Capítulo 84 - A Próxima Missão da Ponto Escuro
Douglas subiu no púlpito erguido no amplo campo de treino da base da Ponto Escuro. O vento da manhã varria o espaço aberto, carregando consigo o leve tilintar das armaduras e murmúrios dispersos dos soldados reunidos.
Ele observou a multidão por um momento, deixando o peso da ocasião pairar no ar. Por fim, tossiu algumas vezes, sua voz rouca silenciando os presentes como uma trombeta antes da batalha.
— Atenção, todos vocês. — Sua voz ecoou, firme e grave. — Recebemos informações confiáveis de um de nossos informantes. A localização da base central e do depósito de drogas da organização mercenária Avat foi confirmada.
A reação foi imediata. Murmúrios e olhares tensos varreram a multidão. A simples menção de “Avat” carregava um peso colossal. Não era apenas uma organização criminosa qualquer; Avat era uma das três grandes potências mercenárias, uma força que rivalizava até mesmo com o prestígio que a Ponto Escuro já desfrutara em seu auge.
Douglas ergueu a mão, cortando o burburinho.
— Eu sei o que estão pensando. Eles estão no segundo lugar entre as grandes organizações, e isso os torna um alvo ainda mais desafiador. Mas lembrem-se, essa não é a primeira vez que uma força como a nossa enfrenta algo grandioso.
Ele fez uma pausa, deixando os olhos percorrerem os soldados. Muitos deles carregavam cicatrizes que eram testemunhas de batalhas passadas.
— Hoje, temos uma oportunidade de ouro. Podemos apagar de vez o nome Avat das páginas da história.
Douglas avançou um passo, sua voz tornando-se mais solene.
— Fiz um pedido formal ao rei, e nossa operação recebeu a permissão que precisávamos. Essa será uma missão longa, difícil e perigosa. Alguns de vocês não retornarão. — Ele apertou os punhos, e por um breve instante, seu semblante endurecido vacilou, deixando escapar a humanidade por trás do comando. — Mas para aqueles que têm coragem de lutar, saibam disto: se vencermos, o continente terá uma chance de paz que não vê há décadas.
Uma nova onda de silêncio caiu sobre os soldados. Douglas desceu do púlpito, sua presença quase magnética. Ele acenou para os comandantes e vices-comandantes designados, que se aproximaram com passos firmes.
Os líderes de cada grupo foram apresentados:
Primeiro Grupo
Comandante: Douglas Dorian
Vice-Comandante: Berco Dular
Segundo Grupo
Comandante: Igris Servent
Vice-Comandante: Syrus Dumond
Terceiro Grupo
Comandante: Tina Perry
Vice-Comandante: Subaru Barrios
Quarto Grupo
Comandante: Bruce
Vice-Comandante: Shayax
Os líderes reuniram-se em uma sala particular, iluminada por um sol tímido que se infiltrava pelas pequenas janelas. Mapas e estratégias já estavam dispostos sobre uma longa mesa de madeira, suas superfícies marcadas por anos de batalhas e reuniões de guerra.
Douglas apoiou as mãos na mesa, seus olhos varrendo o grupo.
Berco, o vice-comandante do Primeiro Grupo, inclinou-se, apontando para um ponto crítico no mapa.
— Este é o maior ponto de resistência. Avat não vai abrir mão disso facilmente.
O mapa estava estendido sobre a mesa de carvalho escurecida, suas bordas desgastadas pelo uso. Pequenos marcadores de metal delineavam os pontos de interesse, enquanto uma luz bruxuleante de lamparinas iluminava as expressões tensas dos comandantes reunidos.
Berco ergueu uma vareta fina, usada para apontar no mapa, e moveu-a de forma deliberada em um círculo ao redor da base inimiga marcada com tinta vermelha.
— O ataque será feito em todos os ângulos. — Sua voz era firme, como o som de uma espada sendo desembainhada. — Atacaremos com força total depois de iniciarmos os bombardeios à distância. Queremos causar o máximo de dano possível antes de avançar.
