Capítulo 98 - O Começo da Viagem
Berco foi o primeiro a inclinar a cabeça respeitosamente. Bruce seguiu o gesto logo depois.
Turk, por sua vez, apenas os observava, como se analisasse cada um deles. Seus olhos pareciam ver além da pele, além das palavras ditas.
A viagem estava prestes a começar, e a tensão no ar era palpável.
Douglas deu um passo à frente, pousando a mão firme sobre o ombro de um dos soldados ao seu lado. Sua voz soou clara e resoluta ao fazer a apresentação.
— Este é Berco, meu homem de maior confiança e segundo no comando da Ponto Escuro.
Berco, curvou-se levemente diante da princesa com um sorriso discreto. Seus olhos.
— É uma honra conhecê-la pessoalmente, Princesa Maria. — Sua voz firme, mas educada.
A jovem princesa ergueu o queixo de leve e sorriu, seu olhar atento recaindo sobre o homem.
— Obrigada, senhor Berco. O prazer é meu. — Sua voz carregava uma confiança que parecia maior do que sua idade sugeria. — Douglas já me falou muito sobre você.
Berco arqueou uma sobrancelha e lançou um olhar surpreso para seu comandante, que simplesmente retribuiu com um sorriso enigmático.
— Espero que tenham sido coisas boas, Alteza.
— Com toda certeza foram! — respondeu ela com convicção, fechando os pequenos punhos sobre a saia do vestido. — Senhor Douglas é um homem muito íntegro!
Berco reprimiu uma risada, mas não conseguiu evitar encarar Douglas novamente. O comandante coçou a cabeça, um leve rubor no rosto, antes de resmungar, quase para si mesmo:
— O pai dela me superestima muito na frente de sua filha… Eu gostaria que o Rei não elevasse tanto assim a minha moral.
A conversa poderia ter se alongado, mas Douglas logo voltou sua atenção ao próximo membro daã escolta.
— E este aqui… — Sua voz assumiu um tom levemente mais imponente. — É Bruce, o homem-lagarto.
O grande guerreiro deu um passo à frente, abaixando a cabeça em um gesto de reverência rápida, mas respeitosa. Sua pele escamosa reluzia levemente sob o sol, e seus olhos reptilianos analisavam a princesa com cuidado, tentando compreender a jovem que ele deveria proteger.
— É uma honra conhecê-la, Princesa Maria.
Maria arregalou os olhos, maravilhada com a figura imponente à sua frente.
— Uau… você é muito alto!
Bruce piscou, surpreso pela reação dela. Seus músculos se enrijeceram por um breve instante, incerto se deveria considerar aquilo um elogio ou apenas um comentário impulsivo. Após um momento de hesitação, ele respondeu da forma mais segura que conseguiu:
— Hm… ah… obrigado, senhorita. É muito gentil… eu acho.
Maria riu suavemente. Não havia medo em seus olhos, apenas curiosidade e fascínio.
— Espero que possamos ter uma ótima viagem juntos!
Bruce assentiu.
— Penso o mesmo, Alteza.
Com as apresentações concluídas, a jovem princesa tomou a dianteira, endireitando-se com um ar de realeza. Seu olhar percorreu os rostos dos soldados à sua frente antes de finalmente declarar:
— Já que todos se apresentaram, devo fazer o mesmo. Eu sou a princesa Maria, e é uma honra conhecê-los. Espero que possam cuidar bem de mim nesta jornada.
Ela então indicou o jovem que permanecera silencioso ao seu lado durante toda a conversa. Seu porte era rígido e disciplinado, e mesmo sem a armadura reluzente que vestia, ficaria claro que era um cavaleiro de linhagem diferente dos soldados comuns.
— Este aqui é Sven, meu soldado de maior confiança e meu guarda pessoal.
Assim que seu nome foi mencionado, Sven avançou um passo e fez uma reverência impecável de cavaleiro sagrado. Uma mão sobre o punho da espada, a outra pousada sobre o peito da armadura reluzente.
— É um prazer conhecê-los, membros da Ponto Escuro. Meu nome é Sven.
Havia algo de impressionante naquele jovem. Embora ainda não tivesse a experiência dos veteranos da Ponto Escuro, havia determinação em sua postura e algo inabalável em seu olhar. Seu nome já era conhecido entre os soldados que acompanhavam a princesa.
Sven não nascera nobre, nem sequer era filho de um cavaleiro. Seu sangue era plebeu, sua infância marcada pela luta contra a fome e a miséria.
Ainda assim, ele se ergueu acima de muitos nobres ao conquistar, com esforço próprio, o direito de participar dos testes para a guarda da princesa. Muitos haviam tentado. A maioria falhou. Sven, contra todas as probabilidades, conseguiu.
Mas a missão que lhe fora dada era de risco mortal. Ao aceitar o dever de proteger a princesa Maria, ele também aceitava a consequência de um possível fracasso. Se ela morresse sob sua proteção, sua própria vida seria ceifada como punição.
Mesmo assim, ele aceitara sem hesitar. Para Sven, ser o escudo da princesa era a maior honra que poderia receber.
Enquanto ele permanecia imóvel após sua saudação, Bruce estudou o jovem por um momento. Sven não demonstrava medo ou nervosismo. Talvez soubesse que os guerreiros ao seu redor eram mais fortes e experientes do que ele, mas ainda assim, permanecia firme.
Um jovem cavaleiro de coração inquebrantável.
A carruagem partiu sem demora, avançando com suavidade pelo caminho sinuoso que se estendia além dos portões do castelo. Era um veículo espaçoso, feito para longas viagens, com estofados confortáveis e cortinas grossas que protegiam o interior da luz do sol. O ar carregava o cheiro da madeira encerada e do couro recém-tratado. O elfo, que os acompanhava na jornada, não parecia inclinado à conversa. Após uma saudação breve e discreta, acomodou-se em silêncio, contemplando a paisagem pela janela.
Os assentos dispunham-se de frente uns para os outros. No lado direito, junto à janela, sentava-se a princesa Maria, os dedos delicados tamborilando sobre o colo. Ao seu lado, com a postura impecável de um cavaleiro em serviço, estava Sven, seu protetor e guarda pessoal. No canto oposto, Douglas, o comandante da Ponto Escuro, repousava os braços sobre os joelhos, sua expressão fechada, mas atenta. De frente para eles, Bruce, o imponente guerreiro homem-lagarto, ocupava o centro do banco oposto. À sua direita, Berco, veterano e segundo no comando da companhia, mantinha um olhar observador. Turk, um dos mais experientes rastreadores do grupo, estava à esquerda, a lâmina curta presa ao cinto e os olhos semicerrados, como se ponderasse sobre algo distante.
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