Índice de Capítulo

    Caminharam lado a lado até a barraca, misturando-se à multidão que já começava a se reunir. O cheiro de massa assada e ervas pairava no ar, e risadas enchiam as ruas. Mesmo assim, Sira se pegou inquieta. Não sabia bem como conduzir um encontro, nem mesmo se aquilo poderia ser considerado um.

    — Esse evento de aniversário é bastante… festivo. — Nathaniel quebrou o silêncio, sua voz soando deliberadamente casual.

    — Ah, sim. As pessoas daqui levam a sério essa celebração. Acho que amam morar aqui. — Sira respondeu, aliviada pela tentativa de conversa.

    — E você? Também leva a sério?

    Ela hesitou.

    — Não sou exatamente daqui… quero dizer, sou, mas não há tanto tempo quanto eles.

    Nathaniel inclinou levemente a cabeça.

    — Entendo. Há quanto tempo está aqui?

    — Alguns meses… Meu avô não queria mais cuidar de mim.

    A expressão do homem mascarado não mudou, mas sua voz carregou um peso diferente ao perguntar:

    — Ele… te abandonou?

    Sira percebeu a leve melancolia em sua entonação e se apressou em corrigir:

    — Não, não! Eu que fiz besteira… Viajávamos juntos, mas me tornei um risco para ele. Ele me trouxe até aqui e pediu a um amigo para cuidar de mim. Desde então, estou no vilarejo.

    Nathaniel assentiu lentamente, voltando os olhos para o céu azul. Por um momento, apenas o barulho das celebrações ao redor os envolveu.

    — Isso é bom. Ao menos pode ficar em um lugar tranquilo como este. — Sua voz estava distante, como se falasse mais para si mesmo do que para ela.

    Sira o observou de soslaio.

    — Você também não é daqui, não é? As pessoas da biblioteca disseram que você apareceu por lá alguns meses antes de mim.

    — Isso mesmo. Minha terra natal não é essa. Mas, por algumas razões… precisei morar aqui por um tempo.

    Ela franziu o cenho.

    — E pretende ficar muito tempo?

    — Apenas até encontrar uma maneira de continuar. — respondeu ele, enigmático.

    — Continuar com o quê?

    Nathaniel olhou para ela, e mesmo com a máscara ocultando parte de sua face, Sira sentiu um arrepio ao perceber que a resposta não viria tão facilmente.

    — Com meu avanço. — disse ele, e o tom de sua voz não deixava dúvidas: havia muito mais por trás dessas palavras do que Sira poderia imaginar.

    ⧫⧫⧫

    Tiko passou a manhã ao lado de Sira, uma jovem de olhar curioso e sorriso estranho que o havia convidado para um passeio. Desde o início, ele manteve sua guarda alta, desconfiado de suas intenções. 

    Suas palavras eram medidas, e cada resposta vinha revestida de prudência, pois, se a garota suspeitava de algo, não daria a ela nenhuma pista sobre sua verdadeira identidade. 

    No entanto, à medida que o tempo avançava, percebeu que Sira não parecia ter segundas intenções. Seu jeito era genuíno, natural, e, ao que tudo indicava, ela era apenas uma habitante comum daquela vila. Mesmo assim, confiar não era algo que Tiko fazia facilmente.

    Seu nome verdadeiro jamais seria revelado, e por isso já havia escolhido um nome falso para usar naquele lugar: Nathaniel. Era um nome que ele achou elegante, e ao longo da manhã, acostumou-se a ser chamado assim. 

    O tempo passou rápido entre conversas descontraídas, petiscos consumidos em pequenas barracas e jogos simples que testavam destreza e reflexos. Sira demonstrava uma habilidade impressionante, sua destreza era notável, e Tiko não pôde evitar sentir um certo incômodo com isso. Seria ela realmente uma pessoa comum? Ou havia algo por trás daquela leveza e precisão em seus movimentos? Suas suspeitas, antes adormecidas, voltaram a pulsar, como um instinto de sobrevivência prestes a soar um alarme.

    Enquanto andavam, uma outra jovem surgiu no caminho. Sira abriu um sorriso ao vê-la e fez as apresentações.

    — Essa é Mirel, uma amiga minha. — disse Sira, com naturalidade.

    Tiko trocou poucas palavras com a recém-chegada. Mirel tinha um ar confiante e exibia um brilho especial nos olhos ao falar.

    — Onde está seu par? — perguntou Sira.

    — Ele precisou resolver algo, mas me disse para esperá-lo. — Mirel ergueu o queixo, orgulhosa. — Mas não importa onde eu esteja, ele vai me encontrar. Afinal, sou muito brilhante e única, impossível de ignorar. — completou, radiante.

    As palavras dela eram carregadas de um orgulho infantil, como alguém que se delicia com os elogios que recebe. Mas então seus olhos se iluminaram ao enxergar uma figura à distância.

    — Ah! Ali está ele! — apontou para um homem que se destacava entre a multidão.

    Tiko acompanhou seu olhar e logo encontrou o sujeito. O homem exibia um porte refinado, vestia trajes sociais impecáveis e mantinha os cabelos penteados para trás. Seus movimentos eram elegantes, precisos, dignos de alguém de alto status. Se não fosse pelo ambiente festivo, ele poderia facilmente ser confundido com um cavaleiro de uma ordem sagrada.

    Mirel se adiantou, caminhando na direção dele. O homem, por sua vez, segurava duas taças de bebida e, ao ver a garota, entregou-lhe uma. O rosto de Mirel se iluminou em felicidade. Em seguida, ela apontou para Tiko e Sira, chamando-os para se aproximarem.

    Quando Tiko finalmente viu o rosto do homem, um arrepio percorreu sua espinha. Seu estômago se revirou em um desconforto nauseante.

    Era ele. Kurin.

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