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    “Estou aqui para atender ao seu chamado, líder.” Argos disse, com um sorriso, inclinando-se levemente para frente, em sinal de respeito.

    O jovem Tenente assentiu, com uma expressão calma.

    “Fico feliz que tenha voltado em segurança.” declarou de forma sincera, estendendo a mão, em sinal de cumprimento e como boas-vindas, fazendo com que o homem ficasse surpreso, mas, ao mesmo tempo, levemente contente. Ele já havia tido muitos empregadores em sua vida, mas nenhum nunca se importou com seu bem-estar e muito menos o tratou de igual para igual dessa forma.

    “Compartilho do mesmo sentimento, meu senhor.” O Sargento falou, erguendo sua palma e cumprimentando seu Tenente com um forte aperto de mão.

    “A missão foi bem sucedida?” Fernando perguntou após cumprimentá-lo. Mesmo que estivesse contente em rever um subordinado, estava ansioso para saber os detalhes de como havia sido.

    Em resposta a sua pergunta, o homem ficou em silêncio, voltando seu olhar para a mesa atrás dele.

    “Antes de discutirmos sobre isso, seria melhor conversarmos com a nossa convidada.” disse, mudando discretamente de assunto e indicando que não era o melhor momento para isso.

    Ao ouvir isso, o olhar de Fernando percorreu sobre as duas figuras restantes, então ambas retiraram seus capuzes, revelando seus rostos.

    Uma delas era quem havia enviado a mensagem a ele mais cedo, por isso não lhe surpreendeu, sendo Theodora, sua Subtenente.

    “Líder, fiz tudo do jeito que mandou.” A Medusa disse, com um sorriso enigmático. Então seu ânimo diminuiu quando olhou na direção de Argos. “Inclusive cuidei da chegada desse sujeito desagradável.”

    Vendo as palavras direcionadas a ele, o Sargento apenas deu uma leve risada, já estando acostumado às ofensas da mulher. Na verdade, ele até havia sentido alguma saudade disso.

    “Eu sei o quanto aprecia a minha pessoa, Subtenente Theodora, mas vamos manter a etiqueta, em respeito a convidada, afinal ela veio de longe.” disse, indicando que a mesma se apresentasse.

    Logo a última das figuras que também havia removido seu capuz, revelou-se ser uma bela mulher loira, de olhos azuis, com mechas de cabelo de cor azul-escuro. Mesmo com a túnica que estava usando, era possível notar suas curvas acentuadas.

    “Tenente Fernando, ouvi falarem muito a seu respeito, é um prazer enfim conhecê-lo pessoalmente.” disse, levantando-se fazendo uma saudação graciosa, enquanto erguia as bordas de sua túnica, como se fosse um vestido. “Me chamo Rani Polavero, sou uma Representante Comercial da filial das Lojas Etéreas de Belai.”

    O jovem pálido ficou surpreso com a beleza distinta da mulher, mesmo que ele tenha conhecido muitas mulheres diferentes desde que chegou em Avalon, poucas pareciam ter um ar tão ‘nobre’ quanto essa. 

    Observando seu rosto branco e macio, cheio de juventude, bem como suas mãos delicadas, ele imediatamente soube que essa pessoa provavelmente nunca havia trabalhado em algo manual na vida. Se isso fosse na Terra, não seria estranho, mas em Avalon era algo difícil de se ver.

    “Polavero?” questionou-se, com uma expressão intrigada e pensativa. Ele já havia visto esse sobrenome antes em sua lista de contatos no Cubo Comunicador. “Você tem algum grau de parentesco com o senhor Aldric?” 

    Ouvindo a pergunta, a mulher sorriu graciosamente. 

    “Vejo que já percebeu, sim, senhor, eu sou filha de Aldric Polavero, o atual Gerente da filial de Belai.”

