Índice de Capítulo

    Os batedores de Douglas retornaram com expressões fechadas, trazendo notícias que fizeram o ar parecer mais denso.

    — Como? O vilarejo foi atacado? — Berco não conseguiu esconder a incredulidade. Virou-se para Douglas, esperando uma reação. O líder, no entanto, já trazia no rosto a dureza de quem previa o pior.

    — Era o que eu temia. — Douglas murmurou, mais para si do que para os outros.

    Se estivesse no lugar dos mercenários, teria feito exatamente o mesmo. Com a neblina cobrindo tudo, o vilarejo mais próximo seria o refúgio óbvio. Atacar vilarejos, embora raro nos dias de hoje devido à força crescente do Reino Grão-Vermelho, era uma opção lógica quando a sobrevivência estava em jogo.

    Sem comida suficiente para durar sob a neblina por dias, os mercenários provavelmente tomaram o controle do vilarejo. Melhor garantir a ordem dentro do grupo do que arriscar um motim.

    Douglas suspirou fundo e começou a delinear sua estratégia.

    — Enviaremos cinquenta homens ao vilarejo. — Sua voz cortou o burburinho dos soldados. — Qual é o estado atual do lugar?

    — Não encontramos sobreviventes, senhor. Todos foram mortos e enterrados em covas fundas, depois queimados.

    O silêncio foi como um soco na sala. Um dos soldados murmurou uma prece, o olhar fixo no chão.

    — Também vimos rastros recentes. Parece que saíram um pouco depois de nós deixarmos a Floresta dos Homens-Lagartos. — O batedor hesitou, mas prosseguiu.

    Douglas franziu o cenho, montando o quebra-cabeça.

    — Faz sentido. A neblina deve ter começado a se dissipar primeiro perto da floresta. Isso atrasou eles, provavelmente ainda estão por perto.

    Um murmúrio de aprovação percorreu o grupo.

    — Se agirmos rápido, podemos localizá-los e acabar com essa ameaça. — Um soldado propôs, animado.

    — Sim! Vamos fazer isso! — Outro incentivou, gerando uma onda de apoio.

    Mas nem todos estavam convencidos.

    — O senhor pretende liderar essa equipe de cinquenta homens, capitão? — Berco perguntou, os braços cruzados e a expressão carregada de ceticismo.

    — Exatamente. — Douglas respondeu sem hesitar.

    — Discordo. — A palavra saiu firme, causando um silêncio desconfortável.

    Os olhares se voltaram para Berco, muitos com reprovação evidente.

    — Estamos em uma missão oficial da coroa, capitão. — Berco continuou, ignorando as expressões ao seu redor. — Não há sentido em nos desviarmos agora. O vilarejo já foi destruído. Não há o que salvar.

    Douglas encarou Berco, mas ele não recuou.

    — Se perseguirmos esses mercenários, apenas atrasaremos nossa missão principal. A coroa não nos mandou aqui para resolver os erros de bandidos.

    A atmosfera dividiu-se entre o silêncio pesado e sussurros de discordância. Douglas permaneceu imóvel, pesando as palavras do subordinado.

    Por fim, ele suspirou.

    — Talvez você tenha razão, Berco. Mas deixe-me perguntar: este é realmente o motivo para se opor à minha ideia? — Douglas fixou o olhar no homem de sua maior confiança, a expressão séria, esperando uma resposta que estivesse à altura de sua posição.  

    Berco percebeu que fingir naquele momento só complicaria as coisas. Suspirou, relaxando a tensão no rosto, enquanto aceitava que não havia mais como ocultar seu verdadeiro motivo.  

    — Tenho quase certeza do que o senhor planeja fazer, capitão. — Berco começou, com um tom firme. — O senhor pretende seguir os rastros desses mercenários com cinquenta homens, enquanto me deixa encarregado do restante da missão: liderar nossos homens e garantir que os homens-lagartos cheguem ao Reino Grão-Vermelho. Estou certo?  

    Douglas inclinou a cabeça, confirmando com um aceno.  

    — Sim, é exatamente isso.  

    Berco respirou fundo, reunindo suas palavras antes de continuar.  

    — Então, nesse caso, eu discordo do senhor. É muito arriscado o nosso capitão partir atrás de um grupo de mercenários com apenas cinquenta homens. O senhor sabe muito bem o quão experientes e brutais eles podem ser.  

    Todos sabiam. Afinal, antes de se unirem ao reino, eles também eram mercenários.  

    — Qual seria sua sugestão, então? — Douglas perguntou, a voz calma, mas curiosa.  

    Berco endireitou os ombros.  

