por questões: meu celular quebrou e eu não tenho acesso pelo computador aos rascunhos novos cada capitulo sairá com diferença de uma semana, eu tenho acesso até o capitulo 10 dessa obra os rascunhos novos 11 a 30 não estão finalizados e eu não posso editar então vou ter que reescrever do zero então pode haver alguns atrasos na obra.

    A chegada ao Cais das Lágrimas trouxe consigo um impacto imediato. O cheiro forte de sal e madeira úmida pairava no ar, enquanto o vento gelado cortava pela baía. O estaleiro Aurora, que Panacéia havia prometido ser o refúgio delas, era um cenário desolador. Construções desgastadas, quase caindo aos pedaços, cercavam um pátio aberto onde barcos semiacabados balançavam precariamente em suportes improvisados.

    — Então… este é o estaleiro? — Nix perguntou, franzindo o cenho ao descer da carruagem.

    — É, sim. — Panacéia respondeu, despreocupada. — Pode não parecer muito, mas tem histórias para contar.

    Antes que Nix pudesse responder, vozes exaltadas ecoaram de dentro do galpão principal.

    — VOCÊS NÃO VÃO SAIR DAQUI SEM PAGAR! Panacéia suspirou e começou a caminhar em direção ao barulho, com Nix e Vênus logo atrás.

    Dentro do galpão, uma mulher imponente discutia com um grupo de piratas. Astéria era alta, com cabelos escuros presos em um coque desalinhado, olhos castanhos que brilhavam com determinação, e tentáculos de um roxo vibrante que se moviam ao seu redor como se tivessem vontade própria.

    — Vocês usaram o barco, então vão pagar. — Astéria declarou, sua voz cortante.

    — Seu preço é um roubo! — retrucou o capitão, um homem robusto de barba grisalha. — Nenhum estaleiro cobra tanto!

    Astéria inclinou-se, seus tentáculos ondulando perigosamente.

    — Então talvez da próxima vez vocês construam seu próprio navio.

    Os piratas hesitaram, trocando olhares nervosos.

    — O que está acontecendo aqui? — A voz calma, mas autoritária de Panacéia ecoou pelo galpão.

    Todos se viraram para ela, e o impacto foi imediato. Os piratas recuaram um passo, sussurrando entre si.

    — É ela… a Fantasma de Prata.

    — Não pode ser…

    — A construtora da Rainha Liddell…

    O capitão, antes cheio de bravata, agora parecia intimidado. Ele limpou a garganta, ajustando o chapéu.

    — Não sabíamos que o estaleiro era seu, senhora Panacéia.

    Ela ergueu uma sobrancelha, as asas cintilando levemente sob a luz fraca.

    — Sabem agora. E vão pagar o que minha funcionária pediu.

    Sem outra palavra, o capitão puxou um saco de moedas de seu casaco e o jogou aos pés de Astéria.

    — Aqui está.

    Astéria abaixou-se, recolhendo o pagamento com um sorriso satisfeito.

    — E não se esqueçam: da próxima vez, é pagamento adiantado.

    Os piratas murmuraram algo incompreensível, mas saíram rapidamente, levando o barco com eles. Quando a porta do galpão se fechou, Panacéia e Astéria trocaram um olhar e começaram a rir.

    — Três vezes o valor de mercado? — Panacéia perguntou, segurando o riso.

    — Eles mereceram. — Astéria respondeu, os tentáculos ondulando em satisfação.

    Vênus, que havia permanecido em silêncio até então, deu um passo à frente, a expressão irritada.

    — Vocês estão rindo de quê? A cidade já é pobre! Por que cobrar tanto dessas pessoas?

    Panacéia parou de rir, mas o sorriso ainda pairava em seus lábios.

    — Vênus, aqueles homens não são vítimas. Eles são piratas. Roubaram, enganaram e provavelmente afundaram barcos honestos para conseguir o que têm. Não se preocupe, minha querida.

    — Não justifica abusar deles. — Vênus retrucou, cruzando os braços.

