Índice de Capítulo

    O cheiro de madeira queimada e carne carbonizada impregnava o ar, tornando cada respiração um esforço.

    Sira corria desesperada pelas ruas destruídas, os pés chutando pedaços de entulho e cadáveres espalhados pelo solo enegrecido. O suor escorria por sua testa, misturando-se às cinzas que dançavam ao vento. Seu coração batia contra o peito como um tambor de guerra, e sua mente girava em uma espiral de medo e frustração.

    Ivoguin disse que eles tinham ido para o norte…

    Ela repetia essa informação em sua mente como um mantra, tentando encontrar alguma lógica no caos ao seu redor. Mas mesmo seguindo a pista deixada por seu falecido protetor, Puersena e seus dois filhos continuavam desaparecidos.

    — Que merda… que merda… onde eles estão?! — murmurou, sua voz rouca e trêmula.

    Atrás dela, James, o guarda que se tornara seu companheiro de busca, esforçava-se para acompanhá-la. Ele era ágil e experiente, mas não compartilhava do desespero que alimentava a resistência de Sira.

    — Você tem que desacelerar! É perigoso continuar correndo assim! — gritou, a voz carregada de preocupação.

    Sira, no entanto, mal registrou suas palavras. O perigo já era algo com o qual aprendera a conviver. Cada passo que dava naquelas ruas amaldiçoadas era uma chance de encontrar sua família… ou um lembrete cruel de que talvez já fosse tarde demais.

    Quando dobraram uma esquina, o eco metálico de espadas chocando-se uns contra os outros os fez parar abruptamente. Em meio à névoa de fumaça e poeira, formas se moviam em combate feroz. Homens vestidos de armaduras de prata enfrentavam os pecadores, suas lâminas desenhando arcos de morte no ar. Os corpos caídos ao redor contavam a história do confronto: apesar de algumas baixas, os pecadores eram os que jaziam em maior número.

    — Ponto Escuro…? — murmurou James, o olhar fixo na cena diante deles.

    Sira franziu o cenho, analisando os guerreiros.

    — Soldados do Reino Grão-Vermelho?

    James assentiu lentamente, embora sua expressão permanecesse tensa.

    — Sim, ao menos parecem ser. Aquelas lâminas negras… dizem que são marca registrada da Ponto Escuro. Mas… como chegaram aqui tão rápido? Nem tivemos tempo de pedir reforços.

    A dúvida pairava no ar. A distância entre Grão-Vermelho e Icca era imensa, levando mais de quinze dias para atravessá-la. Não fazia sentido que já estivessem ali, prontos para o combate.

    — Acho que o importante é que estão nos ajudando a eliminar esses vermes. — resmungou Sira, ajustando a empunhadura de sua arma.

    James soltou um suspiro resignado.

    — É… nisso você tem razão.

    Os pecadores foram caindo um a um, até que restaram apenas os guerreiros da Ponto Escuro. Um deles, um homem de postura firme e olhar afiado, ergueu-se após um último golpe bem-sucedido. Seu peito subia e descia pesadamente, a respiração irregular denunciando o esforço da batalha. Ele limpou a lâmina negra em uma tira de tecido antes de finalmente se aproximar de Sira e James.

    — Vocês são moradores? — sua voz era grave, mas neutra. Seus olhos recaíram sobre Sira primeiro, mas ao notar a arma exótica que ela carregava e o uniforme de James, sua expressão mudou. — Ou são guardas?

    — Eu sou moradora. Mas sei me cuidar. — disse Sira, sem intenção de parecer frágil.

    — Guarda do vilarejo. — respondeu James com firmeza. — Vocês são da Ponto Escuro, correto?

    O guerreiro assentiu. Outro homem, igualmente coberto de fuligem e sangue, aproximou-se dele.

    — Sigurd, temos que continuar. — apontou para um grupo de civis atrás deles. Homens, mulheres e crianças se amontoavam, rostos pálidos e corpos frágeis pelo medo e pelo cansaço. Alguns tinham ferimentos, outros estavam apenas desnorteados. — O fogo está se alastrando. Precisamos tirá-los daqui o quanto antes.

    Sigurd passou a mão na cabeça sem cabelos, pensativo.

    — Consegue levá-los para Douglas? Acho que é o local mais seguro neste momento.

    O outro guerreiro assentiu.

    — Sim, podemos fazer isso.

    — Leve metade dos meus homens com você. Eu cuidarei do restante e me juntarei a outro grupo, assim minimizamos as chances de sermos encurralados.

    O guerreiro fez um breve aceno antes de se afastar, conduzindo os sobreviventes para longe do caos. Sigurd voltou sua atenção para Sira e James.

    — Sou o comandante deste grupo. Temos outras pequenas unidades espalhadas pelo vilarejo. Nosso objetivo é evacuar os civis e eliminar os pecadores pelo caminho.

    Sira e James trocaram um olhar.

    — Estou procurando minha família. Eles devem estar por aqui em algum lugar! — exclamou Sira, a urgência em sua voz evidente.

    Sigurd analisou-a por um instante antes de cruzar os braços.

    — Você disse que sabe lutar, não? Gostaria de se juntar a nós? Precisamos de todas as mãos disponíveis. Se vier conosco, suas chances de encontrar sua família e sair viva desse inferno aumentam.

    Sira hesitou por um momento, mas então seu olhar se firmou.

    — Sim, eu aceito. Lutarei ao lado de vocês.

    Sigurd sorriu levemente, satisfeito com a resposta.

    — Ótimo. Será de grande ajuda.

    Ele então voltou-se para James.

    — E você? Sendo um guarda do vilarejo, deveria estar com seus companheiros combatendo os pecadores.

    James ajeitou a postura, determinado.

    — Fui incumbido de proteger Sira e ajudá-la a encontrar sua família. Mas se puder ser útil a vocês, darei o meu melhor.

    Sigurd o avaliou por um instante antes de assentir.

    — Sim. Contamos com sua ajuda também.

    Sira, James e os guerreiros da Ponto Escuro partiram juntos.

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