Capítulo 10 – A Vida de Um Assassino
O trabalho do dia estava completo. Denzel lançou um último olhar desinteressado para o porão onde Dante escondia suas mercadorias. Um suspiro profundo escapou de seus lábios, revelando sua insatisfação. Não havia nada ali que realmente chamasse sua atenção.
Os equipamentos dos homens de Dante, assim como as mercadorias, eram inúteis para ele. O único item que realmente despertou seu interesse foram as moedas de ouro que encontrou atrás de uma parede falsa, dentro de uma caixa. Uma quantia considerável, considerando a origem daquele dinheiro — de Dante Pyssaliar, agora sem vida.
Foi um trabalho apressado, mas Denzel não podia negar que estava satisfeito com a facilidade com que o havia executado. Não foi nada difícil lidar com aqueles fracos que protegiam o local. Mesmo depois de eliminar os homens na parte superior do edifício, ele imaginou que talvez houvesse algo de surpreendente no andar de baixo.
Mas nada. Nada além de um homem comum que teve uma boa ideia para crescer no jogo de Infra. Dante não era nada mais que isso. Suas habilidades eram ainda mais limitadas que as dos próprios capangas que Denzel matou. A frustração o consumiu por um momento. Não havia um único elfo Negro em Infra que fosse páreo para ele.
Talvez aquele homem…?
Pensou, lembrando-se do que considerava ser o “dono” da cidade. Mas rapidamente abandonou a ideia. Já havia feito um acordo com aquele sujeito, garantindo sua sobrevivência em troca da promessa de não colocar sua lâmina em seu pescoço. Seria um desastre se o homem que mantinha o controle do lugar morresse.
Então, o mais sensato foi seguir a barganha e continuar afastado da sua garganta.
Com tudo o que queria em mãos, Denzel cortou a cabeça de Dante e a colocou em um saco. A seguir, meteu a mão no bolso do corpo de um homem de cabelos grisalhos que trabalhava para Dante e se dirigiu em direção à porta, com passos calmos e a sensação de mais uma tarefa bem cumprida.
— P-Por favor! Senhor!
A voz fina, rouca como a de alguém que não bebia água há dias, chamou Denzel. Ele se virou para a direção da voz e viu um menino elfo negro, com o rosto marcado pela confusão e medo, segurando as barras da cela onde estava preso. Seus olhos estavam perdidos, tentando entender o que estava acontecendo.
— P-Por favor… poderia… poderia nos libertar?!
O menino exclamou, sua voz tremendo. Os outros elfos, todos presos, olhavam para o homem, seus rostos exalando desespero, mas ainda assim, seus olhos buscavam algo, uma resposta, algo de bom daquele ser que havia entrado ali e exterminado aqueles que os torturavam.
— Por favor! Eu… eu faço qualquer coisa! Por favor!
Quando o menino implorou novamente, um segundo elfo negro apareceu ao seu lado. Era um homem adulto, arrastando-se no chão, provavelmente fraco pela falta de comida, incapaz de ficar em pé.
No entanto, sua mão ainda se agarrava com força às barras da cela, a vontade de viver transparecendo em seu olhar.
— Por favor! Ajude-nos! Faremos qualquer coisa!
O homem gritou, e então, um grupo de elfos se aproximou das grades, todos começando a implorar por sua liberdade. Alguns choravam incontrolavelmente, outros estavam ajoelhados, com as mãos postas em oração, enquanto outros mal conseguiam se mover, mas balbuciavam suas súplicas, os olhos cheios de lágrimas.
Denzel ficou ali, observando por um instante, os olhares de todos aqueles elfos que clamavam por ajuda. Sem dizer uma palavra, ele colocou a mão no bolso e puxou um maço de chaves — as mesmas que havia tomado do corpo do homem de cabelos grisalhos.
Ele as jogou perto das grades, caindo diante do garoto que havia sido o primeiro a pedir por ajuda.
Lágrimas começaram a se formar nos olhos do menino, e logo os outros começaram a chorar também, agradecendo em meio aos soluços.
Sem demonstrar qualquer emoção, Denzel apenas subiu as escadas, virou-se e foi embora.
⧫⧫⧫
Após entregar a cabeça de Dante ao homem que o contratara, provando que a tarefa havia sido cumprida, Denzel caminhou em passos lentos para sua casa. O sangue ainda secava em suas roupas, tornando-as um manto macabro de vermelho.
O homem que lhe pedira a morte de Dante era um elfo negro idoso, e, pelo que Denzel soubera, ele tinha perdido suas duas filhas para o tráfico de elfos. Elas haviam sido sequestradas e vendidas aos humanos como escravas. Para se vingar de Dante, o velho havia reunido tudo o que possuía de valor, vendido o que fosse necessário e, com o dinheiro, contratou Denzel para eliminar o homem que destruiu sua vida.
