Capítulo 59 - Desafio de um Guerreiro
Bruce havia sido escolhido por um humano de estatura baixa para ser seu parceiro de treino. Na verdade, entre os humanos, ele era considerado alto. O homem que escolhera Bruce chamava-se Levi, possuindo 1,90 metros de altura, mas ao lado de Bruce, que alcançava impressionantes 2,30 metros, parecia um mero anão.
— E então, o que vai usar na luta? — perguntou Levi, observando Bruce com um olhar de desafio.
— Usarei essas duas armas aqui. — Bruce respondeu, puxando suas duas adagas especiais, presentes de seu falecido pai, que reluziam sob a luz suave do amanhecer.
Levi apenas assentiu com um murmúrio, virando o rosto para observar a primeira dupla de combatentes que já se posicionava no centro da arena improvisada.
A luta começou quase imediatamente. O primeiro a atacar foi o homem-lagarto, não porque estivesse particularmente animado, mas porque, assim que o combate teve início, ambos partiram para o confronto com ímpeto.
O homem-lagarto, no entanto, foi o primeiro a atingir, com uma velocidade tão devastadora quanto uma tempestade. Ele golpeou com uma joelhada certeira no estômago do humano, que sequer teve tempo de reagir.
O homem não conseguia sequer se recompor quando recebeu um chute forte que o projetou vários metros para trás, fazendo-o colidir contra uma barraca, que caiu, esmagada pela força do impacto.
— Que isso… — um dos mercenários sussurrou, atônito.
— Só pode estar de brincadeira… — outro murmurou, incrédulo.
— Dois golpes? — indagou um terceiro, como se fosse impossível acreditar no que acabara de presenciar.
Os humanos estavam visivelmente chocados. Eles não podiam conceber que a disparidade entre as raças fosse tão imensa assim. Ou haveria algo mais por trás daquela demonstração de força?
A segunda dupla tomou posição no centro, e, assim que o homem arremessado foi socorrido, o combate teve início. Foi ainda mais breve que o anterior.
O humano não resistiu nem mesmo a um único golpe do homem-lagarto, caindo com um estrondo, derrotado de forma implacável. Os homens-lagartos estavam, de fato, em um nível de força física que parecia insuperável.
— Vocês são monstros ou o quê? — murmurou Levi, seus nervos à flor da pele, sentindo uma apreensão crescente com a proximidade de sua vez.
— Somos guerreiros. — Bruce respondeu com um olhar sereno, seu tom baixo e inabalável.
— O que é um guerreiro para você, seu monstro? — Levi retrucou, o orgulho inflamado em sua voz.
— Um ser que não treme diante do medo, assim como você treme neste momento. — Bruce disse, com uma leveza que parecia mais uma afirmação do que uma provocação.
Levi, ao perceber que suas mãos tremiam de nervosismo, cerrou os dentes com força. O orgulho ferido o impulsionou a uma ação impetuosa. Com um movimento rápido, ele puxou a espada da bainha e a cortou na direção de Bruce.
O homem-lagarto levantou o braço com a mesma velocidade e destreza, pronto para desviar o golpe. No entanto, antes que o metal da lâmina de Levi pudesse sequer tocá-lo, um som metálico soou. A espada de Levi foi desviada bruscamente para o lado, sua lâmina fazendo um desvio perfeito.
— O que…? — Levi olhou, perplexo, para o chão, onde sua espada agora apontava, sem saber como isso havia acontecido.
— Isso foi. — Bruce respondeu de forma tranquila, seu olhar fixo em uma adaga caída no chão, a verdadeira responsável por desviar a lâmina. Ele sabia exatamente quem a havia lançado.
— Levi, quantas vezes terei que te dizer para parar de ser tão impetuoso? É por isso que não aguenta nem dois minutos com uma mulher. — a voz de Douglas soou cortante, e todos os olhares se voltaram para ele.
— Capitão… d-desculpe eu… — Levi gaguejou, visivelmente constrangido.
— Desculpas, agora não adianta, recolha sua arma e se ponha em posição. Se me desrespeitar mais uma vez, cortarei sua mão fora. — A ameaça de Douglas era séria e sua postura, impassível.
— S-Sinto muito, capitão…! — Levi, nervoso, fez uma reverência respeitosa, tentando esconder o embaraço de sua derrota diante de todos.
Douglas se virou lentamente, caminhando de volta para seu posto, onde permaneceu parado, com as mãos novamente unidas atrás das costas. Bruce o observou com um sorriso sutil. O lançamento da adaga fora impecável, perfeito em sua execução, mas o que mais intrigava Bruce era o quão habilidoso aquele humano parecia ser.
Ele duvidava de sua própria capacidade de esquivar de tal arma, caso fosse ele o alvo. Levi, de alguma forma, era diferente dos outros humanos que ele já havia encontrado.
Bruce sorriu mais uma vez, um sorriso que era mais uma questão de respeito do que de deboche. Ele sabia que aquele humano tinha algo mais a oferecer. Algo digno de sua atenção.
A vez de Bruce finalmente chegará. Ele avançou para o centro da arena, puxando suas duas adagas em um movimento fluido, executando um breve truque ao girá-las entre os dedos antes de agarrá-las com firmeza. Sua destreza era inegável, mas, se Virmirka estivesse presente, certamente o teria repreendido com uma pancada na cabeça, seguida por um sermão:
“Armas não são brinquedos! Pare de girá-las como se fossem!”. A ironia residia no fato de que, durante os treinamentos, ela própria fazia o mesmo com sua lâmina.
