Capítulo 131 - Obscuro
Fernando achou a pergunta do elfo estranha, mas não havia motivos para esconder isso.
“Eu comprei numa loja velha. Como ninguém queria comprar isso, o dono me deu um desconto razoável.” Ele respondeu sem expressão.
Ao ouvir isso, tanto Helian quanto Avic arregalaram os olhos espantados. Mesmo Theodora ficou surpresa, ela havia pensado que essa armadura era um presente da Tenente Gallia para Fernando.
“Vocês humanos tolos! Uma armadura de um Svartalfar sendo vendida com desconto??! Que tipo de piada é essa?” Helian falou nervosamente.
O que eles não sabiam é que para humanos, essas armaduras traziam poucos benefícios, por isso mesmo que sejam altamente valorizadas entre os Elfos Negros, não necessáriamente teria o mesmo valor nas mãos de sua contraparte.
Fernando não entendeu porque esse elfo estava fazendo tanto alarde por essa armadura quebrada.
“De que adianta falar tanto sobre? Ela já está completamente danificada, provavelmente vou ter que jogá-la fora…” Fernando falou, ao levantar os braços e olhar os buracos na região das costelas feitas por Bob William´s.
Todos os três ficaram de bocas abertas ao ouvirem isso.
“Lider… Mesmo eu ja ouvi sobre armaduras de Svartalfar… Você pode consertá-las facilmente usando mana, basta inserir mana suficiente e ela irá se regenerar aos poucos.” Theodora explicou.
Fernando estava sem palavras com essa informação, isso significava que a Armadura Negra Kinfar poderia ser restaurada!
Ele ficou contente ao saber disso, afinal ele gastou algumas centenas de moedas de prata nela. Porém, o mais importante, seria perder os efeitos de incremento de regeneração natural de mana, sempre que pensava nisso, o coração dele doía.
Avic e Helian ficaram surpresos ao ouvirem isso, essa mulher sabia muita coisa.
Os olhos de Helian brilharam levemente, então sua expressão mudou.
“Bem que eu estranhei seus movimentos estranhos e sua furtividade, você é uma maldita Medusa. Por isso sabe tanto, escória! Mesmo com um sangue nobre correndo em suas veias, você baixa sua cabeça para humanos.” Helian falou com um rosto enojado, cheio de desprezo.
Ao ouvir isso, o rosto de Fernando ficou frio. Então sua mão se incendiou, aparecendo duas Flechas de Fogo
“Se falar de um dos meus companheiros nesse tom novamente, vou queimar essa língua suja.”
Helian ficou sem palavras ao ver a atitude desse jovem, ele ficou irritado por causa da Medusa? Por que um humano teria apreço por uma mestiça? Até onde ele sabia os humanos as odiavam.
Theodora que ouviu isso, sorriu levemente. Mesmo sabendo que Fernando não a defendia por algum afeto emocional ou algo do tipo, mas pelo seu jeito de ser. Ainda sim, ela se sentiu bem.
Depois desse interlúdio, os quatro ficaram em silêncio por um tempo.
“Diga, se seu pai é tão forte quanto afirma ser, por que ele não ataca Vento Amarelo?” Fernando perguntou curioso.
Helian bufou em ridículo ao ouvir isso.
“Você é idiota? Nós Elfos Negros somos muito mais fortes que vocês humanos, então aniquilar uma, dua ou três Legiões suas pode ser feito, mas vocês são tão numerosos quanto insetos. Uma hora seríamos afogados por seus números. Não vale a pena.”
Fernando ouviu isso e finalmente entendeu. Havia um frágil equilíbrio no Norte, os Elfos Negros não atacavam porque sabiam que perderiam numa guerra de resistencia. No caso dos humanos, nenhuma das legiões humanas estava disposta a ser a bucha de canhão que atacaria primeiro.
“Nesse caso, porque continuam atacando tropas humanas e fazendo o que fazem com lugares como a Vila Lunar?”