O idoso, ao ver a cabeça de Dante, ajoelhou-se no chão, chorando enquanto segurava as calças ensanguentadas de Denzel. Ele o agradecia em prantos, sem perceber que, naquele momento, suas filhas já estavam irremediavelmente perdidas para ele.
O homem sabia que nunca mais as veria. Sua vingança, porém, estava completa, e com ela, a dor de um passado irreversível.
Denzel sentiu um certo pesar pela situação do idoso. Mas, no fundo, ele sabia que sua profissão exigia distanciamento. O assassino sentia remorso às vezes, uma sensação fugaz que o incomodava, mas sempre cumpria sua missão, não importando quem fosse a vítima.
Exceto por Salazar, o homem que dominava Infra. Ele também jamais mataria uma criança ou um bebê. Esse era seu limite, seu mantra.
Ao chegar em sua casa — um pequeno e apertado refúgio no submundo decadente de Infra — Denzel sentiu uma presença em seu quarto. A sensação era neutra, mas ele sabia que nada poderia ser subestimado nesse ambiente.
Com um movimento rápido, puxou sua Katar e se preparou para o que quer que estivesse à espreita. Sem hesitar, abriu a porta, mas antes de entrar, olhou cautelosamente para dentro do quarto.
— Você me percebeu, hm? Que hostilidade é essa? — perguntou uma voz vinda das sombras, baixa e tranquila. Um homem estava sentado na cama de Denzel, como se fosse o legítimo dono daquele espaço apertado. Suas pernas estavam cruzadas com uma naturalidade desconcertante.
— Não sou muito de receber visitas — Denzel respondeu com um tom direto, seus olhos ainda cautelosos. — Normalmente, assassinos de aluguel não costumam ser fãs de encontrar estranhos em seu barraco. Quem é você?
Ele não conseguia identificar a pessoa diante dele. Se aquele homem sabia que quem morava ali era Denzel, isso só podia significar uma coisa: ou era um completo maluco, ou alguém que se preparara para uma situação como essa.
— Me chamo Chien. Sou um dos homens de Salazar. — O homem falou com a calma de quem não tem pressa, seus olhos fixos em Denzel.
Denzel fez uma pausa e, finalmente, uma lembrança veio à tona. Chien… o braço direito de Salazar, o homem que controlava Infra com mão de ferro. Pelo que sabia, ele era o mais forte dentro da organização de Salazar.
— Ah, agora me lembro de você. — Denzel respondeu, a expressão neutra, mas sua voz carregava um tom de desdém. — Lembrar de você não significa que você é bem-vindo aqui, palhaço. O que você quer?
Ele deu um passo à frente, entrando no pequeno cubículo. O espaço era exíguo, com um baú encostado na parede, um armário de madeira simples e uma cama que parecia um tanto frágil para alguém como Denzel.
— Não perde tempo mesmo, né? — Chien se permitiu um sorriso irônico, seu tom leve contrastando com a tensão palpável no ar.
— Você está na casa de um assassino — Denzel retrucou, a voz profunda e ameaçadora. — Se eu fosse você, abaixava um pouco essa bola, ou vai acabar empalado ou cortado.
Chien permaneceu em silêncio por um momento, a tensão aumentando entre os dois. A atmosfera era como uma faca afiada, cortante e carregada de uma ameaça iminente.
— Isso foi uma ameaça? — Chien perguntou, o sorriso ainda no rosto, como se provocasse mais pela diversão do que pelo medo.
— E se for? — Denzel respondeu com frieza, os olhos fixos nos de Chien, sem piscar.
O olhar deles se entrelaçou, como se o tempo estivesse suspenso. Ambos pareciam medir um ao outro, prontos para dar o primeiro movimento. Era como se o ambiente estivesse comprimido, carregado de tensão, e qualquer respiração errada pudesse desencadear o caos.
Para alguém comum, aquele ambiente seria insuportável, o ar espesso, quase pesado. Mas para os dois homens, era apenas mais um jogo de força, e cada um aguardava o momento certo para agir.
— Calma, calma. Não estou aqui para brigar, nem nada disso. — Chien ergueu as mãos em rendição, tentando suavizar o clima. — Estou aqui a negócios, meu caro.
— Negócios? O que o Salazar quer de mim agora? — Denzel perguntou, a desconfiança óbvia na sua voz.
— Ele quer que você fique de olho em uma pessoa, enquanto procura por outra.