    Panacéia suspirou, mas antes que pudesse responder, virou-se para Nix e Vênus.

    — Bem, antes que minha filha me destrua com a moralidade dela, deixa eu apresentar formalmente. — Ela gesticulou para Astéria. — Esta é Astéria, a mulher que mantém o estaleiro funcionando enquanto eu cuido de outros negócios.

    Astéria deu um passo à frente, examinando as duas com curiosidade.

    — Então, vocês são a sobrinha e a filha que Panacéia tanto fala. — Ela sorriu, estendendo um tentáculo para Nix. — Bem-vinda ao Aurora. Não parece muito, mas é um bom lugar para começar. Nix apertou o tentáculo com um leve sorriso.

    — Parece promissor.

    Astéria riu.

    — Vamos ver se você continua achando isso depois de trabalhar aqui.

    Enquanto Astéria voltava para organizar o pagamento, Panacéia chamou as meninas para explorar o estaleiro.

    — Venham, quero mostrar o lugar. Pode não parecer grande coisa, mas tem história. — A voz de Panacéia soou animada, enquanto ela liderava o caminho por entre os corredores estreitos e as paredes marcadas pelo tempo.

    O estaleiro era uma mistura de caos e encanto. Ferramentas enferrujadas pendiam de prateleiras desorganizadas, e barcos inacabados ocupavam o espaço central do galpão, como gigantes adormecidos. O cheiro de madeira velha misturava-se ao aroma salgado do cais.

    — Este lugar já viu dias melhores, é verdade. — Panacéia admitiu, passando a mão por uma viga coberta de pó. — Mas também já construiu navios que cruzaram o mundo. E, com sorte, ainda pode fazer muito mais.

    O estaleiro de Panacéia era uma estrutura antiga e robusta, mas os sinais de abandono eram inegáveis. O cheiro de madeira envelhecida misturava-se ao aroma salgado do cais, enquanto o som distante das ondas quebrando nos pilares trazia um fundo melancólico ao ambiente.

    Ao entrar, o galpão principal dominava a visão. Era um espaço vasto, com um teto alto sustentado por vigas de madeira cobertas de poeira e teias de aranha. Barcos inacabados estavam espalhados pelo chão, alguns cobertos com lonas desbotadas, enquanto outros exibiam esqueletos de madeira expostos, como se esperassem o toque final que nunca veio. Ferramentas de carpintaria — martelos, serras, formões — estavam espalhadas pelas bancadas, misturadas a pedaços de corda e tábuas empilhadas de maneira descuidada.

    Panacéia começou o tour apontando para um pequeno escritório no canto direito do galpão.

    — Aqui era onde meu pai registrava os pedidos. — Disse ela, abrindo a porta com esforço. Lá dentro, havia uma mesa de madeira pesada coberta de papéis amarelados e um velho globo marítimo empoeirado. As janelas eram pequenas, deixando a luz do dia entrar em filetes estreitos. — Se precisar de privacidade ou de um lugar para planejar algo, este é o lugar.

    Seguindo pelo corredor ao lado do galpão, elas chegaram a um armazém. Era um espaço mais escuro, com prateleiras altas cheias de caixas de ferramentas, materiais de construção e velhos mapas náuticos pendurados na parede. O chão de pedra era frio, e havia uma sensação de claustrofobia devido à quantidade de coisas acumuladas.

    — O estoque está uma bagunça, mas tenho certeza de que há tesouros escondidos aqui — Panacéia comentou, abrindo uma caixa para mostrar pregos enferrujados. — É talvez não aqui.

    Panacéia levou-as até um pequeno anexo atrás do galpão principal, onde ficava uma cozinha improvisada. Uma mesa central estava cercada por cadeiras descombinadas, e um fogão a lenha ocupava o canto mais distante.

    — A comida aqui vai ser simples, mas garanto que vou ensinar vocês a fazerem algo decente. — Disse com um sorriso.

    — E onde vamos dormir? — Vênus perguntou, com um toque de ceticismo na voz.

