Índice de Capítulo

    Dentro da caverna, o grupo de mercenários parecia preso em uma bolha sufocante de tensão. A missão fracassada significava não receber o pagamento, e o peso da incerteza sobre como enfrentariam as próximas semanas era quase palpável. Murmúrios de frustração e olhares acusatórios ecoavam nas paredes úmidas do lugar.

    Um dos homens, incapaz de suportar aquela atmosfera pesada, levantou-se abruptamente.

    — Preciso de ar. Isso aqui tá insuportável. — Ele murmurou, saindo sem esperar por aprovação.

    Os dois guardas postados na entrada da caverna acenaram brevemente, seus olhares fixos nos arredores sombrios.

    — Vai lá. Só não demora. — Um deles respondeu, seco.

    Assim que o homem avançou alguns passos para fora, algo cortou o ar com um silvo mortal. Uma flecha. Ele não teve tempo de gritar. O impacto brutal o fez tropeçar e cair de joelhos, as mãos instintivamente subindo até a garganta onde a ponta letal da flecha estava cravada. Um som gorgolejante escapou de seus lábios antes de ele desabar no chão.

    — Que merda é essa?! — Um dos guardas gritou, já puxando a espada.

    Mas antes que pudesse reagir, uma segunda flecha o encontrou, atravessando seu ombro. O outro conseguiu dar alguns passos para dentro da caverna antes de cair com um grito abafado, uma flecha alojada em suas costas.

    — ATAQUE! Estamos sendo atacados! — Ele berrou, sua voz carregando o eco da dor e do desespero.

    O caos explodiu dentro da caverna. Mercenários se levantaram às pressas, pegando armas e soltando maldições. Mas antes que qualquer um pudesse organizar uma defesa, o som pesado de madeira sendo arremessada ecoou pela entrada. Dois barris rolaram para dentro, seus tampos se partindo ao atingir o chão. Um líquido negro e viscoso espalhou-se rapidamente pelo chão, lambendo as botas dos homens mais próximos.

    — Isso é… óleo? — Um dos mercenários murmurou, confuso.

    Ele não teve tempo de pensar. Do lado de fora, três arqueiros apareceram, suas silhuetas destacadas pelas chamas nas pontas de suas flechas.

    — N-não! Esperem! — O homem gritou, mas já era tarde demais.

    As flechas foram disparadas. Ao tocarem o líquido no chão, o óleo pegou fogo instantaneamente. Chamas famintas correram pelo chão da caverna, engolindo tudo em seu caminho. Os gritos de dor começaram quase que imediatamente. Os mercenários atingidos pelo líquido tentaram desesperadamente apagar as chamas, mas o fogo não os perdoou.

    Os que não estavam em chamas correram para o fundo da caverna, seus olhos arregalados pelo pânico.

    — A saída de cima! Rápido, pelas escadas! — Alguém gritou, apontando para uma porta no final do corredor.

    Outro mercenário correu até o líder, tentando desesperadamente acordá-lo, enquanto o restante subia a escada de madeira improvisada que rangia sob o peso de tantos pés.

    Quando um dos homens alcançou a porta superior, parou subitamente. Um som agudo e irritante chamou sua atenção, um chiado que parecia vir de várias caixas empilhadas próximas à entrada.

    As chamas engoliram as caixas, e uma onda de fogo varreu a caverna. A bola de fogo cresceu com uma violência inacreditável, consumindo tudo e todos no caminho. Lá fora, a entrada da caverna explodiu em um espetáculo de chamas e destroços, enquanto o chão tremia como se a terra estivesse gritando de dor.— O que é isso…?! — Berco gritou, sua voz carregada de incredulidade enquanto seus olhos tentavam assimilar o que estava acontecendo.

    Da linha das árvores, onde ele e seus homens estavam posicionados, uma luz incandescente e brutal emergiu da entrada da caverna. Era como se o inferno tivesse se libertado de lá. O fogo, que inicialmente fora planejado para bloquear a saída principal e forçar os mercenários para um cerco controlado, agora tinha saído de controle. A explosão que seguiu varreu o local com uma força que ninguém tinha antecipado.

    A terra tremeu sob seus pés, e o eco ensurdecedor da explosão se misturou com os gritos de seus homens. A caverna, que antes era um abrigo sólido e imponente, começou a desmoronar, cuspindo rochas enormes e poeira no ar enquanto cedia ao próprio peso.

    Berco piscou, tentando focar novamente. O cenário diante dele era um caos absoluto. Três arqueiros, os mesmos que ele havia enviado para acender as flechas e iniciar o ataque, estavam no chão perto da entrada. Seus corpos estavam em chamas, os gritos cortando o ar com uma intensidade que fazia até os soldados mais endurecidos hesitarem. Eles rolavam na terra, tentando desesperadamente apagar o fogo que lambia suas roupas e carne.

    — Senhor… — Um soldado ao lado de Berco murmurou, a voz baixa e cheia de hesitação.

    Berco não respondeu de imediato. Ele estava preso em um momento de indecisão, os olhos fixos na caverna que agora ruía completamente. O som das pedras despencando era como trovões ecoando pela floresta, cada impacto um lembrete do poder destrutivo que ele não havia previsto.

    Ele fechou os punhos, sentindo a pressão crescer em seu peito. Havia planejado cada detalhe, mas o desdobramento fugia completamente do controle.

