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    O caminho até o majestoso castelo Vermilion, lar do rei do reino Grão-Vermelho, se estendia diante de Douglas como um convite silencioso à grandiosidade. Ele andava sozinho pelas ruas impecáveis da zona nobre, um contraste gritante com a parte plebeia do reino. Ali, as mansões erguiam-se com fachadas detalhadamente esculpidas e cercas adornadas com arabescos, enquanto vitrines de lojas exibiam produtos tão caros que poderiam alimentar famílias inteiras por meses.

    Ainda que a área comum do reino fosse limpa e bem cuidada, esta região parecia brilhar com um cuidado dez vezes maior, quase irreal. Porém, Douglas, um homem prático por natureza, não se deixava impressionar por tais ostentações. Ele caminhava com passos firmes e expressão tranquila, ignorando os olhares curiosos e a imponência das construções ao seu redor.

    Apenas horas antes, um mensageiro do rei havia batido à sua porta, trazendo uma carta lacrada com o selo real. O conteúdo era direto: um convite para se apresentar na Casa da Coroa, o castelo real Vermilion. A carta não especificava o motivo da convocação, o que acendia em Douglas uma curiosidade inquietante. O rei raramente convocava alguém pessoalmente. Com tantos deveres como monarca, essas audiências eram quase sempre delegadas à sua filha mais velha, a princesa regente.

    Adiante, o castelo despontava. Imenso, suas torres erguiam-se desafiadoras contra o céu, e seus muros, pintados de um branco reluzente com detalhes em vermelho vibrante, simbolizavam a bandeira do reino. Mesmo à distância, era impossível não sentir-se pequeno diante de tamanha estrutura. Douglas não pôde evitar um sorriso ao avistar o portão principal, uma enorme grade de ferro decorada com intrincados desenhos de flores e leões.

    Ao atravessar os portões, após a permissão dos cavaleiros sagrados de guarda, Douglas foi conduzido por um deles. O jardim interno era um espetáculo à parte: fileiras de roseiras cuidadosamente podadas, fontes cristalinas que refletiam o brilho do sol e caminhos pavimentados que serpenteavam até o castelo.

    Os corredores internos eram igualmente impressionantes. As paredes exibiam tapeçarias bordadas com cenas de vitórias históricas do reino e os lustres dourados pendiam do teto, lançando um brilho cálido sobre o mármore branco do chão. Enquanto caminhava, Douglas ouvia apenas o som de seus próprios passos e o do cavaleiro à sua frente.

    De repente, um novo som ecoou pelos corredores: passos leves, mas firmes, ritmados com precisão quase militar. A figura que se aproximava logo se revelou ao virar a esquina.

    — Axis, quanto tempo. — saudou Douglas, parando para encará-la.

    A mulher que apareceu era de uma imponência incomum. Axis, conhecida por todos como a Rainha de Gelo, era uma das paladinas mais temidas do reino. Seus cabelos longos e brancos brilhavam como neve recém-caída, e seus olhos azuis, profundos e frios, pareciam penetrar diretamente na alma de quem ousasse encará-los.

    Ela não respondeu de imediato. Seu olhar apático repousou sobre Douglas, analisando-o com a indiferença de quem já vira o suficiente do mundo para não se impressionar facilmente. Axis era alta para uma mulher do reino, beirando os 1,75m, e sua postura exalava autoridade.

    Seu rosto, impecável como o gelo, não trazia marcas de cicatrizes ou imperfeições, algo raro para alguém com seu histórico de batalhas. Isso apenas reforçava o que muitos sussurravam pelas ruas: que ela era a personificação da perfeição em combate e aparência.

    Axis vestia uma armadura personalizada, algo que poucos cavaleiros sagrados podiam ostentar. O traje não apenas protegia, mas realçava sua figura imponente. Era uma combinação de placas de prata polida e detalhes azul-claros que remetiam à sua alcunha.

    — Douglas… — disse ela finalmente, sua voz carregada de uma frieza que fazia jus à reputação.