“Humph! Você fala como se fôssemos os errados aqui. Se não matarmos as tropas que invadem as proximidades de nossos territórios, vocês continuariam criando habitações e ocupando espaço. Pouco a pouco tomando nosso território, assim como fizeram no passado!” O elfo fez uma pausa, como se estivesse tentando se acalmar.
“Originalmente todas as terras aqui pertenciam aos Elfos Negros, mas depois de anos de conflitos com vocês humanos, fomos obrigados a recuar. Então fizemos das Montanhas MortHar nossa linha final de defesa. Mesmo pagando um preço de sangue, dizimamos muitas das suas legiões na última grande guerra.”
Fernando estava surpreso. Ele havia ouvido uma história parecida do Velho Papi, mas na época não levou nada daquilo a sério.
“Não pense que nós não sabemos das intenções das Legiões Humanas, banhar com sangue uma vila humana frágil como aquela é tão facil quanto respirar. Vocês também sabem disso, então usam vilas como aquelas como iscas para criar conflitos. Se varremos vilas ou cidades humanas, as legiões terão ‘desculpas’ para se unirem contra nós. Não vamos cair nesses truques sujos.”
Ouvindo isso, Fernando não tinha o que responder. Mesmo ele já percebeu que havia algo de errado com o posicionamento que o Salão da Recepção deu a essa vila. A falta de assistência contínua, uma vila só com cidadãos. Estava tão claro quanto o dia que eles nunca planejaram que essa vila sobrevivesse.
“Bem… Parece que nenhum dos dois lados é santo.” Fernando murmurou. Política não era seu forte, mas mesmo ele entendia que havia ambições e maquinações por trás dos panos.
Não importa em qual mundo fosse, os ricos e poderosos sempre abusavam do poder e os mais fracos e pobres sempre sofriam. Fernando rangeu os dentes ao pensar nisso, pois ele próprio já passou por isso
Helian ficou surpreso com esse humano, ele pareceu admitir que estavam errados. O que era algo incomum.
“E pare de me chamar de humano isso, humano aquilo, isso é irritante. Meu nome é Fernando, Fernando Nobrega.”
O elfo Helian ficou em silêncio, tentando entender o que esse jovem rapaz humano pretendia.
Algumas horas depois, os primeiros raios de sol começaram a surgir no horizonte. Fernando logo ordenou que Theodora acordasse todos.
No fim, ambos os elfos caíram no sono durante a noite, mas rapidamente acordaram ao ouvir a movimentação do acampamento humano.
“Como eu fui descuidado. Dormindo enquanto sou refém de humanos.” Helian disse, sem acreditar que havia baixado tanto a guarda.
“Senhor… Me desculpe, eu também acabei dormindo quando o vi cochilar…” Avic se desculpou.
Assim que todos estavam acordados e se preparando para partir, Karol e os outros foram checar o estado de Tom. Ele ainda dormia, mas seu rosto que outrora estava pálido, tinha uma coloração muito mais saudável.
“Como eu sou patética, acabei deixando o cansaço me dominar e fui dormir. Se algo tivesse acontecido com o Tom…” Karol falou se culpando.
“Quanto a isso, não tem com o que se preocupar, o líder veio várias vezes durante a noite checar como ele estava.” Theodora falou ao lado.
Karol ficou surpresa, Fernando sempre agia como se fosse calmo e racional, mas no fundo ele sempre era o mais emocional de todos.
É a cara dele. Ela pensou sorrindo.
O grupo partiu depois de comerem. Mesmo que tivessem descansado por algumas horas, todos ainda estavam visivelmente esgotados, não era algo que duas ou três horas de sono poderia consertar.
Talvez depois de dormirem e se acalmarem, o clima pareceu mudar, não havia mais aquele sentimento de medo e pavor de serem perseguidos. Então eles avançaram com cautela, seguindo a trilha que fizeram no dia anterior.
A expressão de muitos deles mudou ao perceberem o local que estavam se aproximando.
Louisa fez uma cara de remorso, Archie que estava ao seu lado a consolou. Ugo não conseguiu evitar derramar algumas lágrimas ao se lembrar de Kel.
Ja Leo, Hannah e mesmo Theodora, tinham expressões complicadas, foi aqui que sua antiga companheira, Natalia, caiu.
Cintia e Lina também não apreciam muito bem, mesmo que tivessem passado pouco tempo com Jay, ainda se sentiam mal por ele.
Os elfos notaram o comportamento estranho do grupo, mas não disseram nada. Não era algo da sua conta afinal.
O grupo parou em frente a um amontoado de pedras, era aqui que seus companheiros caídos descansavam. Depois de observarem o local por algum tempo, seguiram em frente.
Enquanto andavam, Fernando franziu a testa. O local que estavam se aproximando era onde eles haviam matado Bob William´s e seus homens.
“Devemos dar a volta? E se ainda tiver bestas por aqui?” Emily perguntou em direção a Fernando.
“Não deveria ter, quando perceberam que não havia mais corpos, as criaturas devem ter brigado entre si. No máximo os vencedores assumiram a região como seu território.” Simon explicou, como um ex-guia experiente, ele entendia muito bem do comportamento de criaturas selvagens.
“Vamos em frente!” Fernando não queria perder tempo circulando o lugar. Quanto antes chegassem perto de Vento Amarelo, mais rápidamente estariam seguros.
Quando o grupo estava próximo do outrora acampamento que foi palco da primeira batalha real do Esquadrão Zero, eles pararam de repente.
“O que houve? Vamos embora de uma vez.” Louisa questionou, o lugar só trazia memórias ruins a ela e seus amigos. Ficar nesse lugar só causava-lhes remorso.
“Vocês não sentiram nada de estranho?” Simon perguntou com um rosto sério.
Fernando não tinha muita certeza do que era, mas ele também não se sentia à vontade.
“A temperatura, sinto que caiu pelo menos uns 5°C. E parece que continua a cair.” Simon explicou.
Os dois elfos também ficaram desconfortáveis. Na verdade eles já haviam notado isso muito antes, mas obviamente não tinham motivos para falar isso para seus raptores.
Assim que eles estavam tentando entender a mudança estranha na região, ouviram um som.
“Zaskas Suhashar Karzar.”
“Shnzar Kaskar Zalant´r.”
Todos sentiram um arrepio ao ouvir esse som, parecia uma mistura de várias vozes falando ao mesmo tempo. Era algo bizarro e tenebroso.
Fernando rapidamente fez todos se abaixarem e se esconderem entre a vegetação alta.
Quando eles mal haviam entrado na vegetação, a luz ao redor pareceu diminuir, uma sensação estática e tenebrosa permeou o lugar. A temperatura despencou, o ar ficou tão frio que todos conseguiam ver o vapor de suas respirações.
Logo algo surgiu, um amontoado de trevas e escuridão, parecia uma bola de fumaça completamente negra. Movendo-se como se estivesse engolindo a si mesma, deixando rastros de fumaça por onde passava.
O rosto dos dois elfos ficaram completamente pálidos, mesmo Simon e Theodora pareciam horrorizados ao ver essa coisa.
Os outros, apesar de não saberem do que se tratava, conseguiam sentir que era algo ruim e perigoso.
Assim que a criatura começou a se afastar, a Elfa Negra Avic puxou o braço de Helian, indicando que deveriam fugir.
Mesmo preocupado com essa coisa bizarra, Fernando manteve parte de sua atenção nos dois, então rapidamente percebeu suas intenções.
Em silêncio, ele sacou sua Kilrayzer, barrando-os.
“Você é louco? Se atrair aquilo, todos estamos mortos.” Helian falou entre sussurros, havia pânico em sua voz.
Fernando manteve-se em silêncio, ele não era idiota. Embora não soubesse o que era, sabia que era perigoso.
“O que é aquilo?” Perguntou com uma expressão séria. Afinal, mesmo os elfos que mantinham suas promessas com suas vidas em jogo, não pensaram duas vezes em fugir depois de ver aquela criatura.
“Aquilo… É um Obscuro!”
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