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    Dezoito dias haviam transcorrido desde a separação entre os que partiram na carruagem e aqueles que permaneceram para travar batalha ao lado de Douglas. Durante a jornada, o grupo fora forçado a interromper a marcha por algumas ocasiões, buscando descanso em vilarejos dispersos ao longo do caminho, pois, embora a viagem exigisse urgência, o desgaste de corpos e espíritos não podia ser ignorado.

    Assim, no décimo oitavo dia, finalmente transpuseram os limites do Reino Élfico.

    A estrada que seguiram fora escolhida por Turk, que, sendo um elfo, conhecia bem os caminhos ocultos de sua terra natal. Não tardaram a encontrar uma patrulha élfica, cujos membros, após uma breve troca de palavras com Turk e a princesa Maria, fizeram contato com seus superiores por meio de uma relíquia de comunicação e, em seguida, assumiram a escolta do grupo até seu destino.

    Antes que retomassem a jornada, um dos elfos, à frente dos demais, deu um passo adiante e inclinou levemente a cabeça.

    — Saudações e um bom dia vos desejo. É uma honra conhecê-los. Chamo-me Musie e sou o líder deste destacamento.

    As apresentações foram breves, pois não havia tempo para cerimônias prolongadas. Alguns nomes foram trocados, e, sem mais demora, retomaram o caminho rumo a Perestória, a grande cidade dos elfos.

    A viagem através do reino revelou-se tranquila. No terceiro dia, repousaram em um vilarejo para reabastecer suprimentos e recuperar forças, mas logo retomaram a estrada.

    Entre todos, quem mais aproveitou a jornada foi Maria, a princesa. Cada vez que avistava algo que lhe despertava curiosidade, enchia os elfos de perguntas. Dentre eles, o que mais lhe respondia era Musie, que, com paciência e educação, satisfazia sua sede por conhecimento. A jovem parecia encantada com a conversa, e sua felicidade era evidente.

    Bruce, no entanto, não compartilhava da leveza da princesa. Tampouco Berco. Ambos carregavam em seus corações preocupações que nem o passar dos dias nem a distância haviam dissipado.

    A cada noite, indagavam-se sobre o destino de Douglas e dos demais que haviam ficado para enfrentar a fera vermelha. O que teria ocorrido com eles? Teriam triunfado? Sobrevivido? Ou seriam agora apenas lembranças em um campo de batalha abandonado?

    A inquietação se tornava ainda mais sufocante devido à ausência de meios de comunicação. As relíquias, embora poderosas, possuíam limitações—não poderiam transmitir mensagens a grandes distâncias, tornando-se inúteis para contatos entre reinos distantes. Por isso, mensageiros como Turk ainda eram necessários, pois atravessar quilômetros para levar palavras e notícias era uma tarefa que nem a magia conseguia substituir.

    Durante quase um mês inteiro, Bruce e Berco viveram atormentados por dúvidas sem resposta, e parecia que essa angústia ainda os acompanharia por muito tempo.

    Além disso, um outro peso recaía sobre Bruce. A lembrança de sua retirada do campo de batalha queimava-lhe o peito como ferro em brasa. Fugir de um combate era algo que ia contra tudo que aprendera desde sua criação. Mesmo tendo obedecido a uma ordem direta de Douglas, a vergonha de ter deixado seus companheiros para trás corroía-lhe o espírito. Mais de uma vez cogitara desobedecer, mas sabia que isso poderia trazer consequências para sua tribo. E, por mais que lhe custasse, sua lealdade para com seu povo sempre viria antes do próprio orgulho.

    Foi somente alguns dias depois que, finalmente, chegaram a Perestória.

    A carruagem percorreu as ruas de pedra com um ritmo calmo, enquanto os olhos do grupo percorriam a paisagem grandiosa da cidade élfica. Pouco antes de entrarem na cidade, Musie e os outros despediram-se. Haviam recebido ordens de escoltar o grupo até ali e, cumprida essa missão, deveriam retornar.

    Maria não conseguiu esconder a decepção.

    Ao longo da viagem, desenvolvera uma grande admiração por Musie. Havia nele uma delicadeza rara, uma beleza distinta dos homens que conhecera até então. Ele era educado, refinado, sempre paciente ao responder suas perguntas. Para ela, um verdadeiro cavalheiro.