    — Vão até os feridos! Apaguem o fogo! Façam os outros cercarem o local! — Ele finalmente berrou, sua voz cortando o caos como uma lâmina. — Se houver sobreviventes, prendam-nos!

    — Certo! — Os soldados responderam em uníssono, movendo-se rapidamente para cumprir as ordens.

    Enquanto os homens corriam, carregando baldes improvisados de água e tentando salvar os arqueiros que ainda agonizavam, Berco permaneceu parado. Seus olhos, escuros e sombrios, estavam fixos na caverna. A poeira misturada com fumaça subia em colunas densas, como uma marca de destruição que alcançava o céu.

    “O que aconteceu?” Ele se perguntou, a dúvida cortando como uma lâmina em sua mente. Este não era o desfecho que esperava. Algo havia saído terrivelmente errado, e agora ele precisava descobrir o que.

    Seus olhos endureceram. Havia perdido homens, mas isso não significava que a missão estava terminada.

    ⧫⧫⧫

    O solo vibrou sob os pés de Bruce, um tremor súbito que parecia vir de muito longe, como um eco de algo monumental. Seus olhos se voltaram imediatamente para o leste, na direção da caverna onde os inimigos haviam se instalado.

    — Parece que aconteceu alguma coisa, Bruce. Devemos retornar? — perguntou um homem-lagarto próximo, a voz grave e carregada de preocupação.

    Bruce balançou a cabeça, firme. — Não, esperaremos aqui.

    O plano era claro: manter patrulhas em locais estratégicos ao redor da área. Ele e Berco acreditavam que os mercenários poderiam usar passagens subterrâneas para escapar. Por isso, espalharam os homens-lagartos em grupos de quatro, cobrindo posições diferentes para interceptar qualquer tentativa de fuga.

    Mesmo com o tremor e a ansiedade crescente, Bruce sabia que voltar agora seria abandonar toda a estratégia.

    “Será que mudar os planos agora seria a melhor escolha?” Ele ponderou, os olhos ainda fixos na direção da explosão distante. Mas antes que pudesse decidir, passos rápidos e pesados romperam o silêncio.

    — Bruce! Bruce!

    Um homem-lagarto surgiu das sombras, correndo com a espada em punho. O suor escorria pelo rosto escamado, e sua respiração estava pesada.

    — O que aconteceu? — Bruce perguntou, a tensão evidente em sua voz.

    — Alguns humanos escaparam! Eles saíram de um lago, são dois! Os outros ficaram para lutar e me mandaram vir te chamar.

    Bruce assentiu, satisfeito. Ele havia instruído os grupos a decorar sua posição para casos como esse.

    — Ótimo! Bom trabalho! — Um sorriso apareceu em seu rosto, a confiança renovada. — Passe a informação às equipes próximas e envie-os para o mesmo local! Onde estão os fugitivos?

    — Correndo em linha reta nessa direção. — O homem-lagarto apontou com a mão trêmula.

    — Certo! Vocês, venham comigo! — Bruce puxou suas duas adagas das bainhas e avançou em disparada.

    — Sim! — responderam os homens-lagartos, enquanto o mensageiro corria na direção oposta para alertar os outros grupos.

    O coração de Bruce martelava em seu peito, mas não era medo. Era excitação.

    “Esse é o meu primeiro combate real contra humanos… sem restrições, sem misericórdia. Quero ver. Quero ver o quanto ainda preciso crescer!”

    Eles atravessaram rapidamente a floresta, passando por árvores retorcidas e galhos baixos, até chegarem a uma clareira. No centro dela havia um lago profundo, a superfície espelhada perturbada pelos rastros dos fugitivos. Era claro que o lago estava conectado ao esconderijo subterrâneo.

    A cena à frente era de puro caos. Dois corpos de homens-lagartos jaziam no chão, as escamas tingidas de sangue e lama. Um terceiro ainda lutava bravamente, apesar dos cortes e hematomas que cobriam seu corpo. Ele se defendia contra dois humanos armados com espadas.

    Bruce não hesitou. Ele avançou, bloqueando um golpe que teria empalado seu aliado. Com precisão cirúrgica, desviou a lâmina para o lado e recuou. Sua equipe rapidamente puxou o homem-lagarto ferido para trás, afastando-o do perigo.

    — Esse aí é diferente… — comentou um dos humanos, um careca com expressão cínica e olhar afiado.

    — Sim, irmão… — murmurou o outro, os olhos analisando Bruce com cautela.

    Os dois estavam sujos, as roupas rasgadas e enegrecidas por marcas de queimadura. A água ainda escorria de seus trapos, evidenciando a fuga apressada pelo lago.

    Bruce ergueu as adagas, assumindo uma postura de combate. — Tenho ordens do capitão para capturá-los, se possível. Vocês se rendem?

    O careca riu com desprezo. — Corta essa, lagartixa. Dá pra ver na sua cara que tá louco pra trocar uns golpes com a gente.

    Bruce sorriu. Ele estava certo. A ideia de uma rendição pacífica era quase decepcionante. Finalmente tinha a chance de lutar em um combate real, e não queria que isso terminasse antes de começar.

    — Parece que percebeu… — Bruce disse, o sorriso agora carregado de empolgação. — Prazer, sou Bruce. Um guerreiro.

    — Não importa quem você é! Agora vai ser só mais um cadáver! — gritou o careca, avançando com um golpe rápido e preciso.

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