Um leve murmúrio percorreu a sala. O plano não era convencional, e isso não passou despercebido pelos presentes. Então, uma mão ergueu-se do outro lado da mesa. Todos os olhares voltaram-se para o comandante Igris, cuja postura altiva transparecia um misto de cautela e questionamento.
— Me desculpe, preciso perguntar. — Sua voz era polida, mas carregava uma ponta de desafio.
Berco inclinou ligeiramente a cabeça, indicando que prosseguisse.
— Hm? Diga, comandante Igris.
Igris cruzou os braços antes de continuar, seu olhar fixando-se momentaneamente em Bruce, o homem-lagarto que permanecia em silêncio no canto da sala.
— Essa foi a ideia que o homem-lagarto propôs, estou certo? Usar bombas para causar o máximo de dano possível e então atacar depois?
Os olhos de Bruce apertaram-se levemente, mas ele manteve-se em silêncio, como uma fera que ainda não sentia a necessidade de rugir. Berco, porém, respondeu sem hesitar.
— Isso mesmo. Foi uma sugestão que ele trouxe depois de conversarmos sobre a última missão. As bombas que explodiram a base dos nossos inimigos anteriores causaram estragos significativos. Bruce apenas perguntou se poderíamos replicar a tática, e eu considerei a ideia válida.
Igris não disfarçou o desdém em seu olhar, que vagou de Bruce para os outros comandantes na sala.
— Ah, entendo. Mas não estamos sendo precipitados ao adotar tal estratégia? — Ele estreitou os olhos, sua voz transbordando ceticismo.
— Por que acha isso? — Perguntou Tina, cujo tom cortante indicava que ela não era do tipo que apreciava discursos vagos.
— Oras, a base dos mercenários fica dentro do território do reino de Camelot. Utilizar bombas dessa magnitude em solo estrangeiro não seria arriscado? Ainda mais considerando que esse ataque será secreto e que não pedimos permissão formal para entrar no território deles.
— Como? Isso é verdade? — Subaru inclinou-se para a frente, sua expressão traindo uma mistura de surpresa e preocupação. — Então estamos invadindo um território que não nos pertence?
Berco ergueu a mão em um gesto para acalmá-los, sua voz assumindo um tom quase professoral.
— Acalme-se. Isso já foi discutido com o rei. Claro, como apontou o comandante Igris, não enviamos um pedido formal de autorização. Mas não o fizemos para garantir que não haja vazamentos que comprometam nossa missão.
Tina franziu o cenho, cruzando os braços.
— Você quer dizer que não corremos o risco de alguém entregar nossos planos à Avat.
Berco assentiu, seus olhos avaliando cada rosto na mesa.
— Exatamente. Quanto menos pessoas souberem, melhor. Foi por isso que nós mantivemos todos os detalhes em segredo até hoje. Nem mesmo nossos soldados sabiam da natureza da missão. Apenas avisamos que haveria uma operação, e todos ficaram confinados até a hora do ataque. Mesmo que houvesse um traidor entre nós, ninguém teria tempo ou meios de vazar informações.
Subaru tamborilou os dedos na mesa antes de perguntar:
— Quantas pessoas sabem dos detalhes até agora?
Douglas, que até então permanecera em silêncio, ajeitou-se em sua cadeira de madeira robusta. Com as pernas cruzadas e um olhar penetrante, ele finalmente falou, sua voz soando como o retumbar de um trovão distante.
— Apenas eu, o rei e, agora, todos vocês. — Ele fez uma pausa, deixando o peso de suas palavras pairar no ar. — Ou seja, é impossível que nossos inimigos estejam preparados para isso.
— E quanto ao informante? — Questionou Igris, o cenho franzido em desconfiança.
Douglas inclinou-se para a frente, apoiando os braços na mesa.
— Nosso informante permanece no anonimato. Ele nunca dá as caras, mas suas informações sempre se provaram infalíveis. Entendo que isso possa incomodá-los, mas confiem em mim. Caso contrário… — Ele não precisou terminar a frase. Todos ali sabiam o que estava implícito. Douglas era um homem de palavra, e se estivesse errado, pagaria com o próprio corpo, literalmente.
