — O quê?

    — Se não sabe o que fazer, procure onde que pode ajudar.

    A luz do sol refletia no convés recém-molhado, e o cheiro salgado do mar se misturava ao aroma da madeira úmida. Lucius segurava um pano empapado de água salgada, tentando entender como, exatamente, aquela tarefa funcionava.

    — Fácil, certo? — Mathew ergueu uma sobrancelha, arremessando um segundo pano no colo dele.

    Lucius soltou um suspiro discreto. Não deveria ser tão complicado. Apenas esfregar, torcer, repetir. Simples.

    Ele começou o trabalho, deslizando o pano pelo chão, mas o tecido fugia de seus dedos. O atrito entre a madeira e o pano era menor do que esperava, e ao invés de limpar, só espalhava a água para todos os lados.

    Mathew, recostado na amurada, observava com os braços cruzados, um sorriso divertido crescendo nos lábios.

    — Meu Deus, você é pior do que eu imaginava.

    Lucius bufou, jogando o pano dentro do balde com um som molhado.

    — Eu não sou um limpador de convés!

    — Não, e também não é um limpador competente — Mathew zombou, abaixando-se para pegar o pano abandonado. — Tá vendo? Movimento firme e constante.

    Ele demonstrou, passando o tecido de um lado para o outro com precisão. Lucius imitou o gesto, mais cuidadoso dessa vez. Estava funcionando. Pelo menos até seu pé escorregar em uma poça de água que ele mesmo havia espalhado.

    Antes que pudesse reagir, caiu sentado, e o balde que deveria estar seguro ao lado virou completamente, despejando um banho gelado sobre suas costas.

    Mathew arregalou os olhos e, por um segundo, ficou em silêncio. Depois explodiu em gargalhadas.

    — Isso foi… inacreditável!

    Lucius ficou sentado, os punhos cerrados, o cabelo pingando. Sua dignidade afundava mais rápido que um navio furado.

    Mathew estendeu a mão.

    — Sabe… talvez seja melhor você tentar outra coisa.

    Lucius ignorou a ajuda e se levantou sozinho, molhado e irritado.

    — O que mais eu posso fazer?

    Mathew sorriu, inclinando-se levemente para ele, como se analisasse um caso perdido.

    — Boa pergunta, Alteza. Boa pergunta.

    Lucius secava o cabelo com um pano enquanto caminhava pelo navio, ainda sentindo o peso do olhar divertido de Mathew sobre si. Precisava encontrar algo útil para fazer antes que sua paciência—ou dignidade—se desgastasse por completo.

    Ao passar pelo salão de mapas, viu Madoc inclinado sobre uma grande mesa de madeira, traçando coordenadas com precisão meticulosa. O cheiro de pergaminho antigo e tinta fresca pairava no ar.

    Lucius se aproximou, hesitante.

    — Precisa de ajuda?

    O homem-peixe continuou seu trabalho sem sequer desviar o olhar do mapa.

    — Não.

    A resposta curta não desanimou Lucius. Ele puxou um banco e se sentou ao lado, observando os traços firmes do carvão sobre o papel.

    — Sei um pouco sobre navegação. Talvez possa—

    — Não.

    Dessa vez, Madoc ergueu o rosto, e Lucius sentiu o peso de seus olhos cinzentos. O tom não era apenas firme. Era um aviso.

    Lucius não era tolo.

    Madoc não via necessidade de fingir cordialidade. Diferente de Mathew, que mascarava sua desconfiança com humor, Madoc não fazia rodeios. Seu olhar deixava claro: Lucius não era bem-vindo.

    O príncipe cerrou os lábios, prendendo qualquer resposta atravessada que pudesse surgir, e se levantou sem mais protestos.

    Quando saiu do salão, sentiu o peso do olhar de Madoc em suas costas, como se estivesse esperando que ele cometesse um erro.

    Madoc era leal a Nixoria, isso era óbvio. E Lucius ainda não havia provado que merecia essa mesma lealdade.

    Lucius passou as mãos pelos cabelos úmidos, suspirando. Primeiro Mathew riu dele, depois Madoc o tratou como um intruso. Ele começava a se perguntar se realmente deveria continuar tentando ajudar.

    Foi então que avistou Vênus encostada na lateral do navio, mordiscando um pedaço de fruta seca. Ela o observava com um brilho curioso nos olhos dourados, a cauda de dragão balançando preguiçosamente.

