Capítulo 24 – Assassino Imparável
— Ah, qual é… tá brincando com a minha cara? — um dos ladrões murmurou, olhando para Denzel com um misto de descrença e temor.
— Espera aí… é ele? — outro gaguejou, já suando frio.
— Só pode ser. Mas que diabos…
— A gente não reparou por causa do capuz? É sério isso?
A tensão tomou conta do grupo. Os seis ladrões, antes confiantes, agora estavam completamente tomados pelo choque. O homem que caminhava calmamente em direção a eles, empunhando suas katar, era ninguém menos que Denzel, o assassino das sombras.
— É ele mesmo… — murmurou o líder, com a voz trêmula, mas tentando manter a compostura.
— O quê que a gente faz agora? — um dos homens perguntou, quase em pânico.
— Vamos enfrentar ele? Dá pra ganhar? — outro retrucou, mais para si mesmo do que para os colegas.
— Acha que dá? Fiquei sabendo que ele massacrou um grupo inteiro recentemente e não sobrou nem pra contar a história!
— Foi aquele traficante de escravos, né? Dizem que ele invadiu a base sozinho e matou todo mundo!
A tensão escalou rapidamente. O líder do grupo, vendo o medo crescendo nos olhos de seus homens, ergueu a espada e gritou:
— Calem a boca! Não podemos fraquejar agora! Lembrem-se, fomos contratados pra isso!
O grito trouxe um mínimo de ordem ao caos, mas o medo ainda pairava pesado no ar. Mesmo que quisessem sair correndo, sabiam que desistir não era uma opção. Eles tinham um trabalho a fazer, e falhar não estava nos planos de quem os contratou.
Denzel, parado a poucos metros de distância, inclinou levemente a cabeça, como se ponderasse algo.
— Acho que entendi… — disse ele, em tom baixo, mas com a frieza que fazia o sangue deles gelar.
— E-Entendeu o quê? — balbuciou o líder, tentando não demonstrar sua insegurança.
— Foram contratados por um nobre elfo, certo? — A voz de Denzel parecia um corte preciso, direto ao ponto.
Os ladrões se entreolharam, surpresos. Aquela reação involuntária confirmou a suspeita dele antes mesmo que pudessem responder. Antes que qualquer um conseguisse articular uma palavra, Denzel se lançou para frente em uma investida.
— Disparem! — gritou o líder.
Os dois arqueiros reagiram instintivamente, mas o impacto das palavras de Denzel e a velocidade assustadora de seus movimentos fizeram suas mãos tremerem. As flechas não chegaram nem perto de seu alvo, cravando-se no chão.
O primeiro golpe de Denzel foi direto em um dos arqueiros. Ambos tentavam desesperadamente puxar outra flecha, mas não foram rápidos o suficiente. Ele avançou tão depressa que o arqueiro só conseguiu tocar na flecha dentro da aljava antes de ter a garganta perfurada por uma das katar.
Morte certa, pensou o líder do grupo, com o estômago revirado.
— Recuem! Cerquem ele! — gritou, forçando sua voz a soar firme.
Os homens deram alguns passos para trás, reorganizando-se. O líder lançou um olhar rápido para o outro arqueiro, que já puxava a corda do arco, mirando diretamente em Denzel. Quando viu o assassino imóvel por um instante, uma centelha de esperança nasceu em seu peito. Talvez, só talvez, aquele tiro pudesse acertar.
Mas então, uma adaga apareceu cravada na testa do arqueiro, interrompendo o disparo antes mesmo de começar.
— Tá de brincadeira…?! Isso é impossível! — o líder vociferou, incrédulo.
Denzel, com uma precisão quase sobre-humana, havia lançado a adaga no instante seguinte ao golpe fatal no primeiro arqueiro. Agora, ambos os homens estavam no chão.
O primeiro, sufocando no próprio sangue enquanto segurava a garganta inutilmente, e o segundo morto instantaneamente, os olhos ainda abertos, mirando o vazio.
O líder rangeu os dentes, o pavor subindo como um frio na espinha. Dois já haviam caído. Restavam ele e mais três, todos tremendo de medo.
— Primeiro os que atacam de longe… — murmurou Denzel, os olhos fixos nos alvos restantes. — Em seguida…
— Aahhhhhh! — um dos homens gritou, assustado, recuando instintivamente.
Que merda… o líder pensou, maldizendo a si mesmo. Se soubesse que esse desgraçado estava aqui, jamais teria aceitado esse trabalho idiota!
Ele apertou o cabo da espada curta, mas não conseguiu evitar o tremor nas mãos.
— C-Chefe! O que a gente faz?! — um dos homens gaguejou, completamente perdido.
O líder grunhiu, forçando um tom autoritário que mascarava seu desespero.
