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    — Quando foi que…?! — exclamou Saito, olhos arregalados, incapaz de disfarçar o choque ao ver sua própria espada nas mãos da estranha.

    — No instante em que vocês se esbarraram. — respondeu Little Girl, sem tirar os olhos da mulher à frente. Seu tom era frio, direto. — Por isso ataquei com um raio. Você realmente é um novato…

    Ela falou como se estivesse comentando sobre o clima, mas seus olhos estavam tão afiados quanto o cajado que mantinha apontado. Saito grunhiu, frustrado. Um erro tão básico… Como não notara? Ele rangeu os dentes, amaldiçoando a si mesmo em silêncio.

    A misteriosa garota de cabelos negros simplesmente olhou para a espada em sua mão como se não tivesse qualquer valor. Em um movimento leve e quase desdenhoso, lançou a arma para trás. Ela girou no ar e caiu no chão com um som metálico abafado. Sem dizer nada, a jovem então puxou lentamente outra arma — uma lâmina de aparência elegante, fina e curva. Mesmo sem já ter visto uma ao vivo, Saito reconheceu imediatamente a silhueta distinta e o brilho cortante.

    — Uma katana… — murmurou ele, apertando os punhos.

    — Ela parece ser forte. Não baixe a guarda. — comentou Little Girl, sua voz agora mais tensa. — Ela é nossa inimiga.

    — Espera aí! — Saito ergueu a mão, tentando impedir o inevitável. — Antes de começarmos a brigar… por que não conversamos?

    — Você quer conversar com alguém que roubou sua espada e já está armada contra nós?! — retrucou Little Girl, sem paciência.

    — Lutar sem saber o motivo não faz sentido! Talvez haja uma explicação!

    — Estamos lutando para proteger nossas vidas! Já não é motivo suficiente?!

    O tom entre os dois se elevou, os argumentos se cruzando no ar como lâminas invisíveis. Mas a mulher de cabelos negros não dizia uma palavra. Apenas os observava em silêncio, imóvel, com um olhar sério e insondável.

    Então, calmamente, ela finalmente falou:

    — Little Girl, aventureira. Onze anos.

    As palavras pairaram no ar como uma sentença. Ambos congelaram. Era uma informação simples, mas carregada de peso. Ela sabia quem estavam enfrentando. Sabia exatamente.

    Little Girl franziu o cenho e ajustou levemente a postura, mantendo o cajado firme.

    — Então o assunto é comigo. O que você quer? Está com os Pecadores? — perguntou, em tom cortante.

    O rosto da estranha se deformou em um instante, sua expressão se encheu de uma fúria crua e incandescente — era ódio puro, selvagem, sem máscara. Os olhos queimavam com repulsa.

    — Eu? Parte daqueles monstros…? — murmurou entre os dentes. — Não fode.

    — Foi o que eu pensei. — respondeu Little Girl, com frieza calculada.

    Mesmo com os sinais claros de hostilidade, havia algo na postura da garota que indicava outra coisa. A verdade é que Little Girl já suspeitava que aquela mulher não era uma Pecadora.

    Três razões lhe davam essa certeza.

    Primeiro: os próprios Pecadores haviam estabelecido uma data limite para começar suas ações. Embora fossem sádicos e imprevisíveis, gostavam de teatralidade e de cumprir com suas ameaças dentro dos prazos, buscando sempre causar o maior impacto possível.

    Segundo: o comportamento da mulher era metódico, racional — quase frio. Os Pecadores que ela conhecera até então eram impulsivos, muitas vezes dominados por prazer sádico ou pura insanidade. Aquela mulher não era movida por prazer. Ela era movida por propósito.

    E terceiro: a raiva em seus olhos ao mencionar os Pecadores. Não era forçada. Era profunda, quase pessoal. Era impossível não perceber.

    Ela não era uma Pecadora.

    — Você não faz parte deles. Mas ainda assim roubou a espada do Saito e está agindo de forma agressiva. — disse Little Girl, sua voz firme como aço. — O que você quer, afinal?

