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    Bruce arfava, o suor misturando-se à poeira e ao cheiro de seiva que impregnava o ar da floresta. Suas botas deslizavam sobre a terra úmida enquanto ele usava os troncos das árvores como apoio, desviando com precisão cirúrgica dos ataques da criatura que o perseguia. A Invocação de Sangue era incansável—uma abominação de membros deformados, dentes longos como lâminas e olhos que brilhavam com um ódio bestial. Cada vez que suas garras se estendiam para dilacerá-lo, Bruce girava, impulsionando-se contra um tronco e cortando a carne grotesca da criatura em um golpe ágil.  

    Mas aquilo não era o bastante.  

    Por mais que sua lâmina abrisse sulcos profundos no corpo da invocação, o monstro não mostrava sinais de enfraquecimento. Os ferimentos se fechavam com uma rapidez aterradora, como se o próprio sangue da criatura agisse em sua defesa. O coração de Bruce martelava em seu peito. Ele já deveria estar morto uma dúzia de vezes. Se não fosse por sua experiência de uma vida inteira nas florestas, ele jamais teria sobrevivido tanto tempo.  

    — Temos que arrancar os membros dela! — gritou Berco, a voz carregada de urgência.  

    Antes que Bruce pudesse responder, Douglas girou nos calcanhares, olhos fixos na sombra que pairava ao longe—o invocador da criatura.  

    — É inútil! Ela é uma invocação! — berrou Douglas, preparando-se para correr. — Berco, segure a criatura com Bruce pelo tempo que puderem! Eu irei atrás do pecador que a trouxe ao mundo!  

    E então ele disparou, desaparecendo entre as árvores sem hesitar.  

    Berco sentiu um peso esmagador recair sobre seus ombros. Ele olhou para a criatura de sangue que se contorcia à frente, seus dentes afiados brilhando à luz filtrada pelas folhas. A criatura urrou, avançando com passos pesados, partindo troncos como se fossem galhos secos.  

    — Que merda… — resmungou ele, cerrando os dentes.  

    Bruce pousou ao seu lado, caindo em um agachamento ágil depois de um salto. Seus olhos estavam firmes, mas havia algo a mais ali—uma hesitação, um cálculo cuidadoso.  

    — Berco… eu tenho um plano. Mas é arriscado.  

    — Tsc, quando não é?  

    Bruce ignorou o comentário e continuou:  

    — Se funcionar, será uma das coisas mais poderosas que já fizemos… Mas você vai ter que confiar sua vida completamente a mim.  

    A seriedade em sua voz fez Berco engolir em seco. O suor desceu por sua nuca. Ele olhou para a criatura mais uma vez, para os olhos selvagens que pareciam devorá-lo com um simples olhar.  

    Berco cerrou os punhos, inspirou fundo e então assentiu, o olhar resoluto.  

    — Eu aceito. Vamos juntos. Se eu morrer, ao menos me vingue e acabe com essa coisa.  

    Bruce sorriu, tenso, mas determinado.  

    — Certo.  

    Sem mais palavras, ambos dispararam em direções opostas. A criatura rugiu furiosa, hesitando por um breve instante ao vê-los se separarem. Bruce aproveitou essa fração de segundo para começar a explicar.  

    — Minha bênção… Durante os treinos, percebi que consigo usá-la de formas diferentes! Sei o alcance, a frequência e o tempo exato que leva pra ativá-la.  

    — E como isso nos ajuda exatamente?! — gritou Berco, desviando de um golpe que partiu uma árvore ao meio.  

    — Vamos atacar alternadamente! Eu acerto, você acerta, e trocamos de lugar no instante exato!  

    Berco quase tropeçou ao ouvir aquilo.  

    — Você já fez isso alguma vez?!  

    — Nunca!  

    — Isso é loucura!  

    Bruce riu, mas havia tensão no seu tom.  

    — Talvez. Mas se acertarmos o ritmo, essa coisa não vai conseguir prever nossos movimentos!  

    O coração de Berco acelerou. Um erro… apenas um erro.  

    Se Bruce fosse rápido demais, ele seria rasgado ao meio.  

    Se fosse lento demais, Bruce seria o primeiro a cair.  

    A criatura rugiu novamente, suas garras rasgando o ar. Berco respirou fundo. Não havia mais volta.  

    Tudo dependeria de sua sincronia.

    — Como funciona sua Bênção?! — gritou Berco, desviando por um triz das garras da Invocação de Sangue. O ar ao seu redor vibrava com a força do golpe da criatura, que arrancou lascas de madeira do tronco da árvore mais próxima.

    Bruce saltou para trás, os músculos tensos, os olhos fixos na criatura enquanto buscava um ponto seguro para formular sua resposta. Seu peito arfava, mas sua mente já trabalhava a toda velocidade, calculando as possibilidades.

    — Eu preciso ver a pessoa com quem vou trocar de lugar! — respondeu ele, apoiando-se em um galho baixo antes de impulsionar-se para uma árvore mais alta. — Se eu não enxergá-la, não funciona! Mas enquanto eu puder te ver, a distância não importa!

    O sangue de Berco gelou. A revelação fez sua mente disparar.

    — Até onde você já conseguiu usar isso?! — perguntou, enquanto girava nos calcanhares para se manter longe das garras do monstro. Cada golpe da criatura abria crateras no solo, arrancando raízes e espalhando terra úmida pelo ar.

    — Testei dentro da base! Consegui trocar de lugar com Shayax quando ele estava na entrada e eu dentro da sala de armazenamento! Até mesmo troquei com Axis, que estava no topo de uma torre de gelo enorme! — gritou Bruce, a voz sobreposta pelo estrondo do monstro destruindo outra árvore.

    Berco franziu a testa. As memórias da base da Ponto Escuro vieram à sua mente. A entrada até a sala de armazenamento… Era quase uns cem metros de distância. Isso significava que Bruce tinha um alcance formidável. Mas não era isso que o preocupava. A floresta era densa, os troncos das árvores se erguiam como pilares intransponíveis. Bastava um único instante sem visão clara para que a habilidade de Bruce falhasse. E se falhasse… ambos estariam mortos.

    Ele apertou o cabo da espada.

    — Isso vai ser difícil pra caralho! — vociferou, desviando de um tronco caindo e rolando para o lado.

    Bruce saltou para uma árvore, usando o impulso para se lançar ainda mais alto, o vento chicoteando seu rosto.

    — Eu sei! Mas é a única forma que pensei para vencermos! Você tá dentro?!

    Berco girou sua lâmina entre os dedos e cuspiu no chão.

    — É claro que tô! Só não me deixe morrer, porra!

    Bruce riu. Não pôde evitar. Mesmo diante de um inimigo monstruoso, havia algo quase reconfortante no jeito de Berco encarar o perigo com pura teimosia.

    — Vou fazer o possível! — respondeu, o sorriso se desfazendo enquanto seus olhos voltavam para a criatura. O monstro de sangue rugiu, seus músculos grotescos pulsando como se estivessem vivos, vibrando com um ódio inumano. As garras se abriram, preparando-se para um novo ataque.

    Bruce inspirou fundo. O plano já estava traçado. Era agora ou nunca.

    — Vamos começar!

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