    Ao contrário de Argos, que já parecia saber disso, a informação surpreendeu um pouco Fernando. Como o sujeito era um homem relativamente velho, não imaginou que teria uma filha tão nova.

    Parece que o senhor Aldric é um cliente da própria loja… pensou, de forma irônica, ao lembrar-se dos tônicos para libido que havia visto quando visitou a filial de Aquilones.

    “Entendo. É bom que você seja a filha do senhor Aldric e fico feliz em conhecê-la, mas…” falou, fazendo uma pausa, então a observou com um olhar frio. “Tenho certeza de que fui bem claro quando solicitei um encontro, seria com o próprio Aldric e com nenhuma outra pessoa, muito menos alguém acompanhada de tanta gente.”

    Um clima estranho levantou-se quando essas palavras foram ditas. A garota loira foi pega de surpresa, sentindo uma pesada opressão vinda da direção desse rapaz.

    Assim que isso aconteceu, todo o restaurante, que estava movimentado, com mais de vinte pessoas conversando e falando alto, de repente ficou em silêncio, com todos os homens e mulheres, inclusive duas moças que pareciam ser atendentes, disparando olhares frios na direção de Fernando, com dois homens, no lado oposto, próximo ao balcão, com uma aura pesada, levantando-se de suas mesas.

    Lerona, que mal havia se acomodado em uma das mesas, sentiu todo seu corpo arrepiar-se.

    Quem são?! pensou, alarmada ao sentir o denso mana transbordando dos dois sujeitos. Mesmo que não tivesse certeza de seu nível ou força, pelo mana poderia deduzir que eram provavelmente Magos Avançados, próximos de se tornarem Magos Sênior, o que significava que deveriam ser o equivalente a Capitães no ápice ou até Majores! Esse lugar é uma emboscada? Que tipo de assunto esse cara se meteu?

    A Capitã estava olhando em volta, pronta para tirar sua lança de sua Pulseira de Armazenamento, preparando-se, lentamente se posicionando para agir, quando alguém gritou.

    “Não interfiram!” A mulher loira, chamada Rani, exclamou, de forma firme.

    Os dois homens, que haviam se levantado, se entreolharam, então sentaram-se novamente, sem dizer uma palavra.

    Theodora e Argos, que estavam ao lado, não disseram nada, pois já sabiam que todas essas pessoas eram membros da Loja Etéreas, mas ficaram surpresos que seu líder havia percebido isso.

    “Peço que me perdoe por isso, Tenente Fernando, mas devido a certas questões pessoais, meu pai, Aldric, não pôde vir. Espero sinceramente que compreenda.” explicou calmamente.

    Os olhos de Fernando se mantiveram na garota, nunca tendo desviado o olhar, mesmo quando as duas pessoas ao fundo se levantaram, logo ele cessou a circulação de mana em seu corpo.

    “Vamos nos sentar primeiro.” disse, puxando uma das cadeiras da mesa e acomodando-se.

    Argos e Rani fizeram o mesmo. Assim que isso ocorreu, as pessoas no entorno voltaram a conversar e rir, como se nada tivesse acontecido.

    Toda essa cena surpreendeu Lerona, que estava suando frio.

    O que está acontecendo aqui, afinal? A mulher ruiva pensou, seu olhar varrendo sobre as pessoas no entorno, que hora e outra, a olhavam de forma discreta. Por um momento, ela estava pensando que teria que lutar com sua vida em jogo, mas tudo havia, de repente, se acalmado. Quem é você, afinal, Tenente Fernando?

    Assim que Fernando se sentou, o próprio dono do restaurante, que parecia estar apreensivo de lidar com tais figuras que praticamente ‘tomaram’ seu restaurante, apressou-se para trazer uma série de refeições e bebidas, que logo preencheram a mesa.

    “Vamos conversar enquanto comemos.” A mulher loira falou, de forma gentil, pegando um dos pratos e servindo-se.

