Capítulo 120 - O Elfo Sem Título
Douglas avançou como um raio, sua lâmina cintilando sob a luz mortiça do campo de batalha. O pecador chamado Impuro mal teve tempo de reagir antes que o golpe descesse com fúria, envolto no fluxo. No último instante, o inimigo também ativou seu fluxo, desviando o golpe por um fio de cabelo. As espadas se chocaram, faiscas dançando entre os guerreiros.
— Acha que se me matar minha invocação vai desaparecer?! — bradou Impuro, recuando alguns passos com um sorriso torto nos lábios ensanguentados. — Não seja ingênuo! Invocações de sangue não compartilham essa fraqueza ridícula. O máximo que vai acontecer é que ela perderá o mestre… e se tornará uma fera sem controle! Você quer mesmo arriscar isso? — A voz do pecador estava carregada de escárnio, mas havia um brilho de cansaço em seus olhos.
— Você fala demais, seu verme! — rugiu Douglas, erguendo sua espada para outro golpe. O arco da lâmina cortou o ar como a guilhotina de um carrasco.
Com um gemido de esforço, Impuro torceu o corpo e evitou o golpe, sentindo o vento cortante da lâmina passando perto demais. O sangue que escorria de feridas anteriores manchava suas vestes roxas. Ele estava ficando sem fôlego. Seu corpo estava se esgotando. O tempo jogava contra ele.
Mas Douglas também não estava ileso.
O guerreiro parou de repente, arfando, os músculos pulsando com a exaustão do combate prolongado. O fluxo consumira grande parte de sua energia, e os embates anteriores haviam cobrado seu preço. Mesmo seu espírito indomável não poderia ignorar os limites do próprio corpo.
Foi nesse momento que Impuro viu a oportunidade.
— Heh… você também não está em boa forma, não é? — zombou, um sorriso predatório surgindo em seu rosto pálido.
— Cala a boca… — Douglas cerrou os dentes, seus olhos cheios de ódio. — Não preciso estar no meu auge para acabar com um lixo como você.
— Hahaha… vamos ver até onde essa arrogância te leva. — Impuro inclinou a cabeça, o sorriso se alargando. — Eu ainda consigo ativar o fluxo algumas vezes… e você? Pode dizer o mesmo?
Douglas permaneceu calado. Por mais que odiasse admitir, sua situação não era favorável. Talvez esta batalha já estivesse decidida e ele apenas não quisesse enxergar.
Foi então que uma voz serena cortou a tensão como uma lâmina afiada.
— Vocês estavam demorando demais para terminar isso, então resolvi intervir.
Douglas virou-se bruscamente. A presença que se aproximava era inconfundível. Alguém que raramente falava.
— Turk…? — murmurou ele.
O elfo de um braço só parou ao lado de Douglas. Seus olhos, impassíveis como os de um predador experiente, fixaram-se em Impuro. Na única mão que possuía, segurava um tridente de ponta tripla reluzente, sua lâmina tingida de um leve brilho prateado e azulado.
— Um tridente? — Douglas franziu a testa. — Onde você estava escondendo isso?
— Segredo meu. — Turk não desviou o olhar do inimigo. Seu tom era frio, inabalável. — Agora fique aí e descanse. Vou acabar com esse fracote.
Impuro soltou uma gargalhada rouca, mas havia algo nervoso por trás dela.
— Um elfo sem braço e convencido… Que visão divertida. Vou adorar ver seu lindo rostinho contorcendo-se de agonia quando eu arrancar seu outro braço! — O olhar do pecador brilhou com uma mistura de ódio e prazer sádico.
Mas Turk não reagiu. Seu semblante permaneceu impassível, como se a ameaça não fosse digna de ser reconhecida.
— Humanos… vocês não entendem nada sobre luta. — Sua voz era calma, mas havia nela um peso esmagador, um julgamento vindo de alguém que já havia visto inúmeras batalhas.
Impuro piscou, irritado com a indiferença do elfo.
— Falação bonita, mas vazia. Que diabos você quer dizer com isso?
Turk girou o tridente lentamente, a lâmina cortando o vento em um sibilo afiado.
— Primeira regra: conheça seu inimigo. Suas forças, suas fraquezas, sua mentalidade. — Sua voz era como um trovão distante, frio e impassível.
Os olhos de Impuro se estreitaram.
— Segunda regra: Se o inimigo for mais fraco que você, mate-o. Se for útil, capture-o.
Impuro riu, descrente.
— Então depois de ficar parado, me analisando, chegou à conclusão de que eu sou mais fraco? — Ele abriu um sorriso zombeteiro, mas havia tensão em seu olhar.
Turk suspirou, como se estivesse diante de uma criança fazendo birra.
Turk encarou Impuro com o mesmo olhar calmo de sempre, como se aquela luta não passasse de um incômodo a ser resolvido rapidamente.
— Antes de me aposentar por ter perdido um braço, eu era um cavaleiro sagrado do reino dos elfos. — Sua voz soou baixa, mas carregada de um peso inquestionável.
