Índice de Capítulo

    A batalha iniciou-se num instante fugaz. Vorsashi avançou em um único movimento veloz, sua lâmina cortando o ar como um relâmpago. Shayax ergueu a espada no último momento, bloqueando o golpe, e em uma fração de segundo girou o corpo com destreza, disparando um chute certeiro. O impacto foi tão intenso que Vorsashi foi lançado para trás, atravessando o ar até colidir com força contra as telhas de uma casa.

    O som seco do impacto ecoou pela rua iluminada pelas chamas distantes. Mas Shayax não perdeu tempo. Num salto ágil, impulsionou-se do muro, a silhueta cortando a luz do incêndio enquanto descia como um predador sobre sua presa. Sua lâmina desceu em um arco mortal, mirando o peito do oponente ainda caído.

    Por um instante, parecia que seria o fim. Mas Vorsashi rolou para o lado no último momento, e a espada do homem-lagarto fincou-se violentamente no telhado, fazendo a madeira estalar sob a pressão do golpe. O telhado inteiro tremeu.

    Vorsashi girou no chão e ergueu-se, apenas para perceber que Shayax já estava sobre ele. A lâmina veio em um corte diagonal, forçando-o a bloquear apressadamente. Mal havia defletido o golpe, outro ataque cortava o ar, e mais outro. Cada golpe era rápido, feroz, sem espaço para respiro.

    Este garoto…!

    Vorsashi rangeu os dentes. Ele estava encurralado. A espada de Shayax parecia ganhar velocidade a cada golpe, sua cadência aumentando como uma tempestade crescente. O homem-lagarto não recuava, não hesitava. Para cada tentativa de contra-ataque, havia um corte vindo de outro ângulo, ainda mais veloz que o anterior.

    Então, Vorsashi sentiu o vazio sob o pé.

    Seus olhos se arregalaram ao perceber que havia sido empurrado até a borda do telhado sem nem notar. Um segundo de distração foi tudo que Shayax precisou. O chute atingiu-lhe o estômago como um aríete, e a dor explodiu por seu corpo enquanto era arremessado para trás. Seu corpo colidiu contra a parede de uma casa abaixo, fazendo a estrutura estremecer com o impacto.

    O ar fugiu de seus pulmões.

    Ofegante, tentou se recompor, mas seus músculos gritavam de dor. As chamas dançavam ao seu redor, e quando levantou os olhos, percebeu uma sombra crescendo no chão, escurecendo-se contra o brilho alaranjado do fogo.

    Ele está vindo!

    No último instante, rolou para o lado, e Shayax desceu do alto como um relâmpago negro. Sua espada mergulhou no chão, rachando a terra ao seu redor com um impacto devastador.

    Vorsashi lutou para ficar de pé, mas seu corpo não respondia como antes. A dor no estômago era lancinante—costelas, provavelmente, quebradas. Suas pernas tremiam levemente.

    Esse poder… Antes de aprender sobre o fluxo, Shayax não era assim. Mesmo depois de eu ter dominado a técnica, ainda há uma diferença clara entre nós… Há algo que o faz avançar além de onde eu posso chegar.

    Shayax puxou sua espada cravada no chão com um movimento firme, os músculos de seu braço retesando-se com a força. A lâmina saiu da terra sem resistência, como se fosse parte de seu próprio corpo.

    Seus olhos predatórios encontraram os de Vorsashi.

    Não havia hesitação. Não havia dúvida.

    Havia apenas um único propósito ardendo naquele olhar: a certeza inabalável de que aquele duelo terminaria com a morte de seu inimigo.

    Quão forte você pode ficar… Shayax…?

    A voz de Vorsashi se perdeu no vento cortante que varria as ruínas ao redor. Mas Shayax já não ouvia. Seu corpo era um turbilhão de furor e decisão, sua mente, uma lâmina afiada voltada para um único objetivo. A hesitação da luta anterior desaparecera como fumaça ao vento. Ele não podia recuar, não podia parar. Tudo o que restava era o combate. E o combate terminaria apenas quando Vorsashi estivesse no chão.