    Sentindo seu estômago roncar, o jovem Tenente assentiu. Os efeitos da Sopa de Delgnor já estavam diminuindo e devido ao treino intenso, seu corpo pedia por nutrientes.

    Logo todos, com exceção de Theodora, começaram a comer.

    “Não vai provar?” Argos perguntou com algum interesse em sua voz, enquanto pegava uma concha de carne cozida.

    “Não estou com fome.” respondeu, com indiferença, enquanto olhava para a comida com desconfiança.

    Seu olfato apurado não conseguia detectar nada de anormal, mas como alguém treinada para ser uma assassina, a Medusa não se sentia a vontade de comer alimentos trazidos por estranhos numa negociação. Mesmo que ela tivesse feito os preparativos para receber Argos e essa mulher, que havia vindo da Loja Etéreas, não poderia confiar nela.

    “Coma.” Fernando ordenou, com uma expressão calma, enquanto se servia em um prato, pegando uma massa cozida de aparência deliciosa. “Não está envenenado. Tenho certeza que a senhorita Rani não faria isso. Afinal, se ela fizesse… As coisas não terminariam bem para nenhum dos lados.” O rapaz pálido comentou, sem dizer diretamente o que isso significava exatamente, mas seu olhar recaiu sobre a mulher loira.

    Rani ouviu isso com calma, entendendo o significado por trás. O rapaz pálido basicamente estava dizendo que se sentisse qualquer coisa de estranho na comida, a mataria sem hesitar. Mesmo se seus homens ao redor tentassem intervir, ele estava confiante em tirar sua vida antes de morrer. Isso lhe deu um leve calafrio na espinha, fazendo-a franzir a testa.

    Ele é mais grosseiro e arisco do que o papai disse… pensou, profundamente incomodada. Apesar disso, mudou sua expressão forçando um sorriso amistoso, pois havia recebido ordens de seu pai para não ofender essa pessoa de forma alguma.

    Além disso, ela havia ouvido falar no massacre que o Tenente do Batalhão Zero cometeu em Belai, levando a Guilda Fúria as ruínas, o que levou ao seu banimento da cidade. Mesmo agora seu nome ainda era muito comentado entre a população e as forças locais, com alguns o conclamando como herói, por ajudar na quebra do cerco da cidade, enquanto outros o viam como um psicopata que matava a bel-prazer.

    Independente do que o homem a sua frente fosse, seja um assassino frio ou um salvador, ela não se importava no mínimo, não era o tipo de assunto que civis como ela deveriam se envolver, tudo que queria era garantir os interesses da Loja Etéreas.

    “Garanto que não há nada de errado com a comida. Pelo contrário, eu comprei ingredientes de primeira linha e pedi para que o cozinheiro daqui os preparasse.” Rani disse, de forma educada e com uma leve arrogância em sua entonação. “Essa é carne de Gavião Azul cozida ao molho, enquanto isso aqui é Ravioli feito com queijo de Bulai de raça Megamus, conhecida por seu leite extremamente saboroso, é bem difícil de encontrar. Toda essa refeição não custa menos do que cinquenta moedas de prata, seria um grande desperdício envenená-la, não acha?”

    Apesar de ouvir sobre os ingredientes ou sobre o valor da comida, ou mesmo a piada, o jovem Tenente não reagiu no mínimo, mantendo-se em silêncio. 

    A mulher loira viu isso com algum desagrado, mas sem ousar transpor suas emoções.

    Com as palavras de seu Líder, Theodora, mesmo que de forma relutante, também começou a comer. Todos os quatro fizeram uma refeição silenciosa, sem que nenhum dos lados tomasse a dianteira em falar.

    Fernando, em especial, aproveitou a comida, mastigando-a com calma e serenidade.

    Não é algo comparável a Sopa de Delgnor, mas com certeza é muito gostoso. pensou.

