Capítulo 11 – Coincidências
Após ouvir a história sobre o elfo nobre chamado Jake, Denzel não pôde deixar de esboçar um sorriso incrédulo. Raramente algo conseguia arrancar um sorriso de seu rosto, mas aquela história… parecia ter saído diretamente de um conto de vingança, daqueles bem malucos.
— E é isso… acho que agora você tem uma visão geral de tudo. — Concluiu Chien, juntando as mãos ao terminar seu relato.
Denzel ficou em silêncio por um momento, processando as palavras, antes de finalmente falar, sua voz cheia de ceticismo:
— Entendo… realmente é uma situação inusitada, se não quase improvável. Quais são as chances de um casal de elfos encontrar e adotar um elfo negro bebê, e criar ele como se fosse o próprio filho? Você realmente verificou a veracidade dessa história?
Chien não pareceu se abalar com a dúvida de Denzel. Ele respirou fundo antes de responder.
— Sim. Salazar conseguiu algumas informações sobre Jake e sua família. Pelo que sabemos, tanto Jake quanto seu irmão adotivo, Tiko, cresceram juntos desde bebês. Não tenho muitos detalhes, afinal, informações sobre elfos e, principalmente, sobre nobres elfos, são complicadas de se conseguir. Mas, ao que parece, os pais os tratavam bem. Não entendo o que fez Tiko cometer o assassinato contra eles… mesmo que fossem adotivos, o vínculo parecia forte.
Denzel franziu a testa, o semblante pensativo.
— Realmente, é algo… hm… estranho. Não sei o que dizer sobre isso, mas, com toda certeza, mesmo que não fosse pelos pais, ele deve ter sofrido um monte de preconceito dos elfos por ser um elfo negro vivendo na cidade deles. É admirável que tenha sobrevivido tanto tempo…
Chien apenas assentiu, como se tivesse pensado na mesma coisa. Um breve silêncio se seguiu, até que ambos piscaram os olhos quase simultaneamente, como se algo tivesse passado pela mente deles. Seus olhares se cruzaram, e uma ideia parecia ter surgido na mesma hora.
Eles ficaram assim, se encarando, as mentes trabalhando rapidamente.
— Você… pensou o mesmo que eu? — Chien perguntou, com uma expressão de surpresa.
— Talvez… o que você pensou? — respondeu Denzel, também com o rosto marcado pela surpresa.
Os dois se encararam por um momento, e então Chien entrelaçou as mãos, juntando-as em um gesto pensativo, antes de falar.
— Olha, talvez seja paranoia minha, mas pensa comigo. E se, ao ver um elfo negro vivendo entre eles, os outros elfos tivessem se sentido ameaçados de alguma forma… entende onde quero chegar?
Denzel balançou a cabeça em concordância, assimilando a ideia. E então, como se tivesse continuado o raciocínio de Chien, ele seguiu.
— Se sentindo ameaçados, talvez eles tenham pressionado os pais adotivos do garoto para se livrarem dele. Mas os pais, por amá-lo, se recusaram a fazer isso.
— Isso… — Chien respondeu, seu rosto se fechando em uma expressão de compreensão. — Então, para que tudo voltasse ao normal…
— Contrataram assassinos para matar os pais… — Denzel completou.
— E culparam o garoto… — Chien terminou, sua voz se apagando ao fim da conclusão.
Os dois ficaram em silêncio, os pensamentos ainda girando em torno da mesma ideia. Embora fosse uma teoria ousada, não parecia impossível.
— Você disse que o Jake chegou em casa e encontrou o irmão dele na cena do crime, não foi? — perguntou Denzel, como se tivesse visto uma pista no ar.
— Isso. Eu sei o que você quer dizer. Jake não presenciou o assassinato em si, então… muita coisa pode ter acontecido naquele intervalo de tempo.
— Exato. Então, seria lógico pensar que o garoto é inocente…
Os dois se olharam, um lampejo de percepção cruzando seus olhares. E, sem querer, ambos falaram ao mesmo tempo.
— Caralho…
Chien se levantou, ainda visivelmente atônito.
— R-Realmente pode ser isso, mas a gente deve estar viajando…
— Acho que os dois pensarmos a mesma coisa só reforça a ideia. Se fosse só você ou só eu, eu até poderia duvidar, mas com a gente em sintonia… talvez tenha mais verdade nisso do que parece. De qualquer forma, não é como se fosse meu problema.
— Verdade. No final das contas, o que importa é que Salazar e eu vamos lucrar com isso. Agora, você aceita o trabalho?
Denzel ficou em silêncio, pensativo. Ele não queria voltar à cidade dos elfos. Aquele lugar sempre foi uma dor de cabeça — sempre se escondendo, sempre lidando com o desprezo, o racismo explícito. Mas a curiosidade sobre o caso e o pagamento chamaram sua atenção. Sem contar o fato de que, com isso, a relação dele com Salazar poderia se tornar ainda mais vantajosa.
— Certo. Aceito o serviço.
— Isso! — Chien exclamou, empolgado, fechando o punho em celebração. — Salazar vai ficar muito feliz.
— Quando começo?
— O garoto vai dar os primeiros passos para estabelecer os negócios do Salazar com os nobres da cidade dos elfos. Assim que começarem a atrair uma clientela fiel, mandamos você para lá junto com Jake. Seu trabalho será ficar de olho nele, garantir que ele não esteja tramando contra a gente, e ao mesmo tempo procurar o irmão dele.
— Entendi. Quanto tempo até eu ir para a cidade dos elfos?
— Salazar disse que no máximo uma semana.
— Certo. Tudo certo.
Denzel ficou em silêncio por um instante, a conversa com Chien ainda martelando em sua mente. Ele levantou os olhos para Chien, seu olhar mais firme agora.
— Se a gente chegou a essa conclusão, você não acha que o elfo nobre também poderia ter pensado o mesmo? Pelo que você me disse, ele é um cara inteligente, capaz de descobrir coisas que podem abalar o reino dos elfos.
— Ahh, isso faz sentido. Mas e se ele não cogitou isso por conta da raiva? Não… acho que seria bem burro da parte dele não ter sequer considerado essa possibilidade, não?
— E se ele já cogitou? E simplesmente não se importa?
— Como assim?
— E se ele não ligar nem um pouco? Se não estiver nem aí para o que aconteceu com os pais dele, ou se o irmão dele é inocente ou culpado?
— O cara tá com raiva dele à toa? Não sei, não. Salazar disse que viu o ódio nos olhos dele, era evidente. Ele realmente tem algo contra o tal de Tiko.
— Mas e se, em algum momento, ele chegou à mesma conclusão que a gente? Se a raiva dele não for por causa do assassinato dos pais, mas por algo mais profundo? Vai ver eles nunca se deram bem.
Os dois se encararam novamente, e a tensão que antes pairava entre eles parecia ter se dissipado. Agora, Denzel e Chien trocavam ideias como velhos amigos discutindo teorias de uma história maluca.
— Acho que estamos viajando muito, né? — murmurou Chien, dando um sorriso descontraído.
— É, também acho. Bom, acho que por hoje é isso, né?
— Isso. — Chien se levantou e ajeitou a postura. — Nos vemos daqui a alguns dias.
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