Douglas sabia que a informação era precisa. O informante havia provado sua confiabilidade antes, oferecendo dados cruciais que, no passado, permitiram ao rei forçar o líder da guilda de aventureiros a se juntar às fileiras do exército real. Um movimento arriscado, mas brilhante, que culminou em um triunfo político e militar.
Douglas não apenas confiava nesse misterioso aliado; ele apostava sua própria reputação na fidelidade daquelas palavras.
Com um gesto firme, ele indicou que Berco deveria continuar. O vice-comandante não conseguiu esconder o ligeiro descontentamento. Apesar de sua posição, não conseguia evocar a mesma presença magnética de Douglas, que silenciava a sala apenas com um olhar.
— Então, prosseguindo… — Berco recomeçou, a voz mais controlada, mas ainda marcada por uma nota de irritação contida. — Depois do ataque das bombas, invadiremos com todas as nossas forças ao mesmo tempo.
Ele pegou a vareta usada para apontar no mapa e traçou uma linha em direção ao centro da base adversária.
— Pelas informações obtidas, a estrutura principal deles é subterrânea, mais do que imaginávamos. Apesar disso, a parte superior não é apenas fachada; há defesas robustas. Nossa abordagem será dupla: enquanto usamos os explosivos para abrir buracos no solo, também iniciaremos o ataque direto na superfície. Isso nos permitirá criar distrações e dividir as forças deles.
Shayax, que até então permanecia em silêncio, não conteve sua empolgação.
— Entendi! O som das bombas na superfície vai mascarar as explosões subterrâneas, certo? Assim eles não perceberão que estamos os cercando também por baixo!
Todos os olhares se voltaram para ele, alguns com reprovação pela interrupção, outros com curiosidade. Percebendo a situação, Shayax tentou se retrair.
— Ah… er… desculpem.
Berco, no entanto, balançou a cabeça, esboçando um sorriso leve.
— Não precisa se desculpar. É exatamente isso. Vamos usar a confiança deles na aparente invulnerabilidade da base superior contra eles mesmos. No entanto, temos um problema maior. — Ele bateu com a vareta no mapa, exatamente onde acreditava que estavam as entradas subterrâneas. — Não temos um mapa completo dos túneis. Não sabemos onde cada passagem leva ou como estão organizadas. A solução será improvisar, detonando pontos estratégicos e movendo-nos para o norte, sempre em direção à estrutura central.
Tina franziu o cenho, mas assentiu devagar.
— E se encontrarmos resistência pesada nos túneis? Eles podem ter armadilhas ou mesmo reforços subterrâneos.
Douglas finalmente quebrou o silêncio. Sua voz era baixa, mas carregava uma autoridade inquestionável.
— Eles terão resistência, Tina. Mas o objetivo aqui é forçá-los ao caos. Quando desestruturarmos as linhas superiores e inferiores ao mesmo tempo, a cadeia de comando deles se fragmentará. Nesse ponto, a vantagem será nossa. A confiança deles em sua base subterrânea será sua ruína.
Subaru inclinou-se para frente, cruzando os braços.
— Não podemos nos esquecer do tempo. Um ataque tão coordenado requer sincronia perfeita. E se perdermos essa precisão, estaremos lutando em desvantagem.
Berco assentiu.
— Por isso, cada grupo terá um mensageiro dedicado para transmitir sinais entre as equipes. Usaremos pólvora colorida para indicar progresso ou problemas. Se algo sair errado, todos devem reagir conforme o plano de contingência que discutiremos a seguir.
Os comandantes trocaram olhares. A tensão na sala era palpável, mas também havia uma determinação inabalável. Todos sabiam o peso daquela missão. Não era apenas uma operação militar; era a chance de mudar o curso da guerra contra as maiores organizações criminosas do continente.
Douglas se levantou, encerrando a reunião com palavras que soaram como um juramento.
— Esta não é apenas uma batalha contra a Avat. É uma batalha para provar que a Ponto Escuro ainda é uma força a ser temida. Preparem seus homens. Hoje, o inferno descerá sobre eles.
E assim, a campanha contra os Avat teve início, marcada por um silêncio carregado de expectativas e o rugido de uma tempestade iminente.
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