Capítulo 106 de 01 – Pervertida!
Volume 5: Terceiro Destemido.
Dam Hacraul pertencia à linhagem secundária do clã Zura. Desde a infância, demonstrava curiosidade por invenções e, apesar dos julgamentos, escolheu tornar-se ferreiro. A opinião dos outros pouco lhe importava, desde que pudesse criar o que desejava.
Aos treze anos, seu talento chamou a atenção da primeira linhagem, permitindo-lhe ascender, ainda que mantivesse o status secundário. No entanto, continuava alvo de desprezo por parte dos mais nobres, que o viam como alguém fraco, limitado à forja.
A proteção da líder do clã impedia qualquer represália contra ele e, garantia-lhe liberdade para seguir com suas pesquisas. Ao receber permissão para acessar os livros da biblioteca, descobriu novos desejos e ambições, que mudariam o rumo de sua vida.
No livro, havia ilustrações de diversas armas e suas formas de uso, mas nenhum método de fabricação. Isso despertou nele o desejo de recriá-las. No entanto, dispunha de poucos materiais, já que todos eram destinados à produção de espadas e arcos.
Sendo o único capaz de forjar espadas de ferro reforçado, mais resistentes e duráveis, considerou compartilhar suas ideias com o alto escalão. Porém, seu pedido foi prontamente negado, e lembraram-lhe que sua única utilidade era a criação de armas.
Aos dezessete anos, sentia-se insatisfeito com o próprio clã. Apesar das ideias promissoras, não recebia apoio nem mesmo da própria família. Diante disso, cogitou fugir, ainda que não soubesse o que faria depois.
Com sua habilidade de fogo de sobreaquecimento, conseguia queimar lentamente qualquer material com uma eficácia superior. No entanto, por pertencer à segunda linhagem, sempre precisou de um objeto intermediário para canalizar seu poder.
Naquela noite, escondido perto da muralha sul, preparava-se para fugir. Antes disso, deixou uma surpresa em seu local de trabalho. Havia incendiado a área, mas sabia que isso não bastaria.
Para garantir a destruição, aqueceu um pedaço de ferro até o limite. Conhecia bem as propriedades do material, os efeitos colaterais de sua habilidade, e sabia que, sob calor extremo, acabaria explodindo. Sem tempo a perder, lançou no forno em chamas e, aumentou ainda mais a intensidade do fogo.
O fogo comum não conseguia atingir altas temperaturas tão rapidamente quanto a habilidade de Dam, o que lhe dava tempo suficiente para se preparar para a fuga. Escondido na muralha, aguardava com cautela a explosão.
Pouco depois, um estrondo rompeu o silêncio da noite, seguido por chamas que se ergueram acima das muralhas. Os soldados de prontidão correram para o local, e foi nesse momento que ele escalou a estrutura e escapou, sentindo a liberdade pela primeira vez.
Já fora da cidade, seguiu seu caminho e, afastou-se o máximo possível. No entanto, sua alegria foi passageira. Dias depois, esgotado e sem conseguir dormir, percebeu que algo o assombrava. Sempre que tentava descansar, demônios surgiam para impedi-lo.
Cansado de tanto sofrimento, decidiu retornar à cidade. Desta vez, no entanto, optou por arriscar entrar por um portão diferente. Ao se aproximar do portão oeste, foi barrado e questionado, mas antes mesmo de responder, caiu no chão, inconsciente.
Horas se passaram até que Dam, aos poucos, abriu os olhos. Ouviu então duas vozes jovens que conversava ao seu redor.
— Kai, esqueça isso, olhe os cabelos dele, são daquele clã odiado.
— Não interessa Castiel! Eu quero apreender como ele fez uma espada tão boa. Nem o meu mestre consegue fazer uma assim — disse enquanto analisava a espada.
Colocou o braço no ombro de Kai e disse: — Podes ser o meu irmão, mas não posso deixar ao lado dele.
— Por que não?! — questionou, afastando-se.
— Ainda me pergunta? — perguntou. — Ele é do clã Zura! — gritou e balançou a mão.
— Me desculpe por ser do clã Zura — Dam se desculpou enquanto se levantava.
Castiel silenciou e não disse mais nada, afastando-se e deixou Kai e alguns soldados no quarto. Logo depois, Ele foi questionado sobre suas origens. O líder da cidade, ciente de suas habilidades, decidiu usá-lo, mas ele só aceitou sob a condição de poder continuar suas pesquisas.
O trato foi feito, e ele seguiu com seus estudos enquanto seu próprio clã o buscava, tentando não divulgar informações sobre seu paradeiro. Dam provavelmente sabia disso, razão pela qual era raramente visto fora de seu trabalho, sempre escondia seu rosto e cabelo.
Três anos se passaram, e finalmente conseguiu construir as armas dos seus sonhos. No entanto, isso não representava tudo o que ele queria. Seu plano sempre fora usá-las para seu próprio benefício. Sabia que sua habilidade de fogo, não era adequada para combates diretos, mas com essas armas, ele teria o poder de lutar.
