Capítulo 60 - Bruce Vs Douglas
A luta teria início em poucos minutos. Bruce estava de um lado e Douglas do outro, ambos se preparando de formas um tanto peculiares. Douglas, com a serenidade de um veterano, estalava os ossos do corpo em movimentos meticulosamente calculados, quase como um ritual de quiropraxia. Esticava-se, girava os ombros, flexionava os músculos e, por fim, dobrava o corpo até tocar a ponta dos pés com os dedos, forçando a extensão máxima das costas.
Enquanto isso, Bruce executava pequenos saltos no mesmo lugar, como um predador se aquecendo antes do ataque. Quando finalizou, ergueu suas adagas e apontou diretamente para Douglas, que permanecia desarmado.
— Não vai pegar uma espada? — perguntou Bruce, intrigado.
— Será mesmo necessário? — respondeu Douglas, com um leve sorriso.
— O que está insinuando? — Bruce franziu o cenho.
— Vou te mostrar algo interessante.
— Hm. — murmurou Bruce, fechando o semblante como sempre fazia antes de uma luta.
O primeiro movimento veio de Bruce. Com a coluna curvada e os olhos fixos no alvo, ele disparou em direção a Douglas, que permaneceu imóvel. Mas, no último instante, Douglas assumiu uma postura de combate peculiar. Um braço para trás e o outro para frente, com a palma aberta, enquanto suas pernas se separavam em bases sólidas, firmando-se como raízes no solo.
Não era o estilo de luta mais comum para Douglas, cuja maestria residia no manejo da espada. Desde seus primeiros anos no campo de batalha, crescera empunhando lâminas, moldando seu estilo letal. No entanto, após a incorporação da Ponto Escuro ao reino Grão-Vermelho, decidiu aprender um método de luta desarmada focado em defesa e contenção — uma abordagem menos letal, mas igualmente eficaz.
Bruce atacou com ferocidade, suas adagas cortando o ar em velocidades estonteantes. No entanto, ele foi surpreendido pela destreza de Douglas. O homem movia o tronco em ângulos inesperados, desviando-se como se fosse uma miragem. Seus pés mal saíam do lugar, mas seus reflexos e precisão pareciam beirar o sobrenatural.
“Isso é velocidade?”, pensou Bruce, irritado pela dificuldade em acertá-lo.
Determinando-se a quebrar o equilíbrio do adversário, Bruce tentou desferir um chute na perna de Douglas. No entanto, como se antecipasse o movimento, Douglas ergueu a perna alvo e saltou para trás com facilidade calculada, ampliando a distância.
— Impressionante. — admitiu Bruce, contendo o fôlego.
— Idem. Você é incrivelmente forte. É uma pena. — respondeu Douglas, enigmático.
— Uma pena? — Bruce franziu o cenho.
— Isso mesmo. Uma pena que você ainda não compreenda o que é a verdadeira força.
“Do que ele está falando?”, questionou-se Bruce, apertando os punhos. A irritação começava a crescer.
Verdadeira força? Ele ponderou. Seria treino? Experiência? Poder bruto? Bruce possuía tudo isso e mais. Seu corpo fora moldado para a guerra. Mesmo sendo jovem para os padrões de sua raça, sabia que era um guerreiro nato. As palavras de Douglas o provocaram, mas ele respirou fundo e afastou a raiva. Não podia se dar ao luxo de perder o foco.
O combate era o que importava. Treinar contra guerreiros de outras raças era a experiência que buscava — um presente precioso que esta luta lhe ofereceria.
Bruce reassumiu sua postura, segurando firmemente as adagas. Ele pisou forte no solo, lançando pequenas pedras ao ar. Quando caíram, Bruce já não estava mais ali.
Outra sequência de ataques rápidos e incessantes seguiu, mas Douglas continuava desviando com precisão absurda. Bruce tentava criar brechas no estilo defensivo do adversário, mas nenhuma oportunidade surgia. Seu ímpeto era como uma tempestade — violento e implacável. No entanto, Douglas parecia inabalável.
Mesmo assim, algo começou a incomodar Bruce. A irritação fervilhava sob a superfície.
— Não vai atacar?! — vociferou Bruce, quebrando o silêncio tenso da arena.
— Eu sou do tipo de homem que aprecia uma boa comida. Pode perguntar para qualquer um dos meus homens, eles sabem bem o quanto eu demoro para terminar a janta. — Douglas riu, gesticulando desleixadamente com ambas as mãos.
A atitude despreocupada fez o sangue de Bruce ferver. Ele avançou com um golpe feroz, mas Douglas, com a mesma facilidade de antes, esquivou-se. No entanto, desta vez, ele sentiu a fúria pura emanando do homem-lagarto, uma vontade crua de dilacerá-lo ali mesmo. Só que, num piscar de olhos, essa raiva se dissipou como vapor no ar.
Como se tivesse sido atingido por uma onda de água fria, Bruce respirou fundo e estabilizou suas emoções. O ataque impetuoso que havia realizado se transformou em uma memória frustrante, mas controlada.
Douglas observou aquilo com atenção. “Ele tem um controle incrível sobre os sentimentos”, pensou, impressionado. “Mesmo depois das minhas provocações, consegue se acalmar e retomar o foco. É assim que um verdadeiro guerreiro luta.” Um sorriso fino, carregado de animação e orgulho, desenhou-se em seu rosto.
— Agora é a minha vez. — A voz de Douglas ecoou como um trovão calmo.
Bruce franziu a testa, seus olhos fixos no oponente. Algo mudou. Não era a postura de Douglas – que permanecia idêntica –, mas a atmosfera ao seu redor. Era como se todo o ar ao redor dele estivesse carregado de eletricidade.
Antes que pudesse reagir, Douglas desapareceu.
— O quê?! — Bruce balançou a cabeça, procurando-o desesperadamente, mas o som de um soco cortando o ar denunciou a aproximação. Instintivamente, Bruce inclinou o corpo para trás, desviando por uma margem mínima.
— Ótimo desvio — comentou Douglas, impassível. — Vamos ver como lida com mais velocidade.
Antes que Bruce pudesse processar o aviso, Douglas estava diante dele novamente – dessa vez, mais rápido do que seus olhos podiam acompanhar.
“Impossível…” A palavra ecoou na mente de Bruce.
Um impacto ensurdecedor explodiu no acampamento. O soco de Douglas atingiu Bruce com uma força descomunal, lançando-o como um boneco de pano. O corpo do homem-lagarto voou através de três árvores, derrubando a última com um estrondo seco antes de parar.
Quando a poeira assentou, Bruce estava jogado no chão, sua mandíbula quebrada e aberta de maneira grotesca. Dentes ensanguentados estavam espalhados ao redor, formando um rastro de destruição que narrava silenciosamente o trajeto de seu corpo até ali.
Os outros homens-lagartos assistiam, atônitos. Aquele que julgavam ser um humano comum havia demolido um dos seus com apenas um golpe.
Os homens de Douglas, por outro lado, pareciam menos confiantes. O nervosismo era evidente em seus rostos. Estavam em território estrangeiro e temiam que a demonstração de força fosse interpretada como um ataque à raça inteira.
Bruce, caído em meio aos destroços, tentava inutilmente reunir seus sentidos. Um zumbido agudo enchia seus ouvidos, enquanto sua visão ficava cada vez mais turva. Ele piscou uma última vez antes que tudo fosse tomado pelo silêncio e pela escuridão.
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