    Apesar dos alimentos preparados pela Unidade de Logística serem ótimos sob a perspectiva nutricional, na maioria eram feitos usando grãos simples e baratos comprados a granel por militares e carne de animais que abateram enquanto estavam atuando como Tropas de Exploração. Mesmo que não fosse ruim, sendo refeições muito melhores do que ele jamais havia tido a oportunidade de comer na Terra, era incomparável ao que estava comendo naquele momento.

    A carne, principalmente, era o grande diferencial. A que estava comendo naquele momento era macia, suculenta, transbordava sabor e tinha um aroma agradável, uma clara indicação de que eram animais especialmente criados para o abate. Pelo contrário, a carne dos animais que recolheram nas Tropas de Exploração, por serem silvestres e selvagens, era muito mais dura e com gosto e cheiro fortes.

    Talvez eu devesse investir mais em alimentação… pensou, imaginando se deveria começar a comprar alimentos melhores para serem incluídos na dieta preparada pela Unidade de Logística. Mesmo que isso aumentasse as despesas do Batalhão, sentiu que não era um desperdício. Provar a Sopa de Delgnor antes e essa refeição agora o fizeram perceber que uma alimentação que mexia com o paladar era algo extremamente agradável.

    “Saborosa?” Rani indagou.

    “A comida está ótima.” O rapaz elogiou.

    “Fico feliz que tenha te agradado, Tenente.” respondeu, satisfeita em finalmente obter alguma reação do rapaz.

    Depois de algum tempo, a mulher loira, vendo que nem Fernando não dizia mais nada, e Argos, que era a ponte entre a Loja Etéreas e o Batalhão Zero, com quem ela frequentemente negociava, não parecia ter intenção de intervir em seu favor, finalmente resolveu tomar o primeiro passo.

    “Tenente Fernando, como eu disse anteriormente, devido a certas circunstâncias, meu pai não pôde vir pessoalmente, mas garanto que estou à sua disposição para qualquer negócio que queira realizar.” A garota afirmou, com confiança.

    Ouvindo essas palavras, o jovem pálido não reagiu imediatamente, pegando mais um dos Ravioli e comendo de forma despreocupada. Somente após terminar é que olhou a mulher loira nos olhos.

    “Senhorita Rani, com todo respeito, mas há quanto tempo você atua como Representante das Lojas Etéreas? Não me lembro de tê-la visto em nenhuma das vezes em que fui na filial de Belai. Me parece um problema que alguém tão jovem como você seja enviada no lugar do senhor Aldric.”

    A expressão da mulher mudou ao ouvir o comentário e as perguntas.

    “Você provavelmente não me viu, pois eu estava atuando no transporte de bens para Belai. Estabelecer rotas seguras para áreas perigosas é um trabalho extremamente importante para qualquer grupo comercial. Quanto a minha idade, não acho que seja algo com que você deveria se preocupar, já que é claramente mais novo que eu e provou sua competência nos Leões Dourados, certo?” falou, ironizando sutilmente a declaração do rapaz pálido.

    Ela era claramente mais velha que ele, ainda assim o mesmo deu a entender que sua idade era insuficiente, a garota achou isso extremamente ofensivo.

    “Não é que eu esteja te menosprezando, senhorita Rani, mas eu pedi a presença de seu pai justamente por se tratar de uma negociação importante. Não acho que seja algo que apenas uma jovem Representante possa decidir por si mesma.”

    Ouvindo isso, os olhos da mulher loira com mechas azuis brilharam, havia uma clara irritação em seu olhar.

    “Garanto que tenho a autoridade e a competência necessária para lidar com isso, independente do negócio que você proponha.”

    “Hm, é mesmo?” O jovem Tenente disse, olhando-a com um rosto inexpressivo. “Mesmo se estivermos falando de uma transação que chegue a centenas de moedas de ouro?”

    Tim!

    Quando a mulher chamada Rani ouviu isso, o talher em sua mão caiu, enquanto sua boca se abria, imaginando se havia ouvido errado.

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