    — Não vai perguntar se eu sou um espião? — Ele se encostou ao lado dela, tentando soar casual.

    Vênus mastigou devagar e deu de ombros.

    — Nah.

    — Por quê?

    Ela sorriu de canto.

    — Você é bonito. Não vejo motivo pra me preocupar.

    Lucius piscou, surpreso.

    — Isso não é um critério muito confiável.

    — E mesmo assim, aqui estamos. — Ela jogou a fruta fora e o encarou de verdade pela primeira vez. — Provavelmente Nix também acha.

    Ele arqueou uma sobrancelha.

    — Como assim?

    — Bom… Se ela realmente achasse que você é um problema, teria te jogado no mar ontem.

    Lucius não sabia se ria ou se ficava apreensivo com aquela afirmação

    Lucius caminhava pelo corredor, o gosto amargo da irritação ainda preso na garganta.

    Ele já tinha entendido que Mathew não confiava nele, que Madoc sequer o reconhecia como parte da tripulação e que Vênus… bem, Vênus o achava bonito o suficiente para não se importar. Mas Nix? Ela havia sido a única a tomar sua defesa. A única que o manteve a bordo. E agora ele descobria que talvez tudo não passasse de um capricho superficial?

    A porta do quarto dela estava apenas encostada. Ele bateu uma vez, mas não esperou resposta abrindo a porta.

    — Então é isso? — sua voz cortou o silêncio abafado do cômodo. — Você só me deixou ficar porque me acha bonito?

    Nenhuma resposta.

    A frustração foi substituída por um incômodo estranho. Lucius deu um passo hesitante para dentro e encontrou Nix deitada na rede, imóvel, os cabelos bagunçados caindo sobre o rosto.

    Por um instante, ele achou que ela estivesse dormindo. Mas algo estava errado.

    Seus ombros subiam e desciam rápido demais. Seu rosto, sempre pálido, estava vermelho. A respiração, irregular.

    — Nix? — ele chamou, sem resposta.

    Agora preocupado, Lucius se aproximou e tocou sua testa. O calor quase queimou seus dedos.

    — Droga… você está pegando fogo!

    Nix se mexeu, abrindo um dos olhos com visível esforço.

    — Hm…? O que você tá fazendo no meu quarto…?

    — Tentando entender por que diabos você ainda está de pé — ele rebateu. — Você está com febre! Eu vou chamar alguém.

    Ela tentou se sentar, mas o próprio movimento fez a rede balançar de forma perigosa.

    — Não precisa.

    — Não precisa? Você mal consegue se mover!

    — Eu tô bem — sua voz saiu rouca, fraca.

    Lucius cruzou os braços, incrédulo.

    — Ah, claro. E o próximo passo é me dizer que febre é só um estado de espírito?

    Nix soltou um riso fraco.

    — Talvez seja.

    Ele passou a mão pelo rosto, exasperado.

    — Certo. Então deixa eu reformular: eu vou chamar alguém, e se você tentar me impedir, eu te carrego até a enfermaria.

    Mesmo febril, ela conseguiu lhe lançar um olhar impaciente.

    — Eu já disse que não quero ninguém sabendo.

    — Isso é ridículo, Nix.

    — E sou eu quem manda aqui.

    Lucius apertou a mandíbula, respirando fundo para conter o impulso de discutir. Ela não cederia. Isso estava claro.

    — Então me deixe cuidar de você — ele propôs, tentando não soar tão irritado.

    Ela hesitou por um momento, como se ponderasse a oferta. No fim, fechou os olhos e suspirou.

    — Tá bom… mas sem alarde.

    Lucius não teve tempo de responder. O navio gemeu ao redor deles, e o ambiente começou a se transformar.

    A rede sumiu. No lugar, uma cama macia surgiu contra a parede. Um armário apareceu ao lado, repleto de frascos de remédios e ervas. No canto, um espaço menor se formou, com uma cama simples, mas confortável.

    Lucius piscou.

    — O que acabou de acontecer?

    Nix, já afundando na inconsciência da febre, soltou um riso abafado.

    — O navio gosta de você… talvez.

    Ele bufou, puxando uma cadeira e se sentando ao lado dela.

    — Bom, alguém aqui tem que gostar.

    Ela riu baixinho antes de se virar para o lado, a respiração desacelerando.

    Lucius cruzou os braços e recostou-se na cadeira, sabendo que aquela febre seria um problema.

    E, considerando a teimosia de Nix, ele teria que estar preparado para muito mais do que isso.

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