    — Como disse antes, capitão, acho que devemos manter o curso para o reino, sem dividir a comitiva. Porém… se o senhor realmente acredita que precisamos caçar esses bandidos, então me deixe liderar o grupo que será enviado. Ao menos assim, o senhor não estará se expondo a um risco desnecessário.  

    Douglas permaneceu em silêncio por um momento, os olhos fixos em Berco. Por fim, ele murmurou:  

    — Entendo. Então é isso.

    Douglas, sem conseguir tomar uma decisão imediata, permaneceu em silêncio, refletindo sobre o melhor curso de ação. Ele desejava ardentemente destruir o grupo que havia devastado o vilarejo, pois isso não só traria benefícios para a Ponto Escuro, mas também ajudaria o reino. Mas, ainda assim, hesitava.  

    Foi nesse momento que uma voz se levantou, quebrando o peso do silêncio.  

    — Posso dar uma sugestão?  

    Todos voltaram os olhos para a origem da voz, três grandes sombras se projetando ao redor de seu dono. Estes, surpresos, trocaram olhares desconcertados, claramente não esperando que aquele que estava ao lado deles tomasse a palavra. A preocupação era visível nas expressões que lançaram a ele.  

    — Bruce, hum, qual a sua ideia? — perguntou Douglas, esboçando um sorriso fraco, quase cínico.  

    — Porque não vamos juntos com vocês?  

    A proposta de Bruce deixou Berco incrédulo.  

    — Como? Homem-lagarto, não sei se entende, mas nossa tarefa aqui é levar vocês para o reino. Não para se envolver em batalhas com inimigos cujo poder nem mesmo sabemos. — disse Berco, claramente contra a ideia.  

    Bruce, no entanto, respondeu com calma, seus olhos fixos em Douglas, antes de prosseguir.  

    — Acho que essa seria uma oportunidade interessante para todos nós, homens-lagartos.  

    Douglas, interessado, gesticulou para que Bruce continuasse.  

    — Em breve, nos juntaremos à organização de vocês. Mas, no momento, não acredito que estamos no nível necessário para realmente contribuir com algo. Vivemos nossas vidas na floresta, isolados do resto do mundo, e por isso não possuímos o conhecimento, a experiência ou os poderes que vocês humanos possuem. Por isso, acredito que, como guerreiros, devemos agarrar essa oportunidade para evoluir, crescer. — Bruce deu alguns passos à frente, entrando no círculo formado pelos homens humanos. Ele então se virou para os outros homens-lagartos que o observavam, com os olhos fixos. — Todos vocês viram a minha luta contra Douglas. Lembram como fui derrotado?  

    A memória ainda estava fresca na mente de todos. Bruce, um homem-lagarto imponente e irmão de Virmirka, uma das mais poderosas guerreiras da sua raça, fora humilhado com uma facilidade cruel por Douglas. Nenhum dos homens-lagartos, nem os que se julgavam mais fortes que Bruce, ousavam afirmar que poderiam derrotar Douglas após testemunharem aquela batalha.  

    Bruce, com o semblante sério, continuou:  

    — Não preciso dizer muito. Estamos fracos. — Suas palavras causaram olhares pesados entre os homens-lagartos, que, embora sempre tivessem orgulho de sua força, agora viam a imensidão do mundo e o quanto estavam distantes de sua compreensão. — Precisamos de experiência, precisamos aprender, precisamos evoluir. E não há melhor maneira de evoluir do que através de um combate.  

    Douglas, por sua vez, mantinha um sorriso satisfeito no rosto, um sorriso que refletia exatamente o que sentia naquele momento. Ele estava gostando do discurso de Bruce, a sinceridade e a determinação no tom do homem-lagarto eram inegáveis.  

    Bruce, então, se voltou para Douglas, estufando o peito e colocando as mãos atrás, em um gesto de respeito.  

    — Precisamos dessa oportunidade, senhor!  

    Os homens-lagartos, em silêncio por alguns segundos, começaram a se mover um a um, formando uma linha atrás de Bruce. Cada um deles adotava a mesma postura, com os peitos estufados e as mãos firmes para trás, mostrando o mesmo respeito e a mesma determinação.  

    — Queremos essa oportunidade! — gritaram em uníssono, sua voz ecoando com uma força renovada.

    — Hahaha! — Douglas soltou uma risada que ecoou pela tensão no ar. Seus olhos brilharam com aprovação. — Não precisam pedir de novo!

    Ele olhou para os homens-lagartos, um a um, seus rostos agora iluminados pela chama de uma nova oportunidade. A força da determinação de Bruce havia tocado algo dentro dele, algo que Douglas raramente via nos outros.

    — Se é isso que querem, então iremos juntos. Aproveitem essa chance, homens-lagartos. Mostrem a todos o que são capazes de fazer!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota