Capítulo 22 – Discussão
Breck arrastou Richard para um beco estreito, a passos largos e com força suficiente para atrair olhares curiosos dos poucos transeuntes. Mas ele não ligava. Nem um pouco. A irritação queimava dentro dele como uma chama impossível de apagar.
A pergunta que Richard havia feito dentro da loja não só o deixara desconfortável, como também havia plantado dúvidas incômodas. E, como se isso não bastasse, Richard ainda saíra agindo como se nada tivesse acontecido, dando-lhe um comando implícito com aquele maldito “Não é?”.
Assim que chegaram ao beco, Breck empurrou Richard contra a parede com uma força que arrancou um pequeno som de surpresa do outro homem.
— Que porra foi essa, Richard?! — ele disparou, o tom de voz afiado como uma lâmina. — Tiko? De onde saiu essa merda? Por que você fez aquela pergunta? O que você sabe? Como chegou a isso? E, diabos, por que me impediu de agir?!
— C-Calma aí, Breck. Vamos respirar um pouco, você está muito…
Richard levantou as mãos, tentando apaziguar a situação, mas o gesto teve o efeito contrário. A fúria de Breck só crescia.
— Responde, caralho!
— Certo, certo… calma! — Richard ergueu a voz um pouco, tentando assumir o controle da conversa. — Eu… eu não sei exatamente… Foi só um… palpite.
Por um momento, Breck ficou em silêncio. Seus olhos se estreitaram, e as expressões de seu rosto mudavam tão rápido que parecia que sua cabeça não sabia como reagir.
— Palpite? — ele finalmente disse, a incredulidade escorrendo em cada sílaba. — Você perguntou se aquele cara era um criminoso nível 3 por causa de um palpite? Essa é sua desculpa, Richard?
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— Eu… me desculpe, ok? — Richard respondeu, desviando o olhar por um momento. — É que… aquele colar na mesa…
— Colar? Que porra de colar?
Richard suspirou, percebendo que precisava ser direto. Ele começou a explicar suas suspeitas enquanto Breck, embora relutante no início, ouvia com atenção.
— Então era isso? O colar pertenceu àquela nobre que estudava magia… Dina, certo? — Breck perguntou, tentando conectar os pontos.
— Exato. Pelo menos parece muito com o dela. Isso, somado à reação estranha dele ao ouvir o nome do outro filho de Dina, Jack… irmão de Tiko. E as mentiras que ele contou dizendo que não o conhecia… tudo isso me levou a acreditar que ele pudesse ser o próprio Tiko.
Breck ficou em silêncio por um instante, finalmente processando toda a lógica por trás da ação de Richard. A raiva em seu semblante começou a se dissipar.
— Tá bom… faz sentido. Mas que merda é essa de bênção que detecta mentiras? Desde quando você tem isso?
— Desde o ataque àquela “base” dos pecadores, alguns anos atrás. Consegui essa bênção de um dos membros que matei.
— Ahhh… faz sentido. — Breck balançou a cabeça, cruzando os braços. — Mesmo assim, não podemos deixar esse cara ir embora assim. Ainda mais considerando que ele estava todo coberto, sem mostrar rosto, cabelo, ou até mesmo a cor da pele. Desde o início achei o jeito dele de se vestir muito suspeito!
Richard se aproximou da saída do beco, inclinando-se apenas o suficiente para olhar para a loja de onde haviam saído. Seus olhos se estreitaram enquanto observava atentamente, como se tentasse prever o próximo movimento do homem mascarado.
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— Ele ainda está lá dentro — disse Richard, com um tom tranquilo que contrastava com a tensão no ar.
— Como você sabe? — Breck perguntou, franzindo o cenho, até que uma expressão de surpresa atravessou seu rosto. — Espera… você consegue enxergar daqui?
Antes que Richard pudesse responder, Breck olhou em volta, certificando-se de que ninguém os ouvia. Ele havia escolhido aquele beco afastado propositalmente, movendo-os a pelo menos mais de cem metros da loja. Essa era, afinal, a distância máxima em que até mesmo elfos ou elfos negros conseguiriam ouvir ou ver uma conversa com suas visões e audições aprimoradas.
— Não, não consigo ver. Mas eu o sinto lá dentro — respondeu Richard, como se estivesse comentando sobre o tempo.
Breck arqueou uma sobrancelha, desconfiado.
— O quê? Como assim sente? Fala na minha língua, caralho, eu não leio mentes.
Richard, ainda espiando a esquina do beco para a rua, lançou um olhar rápido para Breck. Ele parecia tão calmo que isso só irritava ainda mais o companheiro.
— É uma bênção.
— Outra porra de bênção? Quantas dessas você tem, desgraçado?!
— Cinco.
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— Cinco?!
— Isso é importante agora, senhor Breck?
Breck bufou, mas sabia que Richard tinha razão. Havia coisas mais urgentes para lidar.
— Certo, certo. Então ele ainda está lá? — perguntou, inclinando o corpo para tentar olhar na direção da loja.
— Está. Eu posso senti-lo com minha bênção.
— Beleza, mas você pode me explicar como essa merda funciona? Porque, sinceramente, tá difícil de acompanhar.
Richard suspirou.
— Tudo bem. Essa bênção, em particular, está sempre ativa. Ela me permite sentir as almas das pessoas. Cada alma tem uma sensação única que eu consigo captar. Assim, dentro de um raio de dez quilômetros, posso identificar com precisão onde cada pessoa está, desde que eu me lembre da sensação que a alma dela transmite.
Breck piscou lentamente, tentando processar o que acabara de ouvir. Então, balançou a cabeça em descrença.
— Você nasceu com o cu virado pra lua, ou o quê? Como diabos você consegue tantas bênçãos boas assim?
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— Essa de rastreamento é a minha de nascimento. As outras, bem, eu fui juntando ao longo do tempo. Quando você é enviado para fazer mil e uma missões, acaba encontrando umas oportunidades pelo caminho.
Além de nascer abençoado, o cara é sortudo? Breck só conseguia pensar nisso. Quais as chances de topar com quatro pessoas carregando bênçãos por aí?
Os dois continuaram observando a loja em silêncio. Breck, mesmo incapaz de enxergar o que se passava lá dentro, mantinha os olhos fixos na entrada. Assim que o homem saísse, eles saberiam.
— Certo, qual é o plano? — perguntou Breck, quebrando o silêncio.
— Eu vou falar com ele — respondeu Richard, despreocupado.
— Beleza, então acho que a gente… espera. O quê? Só você?
— Isso, só eu.
— Por que diabos você iria sozinho?! — Breck agarrou o ombro de Richard, virando-o para encará-lo diretamente.
Richard sustentou o olhar.
— A última vez que você ficou na mesma sala que ele, soltou tanta intenção assassina que o cara mal conseguia ficar de pé. A gente nem sabe se ele é realmente o Tiko. Se eu me aproximar de forma amigável, tenho mais chances de conseguir alguma coisa. E, sim, sozinho. Não quero que ele veja você bufando vontade de matar de longe e resolva sair correndo, transformando isso numa perseguição pela cidade. Não sabemos o que ele pode fazer.
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Por mais que Breck quisesse retrucar, ele sabia que Richard tinha razão. As palavras do outro homem silenciaram qualquer tentativa de contestação.
— Tá, tá. Mas vou ficar por perto. Qualquer sinal de hostilidade… bom, quem eu tô querendo enganar? É você. Não sei por que estou me preocupando — murmurou Breck, cruzando os braços, sua resistência cedendo aos poucos.
Mesmo com suas preocupações, ele sabia que era difícil imaginar Richard em apuros. Não só pelo poder, mas pela posição dele dentro do reino. Um elfo negro que nem sequer era um cavaleiro sagrado não poderia fazer frente ao homem mais poderoso do reino.
Além disso, a abordagem de Richard tinha algo único: um misto de autoridade e gentileza. Com ele, capturar alguém com base em suspeitas não era sinônimo de desastre.
Mesmo que estivessem errados sobre Tiko, bastaria um pedido de desculpas para resolver a situação. Richard tinha o dom de fazer as pessoas aceitarem até seus erros com naturalidade.
— Ele saiu. Vou lá — anunciou Richard, saindo do beco sem hesitação.
— Vê se não faz merda — resmungou Breck, ainda escondido.
