Capítulo 117 - O Momento de Bruce
A criatura de sangue escarlate movia-se de forma distorcida, seus membros se contorcendo em ângulos antinaturais, um espetáculo de horror vivo que avançava implacavelmente contra Berco, Douglas e Sven. Mesmo unidos, os três não conseguiam feri-la de maneira significativa. Suas armas apenas arranhavam a carne rubra, como se lutassem contra algo que existia além das leis naturais deste mundo. E então, um evento fatídico mudou o curso da batalha.
Bruce observava tudo com um olhar incrédulo, enquanto Douglas e Berco arregalavam os olhos, paralisados pelo choque. Sven, que havia se juntado à luta com bravura, desferira uma série de ataques ferozes contra a criatura, sua lâmina cortando o ar em movimentos precisos. Mas num instante de descuido, ele foi punido severamente. A garra da aberração rasgou sua face com um golpe selvagem, um corte brutal que o lançou ao chão.
Um grito de dor rasgou o ar. Sven caiu de joelhos, sua mão tremendo ao pressionar o ferimento. O sangue jorrava sem controle, e onde antes havia um globo ocular, agora restava um vazio horrendo. Sua espada longa tombou ao solo, inútil diante da agonia que o consumia.
A criatura parou por um breve momento, como se saboreasse seu triunfo. Então, ergueu suas garras mais uma vez, preparando-se para o golpe final. Sven, com a visão turva e a mente tomada pelo terror, ergueu o rosto. Ele sabia que não conseguiria reagir. O fim chegara para ele.
— Sven! — Douglas gritou, sua voz carregada de desespero. Ele correu, mas sabia que jamais chegaria a tempo.
— Droga! — Berco investiu atrás dele, mas estava ainda mais longe. Ambos viam, impotentes, o destino cruel que aguardava seu companheiro.
Foi então que algo aconteceu.
O tempo pareceu congelar por um instante. Quando a garra da criatura estava prestes a dilacerar Sven, ele desapareceu. Num piscar de olhos, outra figura estava em seu lugar. Um lampejo prateado cortou o ar. Um tilintar de lâmina ecoou pelo campo de batalha.
Era Bruce.
O homem-lagarto bloqueou o ataque com sua adaga e, num giro ágil, ativou o fluxo. Em um movimento devastador, desceu sua lâmina da espada curta na outra mão contra a aberração. O corte foi profundo. Um dos braços da criatura foi decepado. Um urro gélido de dor reverberou. O monstro cambaleou para trás, sangue carmesim jorrando de seu corpo retorcido.
Douglas e Berco pararam bruscamente. Olharam para Sven, agora seguro ao longe, então para Bruce, sua silhueta firme diante do inimigo.
— Bruce… — murmurou Douglas, incapaz de esconder sua gratidão, embora soubesse que o homem-lagarto havia desobedecido sua ordem. Ele deveria proteger a princesa. Nada além disso.
— Então essa é a bênção de Bruce… — Berco murmurou, um sorriso nervoso escapando de seus lábios. — Esse desgraçado pode virar o rumo de qualquer batalha…
Um homem observava a cena. Seu rosto, até então calmo, contorceu-se em surpresa.
— Então é isso que ele pode fazer…? — Impuro, o pecador responsável pela invocação da criatura, franziu o cenho. — Não esperávamos que houvesse uma carta tão perigosa entre eles.
Se Bruce podia usar sua bênção para salvar Sven, também poderia usá-la para proteger a princesa de qualquer tentativa de sequestro ou assassinato. Ele era uma ameaça ao plano deles.
— Mate-o. — ordenou Impuro, com um simples gesto de mão.
A criatura, como se tivesse ouvido um comando direto de seu mestre, virou-se bruscamente para Bruce. O foco de sua fúria agora era apenas ele.
— Bruce! Ela vai com tudo pra cima de você! — Douglas bradou, já se reposicionando ao lado do companheiro. — Vamos te dar cobertura!
Berco fez o mesmo, avançando para o flanco oposto.
Enquanto isso, saindo da carruagem, a princesa Maria se ajoelhou ao lado de Sven. Sua expressão, tomada pelo pavor e pela compaixão, mostrava claramente que a luta já não era apenas uma missão. Era uma questão de vida ou morte para todos ali.
— Me desculpe, princesa… — Sven murmurou, seu rosto torcido de dor, o sangue escorrendo sem cessar. — Sou um fracasso como homem e como guerreiro…
— Não diga isso! — Maria respondeu, suas mãos tremendo ao segurar seu ombro. — Você se machucou lutando por nós! A culpa é minha… fui eu quem decidiu vir até este vilarejo. Por favor, tente resistir…
Sven desviou o olhar, focando na batalha que ocorria diante dele. Bruce, Douglas e Berco lutavam com todas as forças contra a criatura. Seu coração apertou. Ele queria estar lá, ao lado deles. Mas agora não passava de um fardo.
— Agora é mesmo hora de ficar se lamentando? — uma voz soou ao seu lado.
Sven virou a cabeça lentamente. Turk, o elfo que até então se mantinha sentado na entrada da carruagem, o observava com um olhar afiado.
— Você ainda está sangrando. Se não fechar essa ferida logo, não vai nem ter tempo de se sentir inútil.
Sven cerrou os dentes. Ele sabia que Turk estava certo.
— Preciso de uma lâmina… Vou cauterizar com fogo.
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