— GRRRR… Ataquem todos juntos! Venceremos pelo número! Agora!
Ele foi o primeiro a avançar, na tentativa de dar exemplo. Os outros, embora hesitantes, seguiram-no logo em seguida. O medo estava estampado nos rostos deles, mas confiaram na decisão do líder.
Só um golpe, o líder pensou freneticamente enquanto corria. Se acertarmos um golpe nele, podemos fugir e nos espalhar pela cidade. Infra é cheia de becos e esconderijos. Nem ele conseguiria achar todos. Não precisamos matá-lo, só feri-lo. Isso! É isso!
Os quatro atacaram juntos, as armas brancas brilhando no ar.
O primeiro golpe veio do líder, mas Denzel o bloqueou com um movimento fluido, desviando a espada para baixo. A lâmina foi jogada em direção ao chão, arruinando o ataque.
O líder tentou um giro para recuperar a iniciativa, mas, antes que pudesse completar o movimento, sentiu seu pé de apoio sair do chão. Denzel havia dado um leve empurrão com o pé, rápido demais para ser evitado, e o líder perdeu o equilíbrio, caindo de costas no chão.
Os outros três atacaram quase ao mesmo tempo, gritando em uma mistura de desespero e adrenalina.
É agora!
Vamos matá-lo!
Vai morrer, seu desgraçado!
Os pensamentos deles eram cheios de urgência e fúria enquanto suas armas cortavam o ar em direção ao assassino.
Quando os três atacaram, sentiram apenas o vazio. Nenhuma resistência, nenhum impacto. Apenas o som do vento.
Confusos, os homens pararam. Seus olhares buscaram Denzel à frente, mas o que encontraram foi uma visão aterradora: seus braços dominantes, ainda segurando as armas, caíam no chão com um som seco, como madeira velha se partindo.
Um segundo depois, o horror os atingiu.
— AAAAAHHHHH!
— O QUE?! O MEU BRAÇO!
— NÃO! NÃO! MEU BRAAAAÇO!
Os três caíram de joelhos, mãos agora inúteis tentando conter o sangue que jorrava incontrolavelmente. Pânico absoluto.
O líder ergueu os olhos enquanto se levantava, sua espada curta tremendo em suas mãos. Lá estava ele, o assassino. Denzel permanecia de pé, sereno, mas com algo diferente. O ar ao seu redor parecia vivo, um redemoinho sutil que o envolvia como uma serpente invisível.
Ele olhava para os homens no chão sem expressão, como quem observa uma tempestade distante. Os gemidos e gritos de dor não o abalavam. Então, com três movimentos quase imperceptíveis, os homens caíram de vez. Cada um com um pequeno buraco na garganta, o sangue escorrendo lentamente.
Denzel inclinou a cabeça, como se apreciasse um trabalho bem feito.
— P-Por quê…? — balbuciou o líder, o desespero drenando o que restava de sua coragem.
Denzel virou o rosto para ele, uma sobrancelha arqueada, genuinamente confuso pela pergunta.
— Hm?
— Por que não me matou…? — a voz do líder mal passava de um sussurro agora.
Os lábios de Denzel se curvaram em um sorriso sutil, mas seus olhos eram frios como gelo.
— Você disse que era o capitão, certo? — Ele inclinou ligeiramente a cabeça. — O capitão precisa ficar vivo. Tenho algumas perguntas pra você.
O líder olhou para o chão, derrotado. Sua espada escorregou das mãos trêmulas e caiu com um som seco. Aquele som parecia selar tudo. A confiança, o orgulho, e os cinco anos que ele havia passado ao lado de sua equipe… tudo tinha acabado.
⧫⧫⧫
Jack mal conseguia acreditar no que via. O homem à sua frente não estava apenas lutando – ele parecia brincar com os inimigos. Em segundos, os dois primeiros arqueiros caíram com uma precisão assustadora, seguidos pelo líder, derrubado como se fosse um peso morto.
Mas que droga… Jack observava tudo com os olhos arregalados. Esse cara… ele não é normal.
E então aconteceu. Um redemoinho sutil de vento pareceu surgir do nada, e o assassino desapareceu, apenas para reaparecer quase no mesmo instante. Em um movimento fluido, três homens gritaram, seus braços caindo no chão enquanto eles cambaleavam, incapazes de processar o que havia acabado de acontecer.
Nada disso era natural. O homem diante de Jack transcendera o que era considerado possível. Se ele tivesse que descrever em termos de níveis…
— Quão forte…? — Jack murmurou para si mesmo, ainda tentando assimilar.
A ideia de níveis havia nascido na Grande Guerra entre as Raças, muitos anos atrás, quando foi necessário classificar as habilidades de combatentes. O sistema permaneceu, usado até hoje como uma métrica universal.