Enquanto observava Richard caminhar em direção ao homem, uma pergunta atravessou sua mente:
Por que, caralhos, eu continuo me metendo nas encrencas desse cara?
Ele suspirou. Ah, como sentia falta do tempo em que podia odiar Richard de longe, sem se envolver em suas confusões.
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⧫⧫⧫
— Tente não correr. Só quero conversar, tudo bem?
A voz de Richard Ravens soou baixa, mas firme, enquanto ele seguia Tiko de perto. Era o tipo de tom que não deixava espaço para dúvidas, apenas uma escolha: obedecer.
Tiko parou no meio da rua, o corpo tenso como uma corda prestes a arrebentar.
— O que você quer? — A pergunta saiu vacilante, com uma nota de desespero.
— Podemos ir para um lugar mais discreto? — Richard sugeriu, mantendo o mesmo tom calmo. — Vai ser melhor para nós dois. Relaxe. Se eu quisesse fazer algo contra você, já teria feito.
E era verdade. Richard tinha todos os meios para fazer Tiko desaparecer naquele momento. Não havia uma versão da realidade onde Tiko escaparia, e o elfo sabia disso.
— C-certo… vamos… — murmurou Tiko, sem alternativa.
Eles caminharam juntos até um estabelecimento que oferecia salas de reunião por aluguel. O lugar tinha uma atmosfera discreta, ideal para encontros que ninguém quer que sejam lembrados. Assim que entraram, algumas cabeças se viraram, curiosas com a presença de Richard. Mas ele ignorou os olhares.
Aquele era um homem acostumado a ser notado e a não se importar.
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Tiko manteve a cabeça baixa, claramente desconfortável. Richard percebeu quando o elfo hesitou antes de se aproximar do balcão, então tomou a iniciativa.
Pediu uma sala, trocou algumas palavras rápidas com a balconista, pagou o valor, e recebeu uma chave com uma fita marcada com o número do quarto.
Eles não demoraram a encontrar a sala, no térreo. Richard entrou primeiro, examinando o local com um olhar casual, mas atento. Tiko entrou logo atrás, hesitante, e fechou a porta com cuidado.
A sala era surpreendentemente bem arrumada, com um cheiro leve que lembrava um campo de flores. Provavelmente usavam algum perfume ou encantamento para manter o ambiente agradável.
No canto, uma pequena cozinha abrigava um congelador encantado com “Frio Constante”, ideal para manter bebidas geladas. Nada ali interessava aos dois, e nenhum deles perdeu tempo olhando para o equipamento.
Eles se sentaram em poltronas acolchoadas de um vermelho profundo, separadas por uma pequena mesa circular. Sobre a mesa, uma vasilha em forma de concha estava cheia de biscoitos doces, cuidadosamente arrumados.
Richard não tocou nos biscoitos, nem desviou o olhar de Tiko. Ele se inclinou ligeiramente para frente, as mãos apoiadas nos joelhos, e deixou o silêncio pairar por alguns segundos, criando a tensão necessária.
Tiko parecia um animal encurralado. Richard sabia que aquele era o momento certo para começar.
— Então, vamos direto ao ponto. — Sua voz era baixa, quase amistosa, mas carregava um peso que fazia as palavras soarem como um comando. — Acho que devo algumas explicações para você… bom, para começar, eu suspeito que você seja Tiko. O homem procurado por assassinar seus pais adotivos. — Richard falou com calma, mas sem rodeios.
— Eu não…— Tiko hesitou, o olhar se desviando. — De onde veio esse pensamento? Como chegou a essa conclusão?
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Richard inclinou levemente a cabeça, intrigado.
— Não vai negar? — perguntou, a voz firme, mas sem agressividade.
Tiko soltou um suspiro baixo, quase derrotado.
— E adianta? Cometi muitos erros ao vir para esta cidade…
O elfo ainda estava tenso, mas sua postura mudou. Ele parecia aceitar que não havia mais razão para fingir. Relaxando na poltrona macia, deixou as costas encostarem-se ao estofado, como se estivesse entregando o peso que carregava.
— Fui muito descuidado…
Com um movimento deliberado, Tiko tirou a máscara e abaixou o capuz, revelando seu rosto.
