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    Berco, que permanecera quieto até então, cruzou os braços e sorriu levemente.

    — Era a única jogada possível para o reino dos elfos, se pararmos para pensar. A decisão foi tomada com extrema rapidez, logo após a morte de um dos maiores heróis de seu povo. Quem quer que tenha articulado isso merece reconhecimento pela sagacidade.

    Shayax piscou, confuso.

    — Do que vocês estão falando?

    Bruce e Ibri trocaram olhares, também sem entender muito bem o ponto da conversa. 

    Berco cruzou os braços, sua expressão refletia o peso de uma análise cuidadosa. Com um tom meticuloso e calculista, começou a falar.

    — É bastante simples. Richard Ravens era muito mais do que um paladino. Ele era a muralha viva que separava o Reino dos Elfos dos perigos externos. Uma armadura intransponível, uma proteção quase divina que permitiu que o reino prosperasse e crescesse sem receios. Agora, com sua morte, eles se encontram vulneráveis, expostos como um corpo sem armadura diante de lâminas inimigas. Perder Richard Ravens não foi apenas uma tragédia pessoal, mas um golpe no equilíbrio de poder entre os reinos. O Reino dos Elfos precisa reagir rápido para evitar que sua perda se torne uma oportunidade para seus inimigos. É por isso que convocaram a reunião com tamanha urgência. Provavelmente, buscarão convencer os reinos humanos a permitir que formem novos cavaleiros sagrados, paladinos que possam preencher a lacuna deixada por Richard.

    As palavras de Berco pairaram no ar, e Bruce franziu a testa, sua mente ainda processando o que havia sido dito.

    — Mas qual é a importância real de um título? — indagou ele, sua voz carregada de incredulidade. — Se a pessoa não for capaz de manter o legado, de que adianta ostentar um nome vazio?

    Ele já havia testemunhado a força de um verdadeiro paladino. Axis, uma guerreira, provava que títulos eram apenas palavras quando não acompanhados de poder real. Para ele, nomeações vazias não significavam nada.

    Vick sorriu de lado, como se já esperasse aquela reação.

    — Mas é exatamente aí que você se engana, Bruce.

    O homem-lagarto ergueu uma sobrancelha, curioso.

    — Me engano?

    — O título de paladino não é apenas um rótulo — explicou Vick, sua voz carregada de experiência. — O simples fato de um reino ter um grande número de guerreiros com esse título já basta para incutir medo e respeito. Mercenários, criminosos e todo tipo de escória como eu pensam duas vezes antes de provocar problemas em um território protegido por muitos paladinos. Eu vivi muito tempo como mercenário e, durante minha carreira, jamais considerei a possibilidade de me envolver com qualquer coisa ilícita no Reino dos Elfos. Por quê? Por causa de Richard Ravens. Sua presença, sua reputação, sua lenda… tudo isso era suficiente para manter indivíduos como eu afastados.

    Bruce refletiu por um instante antes de murmurar:

    — Então… o título é mais importante pelo que representa do que pela força em si.

    Vick assentiu.

    — Exato. Ele simboliza poder e ordem. Mesmo que os novos paladinos não sejam tão fortes quanto Richard, sua mera existência já será um escudo contra possíveis ameaças.

    Bruce trocou um olhar com seus companheiros homens-lagartos. A complexidade da política ainda era difícil para eles compreenderem plenamente, mas estavam se esforçando para acompanhar a conversa, formulando perguntas para esclarecer suas dúvidas.

    Sigurd, foi o próximo a falar:

    — Mas por que é a princesa que vai à reunião e não o rei?

    Douglas, que havia observado o desenrolar da conversa em silêncio, respondeu de imediato:

    — O rei tem inúmeros deveres a cumprir. E, mais do que isso, a princesa já é vista por muitos como a regente do reino. Ela lida com grande parte dos assuntos diplomáticos e administrativos, sendo o braço direito de seu pai nesses assuntos. O rei confia plenamente em sua filha, e é por isso que a está enviando para o Reino dos Elfos em seu lugar.

    A explicação de Douglas fez sentido para todos na sala, e ninguém contestou.

    — Agora, voltando ao ponto principal… — continuou Douglas, endireitando-se. — Nossa missão será escoltar a princesa Maria até o Reino dos Elfos para essa conferência emergencial. O grupo será composto por cinquenta soldados. Além disso, Tina liderará um grupo também. Já a informei antecipadamente. Os comandantes da missão serão Shayax, Ibri, Tina, Vick e Sigurd.

    Enquanto a mim e Bruce, senhor? — indagou Berco, mantendo um tom respeitoso, embora houvesse uma fagulha de expectativa em sua voz.

    Douglas pousou o olhar sobre ele e assentiu com seriedade. 

    — Vocês dois, junto de mim, formarão a comitiva especial que escoltará a princesa de perto. Nossa missão será permanecer ao seu lado durante toda a viagem, garantindo sua segurança até o retorno ao reino. Além de nós três, teremos também a presença do elfo mensageiro que nos trouxe a notícia e o guarda pessoal da princesa.

    Berco cruzou os braços, deixando escapar um sorriso satisfeito. 

    — Isso é uma grande honra… fazer parte da escolta da princesa em uma missão tão importante…

    Bruce, por sua vez, franziu a testa em reflexão e ergueu uma das mãos. 

    — Deixe-me ver se entendi. Se houver um ataque contra a princesa…

    Douglas o interrompeu antes que pudesse terminar. 

    — Você, eu e Berco não participaremos do combate direto.

    Bruce bufou, demonstrando sua frustração. Era evidente que desejava testar suas habilidades e aperfeiçoar seu novo estilo de luta em uma situação real. No entanto, Douglas permaneceu firme. 

    — Entendo sua impaciência, Bruce. Sei que está ansioso para colocar seu treinamento em prática. Mas escolhi vocês para esta missão por razões muito específicas.

    Ele fez uma pausa, deixando o peso de suas palavras se estabelecer na mente de seus companheiros antes de prosseguir. 

    — Bruce, você conseguiu dominar aquilo, não?

    O homem-lagarto ergueu o olhar e um sorriso se formou em seu rosto. 

    — Sim, com certeza.

    Douglas assentiu. Ele já sabia da resposta, pois Axis havia lhe confidenciado que Bruce finalmente havia dominado sua benção. Ainda assim, queria ouvir da própria boca dele. 

    — Ótimo. Contava com isso. Se a situação exigir, precisarei que a use para proteger a princesa. Você será nossa carta na manga, Bruce.

    O guerreiro lagarto curvou levemente a cabeça em reconhecimento. 

    — Pode contar comigo.

    A reunião prosseguiu por mais algumas horas. Mapas foram abertos sobre a grande mesa de carvalho, estratégias foram discutidas e contingências foram traçadas para cada eventualidade que poderiam enfrentar na jornada. 

    Com os planos traçados e as ordens distribuídas, os comandantes se dispersaram para preparar suas respectivas tropas. Douglas, Berco e Bruce, no entanto, permaneceram um pouco mais, cientes de que suas funções na missão não terminariam com a simples organização dos soldados. 

    Eles estavam prestes a embarcar em uma jornada que poderia definir o futuro da diplomacia entre os reinos.

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