    — Quanto tempo faz desde que nos vimos pela última vez, Axis? — perguntou ele, parando e inclinando levemente a cabeça em saudação.

    — Hm… Não sou muito boa com a passagem do tempo, mas diria que uns quatro meses? — respondeu ela.

    Douglas soltou uma risada nervosa, esfregando a nuca. — Cinco meses, é? — brincou ele, sabendo muito bem que fazia quase um ano desde a última vez que a vira. — O que a trouxe de volta ao castelo?

    — Resolver algumas pendências e informar ao rei que estou de volta ao reino.

    — Vai ficar por quanto tempo?

    — Ainda não sei… — Ela suspirou, olhando ao redor com desdém. — Aqui dentro das muralhas é… chato. Não há monstros. Tudo é muito monótono.

    Douglas engoliu em seco. Essa era a paz que o reino Grão-Vermelho tanto almejava e protegia com fervor. Para muitos, era um sonho realizado, mas para Axis, era pouco mais que uma prisão sem adrenalina.

    — Acho que isso é uma coisa boa, não? — arriscou Douglas, embora seu tom denunciasse que ele já esperava a resposta.

    Axis assentiu levemente, mas seu olhar parecia distante. — Gosto de ter um lugar para descansar.

    Douglas esboçou um sorriso tenso. Ele sabia que, para ela, o reino não passava de uma parada entre suas aventuras. Mesmo sendo uma paladina, Axis era uma viajante que raramente permanecia muito tempo no mesmo lugar.

    — Ouvi dizer que você também voltou há pouco tempo, Douglas.

    — Sim, há uns dois meses. Conduzi os homens-lagartos até aqui. Imagino que você se lembre dessa operação.

    Axis arqueou uma sobrancelha, seu interesse claramente superficial. — Não me lembro disso.

    Douglas coçou a cabeça, sem graça. — Ah, é verdade. Acho que você estava fora naquele dia.

    — Os homens-lagartos são fortes? — perguntou ela, inclinando ligeiramente a cabeça, uma faísca de curiosidade iluminando seus olhos gélidos.

    Douglas hesitou. O que seria “forte” para Axis? Para ela, uma pessoa “forte” talvez fosse alguém capaz de enfrentar dragões ou outros guerreiros lendários de igual para igual.

    — O que seria forte para você, senhorita?

    Axis levou a pergunta a sério, pousando uma mão no queixo enquanto ponderava. — Nível paladino.

    — Ah… nesse caso, receio que nenhum deles esteja nesse nível ainda — respondeu Douglas, escolhendo suas palavras com cuidado.

    O rosto de Axis passou de apático para levemente desapontado, um sinal tão sutil que alguém que não a conhecesse bem jamais perceberia.

    — Mas… alguns deles têm bastante talento.

    — Oh… Quando estiverem mais fortes, pode pedir para lutarem comigo? — perguntou ela, seu tom quase casual, mas Douglas percebeu um leve brilho de animação em seus olhos.

    — S-Sim, claro. Mas acho que isso vai demorar um pouco…

    Axis suspirou, e a animação desapareceu tão rapidamente quanto havia surgido.

    — Bom, acho que vou indo agora, senhorita. O rei está à minha espera — disse Douglas, inclinando-se em uma reverência respeitosa.

    — Ah, sim. Boa sorte — respondeu ela, girando nos calcanhares e caminhando na direção oposta sem oferecer qualquer gesto de despedida.

    Douglas não se ofendeu. Conhecia bem Axis e sabia que sua indiferença era apenas parte de quem ela era. Mesmo o rei tolerava sua falta de reverência, preferindo valorizar suas habilidades em batalha. Mas nem todos no reino eram tão compreensivos. Muitos nobres desprezavam sua postura, mas, para Axis, as opiniões alheias pareciam tão irrelevantes quanto os monstros que ela esmagava com facilidade.

    Douglas observou sua figura desaparecer no corredor antes de voltar a seguir o cavaleiro. Axis podia ser fria como o gelo, mas era impossível negar a presença que ela trazia a qualquer lugar.

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