Pela primeira vez, ele desistia completamente da ideia de se ocultar. Mentir não o levaria a lugar algum ali. Mas uma dúvida pairava: por que Richard ainda não o havia prendido? Esse comportamento era o oposto do que ele esperava.
Richard tinha fama de ser o tipo de homem que agia primeiro e fazia perguntas depois. Então por que ele estava disposto a conversar?
— Por que você não me prendeu? — perguntou Tiko, cabisbaixo, como alguém que já aceitara seu destino.
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Richard cruzou os braços, mantendo o olhar fixo no elfo.
— Eu não tinha 100% de certeza de quem você era. Sei que parece estranho, mas não sou o tipo de pessoa que toma decisões impensadas. Prefiro ter certeza antes de agir.
— Entendo… então é por isso… — Tiko murmurou, permitindo-se um sorriso fraco. — Bom, agora que você já sabe quem sou, pode me prender, não?
Richard permaneceu em silêncio, observando-o com um olhar sério, mas sem sinais de raiva ou condenação.
— Você matou seus pais? — perguntou finalmente.
Tiko ergueu os olhos, surpreso com a pergunta. Ele não entendia o motivo. Mesmo que dissesse a verdade, o que mudaria? Richard acreditaria na palavra de um elfo negro?
— N-Não! — respondeu, quase gritando. Percebendo, baixou o tom. — Desculpe, eu falei alto… Mas não, eu não matei meus pais. Eu nunca faria algo assim. Me incriminaram pelo assassinato. — Seus olhos encontraram os de Richard, carregados de uma sinceridade quase dolorosa. — Mas sei que é difícil acreditar em um elfo negro qualquer…
— Na verdade, eu acredito em você. — A resposta de Richard foi simples, mas carregada de peso.
— C-Como?! — Tiko piscou, confuso.
— Isso é um segredo, então vou pedir que não conte a ninguém, tudo bem? — Richard esperou pelo aceno afirmativo de Tiko antes de continuar. — Eu possuo uma bênção que me permite saber quando uma pessoa está mentindo.
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Tiko arregalou os olhos. Ele conhecia as histórias sobre bênçãos, mas nunca havia encontrado alguém que realmente possuísse uma. Era raro.
— Agora entendo… é por isso que você suspeitou…
— Sim. Além disso, o colar que pertencia à sua mãe estava sobre a mesa quando nos encontramos. E você mentiu três vezes sobre não conhecer Jake, seu irmão.
O silêncio caiu entre os dois, pesado como uma tempestade prestes a desabar.
Tiko ergueu-se de repente, sua voz carregada de um misto de esperança e ansiedade.
— Se você tem essa bênção, pode fazer com que os outros entendam que não fui eu, não? — perguntou, esforçando-se para manter o tom controlado, embora o brilho em seus olhos o traísse.
Era como se ele tivesse agarrado a primeira última centelha de esperança. Ele queria provar sua inocência. Descobrir quem realmente havia matado seus pais e o motivo. E, agora, com a ajuda de Richard Ravens, talvez isso fosse possível.
Mas a resposta de Richard veio rápida, cortante como uma lâmina:
— Sinto muito, mas não posso fazer o que está me pedindo.
Tiko congelou. A esperança em seu rosto se desfez num instante.
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— Hã…? Mas por quê?
Richard cruzou os braços, desviando o olhar para a janela. O peso de suas palavras estava estampado em seu semblante.
— Minhas bênçãos são como armas. E, como o escudo do reino dos elfos, não posso me dar o luxo de revelar uma delas. É uma questão de segurança nacional. Se essa informação vazar, poderia cair nos ouvidos de inimigos, dentro e fora da nossa nação. E convencer os nobres ou a ordem do reino sem provas concretas de sua inocência significaria expor algo que deve permanecer oculto.
A voz de Richard era firme, mas havia um traço de pesar nela. Ele sabia o impacto que suas palavras tinham. Ele sabia que estava derrubando a esperança de Tiko.
— Então você prefere proteger segredos do que… — murmurou Tiko, caindo novamente na cadeira.
Richard permaneceu em silêncio. Ele entendia a dor por trás daquela frase, mas não podia ceder. Suas mãos estavam atadas por responsabilidades que iam além de qualquer desejo pessoal.
Tiko balbuciou algo entre uma risada amarga e um suspiro.