    O homem-lagarto avançou como um raio, cada movimento calculado, sem desperdício, sem dúvida. A cada instante, seu corpo executava sua função: matar. Sua perna ergueu-se em um arco feroz, conectando-se com as costelas do inimigo em um impacto seco e destruidor. Vorsashi cuspiu sangue, cambaleando para trás. Mas Shayax não lhe concedeu tempo para reagir. Sua lâmina brilhou sob a luz crepitante do incêndio ao redor, cortando o peito do adversário e abrindo-lhe a carne. Antes que a dor pudesse ser processada, um golpe brutal atingiu o rosto de Vorsashi, lançando-o para trás.

    Mas ele não caiu. Mesmo ferido, mesmo arrastando-se pelo chão coberto de destroços, suas pernas ainda sustentavam seu corpo mutilado. A dor atravessava sua existência como brasas incandescentes, seus ossos gritando em protesto a cada movimento. O sangue lhe escorria pelo rosto e peito, mesclando-se ao suor e poeira.

    — C-Como ficou tão forte…?— balbuciou Vorsashi, a voz trémula, descrente.

    Há poucas horas, ele lutara contra Shayax. E aquele Shayax, aquele de antes, não era nada comparado ao guerreiro que agora se erguia diante dele. A diferença entre ambos não era apenas força, era como se um abismo se houvesse aberto entre suas existências.

    Shayax estava parado, a lâmina em sua mão já não passava de uma sombra do que fora. A batalha a consumira. Fissuras percorriam sua superfície, e pedaços se desprendiam dela como folhas mortas ao vento. O guerreiro a encarou por um instante e então a descartou sem cerimônia, deixando-a cair ao solo com um ruído surdo.

    Seus punhos se cerraram.

    — Na nossa luta anterior, deixei que meus sentimentos me impedissem de dar o meu melhor, professor,— declarou ele, a voz fria como o gume de uma lâmina. Seus olhos reptilianos brilharam com a intensidade de um predador pronto para o abate. — Mas agora, não resta mais nada. Nenhuma dúvida. Nenhum arrependimento. Sou um dos homens-lagartos mais poderosos de nossa tribo. E vencerei nem que seja com minhas próprias mãos.

    Vorsashi sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O jovem estava se segurando antes? O pensamento soava absurda, mas fazia sentido. Shayax hesitara, perturbado pelo choque de encontrar seu antigo professor ao lado dos pecadores. Mas agora, a hesitação desaparecera. E o resultado era algo inacreditavel.

    Shayax se moveu.

    Foi como um trovão atravessando o campo de batalha.

    Vorsashi ergueu sua espada à pressa, colocando-a entre ele e o punho de Shayax. Mas o golpe nunca veio. Em vez disso, Shayax agarrou a lâmina, impedindo-a de se mover. Vorsashi arregalou os olhos, atônito.

    Então veio o som.

    O estalo da lâmina rachando. O choro do metal cedendo sob um aperto monstruoso. Em um instante, a espada explodiu em fragmentos, espalhando-se em estilhaços pelo chão.

    Shayax não hesitou.

    — Acabou.

    Uma aura assassina devastadora emanou de seu corpo como uma onda de terror puro.

    E então, choveu punhos.

    O primeiro golpe atingiu o rosto de Vorsashi, partindo-lhe a carne e os ossos como se fossem porcelana. A dor foi um grito silencioso em sua mente. O segundo veio logo em seguida, esmagando-lhe as costelas. Um terceiro encontrou seu estômago, dobrando-lhe o corpo. Cada impacto fazia seu sangue voar pelo ar, salpicando as pedras ao redor como chuva carmesim. Seus pulmões ardiam, seus órgãos gritavam em agonia. Ele ouvia o som de seus próprios ossos se quebrando, sentia sua consciência se desfazendo em meio ao sofrimento.

    O mundo tornou-se um borrão.