    Sven, por sua vez, conteve um suspiro de alívio. Embora nada dissesse, não podia negar que a atenção que Maria dedicara ao elfo o incomodava. Quando Musie partiu, agradeceu silenciosamente aos deuses.

    Agora sob a orientação de Turk, a carruagem foi levada até uma estalagem. Mas não uma simples hospedaria—era uma das mais prestigiadas que o ouro podia comprar. O local dispunha de aposentos tão vastos e requintados que mais pareciam pequenas mansões, oferecendo o conforto que a posição da princesa exigia.

    Assim que acomodaram-se, o grupo desceu da carruagem e contemplou a cidade ao redor.

    Foi então que sentiram os olhares sobre si.

    De todas as direções, elfos e mesmo alguns elfos negros pararam para observá-los, ou, mais precisamente, para observar Bruce. Era impossível que passasse despercebido. Com mais de dois metros de altura e uma presença imponente, o homem-lagarto destacava-se como um gigante em meio à multidão.

    Alguns transeuntes olhavam-no de relance e seguiam seu caminho. Outros, no entanto, fitavam-no abertamente, estudando cada detalhe de sua figura com espanto e curiosidade. Alguns até permaneceram parados por minutos inteiros, como se não acreditassem no que viam.

    O silêncio tenso foi interrompido pela voz de Berco.

    — Parece que você chama bastante atenção, Bruce.

    Ele falou com um tom levemente irônico, tentando aliviar o clima.

    Bruce lançou um olhar de canto para ele e soltou uma risadinha.

    — Hmph — resmungou, mas acabou dando um meio sorriso.

    Depois disso, o grupo se acomodou nos quartos que haviam sido reservados para eles. A missão ainda não tinha acabado. Enquanto estivessem ali, continuariam responsáveis pela segurança da princesa. Por isso, decidiram fazer turnos: dois descansavam enquanto um ficava de vigia, pronto para qualquer coisa.

    O descanso era necessário, mas a vigilância ainda mais. Afinal, estavam longe de casa, cercados por estranhos, e os tempos eram incertos.

    Sven perdera um braço na última batalha. Vinte dias haviam se passado desde então, e, embora seu corpo começasse a se adaptar à ausência do membro, sua mente ainda lutava contra a estranheza daquela nova realidade.

    Felizmente, não fora o braço que usava para manejar a espada, o que lhe permitia continuar empunhando sua lâmina. Mas isso não tornava a perda menos angustiante. O mais perturbador era a sensação fantasmagórica de que seu braço ainda estava ali—como se pudesse mover os dedos que já não existiam, como se a ausência fosse apenas um engano de sua percepção. Esse tormento invisível fazia com que a adaptação fosse ainda mais difícil.

    Berco, por sua vez, encontrara, enfim, um descanso verdadeiro. Desde o momento em que deixaram Douglas e os demais para trás, a tensão nunca lhe abandonara o espírito. Durante toda a viagem, temera que os pecadores surgissem em seu caminho, atacando-os quando estivessem vulneráveis e sem reforços. Mas nada aconteceu. Agora, estando enfim dentro dos muros de uma grande cidade élfica, pôde, pela primeira vez em semanas, render-se ao sono sem medo de que, ao fechar os olhos, despertasse em meio a um ataque inimigo.

    E assim dormiu profundamente, como não fazia há muito tempo.

    Bruce, por outro lado, manteve-se vigilante. Como sempre, o dever sobrepunha-se ao descanso.

    A princesa Maria possuía um aposento próprio, amplo e confortável, digno de sua posição. Bruce postou-se à porta, imóvel como uma estátua de granito, os sentidos sempre atentos. Nenhum perigo deveria aproximar-se dela, fosse ele uma lâmina oculta ou um veneno sorrateiro. Caso precisasse de algo, ele atenderia prontamente. Mas não permitiria que vagueasse sozinha pela estalagem nem que ingerisse qualquer alimento ou bebida que não fosse previamente inspecionado.

    Seu dever era claro: garantir a segurança da princesa, custasse o que custasse.

    E assim se iniciou a estadia do grupo no Reino Élfico. Quanto tempo ali permaneceriam, ainda era incerto. Mas, por ora, ao menos, podiam repousar sob a sombra dos altos salões élficos, preparando-se para o que viria a seguir.

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