Índice de Capítulo

    Quando o jovem Tenente deu a ordem, Lerona e Túlio se entreolharam, confusos, mas sem hesitar, Theodora foi em direção à saída.

    Vendo isso, o Subtenente suspirou.

    “Tudo bem, pode fazer o que quiser, apenas não exagere.”

    Lerona tinha uma expressão séria no rosto, enquanto olhava para o rapaz, pensativa, como se fosse dizer algo. Mas no fim não disse nada, saindo com os demais.

    Quando a porta foi finalmente fechada, Fernando olhou para os dois prisioneiros. Ambas as pessoas que tentaram o matar e feriram seus homens. Logo caminhou em direção à mulher.

    A garota, chamada Verônica, tinha uma expressão assustada, temendo mais uma sessão de ‘tortura’. Enquanto isso, Lincon gargalhou ao ver isso.

    “Você também quer provar um pouco dessa vadia? Vá em frente, é toda sua, mas já aviso que você não é o primeiro.” disse, de forma instigadora. “Quando a Família souber que ela abriu a boca, ela vai morrer de qualquer forma, então use-a bem até lá.”

    Ouvindo essas palavras, somado ao rapaz pálido se aproximando com um olhar fixo, a mulher negra tremeu. Então virou seu rosto, fechando os olhos, enquanto permitia seu corpo ficar mole, ela sabia que contanto que não resistisse, logo tudo estaria acabado.

    No entanto, ao contrário de suas expectativas, após esperar alguns segundos, nada aconteceu. Mesmo temendo as consequências, abriu os olhos, apenas para ver o alvo de assassinato de sua missão, a encarando friamente em silêncio.

    Inicialmente Fernando pensou em matá-la ali mesmo, mas ao ver seus olhos assustados e cheios de medo, como um animal ferido, hesitou.

    “Vou te dar duas alternativas. Você pode morrer aqui e agora, pelas minhas mãos, ou continuar a viver aqui, como prisioneira.” Após dizer isso, moveu o pulso, fazendo sua espada Formek aparecer em sua mão direita. “Se escolher a primeira opção, te darei uma morte rápida e indolor. Uma troca equivalente, pelas informações que nos forneceu.”

    A expressão da mulher era de medo e pavor, principalmente ao ver o olhar frio do homem à sua frente.

    “Hahahaha, isso vai ser divertido.” Lincon murmurou ao lado, se debatendo e agitando as correntes, com um sorriso distorcido no rosto. “Mata ela, mata! Essa traidora!”

    Verônica olhou para o lado, vendo Lincon gritando, então retornou seu olhar para o rapaz pálido, suas pernas tremiam, enquanto as palavras travaram em sua boca.

    Vendo-a não falar nada, o jovem Tenente ergueu a espada.

    “Já que não consegue escolher por si mesma, eu farei isso por você.”

    “N-não!” gritou, em pânico. “Eu quero viver, eu quero viver, por favor!”

    Enquanto gritava freneticamente, seus olhos se encheram de lágrimas.

    Ao ver isso, Fernando começou a ficar irritado, movendo a espada até o pescoço da mesma.

    “Você mata pessoas para viver, tentou me assassinar, matou dois dos meus e ainda assim ousa derramar lágrimas na minha presença?!” indagou com uma voz gelada, pressionando com força a espada. “Além disso, toda aquela gente…”

    A assassina virou o rosto, sentindo o fio da lâmina em sua garganta a sufocando, enquanto um fio de sangue escorria.

    “Eu só estava seguindo as ordens do Mestre da Guilda, eu não tinha escolha, nunca quis me envolver com tudo isso! Nós só caçávamos infratores e homicidas…” falou, chorando, engasgando-se com a própria saliva e tossindo. “Por favor…”

    O jovem Tenente franziu as sobrancelhas. Ele não se importava com o seu passado ou qualquer coisa que justificasse suas ações. Do seu ponto de vista, sangue só poderia ser pago com sangue!

    Contudo, sua expressão logo acalmou-se. Ele havia dado duas opções a ela, matá-la de forma indolor, ou deixá-la ali, vivendo como um animal pelo resto da vida. Mesmo com todos os abusos e sofrendo torturas terríveis, vivendo algo pior que a própria morte, ela ainda escolheu viver. Apesar de serem inimigos, o rapaz ficou impressionado com sua tenacidade, então lentamente baixou sua espada.

    “Se é o que você quer, que assim seja.” disse, movendo o pulso e guardando novamente a espada.

    Lincon, que estava ao lado, cuspiu no chão.