    Um chute brutal o lançou contra a parede. Mas não foi o suficiente para quebrá-la. Shayax não queria que ele atravessasse a estrutura. Ele queria que fosse encurralado. Preso. Sem rota de fuga.

    Vorsashi deslizou pela parede, os olhos semiabertos, a consciência por um fio. Seu corpo não lhe respondia mais.

    A muralha atrás de Vorsashi tremeu com cada impacto, a pedra rugindo sob o assalto incessante dos punhos de Shayax. Os golpes desciam sobre o corpo já mutilado do antigo guerreiro, cada um trazendo consigo o peso de uma sentença de morte.

    Vorsashi já não conseguia distinguir os golpes individuais—eram um vendaval de dor, uma tempestade furiosa que o mantinha preso contra a parede como um mero fantoche nas mãos do destino.

    Seus sentidos gritavam em agonia, mas o próprio corpo começava a traí-lo. O torpor se espalhava por seus membros, um prenúncio do fim inevitável. Seus pulmões ardiam, sugando ar em espasmos curtos e trêmulos, enquanto o sangue quente escorria pela boca, um gosto ferroso que anunciava a ruína interna. 

    Seus órgãos colapsavam um a um, esmagados pela violência metódica de seu algoz. Seus olhos, antes cheios de fúria e incredulidade, agora vacilavam, mal conseguindo manter o foco na figura sombria à sua frente.

    A parede rachou com um estalo seco quando o último golpe encontrou seu alvo. Um instante depois, Vorsashi sentiu uma dor cortante, diferente de todas as outras. Seu corpo se arqueou, mas ele não conseguiu soltar um único grito. 

    A mão de Shayax havia desaparecido dentro de seu abdômen, perfurando carne, ossos e entranhas como uma lâmina viva. Os músculos do guerreiro se contraíram instintivamente, mas não havia mais força para resistir. O cheiro de sangue fresco e vísceras pairava no ar, misturando-se ao calor opressivo do campo de batalha.

    O tempo parecia desacelerar.

    Seus olhos arregalados, agora cobertos por um véu leitoso, mal conseguiam captar sua própria imagem refletida nas lâminas lascadas e sujas de sangue ao redor. 

    O que via não era mais o lendário guerreiro da tribo dos homens-lagarto, mas uma sombra, um espectro do que um dia fora. Sua mandíbula estava quebrada, os dentes desalinhados num sorriso grotesco de dor. Um de seus olhos pendia do rosto, os nervos ainda presos ao crânio, balançando como um pêndulo mórbido. 

    Seu corpo, outrora imponente e coberto de cicatrizes de batalhas honrosas, agora era apenas um amontoado de carne dilacerada, pulsando fracamente na beira do esquecimento.

    Com um puxão violento, Shayax arrancou o braço de dentro do estômago de Vorsashi. A carne rasgou-se com um som repulsivo, vísceras deslizando para fora e caindo pesadamente sobre a terra manchada de sangue. O corpo do guerreiro permaneceu em pé por um breve momento, como se recusasse a aceitar o inevitável. Mas, enfim, cedeu. Tombou para frente, os joelhos dobrando antes de colidir com o chão encharcado. Sua respiração cessou ali mesmo, um último suspiro escapando entre os lábios ensanguentados.

    O silêncio reinou por um momento, interrompido apenas pelo som do vento e das chamas consumindo os destroços ao redor. Shayax permaneceu ali, sua silhueta destacada contra o fogo. Seu peito subia e descia em respirações pesadas, seu corpo ainda sentindo o calor da batalha. O sangue escorria de sua mão, misturado com fragmentos do inimigo que acabara de abater.

    Ele olhou para baixo, para a poça carmesim que refletia seu rosto. Não havia alegria. Não havia alívio. Apenas a certeza fria de que a luta terminara.

    — Aqui nós nos despedimos, professor. — Sua voz soou rouca, carregada com um peso que nem mesmo a vitória poderia aliviar.

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