Do outro lado da arena, Levi se preparava com seriedade. Ele desembainhou sua espada longa e a segurou com ambas as mãos, adotando uma postura rígida. As armas dos membros da organização Ponto Escuro compartilhavam uma característica peculiar: lâminas de tonalidade negra como a noite, uma marca registrada que denunciava sua filiação ao grupo a qualquer observador atento.
— Certo, vamos acabar logo com isso. — murmurou Bruce para si mesmo, a voz carregada de confiança.
O combate começou com um sinal discreto de Douglas. Levi, atento, aguardava um ataque rápido de Bruce. Os homens-lagartos até então haviam atacado com ferocidade avassaladora, despachando seus oponentes antes mesmo que os combates pudessem ser chamados de batalhas. Levi decidiu, portanto, antecipar-se ao inimigo. Contudo, o movimento esperado não veio.
Quando levantou os olhos para Bruce, viu-o parado, empunhando as adagas, mas sequer em posição de combate.
— O que você está fazendo…? — perguntou Levi, a voz carregada de nervosismo.
— Ah, sinto muito. Ataque primeiro. — respondeu Bruce com um sorriso provocador. — Esse treinamento não faria sentido para mim se eu acabasse com ele em um único golpe, como os outros fizeram ao tentarem se exibir.
Ele lançou um olhar sarcástico aos homens-lagartos que haviam triunfado em seus embates anteriores. Estes, pegos desprevenidos pela observação, riram, mas o embaraço em suas expressões era evidente.
— Prefiro que você ataque primeiro. Assim, pelo menos, posso tirar algum proveito disso.
Levi cerrou os dentes e apertou ainda mais o cabo de sua espada. Aquilo era um insulto descarado. Esperar ser atacado? Que tipo de guerreiro agia dessa forma?
Sem pensar duas vezes, Levi investiu, alternando os passos e variando o posicionamento na tentativa de confundir o adversário. Quando se aproximou o bastante, golpeou com um corte vertical, confiando na vantagem de alcance de sua espada longa em comparação às adagas curtas de Bruce.
— Isso foi bom. — comentou Bruce, sem a menor preocupação.
Para o espanto de Levi, o ataque foi detido com facilidade. Sua espada longa colidiu com a pequena lâmina de Bruce e ali ficou, incapaz de avançar. Levi arregalou os olhos. Mesmo com toda a força aplicada, não conseguiu empurrar a adaga nem um milímetro.
Bruce sequer sentiu o impacto. O golpe, que deveria ser devastador, parecia insignificante. Diferente dos treinamentos com sua irmã, cujos golpes faziam seus braços tremerem até a ponta dos dedos, aquele ataque fora tão fraco que mal parecia um esforço genuíno.
— Que tal tentar de novo? — provocou Bruce.
— Maldito! — gritou Levi, recuando e reassumindo a postura de combate.
Bruce, por sua vez, continuou imóvel, sem demonstrar preocupação em adotar uma posição defensiva. Suas inúmeras aberturas gritavam para serem exploradas, mas Levi já havia testemunhado as lutas anteriores. Sabia que, mesmo diante de brechas evidentes, Bruce responderia com velocidade e força inigualáveis.
Ainda assim, Levi não podia se permitir desistir. Ele atacou novamente, repetidas vezes, buscando qualquer ângulo que pudesse oferecer vantagem. Entretanto, cada golpe foi desviado com precisão por aquela pequena lâmina. Não importava o esforço ou as variações nos ataques, nada surtia efeito.
— Injusto… isso… que injustiça é essa…? — balbuciou Levi, o rosto pálido e os olhos fixos no chão. Sua expressão misturava incredulidade e desespero.
Toda a habilidade e experiência acumuladas ao longo de sua vida foram reduzidas a nada diante de uma criatura cuja força parecia um presente inato.
— Injusto? — repetiu Bruce, inclinando a cabeça. — Como vocês humanos venceram a guerra sendo tão fracos?
Antes que Levi pudesse responder, Bruce moveu-se com velocidade impressionante e desferiu um golpe contra Levi, levantando poeira e deixando um estrondo ecoar pela arena.
— A décima oitava luta foi finalizada. O vencedor é Bruce! — anunciou Douglas, levantando o braço na direção do homem-lagarto.
Mas Bruce não se moveu para celebrar. Em vez disso, dirigiu-se ao centro da arena, a voz carregada de desdém.
— Isso aqui é uma piada? — disse, olhando diretamente para Douglas.
— Hein? Uma piada? — indagou Douglas, arqueando uma sobrancelha.
— Desculpe, mas não sou como esses outros que se contentam em derrubar os fracos. Se eu não lutar com alguém do meu nível ou superior, isso não pode ser chamado de treinamento. — afirmou Bruce, com olhos afiados.
Douglas sorriu, os lábios se curvando em uma expressão de interesse genuíno.
— Oh, entendo. Então você gosta de desafios? — respondeu, em tom brincalhão.
Bruce caminhou lentamente até parar diante de Douglas, os soldados ao redor prendendo a respiração com a aproximação repentina.
— Quero enfrentar você, capitão.
Douglas manteve o sorriso enquanto observava o homem-lagarto. Havia algo nos olhos de Bruce que fez o capitão estreitar os próprios. O desafio estava lançado.
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