    “Que idiotice. Vai me deixar viver também, Tenente Fernando? Se eu chorar um pouquinho, promete que terá dó de mim e irá me soltar?” perguntou, de forma irônica, rindo ao lembrar-se das palavras de ameaça do rapaz anteriormente.

    Fernando voltou seu olhar novamente para o homem, então seus lábios se curvaram levemente. Apesar de estar sorrindo, sua expressão era extremamente horripilante, fazendo o sujeito calar-se imediatamente, enquanto Verônica, que ainda estava apavorada, tremeu incontrolavelmente.

    “Não, tenho algo muito melhor para você.” Após dizer isso, moveu o dedo, onde estava um anel vermelho sem qualquer gravura. Logo um enorme portal negro apareceu ao lado do rapaz.

    “Que porra é es-” Antes que o ‘garoto’ pudesse terminar de falar, algo disparou de dentro, era tão rápido quanto uma cobra dando um bote e sem sequer ter a chance de entender do que se tratava, a coisa invadiu sua boca, impedindo-o de falar.

    “Você não deveria insultar o Mestre, Humano.” Uma voz envelhecida e assustadora soou de dentro do portal negro.

    A mulher negra ficou paralisada, vendo o enorme tentáculo entrando na boca de Lincon, enquanto se contorcia ferozmente, fazendo o homem arregalar os olhos, se debatendo.

    “Ah!” Vendo aquela monstruosidade, somado ao terror que o rapaz pálido havia incutido nela antes, Verônica começou a gritar em pânico. “Não! Ajuda! Alguém!!”

    Do lado de fora, Lerona, Túlio, Theodora e os dois Soldados, ouviram vagamente os sons abafados de gritos. Todos se entreolharam, sem dizer nada. Um silêncio estranho e constrangedor tomando o local. 

    Dentro da sala mal iluminada, a mulher negra continuava a gritar, enquanto Fernando observava com olhos frios Lincon contorcer-se.

    “Brakas, é suficiente.” disse, de forma calma.

    “Sim, mestre.” Ao dizer isso, o tentáculo de cor amarela, que se movia visivelmente dentro da boca e garganta do assassino, lentamente começou a recolher-se.

    Assim que saiu da boca do sujeito, ele vomitou, engasgando-se.

    “Você… Que maldita coisa é essa? Quem é você, afinal?” Lincon questionou perplexo, em meio a tosses, pela primeira vez assustado.

    Fernando o observou com um semblante impassível.

    “Lembra do que eu disse? Te matar seria fácil demais. Isso é apenas um aperitivo do que te espera.” disse, com uma voz gelada.

    Os olhos do homem se arregalaram, horrorizado com tudo aquilo.

    “Não, o que você…”

    “Brakas, teremos um novo hóspede. Ele é todo seu.” Quando essas palavras foram ditas, uma risada envelhecida e macabra soou.

    “Faz tanto tempo que você não me dá nenhum Humano, mestre, estou realmente contente!” Logo múltiplos tentáculos saíram do portal negro, envolvendo o sujeito.

    “Não! Seu doente, psicopata de merda, Fernando, eu t-” Em um instante as Algemas Evral foram partidas em pedaços pelos tentáculos e todo o sujeito foi engolfado, arrastado de forma brutal para dentro do portal.

    A garota chamada Verônica, que até então estava gritando apavorada, se calou, horrorizada. Ela não sabia que tipo de coisa era aquela, mas sabia que não era humana!

    Voltando seu olhar para a mulher negra, Fernando ficou pensativo por um segundo.

    “Aprisione-a também.” ordenou.

    Ouvindo isso, os tentáculos novamente saíram do portal negro, enquanto Verônica começou a gritar loucamente, mas em instantes tudo ficou em silêncio, com apenas o Tenente restando na sala.

    Fernando voltou seu olhar para dentro do Anel de Aprisionamento. Brakas, que estava prendendo firmemente o homem e a mulher, parou de repente ao sentir a presença da mente do rapaz.

    “Mestre?” Normalmente nesse tipo de situação o rapaz não olharia para dentro do Anel, então essa ação repentina pegou o Baiholder de surpresa.

    Observando o entorno, o jovem pálido viu Brakas. Seu tamanho estava tão grande quanto antes, ocupando a maior parte do local, também viu vários dos Lobos Prateados em miniatura dentro de algumas das celas. Enquanto em outro local, preso sozinho, estava o Orc Líder que Brakas havia capturado. Diferente da última vez que checou, a criatura não estava inconsciente e nem sequer estava presa, mas apenas ficou parada em pé no canto, sem reação, quase como se não pudesse entender nada do que estava acontecendo ao redor.