A maioria das pessoas comuns — camponeses, nobres ou trabalhadores braçais — ficava entre os níveis de dificuldade 1 a 3.
Soldados treinados ocupavam os níveis 4 a 6, fortalecidos pelo treinamento militar básico, como os da Ordem dos Cavaleiros Sagrados. Esses soldados eram o braço da ordem nas cidades, usando força quando necessário para manter a paz e reprimir revoltas ocasionais.
Mas acima disso, as coisas mudaram. Pessoas além do nível 6 eram chamadas de irreais. Gente que, como dizia o ditado, “saiu do reino do possível e entrou no domínio do impossível”.
Os corpos dos homens caíram no chão, silenciosos. O último sobrevivente, o líder, estava agora de joelhos, rendido. Denzel o empurrou para a parede e o amarrou sem cerimônia.
Jack, percebendo que o combate havia terminado, se ergueu lentamente de trás da carruagem. Ele caminhou até Denzel, posicionando-se ao lado do assassino, frente a frente com o líder derrotado.
— Quem contratou vocês? — Denzel perguntou, sua voz calma, mas carregada de uma ameaça que parecia pesar no ar.
⧫⧫⧫
As informações vieram lentamente, arrancadas pelo interrogatório implacável de Denzel. O líder dos bandidos, espremido até não ter mais nada a oferecer, teve seu fim ali mesmo – um corte limpo, frio e calculado. Jack congelou, as palavras presas na garganta. Ele não teve coragem de contestar ou sequer protestar. Quando tudo acabou, só restava a carruagem e a estrada adiante.
O silêncio pesava no ar enquanto os dois seguiam viagem rumo à cidade natal de Jack. Mas, mesmo enquanto o som das rodas da carruagem preenchia o vazio, Jack não conseguia evitar. Seu olhar sempre voltava para Denzel.
— O que foi? — Denzel quebrou o silêncio, sem erguer o olhar. Ele estava ocupado limpando as lâminas ensanguentadas com movimentos metódicos, sua voz soando quase indiferente.
— Hm… ah… nada… — Jack desviou o olhar para a estrada, mas o desconforto o consumia. Ele nunca tinha visto alguém morrer, não assim. Nem mesmo quando seus pais foram assassinados – ele chegou depois, a tragédia já consumada. Mas agora… ver uma vida terminando, tão rápida e brutalmente, fez algo dentro dele se revirar.
O peso daquilo o atingiu em cheio. Como podia a vida ser tão… descartável?
— Se nem assistir você consegue — começou Denzel, os olhos ainda presos na lâmina que limpava — como espera matar seu irmão?
Jack se virou, a confusão estampada no rosto. — O quê? Como assim?
— Como você pretende matar alguém se não consegue sequer encarar uma morte? — Denzel finalmente ergueu o olhar, direto, mas não acusador. — Está preparado para abandonar o que as pessoas chamam de “bom senso”?
Jack permaneceu em silêncio, engolindo seco. Ele nunca havia pensado nisso. Não desse jeito.
— Você nunca teve que matar para sobreviver — Denzel continuou, como se lesse seus pensamentos. — Então o que sabe sobre esse mundo?
— E o que você sabe sobre mim?! — Jack explodiu, a voz carregada de raiva e frustração. Ele virou o rosto de volta para a estrada, fechando a expressão. — Você não tem que ficar me fazendo perguntas idiotas. Esse não é o seu trabalho.
Denzel deu de ombros, voltando a limpar as lâminas. — Verdade. Mas, se você recuar no momento certo e deixar seu irmão escapar, adivinha só? Eu perco mais tempo aqui do que deveria. E, sinceramente, essas cidades de elfos de merda não são exatamente meu lugar favorito.
— Cidades de elfos de merda? — Jack riu com desdém, sem acreditar no que ouvira. — Você já esteve em alguma, não? Porque, se comparar com onde você vive, só alguém com problemas na cabeça chamaria aquelas cidades de “merda”.
Denzel parou. Pela primeira vez, ele olhou para Jack. Não era um olhar assassino, mas havia algo cortante ali, como uma faca que repousa no limite do fio. Depois, balançou a cabeça e voltou à tarefa, como se o assunto tivesse morrido.
— Se é o que você acha, não tenho mais nada a dizer. — O tom era seco, mas com uma pontada de sarcasmo. — Quanto tempo ainda falta?
— Algumas horas. Talvez precisemos parar em um vilarejo para dar descanso aos cavalos.
— Ótimo. Preciso mesmo esticar as pernas. — Denzel falou, guardando as lâminas, sua voz cheia de um tédio que parecia não combinar com o sangue que ele havia derramado minutos atrás.
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