    — Não estamos aqui para causar confusão. Estamos trabalhando. Somos aventureiros, só isso! — completou Saito, tentando apaziguar o clima.

    A jovem permaneceu em silêncio por um momento, antes de finalmente revelar a razão de sua aproximação:

    — Há alguns dias, descobri que você esteve em contato com os Pecadores, Little Girl.

    O ar ao redor deles pareceu pesar. Era como se o tempo tivesse parado por um breve instante. Little Girl estreitou os olhos. O cajado continuava firme em sua mão, mas algo dentro dela também começava a se mover.

    — Sim, é verdade. — respondeu Little Girl, com frieza, sem pestanejar. — Recebemos uma carta com ameaças. Não só a mim, mas também aos meus companheiros… e às famílias deles. Deve ter descoberto isso por meio dos Cavaleiros Sagrados, não é? Você pode estar agindo sozinha, mas certamente tem um contato lá dentro. Alguém confiável o bastante para te passar informações sobre a denúncia que minha equipe fez.

    As palavras da menina saíram como punhaladas cirúrgicas, e a reação da jovem de cabelos negros confirmou tudo. Seus olhos, por um breve instante, se arregalaram, e o músculo de sua mandíbula tremeu antes de ela apertar os lábios em silêncio. Não era fácil surpreendê-la — mas estava claro que Little Girl havia conseguido.

    — Você realmente não é uma criança comum. — murmurou a jovem, ainda digerindo a ousadia daquela garotinha.

    — Se eu fosse comum, já teria morrido faz tempo. — retrucou Little Girl, com uma segurança que fez até o ar ao redor parecer mais denso.

    Saito, que até então apenas observava, não pôde evitar de sentir aquele velho misto de admiração e incredulidade. Mesmo gostando do jeito confiante de Little Girl, ele ainda ficava pasmo com o quanto ela se colocava acima de todos. Ela se acha demais… pensou, meio surpreso, meio resignado.

    — Posso perguntar algo? — disse Saito, tentando quebrar o clima tenso. A jovem o encarou em silêncio, mas o olhar não foi exatamente hostil. Parecia mais permissivo. Ele decidiu levar isso como um “sim”. — Você realmente queria nos machucar?

    A resposta veio sem hesitação, seca e honesta:

    — Nunca foi meu verdadeiro objetivo.

    — Então… talvez possamos conversar como pessoas normais? — insistiu Saito, baixando levemente a mão como um gesto simbólico de paz. — Quero dizer, sem armas ou cajados apontados uns pros outros?

    A jovem desviou o olhar por um momento, como se estivesse avaliando um cálculo complicado. Sua voz saiu mais baixa, mas ainda tensa:

    — Vocês tiveram contato com os Pecadores e estão vivos. Isso, por si só, já é suspeito. Não sei se posso confiar em vocês.

    Saito respirou fundo. Sabia que ela tinha razão em desconfiar. Mesmo assim, decidiu apostar tudo na sinceridade:

    — Eu entendo. Parece estranho, eu sei. Mas… se você nos der uma chance, podemos explicar nossa situação. Não sei o que exatamente você espera encontrar aqui, ou o que quer de nós. Mas se me der ao menos uma chance de diálogo, acho que podemos resolver isso sem precisar derramar sangue.

    Ele fez uma breve pausa e então, com um tom um pouco mais firme — quase ameaçador — completou:

    — Eu sei que não pareço muito habilidoso. E é verdade. Mas se tentar enfrentar a Little Girl, eu garanto… você não sairá sem ferimentos. Então, por que não escolhemos conversar em vez de lutar?

    O silêncio que se seguiu pareceu durar uma eternidade. Olhares afiados se cruzaram como lâminas ocultas — desconfiança, julgamento, análise. Cada gesto era lido com atenção, cada suspiro era interpretado como ameaça ou fraqueza.

    E então, finalmente, a jovem relaxou a postura. Ainda desconfiada, mas menos tensa.

    — Certo… — disse ela, guardando a katana com um gesto lento. — Vamos conversar.

    Ela deu um passo à frente, encarando os dois.

    — Me chamo Sira. E estou caçando os Pecadores.

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