Índice de Capítulo

    Saito passou mais dois meses trabalhando como aventureiro durante a semana, enquanto nos finais de semana ajudava seu pai na empresa da família. Essa rotina intensa lhe rendeu ótimos contatos. Além de conversar com pessoas influentes e detentoras de altos títulos dentro do reino, graças ao tempo em que trabalhou ao lado do pai, ele também conseguiu uma ampla divulgação de seus serviços por esses mesmos meios.

    Um homem de negócios, vindo de uma boa família, que também atuava como aventureiro lidando com situações perigosas — Saito passou a ser visto como alguém versátil. Inicialmente apelidado de “Novato Rapa-Tudo”, seu título logo foi substituído pelos demais aventureiros para “O Faz-Tudo”, refletindo sua nova reputação tanto no mundo dos negócios quanto nas missões da guilda.

    Conquistar apelidos era algo importante, pois ajudava seu nome a se espalhar dentro da guilda de aventureiros. Foi assim que Saito acabou sendo chamado ao escritório do homem que liderava a guilda: Zepelin.

    Zepelin era um homem de aparência marcante, com cabelos longos, corpo bem treinado e um ar de quem aprecia novidades. Se Saito tivesse que descrever sua primeira impressão dele, seria: “Um cara estranho.”

    — Saito… ou devo chamá-lo de ‘Faz-Tudo’? — disse Zepelin, sentado em sua mesa.

    — O senhor pode me chamar como quiser. Nem todo aventureiro tem o privilégio de ser convidado ao seu escritório — respondeu Saito, mantendo um tom humilde. Afinal, esse era um ótimo ponto de partida para estabelecer uma boa relação com alguém que ele julgava poderoso. Foi isso que aprendeu nas aulas que seu pai o obrigou a ter quando criança. — Com todo respeito, por que fui chamado aqui, senhor Zepelin?

    — Hahaha… Por acaso está ocupado hoje, Saito?

    — Não exatamente, mas ainda tenho tarefas a cumprir.

    Saito ainda não havia completado sua cota diária de missões.

    — Então serei breve… — disse Zepelin, pegando um papel e lançando-o de forma despretensiosa sobre a mesa, bem à frente de Saito. — Acho que isso vai despertar sua curiosidade. E tenho certeza de que, no fim das contas, essa pequena reunião não será uma perda de tempo.

    — Hhm…

    Saito pegou o papel e começou a ler. O conteúdo era tão inesperado que ele mal pôde acreditar. Seus olhos se arregalaram, e ele se levantou bruscamente da cadeira, batendo as mãos na mesa.

    — Quem é você de verdade?! — gritou Saito, perdendo completamente a compostura e revelando uma fúria que nem ele mesmo sabia que carregava dentro de si.

    O homem à sua frente apenas sorriu, claramente se divertindo com a reação.

    — Eu morei em Grão-Vermelho antes de vir para cá… e tenho quase certeza de que conheci um aventureiro muito famoso por lá, com o mesmo sobrenome que o seu. — Zepelin fez uma breve pausa, deixando o suspense pairar no ar. — Fiz uma rápida pesquisa sobre a sua família e descobri que ele realmente tinha ligação com você. Era o seu avô.

    O coração de Saito bateu mais forte. Seu avô havia desaparecido anos atrás durante uma missão e jamais retornou. Seus pais já o consideravam morto. E, por mais que Saito ainda mantivesse uma centelha de esperança de encontrá-lo vivo, sabia no fundo que, para um aventureiro não voltar para casa, geralmente havia apenas um desfecho possível.

    Saito tinha dois grandes objetivos na vida: tornar-se um aventureiro ainda melhor do que seu avô, superá-lo em feitos e reputação — e descobrir a verdade sobre o que aconteceu com aquele que fora seu maior ídolo na infância. Seu avô era seu herói, o homem que ele considerava invencível… e que, um dia, simplesmente desapareceu.

    — Isso que está escrito aqui… — Saito ergueu o papel entre os dedos, o olhar queimando em Zepelin. — Isso é verdade?

    Ele atirou o papel sobre a mesa, como se estivesse lidando com algo sujo.

    Zepelin arqueou uma sobrancelha, a voz carregada de ironia.

    — E o que é verdade, Saito? O que está no papel… ou o que você quer acreditar?

    — Responda. É verdade ou não é? — rosnou Saito, a fúria crescendo em sua garganta como um trovão.

    Zepelin cruzou as pernas com calma, como se não estivesse diante de um homem prestes a explodir.

    — Sabe… quando se trata de histórias velhas, todo mundo tem a sua versão. Mas se eu simplesmente disser “sim” ou “não”, isso te basta? Vai conseguir dormir tranquilo com uma resposta seca? Sem saber o porquê, o como… ou quem?

    Saito cerrou os dentes.

    O nome do avô ainda era uma ferida aberta. Quantas vezes discutira com o pai por causa disso? Por defender a imagem do homem que idolatrava — o aventureiro lendário que nunca voltou. O pai dizia que ele era um tolo inconsequente. Saito via um herói. Sempre viu.

    — Se for verdade… — disse ele, com a raiva misturada ao desespero — se realmente for verdade… então não posso deixar essa história morrer assim. Eu vou fazer algo a respeito. Você sabe disso.

    Zepelin sorriu, satisfeito.

    — Ótimo. Chegamos exatamente onde eu queria.

    — Onde você queria?

    Zepelin se levantou sem pressa e caminhou até uma estante cheia de livros antigos. Encostou-se ali como quem se sentia à vontade demais.

    — Eu quero que você me preste alguns serviços. Em troca, eu te dou… verdades. Informações. Fragmentos do quebra-cabeça.

    O clima na sala mudou. A leveza na postura de Zepelin desaparecera. Ele agora exalava a aura de um negociador. Um jogador veterano, acostumado a mover peças no tabuleiro.

    — Que tipo de serviços? — Saito estreitou os olhos. — Se quer me contratar, submeta uma missão na guilda. Como qualquer um.

    Zepelin riu. Um riso seco, sem humor.

    — Ah, garoto… se fosse uma missão comum, eu teria feito exatamente isso.

    Saito entendeu. Foi como uma lâmina atravessando o estômago.

    A única razão para o chefe da guilda não tornar uma missão pública… é porque ela não podia ser pública.

    — Está me pedindo pra fazer algo ilegal… — murmurou, o olhar fixo no chão, como se tentasse digerir a ideia.

    — Finalmente. Você entende mais rápido do que eu esperava, Saito. — Zepelin cruzou os braços. — Então… posso contar com você?

    Saito permaneceu em silêncio por alguns segundos. Depois, ergueu o olhar, firme.

    — Primeiro, me diga se é verdade. Se o que está nesse papel for real… se meu avô realmente foi…

    — Assassinato, Saito. — Zepelin o interrompeu com frieza. — Foi exatamente isso que aconteceu. Seu avô foi assassinado.

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