    E na última cela, estavam os dois Ciclopes. As duas criaturas que outrora eram pequenas quanto bebês Humanos, agora pareciam tão grandes quanto adolescentes.

    Eles cresceram muito rápido! Fernando pensou, impressionado, haviam passado apenas algumas semanas que as criaturas estavam dentro de seu anel!

    “Esse lugar não parece um pouco apertado?” questionou, com uma carranca. Cada pequeno local da cela, com exceção onde o Baiholder estava, ficou ocupado com criaturas vivas.

    “Mestre, você prometeu pegar alguns dos Lobos, mas nunca o fez. Realmente mal tenho espaço para mim mesmo… Agora tenho mais dois ‘visitantes’ para cuidar.” A criatura disse, de forma queixosa, mas sem ousar reclamar diretamente.

    Embora não quisesse concordar, Fernando percebeu que havia esquecido completamente desse assunto. Além disso, até então não havia tido a oportunidade de resolver a questão dos Lobos Prateados. Se ele de repente e sem qualquer justificativa ou meios, surgisse com várias montarias, muitas pessoas poderiam começar a desconfiar.

    “Vou resolver isso em breve, aguente até lá.”

    Ouvindo a promessa, Brakas sorriu com seus enormes dentes, satisfeito.

    Os dois assassinos, presos pela criatura, tinham rostos cheios de horror. Eles finalmente puderam ver a coisa inteira. Era um gigantesco Beholder de cor amarelada, seu imenso olho e os demais na ponta de alguns dos tentáculos, os olhavam como se fossem uma refeição suculenta e saborosa, fazendo-os tremerem de medo

    Fernando os observou em silêncio, então após pensar por algum tempo, finalmente falou.

    “Não toque na mulher, apenas a mantenha aí dentro por enquanto, tem algumas coisas que preciso dela.” ordenou.

    A felicidade de Brakas logo diminuiu, ele parecia estar decepcionado.

    “Mas e o homem, ao menos ele eu posso…”

    Antes que pudesse terminar de falar, Fernando o interrompeu.

    “Faça o que quiser, apenas garanta que ele não morra.”

    Brakas riu baixinho ao ouvir isso, jogando a mulher em uma das celas com os Lobos. Ela logo correu para o canto, desesperada, encolhendo-se.

    “Tudo bem, eu originalmente queria uma fêmea humana… mas isso também não é ruim.” comentou, acariciando um dos tentáculos no rosto de Lincon.

    Franzindo a testa, enojado com aquilo, Fernando retirou sua mente do Anel, ele não queria ver mais do que o necessário.

    Do lado de fora da sala, Lerona, Theodora e Túlio aguardavam, quando a porta de repente foi aberta e o Tenente, calmamente, saiu.

    “Já acabou?” Túlio perguntou, então deu alguns passos, apenas para ver o interior da sala completamente vazio. “O que… você fez?!”

    Fernando deu de ombros para a pergunta do homem.

    “Você disse que eu podia fazer o que quisesse com eles, certo?” disse, de forma calma e sem responder diretamente à pergunta do sujeito. “Além disso, vocês já o interrogaram, então eles eram inúteis de qualquer forma.”

    Todos olharam para o rapaz pálido com expressões estranhas. Se as pessoas na sala haviam sumido, significava que ele havia os colocado em sua Pulseira de Armazenamento. Porém, nada vivo poderia ser posto lá. O que significava que ambos haviam sido mortos.

    O grupo se entreolhou, lembrando-se dos gritos de antes. Quão grande era a raiva do jovem Tenente, para tê-los matado e até mesmo levar seus corpos consigo?

    Apesar disso, ninguém ousou julgá-lo, afinal ele havia sido a vítima da tentativa de assassinato.

    Túlio tinha uma expressão estranha, ele achava que Fernando ainda era um pouco inocente, mas mudou rapidamente de ideia. Comparado ao rapaz, ele próprio parecia uma alma inocente!

    “Estamos de partida. Subtenente Túlio, quando o Capitão Raul retornar, peça para que ele vá me encontrar.”

    Depois que disse isso, o rapaz saiu, com Theodora a reboque. Lerona parecia intrigada, com uma expressão estranha no rosto, olhando uma última vez para a sala vazia, parou por um momento e depois seguiu logo atrás.

    Túlio observou tudo sem saber o que dizer. 

    Depois de algum tempo entrou no local. Ao perceber as marcas na parede, as Algemas Evral quebradas em pedaços no chão e uma estranha gosma verde no chão, ficou atônito.

    “O que diabos aconteceu aqui?”

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