    — Ah, o melhor para o final. — Panacéia respondeu com um sorriso misterioso, subindo uma escada estreita que rangia a cada passo.

    No andar de cima, ficava o sótão, que serviria como o quarto de Nix e Vênus. Era um espaço simples, com o teto inclinado e tábuas de madeira que estalavam sob os pés. Havia duas janelas pequenas, de onde se podia ver o mar, e um baú antigo em um canto. Os colchões eram velhos, mas Panacéia prometeu que eles poderiam improvisar algo confortável.

    — Não é o melhor, mas tem uma vista que compensa. — Disse, abrindo uma das janelas para deixar o ar fresco entrar.

    — Este será o quarto de vocês. — Panacéia anunciou, abrindo os braços como se estivesse mostrando algo grandioso.

    — É… aconchegante. — Vênus comentou, franzindo o nariz ao olhar para um colchão enrolado em um canto.

    — Aconchegante? Parece mais um depósito. — Nix rebateu, mas havia um tom de humor em sua voz. Panacéia riu.

    — Com um pouco de esforço, vai ficar habitável. Pensem nisso como um projeto para fortalecer os laços familiares.

    — Ou para nos ensinar a sobreviver a situações extremas. — Vênus murmurou, pegando a vassoura encostada na parede e lançando para a prima.

    — Vocês conseguem lidar com isso. Vou deixar vocês à vontade para arrumar as coisas. E não se preocupem, eu já mandei Astéria preparar água para um banho quente. Vai ser o último por um bom tempo, então aproveitem. — Panacéia piscou e desceu as escadas, deixando as duas sozinhas.

    Nix olhou ao redor, suspirando.

    — Não acredito que vamos dormir aqui. — Vênus comentou, sentando-se em um colchão velho com um suspiro dramático. — Se eu acordar com um rato no pé, não vou me surpreender.

    — Melhor um rato do que uma barata. — Nix respondeu, rindo.

    As duas trabalharam em silêncio por um tempo, o som de vassouras arranhando o chão de madeira e móveis sendo arrastados preenchendo o ambiente. Vênus lutava com o colchão pesado, arrastando-o para perto da janela onde a luz do crepúsculo se filtrava pelas frestas, criando um contraste suave com a escuridão que ameaçava consumir o sótão. Depois de ajeitá-lo no lugar, ela começou a empilhar cobertores, cuidadosamente dobrados, formando algo que parecia mais um ninho improvisado do que uma cama.

    Nix, por outro lado, se ocupava limpando um canto oposto, onde posicionou um futon antigo que encontrou encostado à parede. Ela o sacudiu para remover a poeira, tossindo levemente quando um pequeno tufão cinza subiu no ar. Com uma expressão divertida, Vênus a provocou:

    — Acho que esse futon é mais velho que a mamãe. Cuidado para ele não desmanchar enquanto você dorme.

    Nix sorriu, o olhar carregando um brilho de cumplicidade.

    — Talvez, mas pelo menos eu não vou afundar até o chão se deitar nele. — Ela respondeu, apontando para o colchão de Vênus com um arqueamento de sobrancelha.

    Vênus riu, o som ecoando suavemente pelo espaço vazio, quebrando o silêncio pesado que pairava desde que haviam chegado. Quando terminou de ajeitar o futon, Nix sentou-se no chão, passando a mão pelo cabelo curto enquanto observava a prima.

    — Sabe, não é tão ruim assim. — Ela disse, olhando ao redor do sótão, agora um pouco mais habitável. — Meio que tem a nossa cara, não acha?

    Vênus sentou-se ao lado dela, os cotovelos apoiados nos joelhos.

    — É, talvez. — Ela respondeu, o tom mais suave. — Mas ainda acho que mamãe está maluca por nos trazer para cá. Isso é… tão diferente de tudo que eu conheço.

    — Diferente não é ruim. — Nix retrucou, olhando para as mãos. — Às vezes, começar de novo é a única escolha.

    O silêncio caiu novamente, mas dessa vez era confortável. Vênus se recostou na parede, observando a lua por uma das frestas da janela.