Impuro riu, passando a lâmina pelos dedos, como se estivesse entediado.
— Cavaleiro sagrado? Isso não quer dizer muita coisa. A maioria de vocês são fracos demais, incapazes de oferecer um verdadeiro desafio. Aposto que nem servia para aquecimento.
Turk suspirou, como se a conversa o cansasse mais do que a batalha em si.
— Esse é o problema de vocês humanos ao lidar com um elfo. O Reino dos Elfos não nos permite vagar livremente pelo mundo, e aqueles que saem, como eu, o fazem por razões importantes. Mesmo assim, estamos sujeitos à sua desconfiança, à sua hostilidade. Acham que mandaríamos um elfo qualquer como mensageiro, sabendo que poderíamos ser mortos ou escravizados? Vocês realmente nos subestimam…
Os olhos de Impuro se estreitaram.
— Palavras bonitas. Mas no fim, você não passa de um cavaleiro sagrado que nem ficou meio ano no cargo antes de perder o braço e ser forçado a se aposentar. Sei muito bem quem você é, elfo patético. Tenho informações sobre todos os membros da Ponto Escuro. Acha que sou um idiota qualquer?! — Ele balançou a lâmina com violência, apontando-a para Turk.
O elfo não reagiu, sequer piscou. Apenas girou o tridente levemente, como um músico afinando seu instrumento antes da execução.
— O Reino dos Elfos não concede títulos facilmente, muito menos a cavaleiros sagrados iniciantes como eu era. Capitães de divisão treinam por vários anos antes de serem reconhecidos. E no mundo dos humanos, vocês impediram qualquer elfo de receber o título de Paladino… Exceto Richard Ravens, que está morto. Mas não se engane. Só porque não temos títulos, não significa que não existimos.
— Do que está falan—
O som de carne rasgando interrompeu as palavras de Impuro. Em um instante, Turk não estava mais à distância. Ele estava diante dele, seu tridente girando em um vórtice de lâminas. O impacto foi brutal.
O pecador mal teve tempo de reagir. Por puro reflexo, recuou, mas não rápido o suficiente. Seis cortes precisos se abriram ao longo de seu torso, arrancando pedaços de tecido e pele. O sangue jorrou em jatos desiguais, pintando o chão com tons escarlates.
— O que foi isso…?! — berrou Impuro, cambaleando para trás, olhos arregalados.
Turk girou o tridente novamente, deixando que o som metálico ecoasse pela noite.
— Apenas um aviso. No próximo ataque, dobrarei a velocidade do giro. — Sua voz permaneceu tranquila, mas o peso de sua ameaça era inegável.
O tridente que segurava não era uma arma comum. Possuía um mecanismo no meio de sua haste que permitia girar em um círculo perfeito, e um encantamento chamado *Gyro* aprimorava ainda mais essa rotação. Ao ativá-lo, a arma girava sozinha, mas ao aplicar sua própria força, Turk podia dobrar ou até triplicar a velocidade da lâmina, transformando-a em um tornado de destruição.
Dessa vez, ele não deu tempo para Impuro reagir. Ativou o fluxo de energia que percorreu seu corpo, e em um instante, desapareceu da vista do inimigo.
Impuro sentiu o vento cortar suas costas.
Ele tentou se virar, mas o golpe já havia sido desferido.
O tridente perfurou seu estômago com um movimento giratório perfeito, dilacerando sua carne como um moedor cruel e eficiente. Os olhos do pecador se arregalaram. Ele tentou gritar, mas só um ruído sufocado saiu de sua garganta. Sangue escorreu de sua boca enquanto seus órgãos se despedaçavam e caíam no chão em um círculo grotescamente simétrico.
Turk olhou para seu oponente com frieza.
— Eu não fui promovido a capitão porque só servi por meio ano. Também não pude ser reconhecido como paladino porque os humanos não permitem que um elfo tenha esse título. Mas dentro do meu reino, sou considerado um guerreiro de nível paladino. — Ele inclinou levemente a cabeça para o lado, encarando Impuro com um olhar sereno, como se estivesse observando algo já morto.
O pecador sentia sua vida escorrendo junto com seu sangue. Seus olhos ainda estavam cheios de ódio, de raiva, mas sua boca não conseguia mais formular insultos. Ele queria arrancar aquele olhar superior do rosto do elfo, queria destruí-lo… Mas seu corpo já não respondia.
Turk puxou o tridente de volta. O corpo de Impuro desabou no chão, um rio carmesim se espalhando sob ele.
Sem olhar para trás, Turk caminhou em direção à carruagem da princesa Maria. Douglas, que assistira tudo sem conseguir mover um músculo, sentia uma mistura de respeito e incredulidade. Ele não tinha ideia que Turk era forte, mas aquilo…
Aquilo era um massacre.
O elfo passou por ele sem sequer diminuir o passo.
— Vou ficar tomando conta da princesa. — disse, sem emoção.
Douglas engoliu em seco.
— S-Sim… — murmurou.
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