Por motivos pessoais descidi dar um prologo ao livro para explicar o mundo e amagia previamente.
Prólogo
Em algum lugar no norte do Brasil, uma garota chamada Alice teve um sonho. Um daqueles sonhos vívidos que grudam na alma como teias de aranha ao amanhecer.
Nele, flores cantavam em corais, rios de chocolate fluíam para o céu, e gatos sorriam sem motivo. O chão era fértil, e a fome não existia.
Quando despertou, o sonho não se desfez como os outros. Pelo contrário—ele respirava. No começo, era apenas um sussurro. Mas então, outras pessoas começaram a ouvir.
Uma criança na Itália jurou ter visto um gato de dentes brilhantes; um pescador em Taiwan sonhou com as flores cantantes. Aos poucos, o devaneio de Alice deixou de ser seu. Tornou-se um rio subterrâneo, escorrendo pelo mundo através de rachaduras invisíveis.
Até que, numa noite sem lua, o sonho transbordou. Foi como se as leis da física fossem apenas um punhado de sugestões. O problema da indução? Um presságio do que ainda estava por vir.
Um planeta inteiro nasceu. No início, era um borrão de ideias.
Montanhas flutuavam de cabeça para baixo, árvores brotavam das nuvens, e o tempo se dobrava sobre si mesmo, recusando-se a seguir um fluxo. Não havia regras—apenas o caos dançando nu sob uma aurora eterna. Foi então que as estrelas notaram. Algumas cintilaram de desdém e seguiram seu curso.
Outras, porém, inclinaram-se curiosas. Entre elas, duas desceram. A primeira era Morte—mas não a que você conhece.
Esta era jovem, de cabelos prateados que escorriam como cachoeiras e olhos como buracos negros devoradores de luz. Em suas mãos, carregava uma semente. Não de vida, mas de fim.A segunda era Tempo, um ser andrógino cuja pele mudava conforme as estações que ainda não existiam.
Seus passos deixavam rastros de relógios de areia na névoa primordial. No coração do caos, encontraram Cheshire. Ele não tinha forma fixa.
Um instante, era apenas um sorriso flutuando no escuro; no seguinte, um redemoinho de cores que riam em mil tons.
Cheshire era o sonho que se recusava a acordar, o riso que ecoava depois do fim da piada.
— Você está só — disse Morte, sem pena, apenas com a frieza de quem enuncia uma verdade inconveniente.
Cheshire rodopiou, criando flores de luz que murcharam ao toque do Tempo.
— Só? — sua voz era o rangido de uma porta antiga e o farfalhar de folhas secas.
— Tenho minhas criações!
Com um gesto, bonecos de névoa surgiram ao seu redor, dançando sem ritmo.
Eram belos, mas vazios. Marionetes sem fios, repetindo movimentos que Cheshire inventava e esquecia.
Morte e Tempo trocaram um olhar.
— Dê-lhes vida — sussurrou Tempo.
Morte soprou sobre os bonecos.
A semente em suas mãos brotou em raízes negras, envolvendo as figuras de névoa. De repente, estremeceram.
Um deles—um ser alto com um chapéu absurdo—olhou para as próprias mãos e riu.
— Chapeleiro! — anunciou Cheshire, os dentes brilhando como luas minúsculas.
E assim nasceu o primeiro sonho.Mas um sonho, por si só, não era suficiente.
Para que aquele novo mundo florescesse, era preciso que suas criações moldassem a realidade ao seu redor. E assim, Cheshire lhes deu um presente: a magia.
Dividiu-a em três formas.
A Magia Interna pulsava dentro do corpo, permitindo que os feéricos de Clubs se transformassem em animais e que os piratas de Spades se fundissem aos seus navios.
A Magia Semi-Externa fluía como um rio entre o ser e o mundo. Dragões de Hearts moldavam metais com um toque, enquanto sábios de Diamond aprisionavam segundos em pequenas esferas de tempo.
Mas havia uma terceira magia. O Toque do Caos. Proibida, selvagem, impossível de domar. Diziam que apenas Cheshire a controlava, e que qualquer um que ousasse tocá-la pagaria com a própria sanidade.
Com o tempo, o próprio caos encontrou forma, e dividiu-se pelos quatro reinos:
Diamond, o país dos sábios, berço da tecnologia e da anarquia. Lar de inventores brilhantes e visionários lunáticos.
Hearts, o império dos dragões, onde nômades moldavam metais como escultores do destino.
Clubs, um labirinto de selvas densas, lar de feéricos, humanos meio-animais. Selvagem, vibrante, indomável.
Spades, onde o mar devorava a terra e cuspia palácios de enseadas. O reino de piratas e sereias, onde a liberdade era lei.
Os nascidos neste mundo foram chamados de sonhos. Mas nem todos os sonhos deveriam existir. De tempos em tempos, a própria terra cuspia algo que não pertencia a ela—uma sombra nascida da rachadura entre o real e o imaginado.Chamavam-nas de pesadelos.E os pesadelos tinham um único propósito: destruir os sonhos.
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