    — Ei, Nix… — Ela disse depois de um tempo. — Não importa onde a gente esteja, você sabe que eu tô aqui, né?

    Nix olhou para ela, surpresa com a seriedade no tom de Vênus, mas sorriu levemente.

    — Sei. E eu também tô aqui, Venusinha. Sempre.

    As duas riram, a leve provocação aliviando a tensão. Trabalhando juntas, terminaram de organizar o espaço, agora menos empoeirado e com um toque pessoal. Quando tudo estava pronto, sentaram-se novamente, dividindo um pedaço de pão que haviam trazido. O sótão ainda era simples, mas naquela noite, parecia muito mais acolhedor.

    — Pronto. Não é uma mansão, mas é nosso. — Nix declarou, jogando-se sobre o futon.

    Vênus olhou ao redor, com um sorriso leve.

    — Eu já dormi em piores lugares. — Ela admitiu, sentando-se ao lado da prima.


    A noite caiu rapidamente, e com ela veio o frio. As duas decidiram aproveitar o que Panacéia chamou de “última regalia”: um banho quente improvisado em uma tina que Astéria havia arranjado para elas. Nix estava submersa na água morna, os cabelos curtos flutuando ao redor de seu rosto. Vênus, sentada em um banquinho ao lado, penteava os próprios cabelos molhados.

    — Isso é bom demais para ser verdade. — Nix murmurou, fechando os olhos.

    — Melhor aproveitar, porque amanhã é balde e água fria. — Vênus brincou, rindo.

    O silêncio confortável se instalou entre elas por alguns minutos, quebrado apenas pelo som da água sendo movimentada.

    — Vênus, posso te perguntar uma coisa? — Nix disse, de repente.

    — Claro.

    — Você nunca sentiu… que não pertence a lugar nenhum?

    Vênus parou de pentear os cabelos, olhando para Nix com seriedade.

    — Sempre. — Ela respondeu, sem hesitar. — Cresci sabendo que era diferente. Quero dizer, olha pra mim. Sou um dragão-de-komodo que foi criado por fadas. Sempre fui vista como… uma aberração.

    Nix virou-se para ela, surpresa pela honestidade.

    — Mas você parece tão confiante, tão confortável consigo mesma.

    — Isso é só a casca. — Vênus deu de ombros. — Passei anos tentando provar que era digna de ser parte da nossa família. Primeiro, pra Panacéia. Depois, pra Andréa. E sabe o que percebi?

    — O quê?

    — Que nunca foi sobre provar algo pra elas. Foi sobre aceitar quem eu sou. — Ela deu um sorriso encorajador. — E você também vai encontrar seu lugar, Nix.

    Nix suspirou, inclinando-se para fora da tina e abraçando os joelhos.

    — Às vezes, sinto que tudo em mim grita que sou diferente. Como se fosse impossível me encaixar em qualquer lugar.

    — Talvez você não precise se encaixar. — Vênus disse, estendendo a mão para apertar a de Nix. — Talvez você só precise criar seu próprio espaço.

    Nix olhou para a prima, surpresa pela profundidade de suas palavras.

    — Quando foi que você ficou tão sábia?

    — Sempre fui. Você só não prestava atenção. — Vênus riu, jogando um pouco de água em Nix.

    As duas terminaram o banho entre risadas, o peso das preocupações diminuindo um pouco.


    De volta ao sótão, enfiaram-se debaixo das cobertas, conversando sobre tudo e nada: histórias de infância, lembranças de Zander, sonhos para o futuro.

    — Nix, você acha que vai conseguir lidar com isso? — Vênus perguntou, já com a voz meio sonolenta.

    — Não sei. — Nix respondeu honestamente. — Mas acho que, enquanto você estiver aqui, vou ficar bem.

    — Sempre estarei. — Vênus murmurou, antes de cair no sono.

    Nix ficou acordada por mais alguns minutos, olhando para o teto. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se um pouco menos sozinha.

    Próximo capítulo 1 de março

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