Aos 22 anos, decidiu partir da vila com outros caçadores, em uma missão para caçar demônios e exterminar os destemidos.
No entanto, essa nunca foi sua verdadeira intenção. O que ele realmente desejava era ir até uma montanha específica, mencionada nos livros que havia lido. De acordo com os registros, ali poderia encontrar um metal mais resistente que o ferro, algo que o fascinava.
Ao convencer os membros do seu grupo a seguir pelo sul, disfarçou seu rosto e cabelo, e assim partiram pelo portão, em busca do tal metal.
Durante a jornada, ele se manteve em silêncio. Não era de sua natureza ser sociável, e seu semblante fechado só reforçava essa impressão. Embora fosse reservado, respondia, ainda que de maneira breve, a qualquer um que lhe dirigisse a palavra.
No grupo, havia uma dupla de gêmeos, Germe e Germa. Ambos eram soldados habilidosos no domínio de suas auras, mas não possuíam habilidades especiais. Contudo, o trabalho em equipe entre eles era admirável, como se conseguissem ler a mente um do outro.
Mesmo enfrentando demônios poderosos, que normalmente causariam dificuldades até para soldados com a aura despertada, eles os derrotavam com facilidade, quando agiam juntos.
Ele sentia um peso, pois não conseguia sincronizar com a dupla. No entanto, não se importava muito com isso, contanto que pudesse alcançar seu destino.
Durante a viagem, apenas Germe conversava com ele. Por algum motivo, a sua irmã não trocava palavras e, limitava-se a olhá-lo ocasionalmente, sem dizer nada. Porém, em uma noite, enquanto seu irmão dormia e Dam estava ocupado fazendo suas balas, Germa quebrou finalmente o silêncio e perguntou:
— Isso… Pode me explicar como funciona?
— Hum? — Dam olhou para ela por um momento e logo voltou ao que estava fazendo, imerso no seu trabalho.
Ela, sentiu-se ignorada e, gritou:
— Dam!
— Hum, o que foi? — ele respondeu, surpreso.
— Eu… isso… na sua mão, como é?
— Ah, isso… — respondeu, mostrando a bala. — É uma bala altamente comprimida.
— Comprimida?
— Sim. — Ele colocou a bala em um dos bolsos, dando um meio sorriso. — Quer ver como se faz?
— Claro!
Germa se aproximou rapidamente e se sentou diante dele. Dam ficou desconfortável com a proximidade. Ele tirou uma pedra do seu espaço e segurou firme.
— Isso aqui é um minério de ferro.
— Minério de ferro? — ela se inclinou, curiosa e, aproximou o rosto da pedra.
— Sim — respondeu, visivelmente constrangido, desviando o olhar. — Com isso, podemos fazer ferro. Tipo a espada que você usa, são feitas de ferro.
— Entendi! — Germa sorriu, claramente impressionada.
Ele ficou ainda mais constrangido. Apesar de seus 22 anos, ele nunca tinha tido uma experiência assim, com uma mulher olhando para ele com tanto interesse e admiração.
— Bem, vou esquentar ela agora. — pegou a pedra e começou a aquecê-la. Ela começou a esquentar rapidamente. — Até ela se transformar em chamas.
Continuou sobreaquecendo o minério por alguns minutos até ele se tornar chamas que flutuavam em sua mão.
— E agora, vou comprimir.
Germa assistia, fascinada. A chama começou a diminuir de tamanho e, moldava-se lentamente na forma de uma bala.
Apesar de não demonstrar, Dam sentiu uma pequena satisfação ao ver a reação dela e continuou:
— Enquanto comprimo, eu esquento de novo. Quando algo é transformado em chamas e resfriado, ele fica mais duro. Com o minério de ferro e minhas habilidades, ele se torna ainda mais resistente que o ferro feito da maneira convencional. Eu chamo isso de ferro reforçado. Entendeu?
— Sim, mas… tenho uma dúvida.
— Fala — respondeu, surpreso.
— No clã Zura, a aura desperta não são as suas chamas?
Ele olhou para o lado, como se estivesse lembrando de algo. Ele respirou fundo e explicou:
— Ah, sim, eu também não sei ao certo. Mas eu despertei essa habilidade enquanto forjava. Nunca vi ninguém com algo assim no meu clã.
Ele a olhou de repente, com uma expressão curiosa.
— Espera, como você sabe que eu sou…?
Germa percebeu que tinha falado demais e se apressou em se desculpar.
— Me desculpa… Eu vi você sem querer se limpando… e vi seu rosto.
Dam a encarou, cético.
— Eu não acreditava que você fosse uma pervertida… — ele disse, desconfiado.
— Não, não sou uma pervertida! Foi sem querer, eu não queria… — o rosto dela ficou vermelho de vergonha.
— Pervertida! — riu, mas com uma expressão travessa.
Ela ficava cada vez mais vermelha enquanto negava, e, embora seu irmão devesse estar dormindo, ele estava ali, sorrindo baixinho.
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