Denzel arqueou uma sobrancelha, a expressão de surpresa misturada com irritação.
— O quê? — Ele se aproximou, sua voz carregada de desdém. — Tá me achando com cara de babá? Ou pior ainda, acha que sou detetive? Que porra você pensa que está fazendo, contratando um assassino para procurar uma pessoa?
Chien deu de ombros, como se aquilo fosse apenas mais uma observação sem importância.
— Se eu fosse contratar qualquer merda daqui de Infra, você acha que alguém seria mais capaz que você para fazer esse serviço?
Denzel se calou. Sabia muito bem que ninguém em Infra seria mais capaz do que ele em diversas situações.
Ele não era apenas um assassino, mas alguém que sabia se adaptar. Encontrar uma pessoa ou vigiar outra não era exatamente o seu tipo de trabalho, mas ele tinha confiança nas suas habilidades.
— Certo — ele murmurou, desviando o olhar por um momento. — Entendo o motivo de me requisitar. Mas ainda assim me recuso. Não tenho interesse em fazer trabalho de babá, nem de detetive de merda.
— Calma aí, amigo. A gente nem discutiu os termos ainda. — Chien parecia querer insistir, mas Denzel já estava claro em sua negativa.
— Não tenho interesse, procure outro. — Denzel repetiu, sem mudar de postura.
Chien fez uma careta, guardando silêncio por alguns segundos, até que finalmente falou de novo.
— Temos planos para expandir para as cidades dos elfos.
— Como assim? — A curiosidade de Denzel foi instantânea, mas ele se manteve impassível.
— Conseguimos um parceiro de negócios lá. Um nobre. Ele vai nos ajudar a expandir nossos negócios para as cidades dos elfos. Por isso, precisamos da sua ajuda. Além das suas habilidades exemplares, você é um dos poucos — se não o único — elfo negro que tem coragem de sair de Infra e adentrar aquelas cidades.
Denzel sentiu uma pontada de desconfiança. Ele já fizera alguns trabalhos para elfos, mas a maioria deles eram esnobes, filhos da puta que ele nunca imaginaria querer ajudar. Por isso, sempre teve um pé atrás com qualquer trabalho que envolvesse nobres ou elfos em geral.
Normalmente, ele aceitava apenas trabalhos de elfos negros de Infra, e raramente se envolvia com o resto da raça.
Ele olhou fixamente para Chien, avaliando as palavras.
— Por que você mesmo não faz isso? — Denzel perguntou, a voz carregada de sarcasmo.
Ele sabia muito bem que Chien não era um simples capanga. Embora não estivesse no mesmo nível que ele, Denzel sabia que o homem à sua frente tinha poder suficiente para rivalizar com muitos.
Chien era um dos cinco lutadores mais formidáveis do Círculo Sangrento de Infra, o temido lugar no subsolo da cidade onde elfos negros apostavam para ver outros se arrebentando na porrada.
Dos cinco mais fortes, Chien estava em segundo lugar, logo abaixo de Denzel, que se tornara uma lenda no Círculo, com mais de 100 vitórias consecutivas.
Nenhum o havia vencido, nem no chão coberto de sangue daquele coliseu imundo. Mas isso já era passado. Depois que começou a trabalhar como assassino, Denzel abandonara aquela vida.
— Por mais que eu queira, não dá. — Chien respondeu, com um tom sério. — Não posso simplesmente abandonar os negócios de Salazar. Tem uma galera bem filha da puta se escondendo nos buracos mais profundos dessa cidade de merda, esperando o momento perfeito para foder com ele. Como o homem mais forte de Salazar, não posso dar o luxo de sair e deixar um buraco na proteção do que ele construiu. E, por mais que me sinta em casa aqui, não tenho experiência em lidar com aquele bando de merdas das cidades grandes do reino.
Denzel não respondeu de imediato. Ele apenas se afastou para encostar no armário velho, que rangeu e cambaleou sob seu peso.
— Eu só fui para as cidades dos elfos umas seis vezes — disse, mais para si mesmo do que para Chien. — Não é como se eu fosse um expert no lugar.
— Ainda assim, é uma experiência que eu e nenhum outro elfo negro temos. Você vai saber lidar melhor com o que vem de fora. Além disso, vai ter um elfo para te dar uma mãozinha.
Denzel lançou um olhar de ceticismo para Chien.
— O nobre que você falou? Realmente consegue confiar em um elfo? Ainda mais um nobre?
Chien deu uma risada baixa, quase irônica.
— Vou te contar tudo sobre a situação e o trabalho por completo. Aí, você decide se vai aceitar ou não.
Denzel assentiu com a cabeça, aguardando a história que viria..
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