— Eu estou perdido, então… — Ele sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. — Kukuku… que piada… a vida não para de me lembrar que eu sou apenas um elfo negro condenado.
Por um instante, apenas o som do vento contra a janela preencheu o ambiente. Então, Richard deu um passo à frente, rompendo o silêncio com palavras inesperadas:
— Eu vou te ajudar.
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Tiko ergueu o olhar. Ele piscou, confuso, como se não tivesse certeza do que acabara de ouvir.
— O quê? — Ele se inclinou para frente, franzindo a testa. — Mas… por quê? Se descobrirem que você está ajudando um elfo negro procurado, não seria o mesmo que destruir sua imagem de cavaleiro perfeito?
Ele tinha razão. Richard não podia ignorar as consequências. Se fosse descoberto, sua reputação — e talvez a estabilidade do reino — estaria em risco.
Mas Richard apenas balançou a cabeça, seus olhos queimando com uma determinação que Tiko não esperava.
— Porque eu não consigo virar as costas para quem precisa. — Ele pausou, a voz tremendo por um instante. Algo sombrio brilhou em seus olhos, uma lembrança antiga e dolorosa. — Vou tomar todo o cuidado para que minhas ações não prejudiquem o reino. Mas minha mão está aqui para você, Tiko. E eu não vou recuar.
A sinceridade naquelas palavras deixou Tiko sem palavras. Pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu algo que havia esquecido: esperança.
Richard acreditava, com toda a convicção, que poderia fazer isso. Se não pudesse, então qual era o propósito de tanto poder? Qual o sentido de ser quem ele era? Embora o reino o reverenciasse como uma divindade encarnada, aquela adoração mais o irritava do que o enaltecia.
No fundo, Richard era apenas um homem. Um homem que alcançara um poder colossal graças a um talento incomum e a métodos de treinamento que, até hoje, o faziam estremecer ao lembrar.
A imagem de seu pai surgiu em sua mente.
Richard conhecia muito bem a podridão que corria pelas veias do reino dos elfos. Ele sabia como a família real fechava os olhos para nobres corruptos, como permitiam que crimes hediondos fossem cometidos em troca de favores e propinas.
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O tráfico de escravos, especialmente na cidade de Infra, era uma ferida aberta que todos ignoravam. Uma vez, movido pela raiva, ele tentou confrontar tudo aquilo. Mas seu pai o impediu.
“O mundo não é o conto de fadas perfeito que você quer pintar, Richard. Existe maldade em todos os lugares, em todos os cantos. Reinos não se sustentam sem um equilíbrio. A paz que você protege, a paz deste reino, depende do sofrimento de alguns. Elfos e elfos negros.”
Foi o que seu pai disse, com a voz firme, após uma discussão intensa. Depois disso, Richard cortou contato com ele. Já fazia um ano que não trocavam sequer uma palavra.
Por mais que ele fosse o mais forte do continente – como os humanos costumavam dizer – o que ele realmente havia conquistado? A “paz” que protegia era construída sobre o sacrifício de vidas inocentes. O sistema era podre, suas raízes corroídas. E ele sabia, mais do que ninguém, que não havia conserto.
Quando começou a investigar a fundo, a realidade tornou-se clara como um céu de inverno. Qualquer tentativa de mudar aquele sistema desmoronaria o reino.
Os crimes dos nobres, as falhas dos governantes – tudo viria à tona, gerando um sentimento de revolta tão intenso que as chamas de uma guerra civil seriam inevitáveis. E pior: os outros reinos do continente se lançariam sobre as cinzas daquele caos, aproveitando a fraqueza exposta para conquistar o território.
O que sustentava o reino dos elfos não era justiça, mas uma estrutura frágil, construída sobre mentiras, manipulações e medo.
E Richard Ravens, o homem mais forte do continente, era impotente diante disso tudo.
Era por isso que ele não podia abandonar Tiko. Não podia deixar aquela pessoa enfrentando o vazio sozinho. Se ele desejava mesmo fazer a diferença, então começaria ali. Pequenos atos, talvez, mas feitos com a convicção de que, um dia, eles poderiam derrubar muralhas.
— Me permita ajudá-lo, Tiko. Juntos… juntos nós vamos consertar esse reino, nem que seja um pouco!
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